sexta-feira, 29 de abril de 2022

 

Uma Noite na Farra

Encontrado e “interpretado” do jornal

Edimburg News Evening” - April, 2001


Thomas Douglas, antigo sargento das Forças Especiais, da Guarda Negra, ou 3º Batalhão do Regimento Real Escocês (3 SCOTS), escocês, 1,90 m. de altura, cabelo já todo branco depois de ter sido cor de cenoura, aquele olho azul vivo e atento, estava viúvo, Mrs. Aileen went away havia três anos, o único filho há muito emigrado na Austrália, vivia só, sempre na mesma casa em Dean Park Mews, Edimburg, onde mantinha a mesma mobília e as cortinas com folhos desde que para ali fora quando casou. Nada mudara, só a solidão viera para ficar.

Rodava a casa, olha para as roupas deixadas pela mulher, com vontade de as oferecer para uma das Ox Fam, e ao mesmo tempo sabendo que aquilo lhe trazia alguma saudade e boas lembranças.

O mesmo uma pequena caixa com algumas joias, poucas, que não tinha a quem dar, por tinha só dois netos homens.

Casamento tardio, porque no fim da I Guerra, com 25 anos, Thomas ainda foi servir na Índia e diversas colónias em África, até que passou à reserva como 1° sargento, louvado e decorado diversas vezes, pela sua coragem e comportamento exemplares.

Com 80 anos estava ainda forte, todos os dias fazia uma longa caminhada para ir de sua casa até ao mar nadar naquelas gélidas águas durante uma a duas horas, e não deixava passar o fim do dia sem se encontrar com alguns amigos, poucos já do seu tempo de menino, no World’s End, o pub na High Street eleito há anos, para falar sobre futebol, rugby e beber uns pints.

Já ninguém se interessava em recordar momentos das guerras em que participaram. Evitavam até esse tema, que sempre lhes foi triste de enfrentar.

Não era homem para se embebedar, como tantos outros, mas aquela conversinha ao entardecer, sabia-lhe muito bem porque em casa, desde que perdera a mulher, só tinha para enfrentar aquele silêncio frio e pesado.

Mas Thomas tinha decidido comemorar os seus 80, rijos, anos. Fazer qualquer coisa maluca! Nada de levar amigos que iam rir dele, e escolheu para uma farra oo Baby Dolls - No1 Showbar, uma das mais famosas casas de Strip Tease da cidade, relativamente perto de sua casa, coisa que ele não frequentava mas, como não se fazem 80 anos todos os dias… uma brincadeira de velhotes faz até bem à saúde.

Vestiu uma calça de flanela, que o frio estava a chegar, um belo blazer de tweed, gravata da cor do seu regimento, sentia-se elegante e lá vai ele.

Além disso, discretamente, Thomas, quando saía à noite sempre levava como companhia a velha e eficiente Springfield 9 mm., porquê, porque se sentia mais seguro. Já não tinha idade de se andar a esmurrar com arruaceiros. E os havia!

E ainda num dos bolsos levou uma das joias da mulher para fazer uma brincadeira com alguma bonitona que o desafiasse.

A entrada na boate foi um tanto complicada. Raro, muito raro ali entrava gente daquela idade e o porteiro quis pôr objeções, porque não era muito seguro para gente idosa e desacompanhado, porque isto, porque aquilo, mas Thomas ainda valente oriundo das Forças Especiais, dava até risada na cara do severo porteiro.

Acabou por entrar, foi-lhe cedida uma mesa bem perto das jovens que se iam apresentar, pediu um doble Single Malt e aguardou, enquanto olhava à volta a tentar ver aquele escuro e macabro ambiente. Mas estava feliz.

Começa o show, as garotas todas procuram mostrar-se mais para ele, coisa rara, e Thomas apreciando o que há muito lhe estava vedado, aplaudia, ria e devagar bebia o seu Scotch.

Não tardou a que uma das belezinhas se fosse sentar a seu lado. Semi vestida, como seria de esperar, fingindo que tapava alguma coisa e mostrando eroticamente o essencial, não só para ser amável, mas sobretudo para obrigar o cliente a gastar o máximo possível em bebidas.

Apresentou-se, com um nome falso, ouviu outro como resposta e começou a contar uma historinha chata, como aquela “de estou farta desta vida, etc.”, na esperança de ter encontrado um velho caduco e estúpido que estivesse disposto a fazer-lhe todas as vontades e a assumir como… amante!

Thomas entrou no jogo. Mostrou-lhe a simples mas bonita joia e disse que lha daria se ela fosse passar uma noite com ele!

A striper não gostou da proposta, e como percebeu que a coisa não ia funcionar como desejava, ela e todos os outros – todos eram ela, os barmen e o gerente da casa – fez um gesto “codificado” ao gerente para ele entender que o “velho” não ia beber mais do que aquele whisky que havia pedido logo de início. E como isso não era negócio de interesse para a boate, o gerente decide fingir que era amável e logo lhe vai dizendo que assim que acabasse aquele whisky tinha que sair dali porque aquela mesa era muito procurada e estava até reservada!

Thomas, do alto do seu metro e noventa, sorri para o ganancioso gerente e diz-lhe que só sairá quando entender. Estava ali muito bem, não atrapalhava a vida de ninguém e deste modo ficaria enquanto lhe apetecesse.

A conversa não adiantou, mas começou a gerar-se à sua volta algo que ele sentia como uma espécie de atitudes para o incomodarem. Quando um dos seguranças finge que tropeça na sua cadeira, Thomas deita-lhe a mão – e olha o tamanho daquela mão - ao pescoço e diz-lhe com ar o mais doce possível: “aconselho-o a não voltar a tropeçar na minha cadeira!”

Segurança agarrado pelo pescoço logo surgem mais dois, para levarem o “tropecista” para longe.

Thomas ficou para ver mais uma habilidade de desnudamento e decidiu que chegava de complicações. Levantou-se para ir embora.

À saída lá estavam três seguranças que queriam, no mínimo, assustar o “pobre velho”, mas, experiente, Thomas já levava a mão na sua companheira de 9 mm.

Os “valentões” rodearam-no, ar ameaçador e Thomas muito calmo disse-lhes que era melhor o deixarem em paz. Um dos “valentões” deu-lhe um pseudo tapinha nas costas, mas com força suficiente para o desequilibrar.

Foi o suficiente. Ainda mal começava a rir da ousadia, já tinha uma bala de 9 mm num dos pés. E gritava de dores. Os outros afastaram-se, Thomas deu-lhes as boas noites e começou a caminhar. Mas sentiu que alguém lhe chegava por trás. Virou-se encostou a Springfield na testa do babaca e disse-lhe: “quer que eu dispare?”

Baixou a arma devagar e quando encostou no sexo do infeliz, puxou o gatilho. Só saiu um pequeno som seco e… logo as calças do macho estavam molhadas. Prudentemente tinha tirado a bala da câmera.

Voltou para casa a rir, e aí sim, pensou na mulher, quando ela era uma gatinha como as que tinha visto e lembrou alguns momentos da sua vida militar quando teve que usar, a sério qualquer arma.

Aqueceu um pouco de água, tomou um chá e um biscoitinho Shortbread, e foi-se deitar pensando que tinha bem festejado, numa bela noite, cheia de novidades, o seu octogésimo aniversário.

Na farra.


28/04/22



sexta-feira, 22 de abril de 2022

 

ENCONTROS INUSITADOS - 2


Há dois anos escrevi sobre uma série de Encontros Fortuitos e Afortunados, em que relatava também um célebre Encontro com Cristo que aconteceu em 2005, deixando ainda muitos “encontros” para mais tarde. Os que se seguem e por isso levam o número “2”, são o que a famigerada pandemia me fez adiar dispersando ideias menos contrárias à boa mente e corpo!

São histórias da minha vida, aliás, passagens, que um pouco além de curiosas, as que vou contar são todas, exceto duas desagradáveis, muito gratificantes e daí terem ficado na memória. E é agradável relembrar, mais ainda que o meu crepúsculo vai evidenciando a chegada do repouso.

Encontrar, de repente, sem esperar, um conhecido, melhor ainda quando um amigo, ao fim de dez, vinte ou até mais de meio século, são momentos especiais,

Foram muitos, que nos proporcionaram momentos de imensa alegria. Não posso contar todos de uma fornada, mas vou contando.

1,- O mais antigo desses encontros, e o único brutal, que o meu arquivo craneano me lembra, teria eu uns seis anos. Regressara a família do Porto, onde viveu uns seis ou sete, e em Lisboa fui para a escola, o velho, vetusto Colégio de Clenardo, que nesse tempo estava instalado no Lumiar, num antigo palácio, ao lado dos estúdios cinematográficos da Tobi. (Por cima do muro espreitávamos para ver cenas a serem filmadas!

Cheguei alguns dias atrasados e foi-me indicada uma carteira lá bem atrás dos outros alunos, em princípio todos desconhecidos.

Mas de repente há um coleguinha que olha lá da frente para mim, acena-me discretamente, e eu conhecia-o! Eu passava as férias de verão em Sintra, na quinta dos meus avós. Foi uma alegria enorme que manifestei como costumam fazer os “homens” de seis anos: ri-me e acenei-lhe sem cerimónias. Hoje penso que seria o meu, ainda querido amigo Carlos Mariano de Carvalho que acabei de visitar em Madrid. Será?

O professor, um monstro sauriano, não gostou do meu “desrespeito” à disciplina, avança para mim, dá-me uma violenta chapada na cara que me atirou ao chão. Valente macho! Derrubar uma criança de seis anos. Não é difícil imaginar a raiva que me ficou a essa besta pelo resto da vida.

Era o tempo da chapada, da menina de 5 olhos com que nos esborrachavam as mãos, tudo “normal”! Felizmente não levou muito tempo a que essa prática fosse abolida.

Este o mais antigo encontro... e de covarde memória!

2.- 1954, aí vou eu, só, solito, super saudoso da gatinha com quem havia acabado de casar nem duas semanas fazia, e que só voltaria a ver e nos juntarmos quase três meses mais tarde, no navio Moçambique a caminho de Angola. Primeira escala na Ilha da Madeira, Funchal.

Sozinho, desci do navio e fui a pé, dar um giro pelo centro da cidade – não tinha dinheiro nem tempo para me afastar - andando descontraído numa daquelas estreitas ruas quase choco de frente com um amigo de infância que não via há nem sei quantos anos, com quem mais tarde em Angola firmamos uma amizade que dura eternidade. O Zé Perestrello!

Espanto, alguns momentos de conversa, ele estava a trabalhar naquela linda terra, e regresso ao navio, encantado com o encontro.

3.- 1941 - 1957. Quando, bem menino entrei para o Liceu, com um dos colegas que lá fui conhecer, mais velho quatro anos do que eu, nasceu uma empatia natural nos tornou amigos. Nossos pais, colegas, eram também amigos de há muito. Não tardou a que ele entrasse para o Instituto de Agronomia enquanto eu fazia besteira, era expulso do liceu, e fui depois para Évora, e assim perdemo-nos de vista.

Anos mais tarde, 1957 fui chamado à Administração da Cuca, em Lisboa. Precisavam de técnicos porque em Angola não só alguns técnicos tinham virado as costas, como estava em andamento a construção de uma nova fábrica em Nova Lisboa.

A conversa, com o João Matos Chaves, secretário da Administração, de quem me tornei grande amigo, terminou dizendo-me que estava contratado. Eu e mais dois agrónomos. Um, António Melícias, que eu não conhecia de lado nenhum (e que tornou um querido irmão) e o Alfredo Figueiredo. Alfredo Figueiredo??? Esse nome dizia-me qualquer coisa, mas não recordava bem quem era nem de onde o conhecia. E fiquei com aquele nome a martelar-me a cabeça.

Uns dias depois, no Terreiro do Paço, muita gente circulando debaixo daquelas arcadas, vou eu sentido Nascente-Poente quando vejo alguém, a uns 30 ou 40 metros caminhando em sentido contrário, e que, de mão levantada, gritava pelo nome: “OH! Chico”! Era o Alfredo! Caímos nos braços um do outro, entrámos na antiga e ótima cervejaria “Martinho da Arcada” e ali fomos pôr as nossas vidas em dia! Ambos já casados, cada um com dois filhos e íamos trabalhar juntos. Foi uma alegria, e a família Figueiredo mora nos nossos corações até… sempre. Grande Alfredo! Um homem bom, amigo, com uma família sensacional.

1963 – Era Comandante Chefe das Forças Armadas de Angola o General Francisco Holbeche Fino, a quem um dia fui pedir que me dissesse o que se passava com o Manuel Vinhas, administrador da Cuca que estava, em Lisboa, sob o idiota controle da PIDE.

O simpático general, recebeu-me com muita simpatia, de nada sabia, mas aproveitei para uma pequena troca de conversa.

Estava ele já no final da comissão e uma noite, à entrada do Hotel Continental, em Luanda, vejo-o a entrar para o seu carro, junto com a esposa, D. Ester, e como me cruzei com eles fui cumprimentar o senhor.

D. Ester, que eu jamais havia visto, perguntou como eu me chamava, - Francisco Amorim - e ela logo perguntou:

- Era da família da D. Aurélia Gomes de Amorim?

- !!! Era a minha avó. A senhora conheceu-a?

- Quando era jovem visitei-a várias vezes.

Estávamos em 1963, e a minha avó tinha falecido 10 anos antes, com 86 anos e a D. Ester teria, quando muito uns 60 ou 61, portanto mais nova da que a minha vovózinha uns 35 anos.

Muito simpática, a senhora logo sumiu com o general e nunca mais vi tal gente, mas achei sensacional ela, só por ter ouvido o meu sobrenome ter “acertado” na minha avó!

No mínimo inusitado e curioso.

1963 – Estava a trabalhar na Cuca, em Luanda, e fora decidido fazer uma prospecção comercial na África do Sul. País grande e rico, só com uma empresa cervejeira (hoje um dos maiores grupos do mundo).

- Comecei por Johanesburgo, onde procurei o apoio do nosso consul, na altura o Pedro Pinto, casado com uma irmã do José Perestrello que, apesar de meia dúzia de anos mais velha do que eu, conhecia muito bem desde criança.

O Consul Pedro Pinto foi impecável, arranjou-me contatos importantes, que perspetivava uma importante e profícua colaboração, só que nada depois se concretizou por… razões do poder hierárquico, que decidiu assumir o possível negócio em troca de…

Esquece. O resto são passagens mais ou menos desagradáveis e não é caso para lavar roupa suja.

- De Johanesburgo fui para Durban. O consul era outro irmão do Zé Perestrello, o Bartolomeu, amigo de infância, casado com uma das jovens que fizeram parte do grande grupo de amigos que veraneavam em Sintra e se juntavam no Parque Valenças (foi oferecido à Câmara pelo Marquês de Valença para ser um parque público, lindo, mas o desgracento vintecincobarraquatro mudou-lhe o nome para Parque da Liberdade, liberdade que lá dentro se vivia na totalidade. Políticas sujas e covardes). Estávamos em Durban, o casal foi mais do que amável, levaram-me para conhecer o que havia de interesse e uma das noites ainda juntaram um grupo de amigos para despedida! Nunca mais os vi, e soube que tiveram um fim muito triste.

O negócio previsto estava baseado no contato de Johanesburgo, empresa com filiais em todo o território e ainda na Zâmbia, de modo que em Durban nada mais fiz além de cumprimentar o gerente local dessa empresa e trocar com ele algumas ideias.

- Em Cape Town seria uma repetição de Durban, e sempre procurando o apoio do consul, cujo nome esqueci e vagamente tenho ideia de que seria Reno, que me recebeu e diz-me:

- Quem o conhece bem é a minha mulher!

Senti-me um tanto constrangido, apesar de nada me pesar na consciência, e quando ele disse quem ela era, lembrei muito bem. Tinha sido companheira da minha cunhada num dos primeiros cursos para hospedeiras (aero moças) da TAP, e como ficaram amigas esse conhecimento chegou até mim. Convidou-me para jantar em sua casa, mas relativamente a negócios nada havia que valesse a pena tentar.

Quando me dirigia, a pé para o escritório, sempre da mesma empresa de JHB, encontrei um ambulante a vender um frutos meio avermelhados, casca rugosa, aí com uns 3 cms. de comprimento, que eu nunca tinha visto. Parei a observar, perguntei-lhe o que era, deu-me um para experimentar e… achei uma delícia.

Fez um pequeno embrulho em papel de jornal, com razoável quantidade deles, paguei e segui para a entrevista.

Entrar num escritório, todo organizado, com um embrulho de frutos na mão não era o que se esperava, mas tive que lhes dizer que aquilo era uma muito agradável surpresa para mim e tive medo de, à saída, não encontrar o vendedor. Foi motivo de descontração e boa troca de ideias.

Mas à saída o homem ainda lá estava e eu comprei todas as magníficas frutinhas que ele ainda tinha!

- De regresso a Luanda ainda passei em Windhoek onde fiquei uma noite e, Ó gente!, encontrei, na rua o consul de Portugal. Fez-me uma simpática manifestação, e eu sem o reconhecer. Disse-me então que fora eu que o recebera mais uns quantos visitantes da Namíbia (na altura Sudoeste Africano) quando em Luanda tinha ido visitar a Cuca!

Coincidências curiosas e uma viagem consulada !

Chego finalmente a casa, princípios de Dezembro, e o “presente” para toda a família – eram já cinco filhos – foram aquelas frutinhas que fizeram as delícias de todos: LICHIAS!

Creio que ninguém em Angola conhecia tal raridade, que só voltámos a comer no Brasil.

- Ainda na mesma viagem encontro por acaso em Johanesburgo um sul-africano conhecido, John Adams, que já tinha ido a Luanda várias vezes para vender as caixas de papelão para as garrafas de cerveja. Homem grande, gordinho, simpático, falador, fomos beber uma cerveja, e aí me disse que iria em breve a Luanda para assinar contrato com uma empresa local para montarem uma fábrica do papelão!

Eu disse-lhe logo:

- Não vai, não. Vai fazer essa fábrica de sociedade com a Cuca.

Admirou-se e alegrou-se.

- Será que a Cuca está interessada?

- Evidente. Somos os principais clientes. Ao chegar a Luanda peça para falar com a Administração. Vou alertá-los.

E foi assim que a Cuca ficou alargou o seu parque industrial.

Mais contatos, em breve.


21/04/22

sábado, 16 de abril de 2022

Hoje, com o meu computador avariado, só vos posso lembrar estas Bem-Aventuranças.

Bem-aventurados os pobres de espirito, porque deles é o Reino de Deus! (Os humildes)
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! (Os que se arrependem)
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! (0s que estão de bem com tudo e todos)
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! (Os segregados)
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! (Os que cuidam dos mais fracos)
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! (Os de alma limpa e grande)
Bem-aventurados os Defensores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus! (Os que lutam pelo entendimento)
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! (Os espoliados pelos tribunais corruptos)
 Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim.
Alegrai-vos e exaltai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
Meditai um pouco a seguir a cada uma das Bem-Aventuranças. 
É bom para a Paz interior.
O homem não nasceu para trabalhar, nem para ficar de braços cruzados, mas para ser feliz.

sábado, 9 de abril de 2022

ANDANÇAS – 2

Invasões e Roubanças


Mais algumas curiosidades das andanças pela Europa e da “chegança” a casa, no Rio.

Como já referi, esta viagem teve duas finalidades: a primária ver filhos e netos e bisneta, europeizados, rever e despedir-me de alguns amigos, que teimam ainda em continuar a permanecer nesta Gaia – vale de lágrimas – e curtir um pouco a comidinha luso-castelhana e respetivos vinhos!

Mas nada correu como estávamos à espera e projetámos há dois anos. Dois anos nesta provecta idade correspondem a quase meio século! Cada passo que se dá parece um quilómetro! Dantes eu era como o Bolt: fazia 100 metros em 10 segundos (é mentira, só um pouco mais) e agora só faço 10 metros em 100 segundos!

Sempre a aguardar a vigarice do Covid, decidimos ir assim que se restabelecessem as ligações aéreas.

Fomos em no fim de Dezembro e regressámos no começo de Março. Por todo o lado um frio glacial, e assim mesmo me atrevi a fazer algumas caminhadas londrinas, naqueles magníficos parques, mas carregado com um pesado casaco, boina e cachecol o que me retirava parte das parcas forças que ainda conseguia arrancar da inação. Apanhava frio, mas sabia que me ia fazendo bem... encarava.

De resto nada mais para fazer, ia-me valendo de fingir que às vezes cozinhava, sem nunca deixar de tomar o meu remédio primário, o Resveratrol!

Evidente que a bisneta, a caminho dos quatro anos (que faz hoje!) – sem grandes encômios, é uma criança espertíssima, alegre, não lhe escapa nada, mesmo falando só inglês, apanha as conversas de todos, mesmo que falem português - como estava na escolinha foi muito reduzido o tempo que esteve conosco.

Outro neto, 22 anos, lindão, 1,87 m, trabalha e vive em Doncaster, a mais de 360 kms de Londres, só o vimos uns dias que ele conseguiu para ver os avós. O outro, o gémeo maior, 1,90, a atração de todas as mulheres britânicas e arredores, bartender, muito trabalho, apareceu mais vezes. O outro neto e a neta, mais presentes.

A filha, com trabalho, acompanhou-nos quanto pôde, mas tudo isso acabou por nos saber a pouco, deixando-nos muito tempo de ócio!

Fui lendo uns livros, o que podia tê-lo feito em qualquer outro lugar.

Depois o problema do Covid que não percebemos se chegámos a apanhar, mesmo dando teste positivo, até que três semanas depois a vovó levou uma violenta paulada - presente chinês, chamado covid ? - que me deixou de tal forma preocupado, que quem foi abaixo a seguir... fui eu. Perdeu a noção de orientação, esquecimento quase total, e outras complicações.

Ainda pensámos um dia ir jantar a um pub que já conhecíamos. Simpático, boa comida. Já era. Agora tem que baixar um app – que eu não sabia o que era! –  fazer a reserva pela internet, indicar o número de pessoas, dia e a que horas chegariam e o que queriam comer! Só para isso já tinha que pagar £ 5,00. Tá louco. Até para ir beber uns copos tenho que exibir para o governo o que estou a fazer1

Jantámos em casa, muito melhor e mais barato, mexilhões frescos, camarões cozidos e fritos, umas light lamb shops¸ acompanhando primeiro com um Chardonnay sul-africano, muito bom, e depois um Pinot Noir da Austrália. Só vai ao pub quem é babaca.

Muita burocracia, despesa com testes, chatices, grandes preocupações e a vovó perdida, esquecida, desnorteada, foi assim que deixámos a Britânia a caminho de Espanha, onde chegou completamente alheia a tudo quanto se passava à sua volta. Nem os amigos reconheceu, nem soube que esteve três dias em Madrid! Nada dessa estadia ficou na sua memória!

Em Portugal foi um pouco mais tranquilo, mas em face do estado de saúde, tempo demasiado longo.

Andámos um pouco naquelas estradas e autoestradas infindas, tantas são que chegam a correr duas autoestradas em paralelo! Nessas estradas, poucos, pouquíssimos carros, e nas cidades não se encontra um lugarzinho para estacionar. Com a grana que lhes chegou do União Europeia construíram milhares de quilómetros de estradas, compraram milhares de carros, até de luxo, para... ficarem quase todo o tempo estacionados perto das casas onde os “felizes” proprietários moram. Coisa de louco.

Comer bem, em Portugal (e em Espanha), é um “must”. Talvez a melhor refeição que fizemos na “terrinha” foi num pequeno restaurante – tenho que indicar para conhecimento de novos viajantes! Churrascaria Ruivanense (!), Avenida Afonso III, 97, em Lisboa. Três mesas no piso da entrada, o mesmo dono há 50 anos e só dois menus (cardápios) disponíveis: um pendurado à entrada e outro colocado numa janela para a rua, mas... de cabeça para baixo! Escolhemos “bife de vaca” a € 7,00 cada e o “chefe” fez questão de nos mostrar a carne: ótima. Como os bifes pareciam grandes e nós não somos muito comilões fui dizendo que um só devia chegar. Comentário do “chefe”: “se é para passar fome o melhor é comer em casa”! Eu disse logo, “é aqui que fico”! Lá vieram dois bifes, magníficos, talvez a melhor e mais saborosa carne que comemos nos últimos muitos anos!

 


Foi, como sempre, compulsivo ir ao Restaurante Laurentina, comer o melhor bacalhau do planeta, melhor ainda quando acompanhado de um dos bons e raros amigos de Lisboa que ainda consigo encontrar em Portugal.

Implicou também uma ida ao Porto, outra ao Barril – ver o “Andanças pela Europa – 1” – e para o final, tivemos que desafiar alguns amigos, sobretudo alguns “sobrinhos do coração”, e um amigo de sempre, um dos que ainda teimam em por aqui andar, que nos fossem ver em Vila Franca. Não havia mais força para andar de carro, mesmo só 20 ou 30 kms.

Antes de tudo isto estivemos uns dias na Quinta Anunciada Velha, em Tomar com uma amiga de há muitos e bons anos, sem nada mais fazer do que gozar aquela quietude, boa conversa, passeios pelo terreno e ótima cozinha.

Finalmente regressámos a casa. Mais do que cansados. Nada como “lar, doce lar”!

Algumas surpresas nos aguardavam, as Invasões:

- calor de 40° com sensação de 300!

- um ninho de abelhas por cima do teto de gesso do banheiro. Eu, eu mesmo, muito ecológico, disse para deixarem as abelhas em paz. Até ao dia que... uma que estava no chão, e não vi, mordeu no pé e estive quase um quarto de hora sem poder pôr o pé no chão com uma dor imensa. Perdoei à abelha. À noite, quando me fui despir, tinha uma vagando nas minhas costas dentro da camisa. Chateou-se e picou-me. Nesse momento a minha ecologia foi definitiva: acabar com as invasoras. Acabámos!

- Mas... a seguir, um ou dois dias depois, começam a cair formigas, grandinhas, cerca de 1 cm... do teto do sobredito banheiro. De manhã a banheira chegava a ter umas 20 ou 30 e outras tantas no chão. Bêbedas ou já mortas!? Começou a guerra contra as formigas.

- Esta, quase vencida, começam a “chover” do mesmo teimoso teto, literalmente, cupins de parede! Há quem lhes chame em Angola salalé, em Portugal caruncho ou térmitas. Chegámos a ter quase uma centena no chão, pela manhã. Os miseráveis, como as formigas, só apareciam de noite.

Mas enfim vencemos essas batalhas todas e até encontrámos uns dias depois um carrapato, todo graganêro a subir a parede da sala de jantar. Raro, raríssimo, tanto mais que agora não temos cachorro nem gato, o dito carrapato teve uma morte súbita: esmagado com um sapato. Nem reclamou.

Neste momento sobrevivem nesta casa só o trio de idosos, dos quais dois estão já na categoria de velhinhos... meio podres.

Haja Deus.

Há???               

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Só um apontamento de roubanças:

1º - O que nos obrigaram a pagar por testes do famigerado e mal gerado covid. Um roubo universal, de que os seus patronos não querem abdicar;

2° - O imposto que tivemos que pagar por mandar vir do Japão uma peça para uma moto Honda antiga. Pecinha miserável, de plástico, uns 5 cm. de comprimento. Preço na origem uns US$ 35, Frete via FEDEX mais US$ 45. Valor CIF US$ 80, ou R$ 280,00

E depois a roubança:

- Imposto de importação: 60% = R$ 168,00

- Imposto de “transação” ICMS (IVA):  sobre o valor CIF + Alfandega, 16% = R$ 87,37

- Despesas administrativas (?): R$ 80,61

- DARJ (FECP) (Fundo Estadual de Combate à Erradicação da Pobreza !!!!!!!!) =R$ 10,92 (Acabaram os pobres!)

- Reembolsos de despesas, - dois = R$ 3,60

- Total de impostos pagos por uma pecinha de plástico: R$ 350,81= 125,5% sobre o custo da dita plástica.

E assim vai o mundo.

 

03/04/22


sexta-feira, 1 de abril de 2022

 

RACISMO

Como se tornou uma monstruosidade


Tanto se tem falado de racismo e parece que se pode concluir que o termo e prática de racismo começam quando os europeus decidem que o mundo novo lhes poderia pertencer.

Já havia escravidão, desde tempos imemoriais, escravos de peles de todas as tonalidades, até que se constatou que ir buscar gente em África, para sul da Etiópia, pelo Índico, os árabes, o negócio floresceu e fez com que aumentassem as guerras entre povos diferentes, por o escravo ser bom negócio para exportar para a Arabia.

Por aqui começa a distinção quando os árabes começam a chamar aos povos a sul da Etiópia de KAFIR – cafres = infiéis – e traficam neles à vontade.

Depois chegam os europeus, e há que fazer distinção entre portugueses e os outros europeus, aqueles porque foram comerciar, os outros para colonizar, ocupar, desprezar os povos ainda em estado semi primitivo ou mesmo um pouco mais avançados, como Índia, Indonésia e até a China.

Os portugueses começaram por tratar de irmãos os reis de África e os rajás da Índia, tentaram cristianizar Cipango e Catay, mas até nisso o lado humano, da inveja, entre missionários, se sobrepôs à cristianização, e de lá foram corridos.

Espanhóis na América Central e andina, franceses, italianos, belgas, holandeses e sobretudo ingleses decidiram apropriar-se do Novo Mundo. Não se pode esquecer o tão elogiado “grande missionário” Livingstone que avisou a Inglaterra que havia mais de 40 milhões de nativos sem sapatos, o que pressuponha um altíssimo negócio a fazer! Um homem que parece ter lutado contra a escravatura mas abriu as portas para o mais profundo racismo.

Até a Suíça, Noruega e Suécia entraram no negócio da escravatura!

Mas os grandes campeões da submissão à bala e à fome foram os britânicos, os que mais escravizaram e dizimaram, na América do Norte (não esquecer o Canadá), África, Ásia e Oceania.

Auto denominaram-se “seres superiores” e jogaram no lixo aqueles a quem desprezaram chamando “inferiores”. Criaram raças diferenciadas. E o racismo atingiu desprezo e vergonha jamais sonhados.

Ainda hoje o racismo é tão latente, que até no preenchimento de um documento oficial do NHS – Serviço Nacional de Saúde britânico, sobre o Covid, se faz vergonhosa distinção, repito, oficial, de “RAÇAS”, destacando os “White British”! Palavra “raça” há muito banida quando se refere a humanos!


Li agora dois livros que são de uma eloquência feroz, que nos deixam o coração a bater forte, quase a nos fazer jurar vingança, sobre o que, sobretudo ingleses, belgas e franceses, fizeram aos povos que submeteram durante tantos anos e que levou enorme riqueza àqueles reinos.

O que roubaram, como roubaram, como mataram, como o fizeram com o maior sangue frio e quase desportivamente!

Conclui um dos autores, que tanto eles foram mestres na limpeza racial que ensinaram até os alemães, isentos de colonialismo até aos finais do século XIX, a ocupar terras de gente simples, a dizimar os seus povos, Hereros e Namaquas, e que serviu de argumento até para o Holocasto. Aqui, eram os arianos e os outros. Todos.

Embutiram nas suas cabeças que sendo superiores poderiam e deviam liquidar os inferiores. Era já hábito com outros povos!

Um dos livros abre com duas pequenas notas:

 

  - “All the Jews and Negroes ought really to be exterminated. We shall be victorious. The other races will disappear and die out.”


WHITE ARYAN RESISTANCE, SWEDEN, 1991


(WAR – movimento super racista, criado pela Ku Klux Klan, que se espalhou por muitos países e ainda vigorava na Suécia – na Suécia! – em 1991, e mentalizou os neo-nazistas)

 

-  You may wipe us out, but the children of the stars, can never be dogs.


SOMABULANO, RHODESIA, 1896


(Somabulano – Líder africano na Rodésia, hoje Zâmbia ou Malawi, em resposta à ocupação e domínio britânico)

 

O conceito é simples: o direito das “raças superiores” a aniquilar às “raças inferiores”. O direito divino de matar. A Europa “iluminada” que exterminou povos inteiros em todas as latitudes dos quatro continentes, em nome da civilização. O afã de riqueza, ganância, orgulho idiota, arrogantemente estimulado pela grande rainha Victoria, transformada em imperatriz das Índias, com invenção de justificativas políticas, filosóficas e científicas para endossar o extermínio massivo de todos os “selvagens”. Sobretudo justificativas comerciais, financeiras.

Um dos livros, lançado em Fevereiro de 1899, de Josef Conrad, HEART OF DARKNESS (existe em língua portuguesa) conta a história de um marinheiro que é enviado ao Congo, durante o mais que criminoso tempo do rei dos belgas, para ir buscar um grande negociante de marfim, chamado Kurtz. Um assassino impiedoso e ladrão de marfim! Um homem que dominava vasta região de África e que pouco antes de morrer teve este desabafo: “Exterminai a todos os selvagens”.

Mais tarde, Sven Lindquist, em 1992, publica o livro “EXTERMINATE ALL THE BRUTES”. Ele, obcecado pela frase de Kurtz, percorre a África Central e vai recolhendo Histórias das passagens dos exterminadores por aquele continente e não só.

Os livros são difíceis de ler. Não há quem não se emocione e se enraiveça com a História que contam e repõem, nua e crua.

Ambos são dolorosos documentos da bestialidade humana.

E os exterminadores que andaram pelo mundo a dizimar povos ao regressarem aos seus países eram recebidos como heróis, condecorados, nobilitados. Até Churchill por lá andou em matanças desproporcionadas.

Acabaram os extermínios? Nem pensar.

Procurem saber o que se passa hoje em dia com os Uigures. Até na Ucrânia. O que fizeram os muçulmanos em Bangladesh. Recordem o Kosovo, Ruanda, um pouco para trás a Arménia, Circássia, Chechênia, Angola e Moçambique, Camboja, Holodomor na Ucrânia e, infelizmente, etc.  

Diz a Bíblia que Deus fez o mundo, todo bonito e depois fez o homem. Estava cansado e descansou.

Esqueceu-se de lhe dizer que se comportasse como os animais ditos irracionais, que não matam por orgulho ou ganância.

Parece impossível! Como Deus, Onipotente e Onisciente e Onipresente se esqueceu disso!

Será que Deus, Onipresente, estará a assistir a tudo isto e não consegue ou não quer fazer nada?

Deixou de ser Onipotente?

Não vale mais a pena, quando estivermos aflitos, dizer “Valha-nos Deus”.

Deixemos a teologia para outros escritos. Basta-nos ficarmos horrorizados ao aprofundarmos o nosso conhecimento sobre o que pouco se fala.

Fiquemos com uma frase da canção “O Progresso” de Roberto Carlos: “Eu queria ser civilizado como os animais!”

 

26/03/22