domingo, 28 de abril de 2013





ACUDAM !


CUBANIZAÇÃO  do  BRASIL !


Ano da Graça de 1384. “Acudam ao Mestre que l’o querem matar!”
Assim começa a história da Dinastia de Aviz, em Portugal! A este chamado de Álvaro Paes o povo de Lisboa acudiu e aclamou D. João, Mestre de Aviz, como regedor e defensor do Reino, e a seguir Rei de Portugal.
Livrou-se assim o país da traição que a Raínha D. Leonor Teles estava prestes a cometer, permitindo que Castela entrasse e absorvesse Portugal. A sua única filha era casada com o Rei de Castela!

Inúmeras vezes tenho afirmado o quanto é bom o povo brasileiro. Está na hora de se unir e não permitir que lhe matem a, agora, frágil democracia! Amável que só ele, o povo, a quem os “podres”, perdão, os “poderes”, têm mantido em violenta segregação, enganando-o com promessas e ilusões sem na verdade o educarem e instruirem. Criam leis em cima de leis, tudo para levar o país a uma cubanização, ou tipo Venezuela, ou Equador ou até como a desgraçada Argentina, enfim, para que o famigerado pt possa continuar a governar-se.
Não se governa o Brasil desde que o pt tomou conta das contas do país. Mas os “poderes” têm-se governado à farta.
Roubaram, continuam a roubar, e uma parte da justiça, além de lenta parece ser altamente corrupta ou passiva.
Assistimos durante meses ao julgamento do ano, aliás do século, talvez mesmo da história do país, o famoso Mensalão. O povo aplaudiu o Presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, que se portou de forma impecável. E os ladrões, os mais influentes elementos do pt foram condenados.
Mas...
Condenados foram, o pt irritou-se, os “ofendidos” insultaram o Presidente do STF, e agora surge mais um ataque inadmissível: o pt, apresentou ao congresso, que domina, uma proposta para submeter ao congresso as decisões da justiça!!! E já recebeu a aprovação da anedoticamente chamada “CCJ”, “comissão de constituição e justiça”! Será é o nicho dos “Condenados pela Constituição e pela Justiça”! Como é de calcular a proposta foi aprovada quando no plenário estavam somente 20 deputados, quando o total é de 513!
Cubanização! Stalinismo!
Os orgãos de informação já chamam a esta covardissima manobra de “Brincando de desmontar a ordem institucional” e continua “Uma proposta “aloprada” da CCJ da câmara deixa à mostra a leviandade com que certos projetos são arquitetados.”!
O Brasil já esteve tão perto de ser uma democracia consolidada e respeitada! Agora parece querer caminhar a passos largos para uma ditadura, não proletariado, mas do “ladroáriado”!
Não admira que se vivam momentos de tamanha gravidade; tanto o presidente do senado, quanto o da câmara dos deputados, são ambos réus condenados pela justiça, amigos íntimos do ex-atual-presidente e da dona presidenta!
Largar da mão lugares de tamanha importância e responsabilidade, não largam de jeito nenhum e ainda são apoiados pelos restantes comparsas! O autor da proposta, um suplente, agora grita que se deve o Exército para prender os juizes do Supremo! Não estão loucos, não. Os olhos estão raiados de ganância e raiva.
E o povo, redil de cordeiros mansos, vai deixando os lobos famintos usarem e abusarem, e ainda aplaude o desempenho da dona presidenta, que não tem a menor noção do que seja conduzir um país.
Outra pedra no sapato dos pt’istas é a liberdade de imprensa. Há anos que estudam um método de impôr o silêncio a quem os pode vigiar! Gastam fortunas com alguns órgãos de informação – jornais, rádios e Tv, fora os dos governos – para esconderem casos e mais casos de descaso e banditismo!
E ainda há universidades que conferem aos que desonram o país a honra de Honoris Causa, em honra de quê?
Se por um acaso a dona presidenta e o vice estiverem impedidos de presidir – viagem, acidente, doença, etc. – já imaginaram o que seria o Brasil ser representado pelos presidentes da camara federal ou do senado, ambos com cadastro e penalidades condenados pela justiça.
Que país é este?
O livro “Sobre el Cielo y la Tierra” escrito pelo Cardeal Bergoglio, hoje o admirado Papa Francisco, em conjunto com o seu amigo, o Rabino Abraham Skorka, dá-nos algumas máximas que se podem aplicar ao sem vergonhismo que por aqui reina.

- “Cuidado, afasta-te de todo aquele que pretende conquistar o teu coração e ter-te em sua mão dominando a tua mente e a tua vontade. (Rabino)
- Se fazes espectáculo do teu poder não és um verdadeiro lider, mas uma mentira. (Rabino)
- As massas sonham com salvadores que hão-de resolver todos os seus problemas e angustias, feitos utilizados por génios do mal que seduzem, conquistam as suas mentes e corações para conduzi-las a seu belprazer. (Cardeal)
- A única defesa para que o público não permita uma liderança nefasta é a educação. (Cardeal)
- Um país é um território; a nação, uma estrutura, jurídico-social para se ordenar, e a pátria um legado do passado. (Rabino)
- Se uma pessoa aguenta sem lutar pelos seus direitos pensando no Paraíso, efectivamente está debaixo dos efeitos do ópio! E diz o Talmud que no futuro o homem terá de dar explicações por todos os belos frutos que viu e não provou.
- Os céus são os céus do Senhor, e a Terra foi dada aos homens. Tem que se procurar viver sempre em equilibrio; se saímos desse equilibrio, estamos perdidos.
- Uma das teses básicas que aparecem nas sagradas escrituras é que não pode haver uma estrutura de sociedade, de povo, de nação – incluindo o Estado – que não tenha uma forte componente ética.

Ao ler e meditar sobre estas passagens a mente baralha-se ao ver tamanha demagogia, tanta mentira, nos shows pré e post eleitorais, deixando o povo inculto pasmado perante um enganador, um falso messias, sem conseguir lutar pelos seus direitos e até por alimentos, sabendo-se que o Brasil exporta milhões de toneladas de alimentos e uns 13 milhões de brasileiros ainda passam fome, porque não se criam condições de dignidade, trabalho e se distribuem esmolas para comprar votos.
Por fim: onde está a ética? Que ética? Vêm-se ministros, deputados, senadores, governadores, etc. numa porcentagem elevadissima, condenados na justiça por crimes de toda a ordem, mas que conseguem adiar o andamento dos processos até que prescrevem. Outros há que condenados a 10, 20 e mais anos de cadeia continuam a “representar” o povo na câmara dos deputados.
O povo está sob o efeito do ópio da incultura.
Para, se, um dia chegar a ser um país de equilibrio social e ético, não vale a pena fingirmos que pouco falta.
Falta muito. A educação de pais para filhos, o exemplo de honestidade, de ética, o sacrifício de representar o povo nas assembleias e não fazer disso um modo de rápido enriquecimento... vai ter que esperar ainda mais um século? Infelizmente, talvez.

27/04/2014

quinta-feira, 25 de abril de 2013



QUALIDADE  DE  VIDA



Há dias o mestre João Ubaldo Ribeiro, numa das suas sempre divertidas crónicas, escreveu esta pequena passagem que é uma delícia:
Gugu Galo Ruço, que é várias vezes rico milionário em Salvador e vem à ilha (Itaparica) treinar deitar na rede, me esclareceu a posição que prevalece na terra.
— O problema — disse ele — é que, para garantir qualidade de vida, a gente tem que sacri¬ficar muito a qualidade de vida. Faz cada exercício medonho, come regrado, não come açúcar, não come gordura, não come carne vermelha, não come conserva, metade do prato é capim, não fuma, bebe uma merreca de um dedal de vinho por dia, não perde noite, não toma porre, passa o dia inteiro bebendo água, tem que ter muita abnegação.
— Mas assim você garante uma boa qualidade de vida na velhice.
— E na velhice eu vou poder fazer todas essas coisas?
— Não, claro que não. Não é isso o que...
— Quer dizer, não faço nem na mocidade nem na velhice, é isso? Assim, ou eu vivo ou tenho qualidade de vida. Eu cheguei à conclusão de que viver é preferível.

Há já umas dezenas de anos, um Grande Amigo, que foi o diretor da Escola de Regentes Agrícolas de Évora, sempre muito rosado, pressão arterial alta, fumando um a dois maços de cigarros por dia, o médico disse-lhe que precisava deixar de fumar.
- E que ganho eu com isso?
- Hummm! Talvez mais uns cinco anos de vida.
- Quer dizer que vou viver mais alguns anos mas sempre chateado por não poder fumar! Não. Não vou deixar de fumar.
Morreu, com 73 anos, ataque cardíaco, quase fulminente, e enquanto viveu nunca mais se preocupou com os tais hipotéticos anos que poderia ter vivido a mais, mas... chateado!

Hoje, com a proliferação dos planos de saúde, ir a um médico é garantia de que a sua saúde vai mal. Mesmo que não vá nada mal. Ele irá sempre descobrir o que precisa ser visto, examinado, e o manda fazer radiografias, electrocardiograma, análises de sangue, e mais umas quantas outras, que são sempre uma tremenda aporrinhação. Marca hora, mete-se no trânsito, espera, faz os exames, volta uns dias depois para buscar os resultados, novamente marca consulta com o médico e, quando ele os examina, encontra lá no fundo um problema. “Eu bem me parecia”, diz o hipocrático com ar sério, testa franzida. E caneta na mão para pedir mais exames.
E volta a peregrinação. Mas... “entretanto tome os seguintes medicamentos”: um para o coração que faz mal ao estômago, outro para proteger o estômago mas que arruina o fígado, e ainda um terceiro que não serve para nada, com um nome com 247 letras que serve para... para que serve este, doutor?
O paciente, pacientemente, e antevendo a sua hora final chegar mais depressa do que havia imaginado, gasta um monte de grana na farmácia, começa a envenevar-se com tanta química, e cada vez se sente pior.
E o negócio dos planos de saúde... fulgurante, cresce como foguete interplanetário.

Lembro de uma história que tem uma infinidade de anos:
- Uma senhora, velhinha, chegou aos 99 anos e, em santa paz entregou a alma ao Infinito. No seu testamento fez questão de destacar uma lembrança para o médico que tantos anos a havia acompanhado. Uma bela arca, antiga, valiosa, com bonitas ferragens em bronze.
O médico avisado desta gentileza corre a casa da defunta, encanta-se com o móvel que esta lhe deixara e ao tentar carregá-lo para casa viu que estava muito pesado. Pensou: “a boa senhora ainda me deve ter deixado um monte de moedas!” Sôfrego, abre o baú e espanta-se ao vê-lo completamente cheio com medicamentos! Em cima uma carta da boa senhora:
“Meu caro doutor: isto que aqui lhe deixo são TODOS os medicamentos que desde há tantos anos o senhor me receitou. Se os tivesse tomado certamente teria morrido mais cedo.”

Lá pelos anos 40 do século passado (faz tempo, hein?), em Alter do Chão, na linda vila alentejana que tem ao lado a famosa Coudelaria de Alter Real, vivia um homem, que eu conheci, também já passados dos oitenta, que todo o dia de manhã saía de casa, entrava no boteco da frente e mamava, num gole só, um decilitro e meio de aguardente, daquela braba! Isto era só pra matar o bicho! Depois, dia fora, copo de vinho aqui, uns ali, mais aguardentes pra entremear, muito antes do sol se pôr o nosso amigo já tinha ingerido uns bons litros de vinho de mistura com abastadas quantidades de aguardente! E ficava bebedissimo. Todo o santo dia. Era conhecido e cumpria este ritual havia alguns anos.
Um dia adoeceu, não conseguiu sair da cama, foram chamar o médico, que como todos naquela Vila o conhecia, e uma das recomendações que lhe fez foi que “de forma alguma” não podia beber mais de um litro de vinho por dia... enquanto estivesse doente!
O bom velhinho, as forças a irem-se, ainda conseguiu, voz forte, responder, com aquele belo e musical sotaque alentejano:
- Atão pa beberi tã pouco, nã bebo nada!
No dia seguinte morria. Triste e seco!

Afinal o que é mesmo qualidade de vida?

18/04/2013

domingo, 21 de abril de 2013



“NA TERRA DOS IRLANDESES SELVAGENS

ONDE O REI O’NEILL REINA SUPREMO”



(Uma pequena lenda irlandesa! É sabido que foi Saint Patrick quem cristianizou a Irlanda, onde terá chegado em meados do século V a.C.. Diz a lenda que um dia St. Patrick chegou ao Lough (Lago) Dergh (há dois lagos com o mesmo nome e este fica bem no noroeste da ilha, hoje no Condado de Donegal), e aí encontrou um poço onde terá tido uma visão do inferno: gente sendo torturada, queimada, etc., lugar esse que ficou conhecido como o St. Patrick’s Purgatory.)


Em 1386, o Príncipe João de Aragão escreveu ao seu amigo, Ramon, Visconde de Perellós e de Rueda na Catalunha:
Pedimos que você nos envie, por escrito, toda a história de um cavaleiro que você disse que entrou no Purgatório, St Patrick e o que viu e o que aconteceu com ele nesse Purgatório; porque desejamos sinceramente saber dele.
No decorrer do tempo, o Príncipe tornou-se rei, João I de Aragão, e escolheu Ramon como seu camareiro, enviando-o em várias missões ao estrangeiro. Em seguida, em 19 de maio de 1396, foi o desastre. O rei estava fora caçando sozinho, morreu repentinamente, quando “assustado pela visão de uma enorme loba”, caíu do cavalo.
Ramon aflito, imediatamente temeu que a alma do seu mestre real teria castigo no inferno, porque o rei D. João tinha morrido sem confissão ou nos ritos da Igreja. O Visconde declarou sua intenção de viajar para Lough (Lago) Derg no interior remoto do noroeste da Irlanda, a que o falecido rei anteriormente tinha manifestado interesse. Ali, ele havia lido, uma alma seria poupada das dores do inferno se o peregrino podesse sobreviver aos perigos do Purgatório de St Patrick, localizado em uma pequena ilha no lago. E meteu-se a caminho.
Em Avignon a audiência com o Papa Benedicto XIII não foi animadora.
Ele aconselhou-me fortemente contra a minha intenção, e assustando-me muito, me avisou que eu não deveria fazê-lo por motivo algum. Além do que ele próprio me disse, tinha alguns dos cardeais mais próximos dele para falarem comigo... Eles me contiveram com tal força que mal consegui ficar longe deles.
Ramon no entanto recebeu uma bênção papal, e seguiu a caminho de Paris para obter cartas de recomendação do rei Charles VI de França. A seguir Richard II de Inglaterra recebeu-o muito bem, e depois de passar dez dias com ele, o Visconde fretou um navio em Chester e cruzou o mar da Irlanda.
Então cheguei à Irlanda e alguns dias depois aterrei em Dublin, que é uma cidade grande. Lá encontrei-me com o Conde de March, que me recebeu muito bem por causa de cartas de recomendação do rei, para o governo da ilha que estava a seu cargo. Eu disse-lhe da viagem que pretendia fazer. Este senhor me aconselhou fortemente contra essa idéia...
Eu teria que percorrer uma grande distância e passar por terras de povos selvagens, desgovernadas, onde não se pode confiar em ninguém. A outra razão foi que o Purgatório era uma coisa muito perigosa e muitos bons cavaleiros tinham sido lá perdidos, para nunca mais voltar. Quando viu que eu ainda assim não desistia, ele me deu cavalos e jóias e também dois escudeiros.
Os homens de condes levariam o visitante catalão não mais do que até Dundalk, onde o entregaram a John Colton, arcebispo de Armagh. O arcebispo disse sinceramente: a menos que queira deliberadamente perder a vida, eu deveria em circunstância alguma tentar ir para lá. Ele então fez-me entrar na sacristia da igreja onde me admoestou fortemente. Implorou-me para não entrar no Purgatório, e me disse dos muitos perigos e coisas horríveis que tinham acontecido a vários outros homens que lá se haviam perdido... Quando viu que não poderia mudar a minha mente, ouviu a minha confissão e em grande segredo recebi Nosso Senhor de sua mão... Ele enviou uma mensagem ao rei O’Neill, que estava na cidade de Armagh.
John Colton foi o único arcebispo inglês nascido em Armagh a ser suficiente corajoso para visitar as áreas celticas da sua Província eclesiástica, por quase dois séculos. Certamente conheceu Niall Mór O’Neill, o governante de Tír Eóghain, mas não arriscou: ele deu a Ramon uma escolta de cem homens.
Eu fui para a terra dos irlandeses selvagens, onde o rei O’Neill reinava supremo. Quando eu tinha montado algumas cinco léguas, as centenas de homens armados não ousaram avançar mais. Assim permaneceram numa colina e eu despedi-me deles e continuei sozinho.
O'Neill deu-lhe as boas-vindas e a sua primeira prova de oatcakes (bolo da aveia) de Ulster. Ramon prosseguiu para Termon Magrath, as terras eclesiásticas que incluíam Lough Derg. O terreno era tão macio que ele teve que ir a pé pelo Baixo Lough Eme e sobre Lough Derg.
Há tanta água em todos os lugares que um homem mal pode atravessar até as montanhas mais altas sem afundar até à cintura... Eu fui através do Lago em um barco de madeira oco, pois não havia nenhuns outros barcos... Então eles pediram-me fortemente não para ir para o Purgatório... Quando viram que eu estava muito determinado, o prior e todos os clérigos cantaram a Missa de Requiem na madrugada... Todos eles fizeram isso por mim porque queriam fazer tudo o que pudessem.
Depois de muitas aventuras, Ramon entrou no Purgatório St Patrick em busca da alma do seu mestre morto, Rei João, cuja alma queria salvar com esta peregrinação. Lá, ele diz que estava suando e esgotado... Havia muitos tipos de sepulturas e lamentáveis tipos de tortura e um número incontável de pessoas... e lá eu vi o rei, Dom João de Aragão, que pela graça de Deus, estava no caminho para a salvação.
A descrição de Ramon do Purgatório pode ser lida com um olhar cético, mas o que o torna diferente de outros peregrinos estrangeiros a Lough Derg é que só ele nos deixou descrições do gaélico irlandês.
Depois de deixar o Lough Derg, Ramon foi recebido pelo governante de Tír Eóghain, Niall Mór O’Neill.
Fomos muito bem recebidos, com muita alegria e prazer, e passei a festa de Natal com ele. Ele realizou uma grande corte em seu estilo, que nos parece muito estranho para alguém de seu status... Sua mesa era de juncos espalhados no chão, enquanto nas proximidades colocaram grama delicada para ele limpar a boca. Eles costumavam levar a carne para ele em varas.
Ramon nos diz que quando chegou pela primeira vez no território O’Neills, o rei enviou-lhe um boi e seu cozinheiro para prepará-lo. Em toda a sua corte, não havia nenhum leite para beber, nem pão, nem vinho, mas como um grande presente, ele enviou também dois bolos finos como bolachas e tão maleáveis como massa de pão crua. Feitos de aveia e de terra eram tão pretos como carvão, mas muito saborosos.
Eles estão entre os mais belos homens e mulheres que eu já vi em qualquer lugar do mundo. Não semeiam milho, nem eles têm qualquer vinho. Apenas a sua carne é carne de boi. Os grandes lords bebem leite e outros caldo de carne e o povo comum bebe água. Mas eles têm muita manteiga, e bois e vacas fornecem toda a carne.
Ramon estava enganado na sua crença de que o povo irlandês aqui não plantava milho — nessa época do ano os campos de restolho eram deixados ao gado. Com relação às suas condições de vida e estilo de vida semi-nômade, ele comentou:
Suas habitações são comuns e a maioria delas é criada perto dos bois, e eles se movem com as pastagens, como os formigueiros da Barbaria na terra do sultão.
Ele descreveu o vestido dos irlandeses que conheceu como segue:
Os grandes senhores usam túnicas sem forro, atingindo até o joelho, corte muito baixo no pescoço, quase no estilo das mulheres, e usam capuzes grandes que penduram para baixo da cintura, que terminam num ponto que é estreito como um dedo. Eles não usam meias nem sapatos, nem calças curtas, e usam as esporas nos calcanhares descalços. O rei estava assim vestido no dia de Natal, e assim todos os oficiais e cavaleiros e mesmo os bispos e abades e os grandes senhores.
Os pobres usam capas, boas ou ruins. A rainha estava descalça e suas serventes, vinte em número, estavam vestidas mostrando suas partes vergonhosas. E você deve saber que todas as pessoas não tinham mais vergonha do que de mostrar seus rostos.
Ao nobre catalão foi dito para esperar encontrar um povo selvagem, desgovernado, mas foi agradavelmente surpreendido ao descobrir que ele poderia discutir assuntos internacionais com O’Neill e seus cortesãos, em latim. O rei falou longamente, perguntando-me sobre os reis cristãos, especialmente os reis de França, Aragão e Castela, e sobre os costumes e a maneira como eles viviam... Eles consideram seus próprios costumes mais vantajosos do que qualquer outro no mundo inteiro.
Ramon ficou impressionado com o número de cavalos finos e pelos guerreiros que formavam a comitiva de O’Neills. Montam sem sela sobre um coxim, e cada um usa um manto de acordo com sua categoria. E estão armados com cotas de malha e redondos capacetes de ferro como os mouros e sarracenos. Eles têm espadas e facas muito longas e longas lanças, duas braças de comprimento. Suas espadas são como as de sarracenos... As facas são longas, estreitas e finas como um dedo mindinho, e muito afiadas... Alguns usam arcos, que não são muito longos, apenas metade do tamanho dos arcos inglêses, mas seu alcance é tão bom. Seu modo de combate é como o dos Sarracenos, que gritam da mesma maneira. Eles são muito corajosos. Eles estão ainda em guerra com o inglês e tem sido por muito tempo.
O prêmio de pôr fim a essa guerra foi para iludir o rei inglês, Richard II.

N.- Título e texto de “A History of Ireland in 250 episodes” de Jonathan Bardon.

- Lough Derg continua a ser um lugar de peregrinação. Mas com características bem específicas. No entanto recebe, de cada vez um máximo de 20.000 peregrinos, e todos obrigatoriamente com mais de 14 anos.
 
A ilha do “Purgatório”, hoje!

20/04/2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013





Incompetência Olímpica


Por Cora Ronai

Ao contrário de todo mun­do, acho que ter sido esco­lhido sede das Olimpíadas foi uma das piores coisas que podiam ter aconteci­do ao Rio. Junte-se a isso a famigerada Copa, e a desgraça está feita. Antes que me atirem mais pedras do que provavelmen­te já estarão atirando depois dessas duas pri­meiras frases, esclareço que não tenho nada contra as Olimpíadas nem contra a Copa co­mo espetáculos, muito antes pelo contrário. Acho os dois eventos bonitos e simbólicos e fico fascinada com a mistura de gentes que proporcionam. Minha implicância é com a corrupção abissal que os cerca e com a sua realização no Brasil — sobretudo, no Rio de Janeiro. Não duvido que tanto Copa quanto Olimpíadas corram lindamente: somos os reis do jeitinho e, com um superfaturamento aqui e uma enganação ali, teremos (quase) tudo pronto a tempo. Se não forem assalta­dos, estuprados ou mortos, os turistas volta­rão para casa com belas lembranças.
A questão, no entanto, não é o que os turis­tas dirão de nós; a questão é o que vai aconte­cer, e o que já está acontecendo conosco. Tanto a Copa quanto as Olimpíadas têm fun­cionado, até aqui, como carta branca para tu­do o que é descalabro. A sensação que tenho — e peço encarecidamente que me corrijam se eu estiver errada — é que nunca se roubou tanto, e tão impunemente, neste país. Não, não tenho números. Não tenho fatos. Tenho apenas a percepção de alguém que vê os va­lores de obras desnecessárias aumentando astronomicamente, enquanto os cidadãos fi­cam entregues à própria sorte num cotidiano cada vez mais degradado.
Com a desculpa das Olimpíadas, o metro está sendo ampliado sem nenhum critério.
Dia sim, outro também, mais uma árvore vem abaixo por causa das obras; a destruição no Leblon consegue ser pior do que a de Ipanema. Em breve não sobrará um único pedacinho ver­de no bairro. Os poucos equipamentos que nos ficaram do Pan foram sucateados sem a menor cerimónia; os atletas foram despejados porque, como bem sabemos, a principal preocupação do Comité Olímpico não é com o esporte, e sim com o faturamento.
Mas, ainda que tudo estivesse sendo feito com a maior correção, os benefícios trazidos pela rea­lização desses eventos seriam questionáveis. Montreal que é Montreal levou 30 anos para qui­tar a dívida dos Jogos Olímpicos de 1976. Até agora ninguém descobriu o que os jogos de 2004 fizeram de positivo por Atenas: os equipamentos construídos na ocasião já estavam desertos e em ruínas antes mesmo da crise, e o número de em­pregos diminuiu com velocidade ainda maior do que tinha crescido tão logo a festa acabou. O fa­moso Ninho do Pássaro, em Pequim, virou um elefante branco — e olhe que o que não falta na China é gente para encher estádio.
Não é de ontem que penso assim, mas se ain­da me restasse qualquer dúvida em relação a es­ses desastres económicos, ela teria se transfor­mado na mais absoluta certeza depois que as­sisti à entrevista do ministro Aldo Rebelo, no programa “Roda Viva", da Nike. Não sei o que me indignou mais, se a má-fé com que ele res­pondia às perguntas dos jornalistas ou o pouco caso que faz da inteligência dos brasileiros. Há muito tempo eu não ouvia tanta besteira en­toada com tanto cinismo.
Ninguém precisa entender nada de futebol para prever que um estádio de 44 mil lugares em Manaus vai virar elefante branco; para o ministro, porém, questionar a necessidade dessa construção é ser preconceituoso com a região Norte. Ninguém precisa entender na­da do caráter das leis para perceber como é absurdo um país abrir mão da sua legislação só porque a Fifa quer vender cerveja nos es­tádios; para o ministro, no entanto, essa dis­torção é tão trivial quanto a eventual realiza­ção de uma corrida de automóveis numa área urbana, onde a lei estabelece limites de velocidade.
No mais, como qualquer pessoa despreparada, ele não tem dúvidas, só certezas. Acha que não podemos nos queixar de o Engenhão (o mais novo estádio do Brasil!) já estar podre porque, afinal, o estádio "recebeu os jogos dos grandes clubes nos úl­timos tempos"; considera que o país está per­feitamente preparado para grandes eventos, dado que recebemos a família real portugue­sa em 1808; afirma, categoricamente, que te­remos cobertura 4G em dois meses (até ago­ra, existem apenas quatro cidades cobertas, entre elas as megalópoles de Búzios, Paraty e Campos do Jordão, e uma única operadora oferecendo o serviço); diz que o dinheiro pú­blico empenhado nos estádios foi empresta­do "mediante garantias" e que "não há nada mais fiscalizado no Brasil do que o dinheiro da Copa".
Em qualquer país medianamente civiliza­do, uma entrevista tão constrangedora seria motivo suficiente para apeá-lo do ministério. Se Aldo Rebelo falou da boca para fora, ten­tando nos enrolar, não merece respeito; se é sincero e acredita no que disse, não tem competência nem para servir cafezinho na repartição.

Cora Ronai é jornalista. www.cronai.wordpress.comcora@oglobo.co.br

Não acabam aqui as miseráveis e ignóbeis “enganações” deste (des)governo, de que se podem citar algumas já tornadas públicas:

1.- Terminaram as obras do Maracanã! Só custaram 59,5% mais do que previsto e orçado! Porque? ...

2.- Depois de alardear que o custo de energia elétrica ia baixar 20%... a minha conta baixou (só um mês) 10% e já está anunciado um novo aumento de 12,13%! Porque? ...

3.- Na Petrobrás tudo vai bem com a benção da quadrilha que a gerencia: uma série de funcionários – superiores – da estatal petrolífera são ao mesmo tempo diretores de empresas contratadas para prestar serviço à dita Pedra-brás. Porque? ...

4.- Como é tecnicamente sabido, entre o prospectar e começar a exploração de petróleo, pior ainda em águas fundas, decorrem, se tudo correr bem, entre 8 a 10 anos. Aqui não se sabe quando vai começar, porque a lei obriga a Petrobrás a ficar com 30% de cada contrato e... ela está sem caixa!!! Uma petroleira sem caixa! Porque? ...

5.- No Rio tudo vai bem, tão bem que diminuiram os homicídios em Março. No Estado do Rio só, só houve tresentos e cinquenta e nove – 359 – assassinatos. Porque? ...

6.- No que respeita à distribuição de energia elétrica, do total de oitenta projetos de linhas de transmissão, cinquenta e três estão com atrasos: de 17.922 km o atraso é de 13.814. Porque? ...

7.- Para tentar auxiliar um pouco o povo do nordeste, onde as secas são regulares desde sempre, com sete anos de seca e um de chuvas, o (des)governo prometeu instalar até 2008, até 2008, um milhão de cisternas! Bonito! Estamos em 2013 e até agora só se instalaram 419.178! 41,9%. Porque? ...

8.- Apesar de ter corrido só um trimestre de 2013, o governo já não sabe o que fazer com a inflação, fala-se em aumento de juros (que ainda continuam os mais altos do mundo!) e os índices da indústria também se apresentam negativos. Porque? ...

9.- Saíu mais uma lei. Este é o país das leis... que depois não se cumprem, conflituam, etc. Mas enfim, a lei OBRIGA todas as crianças a irem para a escola aos quatro de idade e só de lá sairem com dezessete.
Isto é o que se chama de maravilha. Vamos ficar melhores, em ensino do que a Finlândia. Só que...
a)- não existem escolas, nem sufientes, nem ao alcance geográfico de toda a população. E seraim necessárias mais uns milhares de escolas;
b)- não há professores capazes para asa escolas atuais, quanto mais para essas hipotéticas vindouras;
c)- e, por fim, quem vai controlar se esses milhões de crianças vão mesmo para a escola?
Como é fácial criar leis. Para que? Porque ...

10.- E os bancos? Ah! Os bancos no Brasil têm o maior rendimento do mundo! A sua rentabilidade está entre 15 e 17% sobre o patrimônio! Porque?...
No entanto se alguém pensa que o Brasil é o El Dourado, venha então abrir um banco. Negócio garantido! Ou então um igreja evangélica, igualmente muito lucrativa.

Tudo isto porque os “os planos” do (des)governo são os seguintes:
1.- Roubar;
2.- Reelegerem-se;
3.- Igual a 1.-
4.- Igual a 2.-
5.- etc.
6.- Medidas.........................................................?????????
7.- Fim.
8.- Parece o fim mas não é. O rosário continua!

13/04/2013

domingo, 14 de abril de 2013




LEIS SOBRE NÃO SE PODEREM CAPTURAR OS GENTIOS DAS PARTES DO BRAZIL, E VIVEREM EM SUA LIBERDADE, SALVO NO CASO DECLARADO NA DITA LEI

Dom Phillippe etc. faço saber aos que esta lei virem que o senhor Rei Dom Sebastião meu sobrinho que Deos tem fez uma lei cidade devora a xv de março de o ano de mil e dlxxi na qual defendeu que se não podessem captivar os gentios das partes do Brasil senão nos casos e pelo modo nela declarados, e os que de outra maneira fossem cativos declarou por livres como mais largamente na dita lei se contem, e porque sou informado que os moradores do estado do Brasil usam de modos ilícitos peleando causas para dizerem que conforme a dita lei os captivão em justa guerra, e procedem em tudo contra as palavras e tenção da mesma lei captivando os injustamente a uns por engano outros por força do que se segue grande inconvenientes assim para as conciências das pessoas que pela dita maneira os captivão como pelo que toca a meu serviço, e a bem da conservação daquele estado, e querendo eu ora nisso prover com o parecer dos do meu conselho, como convem a serviço de deos e meu, pelas ditas causas, e outros justos respeitos que me a isso movem, e por atalhar ás cautelas com que os moradores das ditas partes procurão fraudar a dita lei ei por bem de a revogar como por esta revogo, e mando que daqui em diante senão use mais dela, e que por nenhum caso, nem modo algum os gentios das partes do Brazil se possão captivar salvo aquelles que se captivarem na guerra que contra eles eu ouver por bem que se faça a qual se fará somente por provisão minha para isso particular por mim assinada e aos que de outra maneira forem cptivos ei por livres, e ei por bem, e que aqueles contra quem eu não mandar fazer guerra vivão em qualquer das ditas partes em que estiverem em sua liberdade natural como homens livres que são sem poderem ser como captivos constrangidos a cousa alguma, e querendo os moradores das ditas partes do Brazil servir-se deles, lhes pagarão seu serviço, e trabalho como a homens livres, e contra os que da publicação desta lei em diante per alguma outra maneira os captivarem mandarei proceder como ouver por bem, e for meu serviço, e mando ao governador das ditas partes do Brazil, e ao ouvidor geral delas, e aos capitães das capitanias, e aos seus ouvidores, e a todas as justiças, oficiaes e pessoas das ditas partes que cumprão e fação mui inteiramente comprir e guardar esta lei como nella se contem, e ao doutor Simão Gonçalvez Preto do meu conselho chanceler mor de meus Reinos e senhorios que a publique na chancelaria e envie o traslado dela sob meu selo e seu sinal por três ou quatro vias ao governador das ditas partes do Brasil ao qual mando que a faça poblicar em todas as capitanias, e povoações delas, e registar no livro da chancelaria da ouvidoria geral, e nos livros das camaras dos lugares das ditas capitanias para que a todos seja notório e se compra inteiramente, e assim se registará no livro da mesa do despacho dos meus desembargadores do paço e nos livros das Relações das casas da suplicação e do porto em que as semelhantes leis se registam, dada em lixboa a onze de Novembro.
diogo de barros, a fez ano do nacimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil e dLxxxxb*
pero de Seixas o fez escrever./.
Foi publicada na chancelaria a lei del Rei nosso senhor atras escrita por mim Gaspar Maldonado escrivão dela perante os oficiais da dita chancelaria, e muita outra gente que vinha requerer o seu despacho, em Lixboa a nove de dezembro de 1595 anos.

(ANTT, Livro II de Leis, fols. 26 vº a 27)

Notas.-
* Já naquele tempo se trocavam os “b” pelos “v”!
- Leis feitas em Portugal para valerem no Brasil, naqueles tempos, pouca ou nenhuma valia tinham porque os raros colonos nem delas tomavam conhecimento, de modo que esta Lei, belissima, não teve impacto!
Foram os jesuitas que tentaram proteger os gentios, mas tanta animosidade criaram os colonos contra eles que acabaram por ser mortos ou expulsos!
Mas isso é outra história!

14/04/2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013






O REINO DE BENGUELA


PROVISÃO DADA POR D. FELIPE II, DATADA DE 14 DE FEVEREIRO DE 1615, MANDANDO SEPARAR O REINO DE BENGUELA DO GOVERNO DE ANGOLA, FORMANDO ASSIM UM NOVO GOVERNO

Eu El-Rei faço Saber aos que esta Provisão virem, que sendo eu informado quanto convém ao serviço de Deus e meu, pôr-se em ordem a conquista das Provincias do Reino, que chamam de Bengula, que corre com a costa de Angola, assim pela salvação das almas dos id´latras, que as habitão, entre os quais desejo muito que se prante a Fé Catholíca, conforme a minha particular obrigação, como por os proveitos que dos fructos d'aquellas terras podem resultar á minha Fazenda, e ás de meus vassalos desta Coroa, que tanto tem trabalhado no descobrimento delas:
E vendo como seria mui dificultoso efeituar-se e sustentar-se esta conquista, não estando separado do Governo de Angola, por o que a experiência tem mostrado do pouco que poderão cobrar nela os que o tiverão a seu cargo, a respeito do muito que sempre tiverão que fazer no comercio e quietação dos sovas mais visinhos a Loanda:
E considerando, por todos estes respeitos, e outros muitos, de muita importância, que me são mui presentes, em que também o é dever de prevenir aos rebeldes e piratas herejes, que poderão introduzir nas gentes sem luz das ditas Províncias a preversidade da sua deita, não tendo ela quem lhe ensine a verdade da Religião Cristã, quanto importa  que, sem nenhuma dilação, e com todo o calor se assista a negócio de tanta qualidade e tão digno da grandeza da minha Corôa, e do animo com que eu queria que sempre se acudisse a semelhantes empresas:
De meu poder Real e absoluto, me praz, e hei por bem, de separar, como de feito separo por esta presente Provisão, a Capitahia, Conquista e Governo das Provincias do dito Reino de Benguela, e de todas as mais terras que jazem até ao Cabo da Bôa Esperança, do de Angola, de cujo distrito até agora eram, na forma em que o Senhor Rei Dom Henrique, meu Thio, que haja Glória, separou do Governo de S. Thomé o dito Reino de Angola - e por ela as erijo e ao dito Reino, em novo Governo, para que de hoje em diante tenham separada jurisdição e Governador, que conquiste, e sustente em paz, quietação e justiça, aos povoadores, assim destas partes que áquelas forem viver, como aos naturaes delas – a qual e assim aos mais Ministros necessários, para viverem em forma, política e ordenadamente, conforme as Minhas Leis, lhes mandei nomear, por minhas Patentes, das qualidades que convém, para se poder delas fiar a erecção e conservação do dito Governo.
E mando ao Governador de Angola, que ora é, e ao depois fôr, que em nenhumas das cousas tocantes á jurisdição do dito Governo do Reino de Benguela, e mais terras nesta declaradas, não vão, nem usem da que até agora tiverão nele, desde o dia do traslado desta minha Provisão autentica se lhe presentar diante: porque assim é minha mercê.
A qual se registará nos Livros da Contadoria e Camara de Loanda, e nas mais daquela Conquista, onde pertencer, e neste Reino nos de minha Fazenda e Chancelaria e nos demais meus Tribunais, para que venha à notícia de todos a erecção deste Governo – e originalmente se entregará na Torre do Tombo, para nela se conservar e saber em todo o tempo os fundamentos que tive na dita erecção – para o que tudo valerá como carta começada em meu nome, por mim assinada, e passada por minha Chacelaria, posto que para seu efeito haja de durar mais um ano, sem embargo das Ordenações que o contrário dispoem.
Pedro Varela a fez, em Lisboa, a 14 de Fevereiro de 1615. Christovão Soares a fez escrever. –
Rei.
(Também publicada na Colleção Chronologica da Legislação Portugueza, de José Justina de Andrade e Silva, 2° tomo, anos de 1615 a 1619)

Nota.- Não durou muito este “Reino”. As fabulosas riquezas de cobre em Sumbe-Ambela – um pouco a sul de Benguela – com que Manuel Cerveira Pereira sonhava, e levou o rei a separar os dois “reinos, revelou-se um total fracasso. A seguir à sua morte ficou como governador Lopo Soares Lasso, que em 1633, numa tentativa de dar guerra ao soba Ngola Njimbu, de Caconda, que tinha mandado avisar o governador que não havia razão para este lhe fazer guerra, que ele, soba, não queria; mas Lopo Lasso foi penetrando nas suas terras e sofreu uma derrota total. Salvou-se um único homem, angolano, que levou a triste nova ao governador de Angola.
A pequena guarnição que ficou em Benguela, morria de fome. Nem comida, nem armas para se defenderem.
Durou pouco este “promissor” reino. O cobre apareceu, séculos depois, mas não em Sumbe-Ambela!
Mas, um dia, quando ali cheguei, em Agosto de 1954, Benguela era um lugar único no mundo. Como já tantas vezes tenho dito, e não canso, era a única cidade do mundo onde não havia brancos, nem pretos nem mulatos! Só gente. E gente boa, alegre, acolhedora.
E lá vinham as brisas da Praia Morena... etc.
Saudades que não passam!

08/03/2013

segunda-feira, 1 de abril de 2013





Estão a comer os “Filhos da Puta”


Gerou-se agora, por todo o lado a psicose de que o povo andava a comer “gato por lebre”! Surgiu em França essa bronca, quando descobriram que a maioria das lasagnas e outros produtos prontos, congelados, embalados, que indicavam levar como ingrediente carne bovina, afinal essa carne era uma mistureba de animais, sobretudo de cavalo, mas que levaria também cabra e ovelha. Enfim uma vigarice.
Não que as carnes desses outros animais não seja comestível, e até saborosa, mas informar uma coisa e vender outra é coisa de fi... da... coisa.
Na África do Sul, onde quase não existe controle nos matadouros, desvendou-se agora (?!) que a carne enlatada, especificada como bovina, tinha uma mistura muito maior, de acordo com o que o dono do abatedouro ia comprando: elefante, búfalo, gazela, zebra, burro, porco, cavalo, e, pasmem, carne bovina também.
Desde há muitos anos o Brasil é exportador de carne de cavalo (só em 2012 de carne de equídeos que inclui cavalo, jumento e mula foram 2.375,9 toneladas), e nunca ninguém se queixou.
Não há dúvida que se o cão é o melhor amigo do homem, o cavalo não lhe fica muito atrás, e o jumento, o mais humilde, o mais trabalhador, e o que menos recebe de benefícios, são animais que, para a grande maioria das pessoas repugna saber que aquele que tanto nos ajudou, termina em hamburguers, lasagnas ou almôndegas!
Na China vão mais longe: comem cães e gatos, além daquela imensidão de insectos que nos parecem repugnáveis, mas que acabam por ser o melhor e mais barato alimento, riquissimo em proteínas.
Já lá dizia Lavoisier que “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”! E assim há animais carnívoros, herbívoros, insectivoros, frugívoros, detritívoros (aqueles que se nutrem ingerindo partes mortas de outros seres, como urubus, hienas e determinados moluscos) e ainda há os antropofagos, e os onívoros. Tudo é uma questão de fome e oportunidade, senão vejamos:
O porco é um onívoro: o que lhe derem ele traça, como os cães, gatos e ratos. Algumas espécies de macacos, basicamente herbívoros ou frugívoros, quando se aproxima a época do acasalamento traçam os animais que puderem!
E o homem? Ah! Esse então nem se fala: come caranguejos que se alimentam de mééé..., come gato por lebre (quantas vezes?), cães, holotúrias, porcos, galinhas (que adoram comer baratas quando lhes passam ao alcance), jacaré (que tem consistência e sabe a frango sem tempêro!), elefante, capim transformado em salada, e como se tem visto, cavalo, mula, jumentinho, etc. Até ninhos de andorinhas! E se estiver mesmo a morrer de fome, ao lado de um companheiro que se tenha finado... também serve.
Mas o que haveria o homem de fazer quando um cavalo está velho e não pode mais trabalhar? Abrir uma cova imensa, chamar o bispo para benzer, e chorar de saudade? Aproveitar a carne possível e alimentar a família ou vender para o negociante mais próximo?
O que faria você que está a ler isto? Comia o cavalo ou enterrava, para o que seria necessária uma grande cova?
Parece que a carne de cavalo é mais clara que a bovina, mas esta também depende do que se alimenta, e há raças que dão carne mais escura do que outras. E os cavalos de corrida, que durante a sua vida foram submetidos a grandes esforços, o seu corpo obrigado a melhor irrigar toda a musculação, têm uma carne bem rosada.
E eu fico pensando no grande “Filho da Puta”, aquele cavalo inglês que ficou célebre por ter ganho nove grande prêmios, imortalizado em tela pelo pintor John Frederick Herring (1795-1865) por volta de 1820. A bem da verdade o que imortalizou o cavalo foi o seu nome, hoje famoso, e tão famoso que o quadro valerá hoje à roda de £ 1.000.000! Só pelo nome!


(Há pelo menos três versões sobre a origem desse nome. A que parece mais plausível dá conta que o embaixador português na Inglaterra*, à época, era apaixonado por turfe e também por uma viúva que ele comia nas horas extras.(E era somente embaixador, porque se fosse como o rei de Espanha, Juan Carlos, que parece ter tido no seu cardápio mais de 1.500 mulheres que ele comeu. Esfomeado o tal castelhano!) Pois bem, algum tempo antes da pintura do quadro, o embaixador arrematou num leilão de potros uma potranca a qual batizou de “Mrs. Barnett”, o nome da sua viúva. Mrs. Barnett (a égua), cumpriu campanha discreta nas pistas inglesas, sofreu uma lesão e não pôde mais correr. O intrépido português, então, deu-a de presente a um seu amigo da corte, que era também criador de cavalos. Passaram-se mais de 12 meses e neste período a viúva aplicou uma chifrada no pobre embaixador, mandando-se com um oficial da armada, bem mais jovem. O embaixador, claro, não gostou da traição, mas recolheu sua dor.
Num fim de semana, ele foi convidado pela amigo criador para uma visita ao haras, visto que "Mrs. Barnett" estava para parir. Efetivamente, “Mrs. Barnett”, a égua, pariu um lindo potro e o embaixador foi levado a examiná-lo. Era de fato um belo espécime. Como homenagem ao amigo, o Lorde inglês pediu que ele batizasse o potro com um nome típico de Portugal. O Embaixador, ainda engasgado com a perda de sua ex-amada, lascou-lhe o primeiro nome que lhe veio à mente ao ver o potrinho de pé: filho de Mrs. Barnett, só podia se chamar Filho da Puta. E foi assim que o ganhador do St. Leger de 1815 passou para a posteridade. Não por ter sido um grande cavalo. Até que foi muito bom, mas sua pintura ganhou centenas de milhares de reproduções e hoje enfeita paredes em todos os países de língua latina. A gravura de Filho da Puta, em função de seu nome bizarro, transformou-se no maior best seller do turfe mundial.)

Como é evidente um bom cavalo deixa sempre descendentes. Por isso os franceses e, quem sabe os ingleses, estão a comer os “Filhos da Puta”.

* (O embaixador era Dom Domingos de Sousa Coutinho, o 1º Conde de Funchal, solteiro, que morreu em Londres em 1833).

01/04/2013