quarta-feira, 28 de maio de 2014


Demo e Teo Cracias – 2


Estávamos então nas teocracias, tal como as demo, com variantes curiosas. Vamos ver:
- Teocracias monárquicas: que podemos dividir em duas categorias.
As que têm um rei, ou são monarquias absolutas ou constitucionais, o que significa absolutas!
O rei e a família real detém todo o poder, todos os cargos do governo e ainda se permitem deter o poder espiritual, isto é, em nome de Alá, mandam matar, esfolar ou triturar, não permitem bebidas alcoolicas nem pornografia, muito menos prostituição, mas toda a gente sabe que os Grandes dessas terras tão ética e moralmente corretas, vivem num deboche pseudo-escondido, cheio de mulheres oferecidas, wisky e champanhe em banheiras de ouro, e outros detalhes de indigentes. Os exemplos mais caricatos são os sauditas e os bareinitas, que os EUA muito protegem porque dependem do petróleo deles. No Bahrein com 70% da população xiita a família real é sunita, o que é, no mínimo estranho. No Kuwait o emir, o rei, não tem constitucionalmente o poder total, mas controla totalmente, tudo e todos.
- Teocracias shariistas democráticas: as que não têm rei, fazem o povo votar para brincar de democracia, mas os supremos chefes religiosos, como reis, só que não hereditários, estão-se bem lixando para as eleições e continuam a deter o poder total, de vida e morte sobre qualquer cidadão.
A seguir há uns países com tipo de governo, no mínimo estranho. Chamam-se a si próprios teocracias, mas através das divisões internas entre 80% de sunitas e 20% de xiitas, o desentendimento é perigoso e ainda exibem parlamentos para também brincarem de democratas.
Todas estas teocracias sobrevivem há mais de mil e quinhentos anos com base numa lei simplissima: o terror.
Ninguém, no seu normal estado de juízo se atreve a criticar ou discordar dum chefe civil, pior ainda religioso, se bem que os chefes civis sejam todos chefes religiosos, porque o mínimo que lhe pode acontecer é perder, ipsis verbis, a cabeça. Muito menos um não muçulmano porque, perante a lei corânica a palavra dum não muçulmano, sobretudo se for dum cristão, não tem qualquer valor em tribunais contra a de um muçulmano.
Onde a lei permite o sequestro e venda de mulheres para serem prostitutas dos compradores, sem direito a reclamar coisa alguma, nem a terem no mínimo um tratamento de gente. Há uma mulher no Kuwait, deputada, Salwa al-Mutairi, que está querendo legalizar a escravatura e venda de mulheres não muçulmanas para finalidades sexuais, chegando a afirmar: “Na guerra da Chechenia seguramente há mulheres prisioneiras. É só ir lá comprá-las, e vendê-las aqui no Kuwait; melhor do que ver os nossos homens envolvidos em relações sexuais proibidas. Não vejo nenhum problema nisso.” E a dita deputeda ainda mais justifica a instituição da escravidão sexual pela invocação do califa Harun al-Rashid (século VIII) — que é conhecido no Ocidente pelas Noites Arabes (As Mil e Uma Noites) como um califa divertido, mulherengo, mas que era na realidade piedoso o suficiente para destruir igrejas e perseguir cristãos! E o maior exemplo que temos é, quando ele morreu Harun al-Rashid, tinha 2.000 escravas do sexo. Então está tudo bem, nada de errado com isso.”
Como devem lembrar-se – os que se lembram – as Mil e Uma Noites contam a história de um califa que um dia sentiu que uma das suas muitas mulheres tinha “indesejados” encontros com outro homem, e para evitar que muitos cornos se lhe juntassem na testa passou a dormir cada dia com uma mulher diferente, que de manhã mandava decapitar. Depois, apareceu Sherazade... etc.
Manuscrito de “As Mil e Uma Noites” do séc. XIV

Pois bem, esta الفرخ – Salwa –  merecia que se lhe enviasse um presente que, certamente a satisfaria muito: meia dúzia desses mais robustos lutadores de UFC, de pelo menos 100 kilos cada, para, diariamente, todos, lhe darem umas aulas de... prostituição!
Outro aspeto simpático desta “lei” – do terror – prevê que as mulheres só podem herdar metade do que herdarem os homens!
Autoridades muçulmanas também ficam sempre ao lado de muçulmanos abusadores em julgamentos de instâncias de meninas cristãs que foram raptadas, estupradas e forçadas a converter-se ao islamismo e casar-se com seus sequestradores islâmicos. Nessas raras ocasiões, quando tal fuga de vítimas de estupro para suas famílias destruídas e apavoradas, a polícia muitas vezes obriga-as a devolvê-las aos seus “maridos” estupradores, onde, particularmente no Paquistão, cenas como esta são de grande freqüência.
Cumplicidade legal em violência muçulmana contra os cristãos pode ser rastreada na doutrina islâmica da lealdade e inimizade, que induz os muçulmanos sempre para o lado dos colegas muçulmanos contra não-muçulmanos. Esta doutrina é construída em cima deste versículo do Alcorão, como a surata 5:51, que adverte os fiéis contra os judeus e cristãos amigos e aliados, porque quem entre vós os tomar para amigos e aliados, será certamente um deles, ou seja, qualquer amigo dos cristãos torna-se um infiel.
De acordo com o clássico e abalizado exegeta (os que sabem tudo!) al-Tabari, Alcorão 5:51, significa que o muçulmano aliado com não-muçulmanos aceita-os contra os crentes, assim ele mesmo passa a ser um membro de sua fé e comunidade, um infiel. "Combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Alá. Porém, se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão contra os perversos." Alcorão, Surata 2,193.
A loucura atinge pontos estrato-esféricos, ultrapassando o ridículo, não podendo comparar-se ao mais louco dos loucos que os psiquiatras conheçam: os talibãs, por entenderem que uma estátua de Buda, com 2.000 anos infringia a lei corânica, explodiram-na!  O Grande Mufti da Arábia, Abdul Aziz Al ash-Sheikh, (O Grand Mufti da Arábia Saudita é o mais importante e o mais influente muçulmano religioso sunita e a suprema autoridade jurídica na Arábia Saudita. O titular da posição é nomeado pelo rei. O Grande Mufti é o chefe do Comité permanente de investigação islâmica e quem emite pareceres jurídicos.) já declarou que é “necessário destruir todas as igrejas” que ainda exitam na Arábia Saudita (parece que já não há nem uma!) o que a midia do mundo ocidental – teoricamente cristão – ignorou.
Depois que Muhamad Morsi foi eleito líder dos Irmãos Muçulmanos no Egito (e já caíu!) foi crescente a quantidade de clérigos muçulmanos a clamarem pela destruição das pirâmides!* Parece piada, mas não é. Entretanto os salafistas têm-se entretido a destruir massivamente artefatos do antigo Egito para purgar o Egito da idolatria.
Tá tudo louco, pior está tudo acobardado face à bestialidade dos extremistas, como o palhaço Goodluck que se intitule presidenta da Nigéria e tem medo de visitar a região sob o controle de outro mais louco, a seita do Boko Haram, que tem morto quantos e quando quer, e só agora, depois da comunidade internacional ter gritado (tarde, aliás) é que uns poucos se mobilizam para lhe ir em cima!
Terror! Uma palavra que enxovalhou a França, a Alemanha de Hitler, o Cambogja de Pol Pott, Castela de Torquemada, e dezenas de outros – Sudão, Biafra, Kenia, Ruanda, etc. – e agora o mundo se borra de medo com o avanço do Islão insano, cujo maior mal está fazendo a si próprio desacreditando aqueles que, de boa fé, aceitaram a palavra do Profeta.
Loucura.
Que continuará enquanto o Bezerro de Ouro tapar a consciência dos mais insanos!
O que é difícil, quando não, impossível.
Uma das maiores desgraças dos homens de bem é serem cobardes (Voltaire).

*  New York Times, July ,23 2012; Huffington Post, July 17. 2012


 Do jornal "O Globo" de hoje, 28/05/2014


18/05/2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014




Histórias da África
por onde os portugueses andaram
3
O começo do fim

Pela Convenção de Berlim, Portugal, para continuar a manter as suas ligações com África, foi obrigado, como já vimos, a ocupar militar e administrativamente as regiões onde há séculos comerciava, e com quem tinha, em muitos casos, boas relações de entendimento e respeito.
A própria Metrópole atravessava um período de total descontrole, com dois partidos políticos que fingiam que eram adversários: os seus componentes passavam-se de um lado para o outro como quem troca de camisa. Como é evidente, dinheiro não havia! Portugal não conseguia sair da grave crise financeira que o acompanhava desde as invasões francesas, que se agravara até mais não durante as Lutas Liberais e que conhecera novo surto com o Ultimatum Inglês e a bancarrota do Reino.
Mas houve que mandar tropas para África, o que se verificou ser um outro desastre: em muitos casos combater aliados, ou ser por eles derrotado, e constatar que as finanças do país não suportavam essas despesas. Para mais, o controle da situação não era tão evidente quanto pensava o governo em Lisboa!
O caso da moeda no período colonial era outra bagunça. Nos territórios ultramarinos corriam moedas de todos os países, e cada um dava-lhes o câmbio que bem entendia. Faziam-se leis estabelecendo os câmbios que não entravam em execução. Enfim, uma cegueira política e económica sobre a administração colonial.
Cabo Verde, o Porto Grande do Mindelo, começava a deixar de ser o principal porto no Atlântico para reabastecimento de carvão aos “novos” navios a vapor – o que lhe dava desafogo financeiro - perdendo para a concorrência dos portos de Dakar e das Canárias, mais modernos e melhor apetrechados.
Para se procurar arranjar dinheiro, forjavam-se leis com alguns impostos que alteravam constantemente as pautas aduaneiras, faziam-se reduções às mercadorias transportadas em navios de bandeira portuguesa, mas Portugal estava com a marinha mercante reduzida a quase nada.
Além de tudo Portugal temia que, facilitando os direitos (por exemplo em Angola), os comerciantes poderiam aproveitar e re-exportar esses bens para os territórios vizinhos, o que teria sido até um boa jogada comercial. Os interesses dos monopólios em Portugal iam falando mais alto…
O tráfico de escravos acabara. Os grandes empresários de Angola, os negociantes, os únicos que tinham tido crédito, cujas notas promissórias circulavam como dinheiro, estavam todos à beira da falência. Angola estava completamente descapitalizada.
Sonhava-se em levar colonos de Cabo Verde e das ilhas, sobretudo dos Açores, para colonizar Angola, mas chocava-se sempre no mesmo ponto: transporte e financiamento, apesar de algumas tentativas terem resultado, como por exemplo na Chibia, Huila, Angola, onde até hoje continuam a viver descedentes de açoreanos.
O problema da moeda, se escasseava em Portugal, em Angola era uma parafernália. Tudo servia de moeda e a escassez chegava a situações que obrigou a muita vez se adotar a “moeda” africana, como os panos do Luango ou Nzimbo para pagar à tropa, e persistiam em outros tantos negócios a troca direta de bens, sobretudo alimentares.
Em 1864 foi criado o BNU, Banco Nacional Ultramarino, para ser o emissor nas colónias, rapidamente entregue a “compadres maçons” sem que tivesse havido concurso público, e que explorou, com juros exorbitantes, agricultores e comerciantes, confiscando propriedades que em vez de se terem desenvolvido, se endividaram ao banco.  
(Com a lei de 25 de Fevereiro de 1869, proclamou-se a abolição da escravatura em todo o Império Português. Mas... em 1875 o BNU contrata, diretamente da Libéria, 600 homens e mulheres para as suas propriedades de S. Tomé e até ao final de 1876 tinha já “importado” da Libéria, cerca de 3000 trabalhadores. A importação de mão de obra da Libéria foi a solução que o F. Chamiço encontrou como ideal para evitar a caça aos navios de escravos que era feita pelos navios de guerra ingleses sobretudo nas costas de Angola. Aliás, em 1877 o navio à vela “Ovarense” ao serviço do BNU, foi arrestado pelos ingleses e confiscada toda a sua carga, sob pretexto de que fazia comércio de escravos. Em 1877 o jornal “O Progresso” de Lisboa refere que em Luanda se encontram 240 escravos comprados pelo BNU com destino a S. Tomé, estando mais 1000 escravos em Novo Redondo, prontos para partir para a “Água Izé”, propriedade do BNU em São Tomé) É bom notar que estas roças, todas em S. Tomé, já propriedade do BNU, foram confiscadas a antigos agricultores que tiveram a infelicidade de pedir dinheiro ao banco!
A situação nas colónias mantém-se, economicamente, um desastre, pouco mais se tendo feito, e com capitais ingleses, do que as três linhas de caminhos de ferro – Benguela, Malange e Lobito em Angola e Beira e Lourenço Marques em Moçambique – e criando-se companhias “magestáticas” para substituir os “prazos” de Moçambique, tudo em proveito dos investidores, portugueses e estrangeiros.
Por muito grande que tenha sido o projeto vigarista de Alves dos Reis, 1925, com o famoso Banco Angola & Metrópole (que ficou conhecido como “Engrola a Metrópole”), talvez tenha sido uma pena que não tivesse seguido em frente. Angola teria resolvido com esta jogada o seu problema financeiro que certamente a faria crescer com rapidez.
A partir dos anos 20 do século XX são as grandes companhias, que vão para Angola e Moçambique, nos mesmos moldes, como a dos diamantes, açucareiras, algodoeiras cujos beneficiados eram os capitalistas e suas fábricas em Portugal. São Tomé, um grande produtor de cacau e café, mandava para os magnates portugueses, incluindo o próprio BNU, todo o lucro das suas explorações.
É com a 2ª Guerra Mundial que o dinheiro fácil chega a Portugal, assente nas exportações de volfrâmio e de conservas de peixe para todas as partes beligerantes. E são esses excedentes em divisas que, tempos mais tarde, tornam possível o 1º Plano de Fomento e, com ele, Angola comece a crescer.
Só que Portugal tinha perdido quase totalmente a confiança dos povos nativos. E nem parece ter escutado (ou, se escutou, não entendeu) as palavras de De Gaulle aos soldados das suas colónias em África, quando lhes prometeu dar-lhes a independência pela sua contribuição na guerra, ao lado da França.
No fim da 2ª Guerra Mundial, como para a população portuguesa o solo natal lhe era adverso e pobre, Angola começa receber gente e a crescer, desta vez em inúmeros setores, desde o agrícola, comércio, indústria e financeiro, com praticamente todos os bancos da Metrópole a se instalarem, tanto em Angola como em Moçambique.
As vozes dos intelectuais africanos, que pouco mais queriam do que ser ouvidos e sobretudo tratados em condições iguais aos europeus que chegavam e ocupavam todos os postos superiores da administração, não são ouvidas. O Governo de Salazar faz ouvidos moucos e criam-se os movimentos que Portugal chamava de “terroristas”, e o, talvez evitável se discutido desde os primeiros momentos, apareceu: a luta pela independência.
Angola dá um pulo incrível de desenvolvimento entre 1961 e 1974, mas o mal estava instalado e crescia. A Guerra Colonial podia até estar ganha em Angola. Nunca na Guiné nem em Moçambique, mas o entendimento, a confiança, haviam desaparecido.
O alardeado Império Colonial Português, não tivera nem meio século de vida.
Os 500 anos de colonialismo também não chegaram a cem (na verdade, vão da 2ª década do séc. XX até 1975)!
E assim Portugal se encontrou despido, ainda mal visto por muitos, quase obrigado a aceitar esmolas de Timor para os sinistrados de incêndios (que ao fim de muitos meses, por razões burocráticas!!!, ainda não entregou aos destinatários).
Mas continua a ter 50 ministros e secretários de estado, mais de 200 deputados, todos muito contentes com eles-próprios. Para que?


22/05/2014 

terça-feira, 20 de maio de 2014



Demo e Teo Cracias – 1



No tempo em que a linguagem era simples, sem acordos gramaticais e outras complicaduras, rezavam os manuais políticos que havia três tipos de governo: ditadura ou tirania, democracia e teocracia.
Hoje com os pensamentos muito desenvolvidos (!), também se desenvolveu a nomeclatura para definir os sub-produtos dos três sistemas iniciais, e assim encontramos situações extremamente curiosas – o mais correto seria chamá-las de desastrosas – como:
- Ditadura: todas são trágicas, algumas trágico-cômicas como a do clã dos King Kongs na Coreia do Norte onde até o corte de cabelo é obrigatório. Para se avaliarem as ditaduras deveriam classificar-se pelo números de mortes – assassinatos – cometidas contra opositores.
De longe, em primeirissimo lugar, viria a do zé stalin soviete, com mais de doze milhões, ex-aequo em segundo competiriam hitler e mao, depois a cambodgiana com os  Khmer Vermelhos de pol pot com mais uns muitos milhões, depois uns mais branditos como a de pinochet, franco, mussolini e dos generais argentinos, devendo aparecer em penúltimo lugar a dos generais brasileiros com pouco mais de quatrocentos mortos, e por fim a salazarista. É evidente que sem esquecer a cubana, sobretudo quando lá estava o pacifista guevara que todos os dias ia à prisão fuzilar uns quantos presos... por prazer.
- A seguir aparecem as Ditaduras da democracia ou ditaduras democráticas, duas palavras de total antagonismo, mas que estão bem representadas em países como a Rússia e Brasil, por exemplo. Em ambos se vota, o que pressupõe democracia, mas no primeiro impera a ditadura kágebesca, militar, onde não se prestam contas ao povo, os juízes são comandados pela sempre poderosa polícia putinesca, e quem se atrever (ou já atreveu) a dizer que as obras em Sotchi foram um escândalo de corrupção vai prá cadeia. Lugar estratégico, onde o filho da Putina tem uma big mansão, ao lado da Abcássia e da Ossétia do Sul, que ele já roubou à Geórgia e em frente da Crimeia que acaba de roubar também. Ditadura democrática policial... e corrupta, ora pois.
No Brasil tem algo semelhante: a Rússia tem a dança dos Cossacos, o Lago dos Cisnes e outras, e o Brasil o Samba. Dançar dançam todos.
Na Russia do putinesco imperial, ai de quem levantar a voz contra ele e seus asseclas.
No Brasil, muito mais liberal, levanta-se a voz contra tudo e contra todos, a banditagem, corrupção, ladroagem, enriquecimento super ilícito, descarado apoio do desgoverno a grupos de baderneiros, mas a ditadura do “pt”, os ptralhas, tudo abafa, ninguém viu nada, nem ouviu nada, nem fala nada.
E ainda se permitem tentar denegrir a imagem dum irrepreensível ministro do Supremo Tribunal Federal, por ter condenado o alto escalão petralha, (devia dizer a alta escória, mas...) sendo até, por elementos da gangue desgovernamental, ameaçado de morte nas chamadas redes sociais da Internet!
A imagem do governo onde o futuro não chega

- Democracia de um dono só”.  Democracia é de todas a mais rica em filologia, sem dúvida. Tem dezenas de sub-variantes, como por exemplo em Angola, Guiné Equatorial e Zimbabué: onde o povo vota, previamente os resultados já estão definidos mantendo indefinidamente os “presidentes”; o da Guiné Equatorial  e o angolano competem para ver quem mais rouba dos seus países, ambos há 35 anos na mamata, este com uma filhinha a mulher mais rica de toda a África, o outro, além do  genocídio dos bubis, acumulou também uma fortuna de alguns bilhões de dólares, e na outra banda o imorrível do Zimbabwe há 27 anos, com 90 de idade, semi-podre, mas ai de quem o contrariar.
Este tipo de democracia é que tem os mais verdadeiros slogans de propaganda: “Votem em mim que eu quero que vocês se danem e a grana é minha”!
Há mais deste tipo; por ora estes devem ser os campeões.
Democracias Mentecaptas:  há outras democracias muito curiosas também, sem precisarmos ir muito longe: dois vizinhos são exemplo da mente capta dos homens, e mulheres, aqueles que votam: Venezuela e Argentina. Venezuela, o oitavo país produtor/exportador de petróleo arruina-se, e à população faltam alimentos e até papel higiénico! A Argentina, até tem um pouco de petróleo, uma indústria razoável, muito turismo, uma agricultura e pecuária onde tudo se produz do bom e do melhor, um povo com alto índice de cultura. Há muitos anos estes dois países só “produzem” presidentes dementes e assim se afundam..
- Democracias Implodidas:  as mais variadas são aquelas com inúmeros partidos políticos, as mais divertidas para quem assiste, de longe, à babilónia dos seus governos e parlamentos, onde ninguém se preocupa com o país, mas como a individualidade de cada um dos seus componentes. Resultado: cada vez mais países aflitos para manterem a cabeça fora de água, mas sempre a meterem água. À maioria desses hoje vale-lhes o famosérrimo parlamento europeu, o mais babilónico de todos, onde o virus corruptus parlamentarius reina soberano e ninguém mais parece querer a União Europeia para coisa alguma.
Tem muitas variantes de democracias e até, espantem-se os leitores, algumas funcionam bem, anos-luz à frente de todos as outras que por terem criado eleições se arrogam o direito de se dizerem democracias. As autêticas são as nórdicas, que infelizmente não passam de meia dúzia. E por incrível que pareça são monarquias democráticas! Imaginem se Carlos Magno ou o Luis XIV poderia imaginar que isto um adia havia de acontecer!
E a mais absurda forma de governo:
- Teocracia, que foi a segunda a aparecer no mundo. Primeiro foi a liberdade total, com o matriarcado a dominar, começando nos humanos com a Eva a dar uma maçã de sacanagem ao Adão. 
Teocracia, segundo a etimologia significa, mais ou menos: “ou acreditas que eu te mato em nome de Alá, ou não acreditas e eu te mato em nome de Alá”.
Depois os homens, sempre maricas, cobardes, medrosos, perceberam que havia algo que os ultrapassava – além das mulheres – por muito fortes e muito grandes os exércitos que comandavam, a quem temiam e puseram o nome de deus, javé, alá, braman, olorun, nzambi e até oxalá.
Então encontraram uma fórmula para minimizar os efeitos da sua insignificante pessoa e intitularam-se “deuses” dos seus povos, ou “rei pela graça de Deus”, “profeta único”, iluminado”, “representante das vontades de Alá para matar os que não vão no meu papo”, sacrificando, imolando os seus (pessoais) inimigos para aplacar a cólera dos deuses, etc.
Fizeram isso os mais antigos como hebreus, assírios, egípcios, maias, e muitos outros, como  no Egito, Aquenáton, um grande faraó que quis instituir uma religião monoteísta na tentativa de retirar o poder político das mãos dos sacerdotes sem se esquecer ele mesmo de ser o único representante e mediador dessa divindade. Os sacerdotes era tudo gente fina: mandavam nos faraós e obrigavam o povo a “fornecer-lhes” regularmente jovens virgens para ajudarem na “rezas” aos deuses. Desculpem, às deusas. Uma farra. Como é evidente acabou assassinado por mando dos faraós... destituidos.
Bem mais tarde a asquerosa inquisição deixou uma mancha indelével na religião do amor, mas nada se compara aos mais ferozes e persistentes que têm sido, desde o primeiro momento, os extremistas. Todos os extremistas.
Basta, por hoje, este detalhe:
No Islã, uma pessoa que comete blasfêmia pode ser morta ou crucificada, ou suas mãos e pés podem ser cortados, ou pode ser exilada da terra.
O próprio Muhammad —uma vez declarou: “quem amaldiçoa um profeta, matem-no” — ordenou a execução de muitas pessoas simplesmente por criticar, questionar ou por chacota ao Corão.
Entre os mortos havia mulheres, tais como Asma bint Marwan. De acordo com o primeiro biógrafo do profeta, depois de Muhammad ter ouvido alguns dos poemas de Asma, retratou-a como um bandido assassino e clamou pelo seu assassinato, exclamando:
“Ninguém irá me livrar desta mulher?” Umayr, um zeloso muçulmano, decidiu executar os desejos do profeta. Uma noite entrou em casa da escritora enquanto ela estava deitada dormindo rodeada por seus filhos. Lá Umayr tirou-lhe o bebê que estava a mamar e mergulhou a espada na poeta. Na manhã seguinte na mesquita, Muhammad, que estava ciente do assassinato, disse, “você ajudou a Deus e seu apóstolo”, Umayr disse, que ela tinha cinco filhos. “Devo me sentir culpado? “Não, respondeu o profeta. Matá-la era tão importante quanto duas cabras batendo suas cabeças.”*

* - “Qu’ran, Hadith and Scholars: Muhammad and Mas Murderer”, WikiIslam, n.d., http://wikiislam.net/wiki/Qur%27an

-          Continua –

12/05/2014


quarta-feira, 14 de maio de 2014




Histórias da África
por onde os portugueses andaram
2

Nos exemplos de Tratados a seguir apresentados há uma ideia bastante fiel e realista do modus vivendi ou modus operandi dos portugueses em África.
Negociava-se principalmente em escravos, comércio que os africanos praticavam desde sempre, o que não constituiu nenhuma invenção dos europeus. Escravos, marfim, cera e pouco ou nada mais.
Um dos aspetos importante a notar é a definição dos “impostos” que sempre os portugueses tinham que pagar às autoridades nativas para se instalarem ou negociarem em terras de reinos africanos, o que é reconhecido e destacadamente afirmado nos Tratados assinados entre os reis e príncipes africanos e as autoridades portuguesas em nome do Governo de Angola e sobretudo do rei de Portugal.
Os Tratados, de que se reproduz uma parte, foram assinados pelo então Major Henrique Augusto Dias de Carvalho, e estão descritos em livros por ele publicados.

Tratado de Comercio
Celebrado entre Portugal e Mona Samba (Capenda)
23 January1885

Carvalho, Henrique A D de – “A Lunda” pp. 39-43
Havendo a Expedição portugueza que em missão especial do Governo de Sua Magestade se dirige ao Muatiânvua, com o consentimento de Mona Mahango (Mona Samba), seus filhos e mais pessoas de familia, feito construir proximo á sua ambanza, uma casa de paredes barradas, ... consentimento que importou em 50 peças de fazenda, fica sendo esta casa propriedade do Estado Portuguez, conhecida pelo nome de Estação Civilizadora Portugueza Costa e Silva, podendo n’ela estabelecer-se a todo o tempo, sem outros encargos, a missão que o governo de Sua Magestade Fidelissima haja por bem para esse fim nomear.
Para todos os effeitos o chefe d’esta missão será considerado por Mona Samba, por Mona Buizo (Mona Cafunfo), por seus filhos, mais pessoas de familia e povos, delegado do governo geral de Angola, n’esta região, e será elle que de acordo com os dois potentados Mona Samba ou Mona Buizo, resolverá todas as pendencias que possam suscitar-se entre Portuguezes e os povos sob seus dominios, e quem fará cumprir áquelles o que fica estipulado n’este tratado.
O delegado do governo geral de Angola, quando julgue necessario para mais desenvolvimento da missão ou para o estabelecimento de novas, n’esta ou em outra localidade nos dominios de Mona Mahango (Samba) ou de Mona Cafunfo (Buizo) fará construir casas, templos religiosos, armazens, officinas e quaesquer outras dependencias sem que para isso tenha a pagar mais do que o valor de uma jarda de fazenda por cada dez metros quadrados de terreno occupado pelas referidas edificações, sendo as medições feitas pelo chefe da povoação mais proxima com a assistencia do delegado do governo geral de Angola, e um impunga (representante) de Mona Mahango ou de Mona Cafunfo.
Os subditos de Mona Mahango e de Mona Cafunfo, quando estiverem em terras portuguezes, serão considerados subditos de Sua Magestade Fidelissima, e gozam dos mesmos direitos e regalias que os seus desfructam.
O delegado do governo geral de Angola, terá á sua disposição a força necessaria para manter a sua auctoridade, garantir a segurança de pessoas e de bens da colonia e estações portuguezas, prestar a Mona Mahango, Mona Cafunfo, chefes de povoações e aos seus povos, todo o auxilio indispensavel no cumprimento das clausulas que neste se consignam, e ainda contra os malfeitores, quando esses socorros sejam pedidos por qualquer daquelles dois potentados e quando taes socorros não arrastem consigo compromissos á colonia e estações portuguezes.
O subdito portuguez que só queira transitar pelas terras de Mona Mahango ou Mona Cafunfo, fazendo-se acompanhar de cargas de commercio, terá de pagar quatro peças de fazenda a quem pertençam essas terras: mas se o seu fim, fór negociar pelo transito, então obterá uma licença especial para commercio, pela qual paga duas peças e em qualquer dos casos, nas povoações em que tenha de acampar pagará uma peça ao chefe d’essa povoação.
Se o subdito portuguez pretender estabelecer-se temporariamente (até 2 meses) em qualquer localidade, em logar duma terra terá a pagar ao chefe da localidade, duas peças, por seis mezes ou por anno, e para esse fim obter uma licença de Mona Samba ou Mona Buizo, a qual no primeiro caso, importará em quatro peças de fazenda e no segundo caso, em seis peças, além das duas que já tem de pagar ao chefe da povoação.
Quando o residente construir casa barrada para si e sua feitória, qualquer que seja a grandeza, não o poderá fazer sem licença de Mona Mahango ou de Mona Cafunfo, e esta importará em doze peças de fazenda, para qualquer destes potentados e tres para o chefe da povoação mais próxima.
As terras para lavrar serão concedidas gratuitamente, mas as ocupadas por quaesquer edificações nellas comprehendidas, ficam sujeitas ao que já fica classificado.
As licenças são obtidas como fica dito, por intervenção do delegado do governo geral de Angola, e os que no prazo de quinze dias as não tenham pago, procedente aviso do mesmo delegado, serão multados no triplo do valor das licenças, ficando 1/3 na delegacia para as despezas que ha a fazer e 2/3 entregues a Mona Mahango ou a Mona Cafunfo, a quem pertençam.
Estação civilizadora Costa e Silva, 18 fevereiro de 1885.
Extrahido do livro do expediente da Expedição portugueza ao Muatiânvua n.º 2, que foi presente á votação de Mona Samba, Senhor de Mahango e todos os do seu conselho na sua ambanza em 23 de fevereiro de 1885 á qual assistiram os Portuguezes residentes no auto que se fez levantar.



Auto de eleição do embaixador a enviar a Luanda a solicitar a protecção de Portugal na Lunda

CARVALHO, Henrique A. D de – “A Lunda”, pp 197-202
Aos doze dias do mez de Junho do anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos e oitenta e seis no Acampamento do Muatiânvua eleito, Ianvo vulgo Xa Madiamba, situado dois kilometros a leste da povoação do Chibango na margem esquerda do rio Chiumbue, no logar das audiências gerais estando reunidos os Muatas de lucano: Bungulo Anzovo, Chibango Cacuruba senhor da terra, Muzooli Mucanza sobrinho e herdeiro do assassinado Mucanza governador de Mataba, Tambu de Cabongo chefe dos Turubas entre os rios Chiumbue, Cassai e Luembe; e também os representantes de Muene Dinhinga, de Xa Cambuji, dos Muatas Cumbana, Caungula, de Muitia, de Muene Panda e outros e muito povo; o Muatiânvua eleito, sentado na cadeira de espaldar dourada debaixo do docel e devidamente fardado annunciou que chamara os quilolos áquella reunião para se despachar a embaixada que ia seguir para Loanda segundo as deliberações tomadas na ultima audiência por elles quilolos, mas era preciso antes que todos ouvissem o que se escreveu na mucanda (auto) e firmassem com o seu signal para se provar a Muene Puto que eram desejos de todos o que se pedia na mucanda.
Mostraram todos a sua adhesão ao que dissera Muatiânvua batendo palmadas e proferindo as palavras do uso.
O Chefe da Expedição disse: que tendo sido procurado pelo Muatiânvua e os principais quilolos para fazer constar a SUA MAGESTADE FEDELISSIMA o desejo que todos teem que o Governo do mesmo Augusto Senhor faça encorporar nos domínios da sua coroa as terras do Estado do Muatiânvua; escreveu no sentido em que lhe fora feito o pedido e ordenou que eu interprete António Bezerra de Lisboa lhe fizesse comprehender na sua língua o que estava escrito.
Depois de algumas explicações e demoradas considerações do Muitia e do Muata Bungulo, deliberou-se que fosse representado o Muatiânvua por seu sobrinho Muteba porém por causa de força maior o Cacuata Capenda é substituído pelo Cacuata Noeji e como particular de Muteba irá o Caxalapoli de confiança do Muatiânvua Tanda Ianvo e determina-se a Caungula que dê um representante seu e peça a Muata Cumbana para apresentar um delle os quaes se encorporarão aos que daqui partem.
O Muatiânvua e todos os grandes do Estado da Lunda representados pelos que firmam este auto reconhecem a Soberania de Portugal e pedem ao seu Governo que torne effectiva a ocupação da Lunda como terras portuguezas conservando entre os indiginas o que tem sido de seu uso e não importe embaraços á administração portugueza, e mantenha a integridade dos territórios como propriedade do antigo ESTADO DO MUATIÂNVUA.
É abolida a pena da morte logo que a autoridade portugueza junto do Muatiânvua resgate a vida dos sentenciados e faça seguir estes debaixo de prisão para as terras de Angola.
Fica proibida para fora das terras a venda ou troca de gente por artigos de commercio e nas terras não se pode tal transação fazer sem ser ouvida a auctoridade portugueza que tem preferência porque lhes dá a carta de alforria, e como seus tutellados os educa no trabalho.
Em quanto as autoridades portuguezas não possam dispor de recursos indispensáveis para serem devidamente educados os menores com direito á SUCESSÂO ao poder no Estado do Muatiânvua e nos estados em que elle se subdivide, as mesmas auctoridades proporcionam os meios de os fazer educar nas terras portuguezas em que não faltam recursos para esse fim.
O Muatiânvua depois de tomar posse da governação do Estado, comprometteu-se a validar todos os Tratados e nomeações feitas pelo Chefe da Expedição portugueza o Sr. Henrique Dias de Carvalho em terras da Lunda sem distinção de tribus; e desde já os quilolos que formam o seu séquito se obrigam a sujeitar-se á arbitragem do mesmo Chefe nas pendências a resolver com MONA QUISSENGUE chefe principal dos quiocos entre os rios de Chicapa e Luembe de modo que nesta região fique bem firmada a paz entre as tribus sob o domínio do Muatiânvua e as sob o domínio d’aquelle.
Pedem o Muatiânvua e os representantes da corte ao Governo de SUA MAGESTADE FIDELISSIMA, auctoridades portuguezas, força de soldados brancos para distribuir pelos paizes do Estado (LUNDA), mestres de officios, padres, médicos, lavradores, industriaes e negociantes.
E como todos os potentados e mais indivíduos presentes nada mais tinham a acrescentar ao que fica exposto, passou-se ás cerimónias da nomeação do embaixador que consistiram no seguinte:
Chamado MUTEBA veiu agachado collocar-se á frente do estrado sobre que estava collocada a cadeira e ahi ficou agachado. O Muatiânvua estendendo o braço direito sobre a cabeça delle disse umas palavras do rito que se resumem: em annunciar que o vae representar na longa jornada e tomará o seu nome e honras e nessa qualidade falará com o representante do grande Muene Puto em Loanda e por ter confiança nelle o escolhera e tudo que lhe disser é dito pelo próprio MUATIÂNVUA e tome muita conta no que ouvir para de tudo dar conhecimento ao Estado, lembrando-se que vai preparar um melhor futuro para este.
Depois recebendo de um prato que lhe apresentou muene Casse, mestre de cerimonias, um envolucro com pó vermelho dum lado, e branco do outro; ora tomando pitadas dum ora do outro fez-lhe cruzes na testa, hombros, peito, costa e braços pela parte interior, falando sempre: - que esperava não encontrasse, difficuldades no caminho, marchasse muito bem, que os maus espíritos andassem sempre longe delle etc.
Em seguida cuspiu-lhe na palma da mão esquerda, o que o agraciado sorveu dum trago e depois passando os dedos da mão direita pela palma da mão direita do Muatiânvua dava um estalido com os dedos e repedindo isto três vezes terminou por bater três palmadas com as suas mãos, o que repetiram todos os circumstantes gritando ChiNoeji, Muatiânvua, na lá ni eza, echu aosso imanei, Zambi umutalei. ( Pelo grande dos grandes, estas feito Muatiânvua, vae e volta, nós todos te esperamos. Deus te vigie).
E como nada mais houvesse a tratar com respeito ao assumpto, determinou o Chefe da Expedição que se encerrasse este auto que vae ser assignado pelos principais, fazendo uma cruz ao lado dos seus nomes, os que não sabem escrever e a todos eu secretario que escrevi reconheço pelas cathegorias que representam. – Acampamento do Muatiânvua na margem esquerda do Chiumbue, 12 de Junho de 1886.
(ass.) Henrique Augusto Dias de Carvalho, major do Exercito, Chefe de Expedição Portugueza ao Muatiânvua.


Há mais Tratados semelhantes, todos eles mostrando inequivocamente o reconhecimento de Portugal sobre a propriedade das terras. Bastaria ver as taxas ou impostos que os portugueses tinham que pagar, para se reconhecer de quem era a soberania.
Infelizmente não durou muito esta situação. Os povos que se quiseram proteger do avanço de outros europeus, colocando-se sob a soberania de Portugal, nada ganharam com isso. Portugal não tinha força para lutar contra toda a Europa, e até internamente atravessava uma crise de total desgoverno. Americanos e alemães, não sendo potências colonizadoras, reconheceram de imediato, contra Portugal, os “direitos” da “Association Internacionale du Congo”, forma sofismada de chamar ao Congo propriedade particular do rei dos belgas.
E a famigerada Conferência de Berlim impôs aos novos colonizadores obrigações que colidiam com a nossa maneira de estar, sobretudo pela cláusula que obrigava à ocupação militar e administrativa dos territórios, contrariando frontalmente todo o entendimento existente até então.
Pouco depois, os nossos mais antigos e “amigos aliados”, roubam-nos, com ameaça de exército e até de invasão do torrãozinho lusitano, a área central de África conhecida como o “Mapa Cor de Rosa”.
De pagadores de impostos aos chefes africanos fomos obrigados a inverter a situação e impor às populações a cobrança de novos impostos, que jamais foi por eles aceite.  
Rompeu-se assim um entendimento que tinha todos os méritos.
Um dia Portugal fez pior do que Pilatos: lavou as mãos em águas sujas de sangue, entregou as colônias, sem respeitar nada nem ninguém, aos comunistas, rasgou os Tratados que tinha assinado solenemente com os povos, enfim abandonou a sua história.
Virou-lhes as costas.
Hoje, Portugal continua de costas viradas para si mesmo, sem coragem de pedir desculpa pela covardia, pelos desastre que provocou.
Angola tem diamante e petróleo.
Portugal, de cara desavergonhada, estende-lhe a mão à espera de esmola.
Discutir os direitos dos povos...
Os Lunda Tchokwe, Cabindas, e vários outros foram ignorados. Esquecidos.

09/05/2014

segunda-feira, 12 de maio de 2014



Histórias da África
por onde os portugueses andaram
1

Como muito se fala nisso, e os cientistas aprovam, há um consenso sobre a origem dos Homo Sapiens: África. O avestruz também é originário de África que, diz a lenda, porque parece não ser verdade, o avestruz quando sente perigo enfia a cabeça num buraco. O que ele faz é baixar o pescoço até ao chão para passar mais desapercebido.
Com os chamados homo sapiens cobardus*, aqueles que renegam ou insultam a história, passa-se algo semelhante: com medo de verdades enfiam a cabeça num buraco. Pena que o buraco não se feche de vez mantendo-os ad aeternum enterrados na escuridão e covardia.
Portugal tem feito sumir uma quantidade de feriados e dado enfâse político a outros, sobretudo o 5 de Outubro e o 25 de Abril, ambos impostos pela força. O primeiro levou dezoito anos a destruir o pouco que já vinha mal baratado da monarquia, e outro ao fim de 40 anos continua a fazer grande festa, sobretudo dos vermelhuscos e a enaltecer o empobrecimento constante, o desbarato, o conluio e a corrupção.
O 10 de Junho, chamado da Comunidade Lusíada... vai minguando com o desentendimento gerado pelo des-acordo ortográfico, e não só. O povo português ainda não entendeu qualquer processo político e por isso vota mal, quando vota, e depois fica pacificamente a falar mal dos que eles mesmos lá puseram, enquanto toma uma bica no café da esquina com os compadres.
Houve época em que “se estendiam ramos à mocidade que passava”, orgulhosa de pertencer a uma nação que tinha um passado de glória, de honra e de ética, que começou a sumir a partir do século XVII, até chegar a ser uma espécie de massa amorfa.
E como Portugal tem do que se orgulhar...! Não precisa dos “milagres” de Ourique nem da batalha de Aljubarrota, mas que lhe contem, sem exageros nem pieguices e, muito menos sem escamotear feitos dignos duma raça valente, algumas passagens, entre as quais as que os pseudo maoistas e marxistas quiseram denegrir no pós “cravos”, como foi o caso de insultar a memória, gloriosa, de Afonso de Albuquerque.
O tempo colonial ainda está presente na memória de muitos que, embrutecidos pelo complexo de vira-latas, teimam em insistir nos “erros” dos portugueses. É evidente que fizeram muitos, mas levante a primeira pedra quem passou pela vida sem os cometer.
Os pobres de espírito que em África ainda insistem nos 500 anos de colonização, não têm a menor ideia do que foi o tempo que os, pouquissimos, pouquissimos, portugueses por lá andaram.
Não foram eles que inventaram a escravatura, nem os maiores negreiros dos últimos séculos, mas foram, de certeza, os que melhor se entenderam com as populações nativas, tanto em África, como no Brasil e no Oriente. Quem levou os primeiros africanos para a Europa e os mandou educar nos melhores colégios? Porque existiu Macau, que nunca foi uma colônia? Como foi foi possível que um homem só, António Fernandes, em 1500 e pouco, tivesse entrado sozinho pelo interior da costa leste de África, atingido o Reino do Monomotapa e ao fim de pouco tempo ter mais de 3.000 escravos que se lhe foram oferecer e trabalhar sob seu comando?
Há muitas histórias destas que os meninós que “reinam” nos des-governos de Portugal e/ou nas escolas e faculdades se “esquecem” de mostrar aos jovens. Mas não esquecem de dizer que Salazar foi um isto e mais aquilo, que Afonso Costa (alguém sabe quem foi?) quase foi beatificado pelos bolcheviques, que foi uma pena Humberto Delgado, o louco, não ter sido eleito, e que “Grândola, Terra Morena” é a melhor e mais profunda música do país.
Mas... e os que “por obras valerosas deviam ser da morte libertados”?
Vamos para África.
Alguém sabe o que um grupo de austríacos, chefiados por um vigarista, Guilherme Bolts, andou a fazer em Lourenço Marques no último quartel do século XVIII? E como de lá foram corridos?
Há muita história para contar, mas vamos-nos ater a alguns pontos que hoje são sobretudo polémicas inter-africanas, porque Portugal, já moribundo na época do Ultimato, e cobarde com os cravos VERMELHOS, não soube vestir a honra e dignidade dos seus antepassados e virou costas às populações que lhe tinham solicitado, oficialmente, proteção.
Apesar de nos dedicarmos agora a África é bom não esquecer a vergonha dos capitãesdeabril em relação a Timor.
Bem antes da famigerada Conferência de Berlim, 1884-5, ter dividido Angola entre os mais poderosos da Europa (um pouco do que se passa hoje com a União Europeia... a desmantelar-se), já Inglaterra começara a pressionar Portugal para não ocupar militarmente algumas regiões a norte de Ambriz em Angola, porque o rei Leopoldo da Bélgica já tinha deitado o olho (grande) a todo o território do Congo.
O pouco que deixaram para os pobres e infelizes portugueses, os que há vários séculos tinham penetrado África e com os africanos comerciavam, após muita discussão, foi que só se considerariam sob protetorado as regiões que fossem ocupadas administrativa e militarmente.
É evidente que os queridos ingleses sabiam perfeitamente que Portugal não tinha forças para nada, mas algo se arrancou das suas entranhas e teve que inverter a sua posição face aos reinos angolanos: de visitantes, autorizados mediante pagamento de pedágios ou portagens, a dominadores e receptores de impostos.
As divisões das terras africanas não levaram em conta reinos antigos, nem etnias, mas sim através de paralelos e meridianos para poderem abarcar as riquezas que aí dentro ficavam garantidas.
Há documentos antigos que mostram o grande descontentamento dos povos africanos perante esta infâmia, todos eles sabendo que não tinham forças para combater os novos invasores e, sobretudo não se quererem sujeitar a europeus arrogantes e racistas que ainda durante quase mais um século escreviam “cientificamente” que os africanos eram seres anatomicamente inferiores e que assim só a escravidão lhes serviria.
O contato e o trato com os portugueses, conhecidos de há séculos, era diferente, havendo um exemplo claro disso, com a vida do sertanejo Silva Porto, que durante décadas foi o único branco, português, que viveu, sozinho no interior de Angola.
Para “garantir” a sua sobrevivência como reinos independentes, alguns povos reuniram todos os seus principais chefes e representantes e, voluntariamente colocam as suas terras sob o protetorado do rei de Portugal, pedindo que este lhes desse proteção contra invasores, fossem eles quem fossem, e que ao mesmo tempo lhes enviasse artífices, professores, e soldados para os defenderem.
O mais conhecido destes tratados é assinado em Cabinda em 1 e Fevereiro de 1885, cujos primeiros três parágrafos rezam:
Art. 1º - Os príncipes e mais chefes (de Cabinda) e seus sucessores declaram, voluntariamente, reconhecer a soberania de Portugal, colocando sob o protectorado desta nação todos os territórios por eles governados.
Art. 2º - Portugal reconhece e confirmará todos os chefes que forem reconhecidos pelos povos segundo as suas leis e usos, prometendo-lhes auxílio e protecção.
Art. 3º - Portugal obriga-se a fazer manter a integridade dos territórios colocados sob o seu protectorado.
Assinou  em nome do rei de Portugal o capitão tenente da Armada Guilherme de Brito Capello, comandante da corveta Rainha de Portugal, que se fosse vivo hoje iria pedir perdão aos príncipes de Cabinda por ter colaborado numa mentira, como foi Egas Moniz ao rei de Leão por Afonso Henriques não ter cumprido com a palavra que seu aio deixara como garantia de vassalagem para que o rei de Leão levantasse o cerco a Guimarães.
Seguiram-se vários Tratados de Protetorado, todos no mesmo sentido de aparente responsabilidade, entre Portugal
- e Mona Samba (Capenda) 1885, 23 de Fevereiro
- e Caungula (Xá Muteba) 1885, 31 de Outubro
- e Tchissengue e os seus Nobres Muananganas (Quiocos), 1886, 2 de Setembro
- e o Muatianvua Ambinji Chefe dos Calambas do Moxico, 1886, 1 Dezembro, Lucusse
- e a corte Imperial do rei Muatiânvua, 1887, 18 de Janeiro

Mas vamos deixar a continuação para a próxima.

05/05/2014




quinta-feira, 8 de maio de 2014



Sobre Religiões Afro-Americanas


Texto de um grande historiador com especial interesse para se compreender a inter-influência de duas culturas religiosas.

A dinâmica da mudança de cultura pode ser vista na evolução das línguas africanas, nas estruturas sociais e estéticas, quando africanos se mudaram para o outro lado do mar ou entraram em contato com os europeus. Este processo de dinâmica também afetou a religião e filosofia em África e como os africanos se tornaram americanos do novo mundo Atlântico. Como com os outros elementos da cultura, a religião respondeu pela sua interna dinâmica e pela nova dinâmica criada pelo contato de culturas e transferência física. O resultado foi o surgimento de uma nova religião Afro-Atlântica que muitas vezes foi identificada como cristã, especialmente no novo mundo, porque era um tipo de cristianismo que poderia satisfazer ambos, africanos e europeus, a compreender a religião.
Este novo cristianismo africano permitiu alguns dos conhecimentos filosóficos e religiosos africanos serem acomodados num sistema religioso europeu e representou uma fusão de grande importância, semelhante à criação do budismo chinês (ou sudeste asiático) ou o indianização do islã. Para compreender esta transformação notável deve-se primeiro compreender a dinâmica subjacente do conhecimento religioso e dos mecanismos de mudança religiosa, conversão e transformação na presença de outros sistemas de conhecimento religioso. Visto desta perspectiva, podemos então examinar o desenvolvimento do cristianismo africano, primeiro na África e, depois, no mundo Atlântico.
A fusão das religiões requer algo mais do que simplesmente a mistura de formas e idéias de uma religião com aquelas de outra. Requer uma reavaliação dos conceitos básicos e fontes de conhecimento de ambas as religiões a fim de encontrar um terreno comum. Religião como foi vivida nos séculos XVI e XVII não era simplesmente uma concepção intelectual, composta por pessoas e sujeita a reconsideração ou debate. Em vez disso, as idéias e as imagens eram recebidas ou reveladas de seres de “fora deste mundo” em uma ou outra forma, e aos seres humanos só cabia o papel de interpretar estas revelações e agir em conformidade. Assim, a filosofia religiosa não foi a criadora da religião; revelações foram. Filosofia religiosa simplesmente interpretava.
No entanto, estritamente falando, os seres humanos não eram livres para mudar de religião ou de questionar as revelações, e no final praticamente toda a mudança religiosa exigia no mínimo reinterpretação das revelações existentes, no máximo um novo conjunto de revelações mais fortes. O desenvolvimento do cristianismo africano em África e sua transmissão para a América foi em grande medida uma combinação de ambos os fatores, usado por ambos africanos e europeus.
Os africanos e os europeus tinham sistemas um tanto diferentes de conhecimento religioso, bem como um conjunto completamente diferente de revelações básicas, mas ainda tinham em comum uma série de grandes ideias. Se eles não compartilhassem essas idéias, o desenvolvimento do cristianismo africano provavelmente não teria sido possível. Ambas as culturas aceitaram a realidade básica da religião: que havia outro mundo que não podia ser visto e que revelações eram a fonte essencial pela qual as pessoas poderiam saber desse outro mundo.
Assim, nos séculos XVI e XVII os africanos e os europeus concebiam o cosmos como sendo dividido em dois mundos separados, mas intimamente interligados: este mundo, o mundo material onde todos vivem e que pode ser percebido pelos cinco sentidos normais, e o outro mundo normalmente imperceptível, exceto para alguns indivíduos dotados, e habitado por uma variedade de seres ou entidades. Qualquer um poderia passar deste mundo para o outro mundo após a morte, só que as almas dos mortos ficavam entre os habitantes do outro mundo.
Os europeus, que nos fornecem as fontes necessárias para estudar a religião neste período, estavam ansiosos para estabelecer imediatamente que as duas culturas compartilhavam este ponto de partida fundamental. Às vezes, descobrir esta crença compartilhada foi tão difícil quanto foram suas perguntas sobre religião. Por exemplo, Pieter de Marees observou, em seu registro do início do século XVII na Costa do Ouro, que as pessoas acreditavam em um outro mundo e que passavam para lá quando morriam, crença que foi relatada em vários outros lugares no resto da África.
O outro mundo era mais que um lar para os mortos, no entanto também era um mundo superior, em que eventos neste mundo eram governados por esse outro mundo. Barbot, descrevendo a religião sobre as Costas do Ouro e dos Escravos, entre 1678 e 1682, mantinha que todos os africanos acreditavam num ser supremo que governava o mundo, causava acidentes e determinava o tempo de vida e morte. O Sieur d’Elbée em 1671 observou que os habitantes de Allada* acreditavam em um poder superior que causava acidentes a acontecer. Da mesma forma, quando a pesca ou comércio era ruim na Costa do Ouro, de acordo com Villaut, em 1668, o povo atribuía isso à ação dos poderes superiores e fazia sacrifícios, desculpando-se aos poderes do outro mundo, implorando perdão.
Tanto os africanos como os visitantes cristãos da Europa também concordaram que a maneira de saber sobre o outro mundo era através de revelações, embora eles discordassem sobre a validade de muitas revelações específicas. Não obstante, aceitavam o princípio geral comum que as almas dos mortos e dos outros habitantes do outro mundo, embora muitas vezes onipresente, eram invisíveis e não podem se comunicar com as pessoas neste mundo numa base normal. Essas estórias têm um “que” africano e provavelmente eram contos fantasiosos dos seus informantes africanos. Em um caso, ele observou que uma mulher tinha sido cruelmente sacrificada por um governante Imbangala**, mas apesar do ferimento grave que sofreu, ainda conseguiu levantar-se e retornar para a cidade. Quando ela viu o governante, informou-o que tinha ido ao outro mundo, mas não tinha sido desejada e assim foi mandada de volta. Ainda mais significativo, Cavazzi relatou a história de um príncipe poderoso e arrogante que desejava saber por si mesmo como era o outro mundo. Assim ordenou que fosse enterrado vivo, mas infelizmente não voltou para contar o que viu, confirmando que não importa o quão poderoso alguém é neste mundo, tem que ceder ao outro.
Devido à inacessibilidade do outro mundo para os sentidos humanos normais, cada sociedade tem seus incrédulos, que negam a realidade de qualquer fenômeno que eles não percebem. Marcellino d’Atri, um padre capuchinho que viajou extensamente no Kongo e regiões de língua Mbundu da África central no final do século XVII, observou que tinha encontrado ocasionalmente um epicuro (um termo do século XVII para um ateu ou materialista) durante suas viagens e investigações religiosas, embora tais pessoas fossem razoavelmente raras. Os epicuranos de D'Atri não só confirmam a existência de materialistas em África, como é uma conexão direta com a existência de pessoas semelhantes e sistemas de pensamento na Europa.
Aqueles que aceitaram a existência de um outro mundo o fizeram porque acreditavam que algumas pessoas tiveram contato direto com ele. A maioria das pessoas não podia perceber o outro mundo, mas havia pessoas especiais, dotadas de um sexto sentido que lhes permitia receber mensagens e imagens de outro mundo. Estas pessoas poderiam então informar seus companheiros sobre a existência, natureza e estrutura do outro mundo.
Ao mesmo tempo, o outro mundo também tinha seus próprios meios de fazer com que as pessoas neste mundo pudessem compreendê-lo. Não só ele poderia se comunicar diretamente com o grupo limitado de pessoas com um sexto sentido, mas poderia enviar mensagens para as pessoas neste mundo por meios indiretos. Estas podem incluir sonhos ou a ordenação dos eventos de forma a transmitir mensagens para que todos possam entender (augúrio, profecia).
Todas estas diversas comunicações assumem a forma de revelações. Uma revelação é um pedaço de informação sobre o outro mundo, sua natureza ou sua intenção que é perceptível às pessoas neste mundo através de um ou outro canal. Revelações fornecem a este mundo como que uma janela sobre o outro mundo. As informações assim obtidas são dados básicos para a construção de um entendimento geral da natureza do outro mundo e seus habitantes (uma filosofia), uma percepção clara de seus desejos e intenções para as pessoas obedecerem (uma religião) e uma imagem maior do funcionamento e da história dos dois mundos (uma cosmologia). Assim, é através de revelações que as religiões são formadas, e é também através delas que elas mudam.
Viajantes europeus, tanto sacerdotes como leigos, tinham idéias definidas sobre o papel das revelações na formação de sua própria tradição. Conceitos cristãos foram fundados em uma série de revelações, um registro do que estava contido nas Sagradas Escrituras. Esta série começou com as revelações a Moisés que formavam a antiga lei hebraica (bem como a história da criação) e estendida por histórias dos profetas hebreus ou seus escritos reais no resto do antigo testamento. Este por sua vez foi transformado pela revelação de Jesus e mais pelo testemunho inspirado dos apóstolos no novo testamento. Os católicos acreditavam que muitos escritores pós-bíblicos (padres e doutores da igreja) também foram inspirados e suas palavras foram mais revelações do outro mundo como aquelas nas Escrituras, e todos aceitaram a idéia que revelações menores, sob a forma de sonhos, conjunção de acontecimentos, aparições celestiais e assim, eram mensagens divinas, bem como as Escrituras.
Os africanos também reconheceram o conceito de revelação, e suas próprios revelaões tinham muito em comum com os da Europa, mesmo que os europeus tivessem problemas em reconhecê-los, assim como os africanos, finalmente, tinham problemas em reconhecer o conteúdo das histórias da Bíblia ou Igreja dos europeus como sendo revelações. No final, onde os africanos e os europeus nem sempre concordaram foi sobre a validade de qualquer revelação determinada, quando ambos reconhecem que revelações aparentes poderiam ser recebidas por loucos ou que pessoas ambiciosas e cínicas podem fingir revelações para aumentar seu próprio poder ou prestígio. Muitos europeus acreditam que embora revelações africanas fossem mensagens genuínas do outro mundo, elas se originaram com o diabo e assim não devem ser seguidas, um ponto que os africanos contestam. Os africanos estavam pouco preocupados com revelações diabólicas, mas com dificuldade em aceitar a validade de muitas das revelações que os europeus disseram terem sido recebidos no passado antigo, para o qual não há testemunhas recentes.
Revelações africanas dos séculos XVI e XVII podem ser divididas em várias categorias. Augúrio e adivinhação envolve o estudo de eventos para determinar as intenções do outro mundo. Interpretação de sonhos baseia-se na noção de que o outro mundo por vezes pode se comunicar através da mente inconsciente. Revelações mais dramáticas vêm sob a forma de visões ou ouvir vozes, geralmente apenas por pessoas com dons especiais. Talvez a forma mais dramática de revelação seja dada através dum médium ou objeto possuído, em que uma entidade sobrenatural assume um ser humano, animal, ou objeto material e fala através dele.
Europeus, familiarizados com o conceito de sua própria tradição, reconhecem o presságio africano apesar de ser por muitos escritores considerado uma artimanha diabólica. Em augúrio, eventos aleatórios deste mundo são estudados para determinar outros desejos ou intenções. Cavazzi, um crente firme em presságios (augúrio) como uma forma válida de revelação, mencionou que numa sociedade de Mbundu do século XVI, as pessoas estavam atentas aos gritos dos pássaros, ao comportamento de cães, raposas, coelhos e, excepcionalmente ao ruído de incêndios e tremores de terra.
Observação do curso do tempo (como astrologia na Europa) foi muitas vezes uma forma de augúrio; Müller observou que, na Costa do Ouro as pessoas tinham inventado um calendário de dias de sorte e azarados. As pessoas evitavam fazer vários tipos de negócios nos dias azarados. Um formulário relacionado ao augúrio do tempo foi observado por Cavazzi na África central. Lá, as condições de nascimento duma pessoa às vezes poderiam revelar seu caráter ou governar as decisões dela.
Na verdade, ele observou, a rainha Njinga foi assim chamada porque nasceu com o cordão umbilical enrolado em seu pescoço. Isto predestinou que ela tinha um caráter orgulhoso e arrogante.
Adivinhação era uma variante do augúrio. Na adivinhação, as pessoas realizam uma atividade e perguntam para o outro mundo para influenciar os resultados, de tal forma que os deste mundo podessem saber as intenções. Como veremos, padres cristãos frequentemente usaram várias formas de adivinhação para determinar qual Santo a quem dirigir orações ou a quem uma igreja deveria ser dedicada.

* - Allada e Ouidah (Ajudá), no atual Benin
** - Imbangala – povo do interior de Angola, região de Kassange

In “Africa and Africans in the Making of the Atlantic World, 1400-1800” – John Thornton

01/05/2014