terça-feira, 31 de dezembro de 2013



Babel


Nada mais indicado do que começar o ano com um paralelo à história (ou lenda?) da Torre de Babel.
Toda a gente conhece a história dessa “torre” que os homens começaram a construir para chegar onde estava Deus, Iavé, porque sentiam-se segregados por Deus estar lá no alto e o povão em baixo. Queriam, de qualquer forma repetir a “gracinha” de Adão igualando-se ao Deus!
A forma grega do nome, Babilônia, é do acadiano Bāb-ilu, que significa "Portão de Deus". Isto seria mais tarde o propósito religioso das grandes torres-templo (os zigurates) da antiga Suméria (Sinar bíblica, no sul do Iraque moderno). Estes templos enormes, quadrados e com escadas, eram vistos como portões para os deuses virem à terra, escadas literais para e do céu, e serviam de observatórios astronómicos.
Para os judeus, no entanto, Babel ficou significando confusão, e hoje talvez em todo o lado se use esta palavra com esse sentido, porque Jeová desceu para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam. Disse Jeová: Eis que o povo é um só, e todos eles têm uma só linguagem. Isto é o que começam a fazer, e como isso significaria a arrogância dos homens, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam a linguagem um do outro. E assim Jeová os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
Fazendo as contas da “idade” da Torre, esta teria sido uns 2.000 anos antes dos sumérios construirem os zigurates, e alguns destes seriam do terceiro milênio antes da era cristã. Resumindo, a “Torre” estaria “em construção” há 2.000 + 3.000 + 2.000, i.é, há uns bons 7.000 anos.
E o tamanho, é evidente que ninguém sabe até que altura chegaram, mas o Livro dos Jubileus refere a sua altura como sendo de 5433 cúbitos – o tamanho do maior osso do braço – e 2 palmos (2.484 metros de altura). (Reparem na precisão dos dois palmos!)
E, eis-nos agora, nós, no ano da Graça de 2014, o 5775 dos judeus (será que o Adão é posterior à Torre de Babel ???), 1422 para os muçulmanos, o não sei quantos dos hindus, mas o que todos sabemos é que, passados já tantos milhares de anos, cada vez menos as pessoas se entendem, mesmo que falem a mesma língua ou que tenham equipamentos chiquérrimos de tradução simultânea.
É muito fácil saber onde estão hoje essas “torres babélicas”, onde se junta um monte de indivíduos com regalias de marajás, para não só não resolverem nada e sobretudo para provocar uma maior desunião, mas o que é difícil compreender é porque Jeová insiste em que ninguém se entenda.
Em qualquer congresso, teoricamente democrático, como nos EUA, no Brasil, na UE, não existe qualquer hipótese de concordância, a menos que se lubrifiquem os bolsos dos votantes. E como é impossível lubrificar todos... Mas é fácil “ver” também onde estão as “torres da concórdia” – na China, com seu parlamento comunista-capitalista selvagem, Rússia com um dono igualmente capitalista selvagem kágêbista, Coréia do Norte, com a Imperial Monárquica República Popular, onde o voto nem sequer existe, mas a unânime aclamação dos Queridos Líderes, mas estes ainda estão na fase da construção da “torre”. Mais dia menos dia tudo isto ruirá e “não ficará pedra sobre pedra”, mesmo nos países teoricamente democráticos.
No Brasil também se entendem os congressistas, porque com o jeitinho brasileiro de resolver tudo pela forma mais fácil, há uma concordância inata quando se trata de legislar em causa própria, e mais inata ainda quando surgem as oportunidades de meter a mão no bolo da res-publica!
Este país tropical agora endoidou! Vai ficar rico, riquissimo, com o petróleo que sairá (sairá?) do tal pré-sal, vai este ano sediar a Copa do Mundo e está convencido que será o campeão, e em 2016 vêm as Olimpíadas. Por conta de toda esta riqueza pré estabelecida, mas pertença do futuro, se... – como “previu” Stefan Zweig, o país do futuro – os preços de tudo subiram em flecha! No Rio os hotéis, em média duplicaram os preços dos apartamentos, há até quem os tenho multiplicado por três e quatro, as viagens de avião são para além do absurdo – basta saber que uma passagem normal entre Rio e São Paulo, ida e volta uns 750 quilómetros, é mais cara do que uma ida e volta a Londres, que são mais de 18.500 quilómetros, quase 25 vezes mais longe! Isto significa que algumas passagens de avião custam por aqui até vinte e cinco vezes mais do que, por exemplo, na British Airways!!! E muito pior serviço a bordo. (Existe no Brasil serviço a bordo?)
No Natal, desde há muitas décadas é habitual juntar a família e comermos o perú. Pois pasmai, ó gentes! O preço do perú no Canadá, um país onde a vida está estabilizada e as pessoas ganham para viver, o preço do perú, feitas as contas para transformar libras em quilos, e dólares em reais é de R$ 3,71 o quilo. No Brasil, terra da fartura, do milho e da soja, o país que mais barato produz estes alimentos básicos na composição das rações, o nosso PIRÚ custou R$ 14,40/quilo. Só 388% mais caro! Tivémos que estender o chapéu aos filhos para que não ficassem na Consoada só com um pão dormido em molho de fingimento!
Aqui ainda se pode argumentar que o perú é nativo da América do Norte, então faz um precinho camarada para os conterrâneos! No Brasil é coisa importada! Vou sugerir que passemos a comer papagaios, araras, tucanos e outros patrícios. Além de serem muito mais bonitos também não pagam taxa de alfândega.
Mas tem mais coisas interessantes. Interessantissimas. Por exemplo, nos medicamentos. Já um dia demonstrei que os medicamentos custam no Brasil cerca de três a cinco vezes mais do que nos EUA, Portugal, Argentina, etc. Mas as lojas têm sofismas curiosos: anunciam, por exemplo Sinvastatina 20 mg, 30 comprimidos, por $14,16 mas podem fazer um desconto “especial” de 70%!
O leitor deve estar incrédulo, e fará a pergunta: mas pode? Aqui no Brasil? Pode, sim, aqui pode tudo, até roubar milhões do governo, levar dez ou vinte anos para ser julgado, condenado, se for, e depois... ah!, depois não só não devolve o que roubou, apesar da sentença o determinar, como cumpre os sete anos de “cadeia” em regime domiciliar, e ao fim de um ano estará livre para recomeçar a roubar de novo.
Melhor que isso? Nem o pré-sal, o pirú do Natal ou viagens a São Paulo.
Mas 2013 foi uma benção para o Brasil, com ignorantes do, total, des-governo. Enquanto a Bolsa de Tóquio fechou o ano com alta de 56.7%, Nova York entre 25 e 38%, o Brasil... fechou com 15,5% NEGATIVOS. Mas porque?
Alguém vai investir onde o des-governo camufla as contas públicas, com uma dívida interna oficial de  40% do PIB (e talvez perto de 60 na verdade), reserva 42% do orçamento para pagar o “juro da dívida”, e com as contas externas a crescer por causa do aumento de importação de petróleo? Difícil.
Mas os burrocratas de Brasília, como não sabem o que fazer com o rombo externo, colocam a culpa nos turistas. Mas o problema não é que muita gente viaja para o exterior, mas o fato de que o Brasil atrai poucos estrangeiros, como escreve a economista Miriam Leitão.
Como atrair turista para o país que está a tornar-se o mais caro do planeta? Só Carnaval, caipirinha e futebol, é pouco.
Pobre país rico!
Que em 2014 se derrube a canalha que se apoderou do país há onze anos. Qualquer outro que venha, diferente, de certeza que pode ser melhor, porque pior... não existe.
E que não faça como os babélicos: dialogue com a população. Ela sabe o que é bom para o país.

31/12/2013




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