segunda-feira, 26 de abril de 2021

 

Carta aberta à jornalista

Clara Ferreira Alves

 

Já há muito que não aparecia um artigo tão derrotista a denegrir a nossa história, o que era de estranhar, mas como o Expresso “amigo”, pertença de ex militantes do central e equilibrado PSD, agora virou extrema esquerda, porque é mais chic e rende mais, abre as suas páginas ao estertor da cultura, história e civilização portuguesa. À demagogia destrutiva.

Vai daí a jornalista, do cabeçalho, escreveu, em 18 de Março, um texto onde está difícil encontrar algo sensato. E goza com o título: “Tão felizes que nós éramos”!

Que saberá a dra. Clara sobre felicidade? Tinha 18 anos quando, muito jovem, o país começou a apodrecer sobre os gritos de Liberdade.

É evidente que todos, ou quase todos os jovens adoram uma revolução ou revoluçãozinha, ou uma baderna, e quando amadurecem, a grande maioria viu que tinha apostado no cavalo errado. E entra no caminho do amadurecimento, da sensatez.

D. Clara, não. Ela que não viveu o pré 25/4, a não ser um pouco do último período que estava já, de facto, fadado a cair.

Fala em fronteiras, Caxias e Tarrafal, das mulheres mortas no parto, etc., mas não fala das fronteiras de hoje, do Limoeiro do MRPP e do PCP, para onde se levaram, sequestrados, quase um milhar de portugueses pelos “gloriosos, vingativos e nojentos senhores de Abril”, nem das mulheres, que têm agora à disposição centenas de anticoncepcionais e que morrem ao abortar “oficialmente” com o apoio de leis assassinas e promotoras do sexo livre. Matam crianças como quem mata baratas ou mosquitos. A minha mãe teve sete filhos, que todos criou e eu tive oito.

Depois fala do Portugal de gente pobre, pobres com dignidade (leia Gilberto Freire) e esquece a pobreza de largos milhares de portugueses, que estão agora a viver, os que estão, de esmolas da EU, sem perspectivas de futuro a não ser quando se inscrevem no PCP, na Jihad, nos Black Blocs, etc.. Há quem esteja a pagar € 65 por mês à Seg. Social e receber € 50 de subsídio !!!

Também arreganha o dente aos ricos, a maioria dos quais eram os que criavam riqueza no país e empregavam milhares ou milhões de portugueses. Conheceu a CUF, A Siderurgia Nacional, o Grupo Champalimau, e outros? Acha que os empregados eram escravos? E hoje os empregados estão felizes e com os bolsos forrados? Ou estão na mesma, mesmo tendo uma televisão e um automóvel?

No tal tempo “da felicidade”, Portugal tinha uma das moedas mais seguras do mundo, quando um US$ custava 23$00 escudos (a inflação só se deu durante a II Guerra) e a vida corria, por muito que lhe custe, tranquila. Logo a seguir ao 25/4 o US$ já custava mais de 150$00 !

É evidente que a “tal felicidade” não para aqueles que queriam baderna, comunismo e outras ameaças piores do a que a do Covid. Este está a caminho de cura, mas as outras vão ficar através dos tempo a tudo quererem arrasar, para o que parece não haver cura nem vacinas.

Eu nasci em 1931. A minha mãe era fervorosa apoiante de Salazar, porque tinha vivido a “democracia” das primeiras repúblicas, com os revolucionários a destruírem tudo, a prenderem e matar gente, um caos financeiro, a falta de comida, aquilo que foi um ensaio para o 25/4, como se viu, e assim que o “horrendo” Salazar tomou conta do país... realmente a felicidade chegou!

Gostei muito da observação de uma rua “daquele tempo”! Só uma mercearia e uma carvoaria! Não havia supermercados em parte nenhuma, pelo menos na Europa. A mercearia vendia açúcar e farinha fiados. E o bacalhau. E esqueceu-se da baleia. Os clientes pagavam os géneros a prestações e quando recebiam o ordenado. Sabe que é verdade isso? Sabe por que vendiam fiado? Só porque “naquele tempo” não era preciso nem um pelo da barba para garantir ao vendedor o pagamento do cliente. Havia ombridade, respeito, vergonha. E hoje? Salgados, Berardos, Sócrates e quejandos pagam os empréstimos que em sujíssima corrupção conseguiram? Não, Clara, não pagam. Pagamos nós, os miseráveis, o povo, aquele que já foi pobre mas nada devia a alguém, e que hoje vive pobre e enganado pelas dívidas que contraiu. As dele e as dos outros.

Também gostei do “serviço militar” obrigatório. Há 70 anos entrei eu num quartel de Cavalaria. Estive lá um ano. Cumpri com o meu dever, e não choro, apesar de receber uma miséria por mês.

A CENSURA! Ah! A censura! Hoje que os órgãos de informação estão dominados pela grande finança aliada à extrema esquerda/caviar (se não podes vencer o teu inimigo junta-te a ele, velho, sábio e premonitório ditado) hoje só publica o que quer essa sociedade de corja, escondendo os roubos vergonhosos dos políticos, o racismo de alguns membros do desgracento desgoverno de Portugal, a vergonha dos tribunais a deixarem prescrever processos de Sócrates e camarilha, menino Sócrates bajulado pelo monhé PM, com o beneplácito de Expressos, Públicos, RTPs, e destruir o país, da sua cultura, etc., etc. Isso não tem comparação com a censura, infantil, do chamado Estado Novo.

Mulheres não entravam na Universidade??? Poucas, mas eu conheci muitas da minha idade e bem mais velhas que foram até professoras de Universidades. Conheci até um senhor, que foi reitor da UTAD, nascido em 1923, neto de uma das primeiras farmacêuticas licenciadas em Portugal.

Dra. Clara nada fácil existe do que bater em mortos. Eles não se defendem.

Mas não se preocupe com isso, não. Não tarda a começar a matança dos grandes vultos da nossa história.

Tem que começar por matar Afonso Henriques que deu uma surra da mamãe e isso foi, na realidade, pouco democrático. O Sancho I mandou gente do Norte para o Sul, certamente para ocuparem terras que teriam já algum dono. Isso não é bonito. E depois os bandidos Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque que na Índia onde tiveram que matar uma porção de muslims para não serem mortos por eles! E Camões que cantou as maravilhas de Vasco da Gama? Queimem os Lusíadas, Fernão Lopes, que só elogiava reis e esqueceu o povo, etc., etc. E até os irmãos Pacheco Pereira que levaram o bacalhau para Portugal.

E ergam estátuas aos assassinos Otelo, Rosa Coutinho, Mário Soares, Costa Gomes e outros ladrões, espertos, mas têm que fazer isso rapidinho.

Portugal está a afundar-se rapidamente no “politicamente correto”, com o apoio de pessoas como a senhora, Da. Clara.

Moral, dignidade, ética, respeito pelo passado, humildade (que tanta falta lhe faz, D. Clara), tudo isso são palavras a arrancar dos dicionários.

Agora, a moda destes novos e tenebrosos tempos, é baderna, escarrar no passado, roubar o mais que se puder, e transformar o povo simples em robôs. Muito pior do que escravos.

Felizmente estou com muita idade. Não gostaria de ver o funeral de um país que foi grande na sua pequena dimensão, deu lições ao mundo, o único que desde sempre soube dialogar com o seu desigual, o Outro, e agora está a ser sistemática e conscientemente destruído.

Mas isso será só uma fase a mais, passageira, porque o tal povo que está a ser a robotizado no meio da ladroagem, um dia volta a acordar e... quem sabe, aparecerá outro Salazar para arrumar a casa. Deus o permita.

E depois escrevam, alegremente, a malhar nos que caíram.

É tão fácil bater nos que estão mortos.

 

25/04/21 - Só comemoro o 25/4 porque nesse dia, poucos anos depois nasceu um dos meus netos!

 

domingo, 18 de abril de 2021

 Benguela e arredores

Texto já postado neste blog em Janeiro de 2010

Benguela foi (ainda será?...) terra de poetas! Alguns deixaram poemas escritos, outros levaram uma vida misto de boemia e poesia. Mas boemia levada alegre não é um canto de amor à vida, um poema constante? Além do meu querido amigo Ernesto Lara, de quem vai um “cheirinho” de “O canto do Martrindinde”, e já veremos a que propósito isto vem, lembro dois benguelenses que só por si faziam a vida em Benguela valer a pena! Sugiro que antes de continuar a ler este texto leia primeiro a “Mukanda para a Cidade de Benguela”, carta linda, como tudo o que o Ernesto Lara escrevia, e que vem em http://www.angola-saiago.net/cidmae10.html  

Fala ele, mesmo que rapidamente, dum poeta desconhecido: o fotógrafo Luis de Camões! Não se podia estar com ele e ficar de má disposição. Era um bálsamo! Mesmo que fosse um bálsamo de maluquice, valia a pena. Conheci-o muito bem, e no tempo que trabalhei com material fotográfico, era impossível cortar-lhe o crédito apesar de, por boemia, levar alguns meses para pagar as contas!

Tinha no seu estúdio uma espécie de mezzanino, para onde subia por uma escada de madeira, e ali ficava estendido, recuperando o que a farra na noite não lho tinha permito, ou aproveitando a sesta! Quando chegava algum cliente à loja era preciso chamar várias vezes para ver aparecer uma ensonada cabeça lá no alto! Dizia ele que ali era o seu refúgio secreto, para onde muita vez subiam simpáticas garotas que ajudavam a embalar o seu “descanso” sem correr o perigo de serem vistas porque se mantinham deitadas lá no fundo, enquanto os clientes estavam na loja!
Depois, no famoso e saudoso bar do Guimarães, onde se juntava a alegria da terra, com “St. Pauli”, "Beck's" e, bem mais tarde, com umas “Cucas”, contavam-se histórias, descontraía-se e, depois do cacimbo, as acácias iam começando a florir para enfeitar o Natal tropical daquela terra morena!
Um dos freqüentadores dessa tertúlia lá por 1954, era um piloto aviador que tenho a maior pena de ter esquecido o seu nome, e na minha memória aparece só uma turva figura, um daqueles morenos loucos de vida e de amigos.
Para pilotar, todos tinham que saber um pouco de inglês, por causa do trafega aéreo. Um dia viu anunciado numa revista americana um produto para desfrisar os cabelos crespos, e logo pensou que isso seria um belo negócio a fazer por todo o lado por onde andava.
Pediu a um colega, americano, que quando voltasse um dia dos EUA lhe trouxesse algumas embalagens desse produto, que ele já considerava a descoberta do século.
Passados uns meses chegou a promissora e miraculosa maravilha! Uma rápida olhada no rótulo onde se via uma garota com os cabelos todos lisinhos, e vá de fazer o primeiro ensaio, antes de “entrar no mercado”. Em quem ensaiar? Uma prima, bela cabeleira africana, logo se prestou para ser a primeira beldade a exibir tal progresso. E começa o trabalho: entorna um pouco de produto nas mãos e vá de esfregar a cabeça da prima! Não tardou que esta começasse a sentir uns ardores exagerados na nuca, mas o “cientista” não desistia: “Prima! Sofrer para ser bela!” E insistia. Não tardou que o cabelo, com a base queimada, começasse a cair! Correm para uma torneira para aplacar a dor, e em socorro da vítima acorre a família e os irmãos, que ao verem o sucedido partem para cima do “desfrisador”.
O nosso piloto/cabeleireiro teve que fugir da cidade e só regressar alguns meses depois quando a prima e família, acalmados, decidiram perdoar-lhe!
Veio depois a constatar-se que o tal produto deveria ter sido diluído em não sei quantas partes de água... e aplicado durante vários dias.
Mas esta história contada pelo autor, um indivíduo cheio de boa disposição, está até hoje gravada na minha memória e sempre me riu, mesmo sozinho, quando me vem à memória!
Havia lá na terra um outro piloto e rádio Amador, Belém, casado, tranqüilo, simpático, dono de um carro lindão. Um Citroen igual ao que vai aqui a imagem, só que cor verde e estofos bege. Um luxo! Não me lembro já se ele precisava de dinheiro ou queria comprar algo mais moderno, a verdade, é que insistiu comigo diversas vezes para eu ficar com o carro! Eu que tinha um boa situação na Lusolanda e andava com a mulher, grávida, sentada no quadro da bicicleta, e ainda por cima ficava de olhos vidrados a olhar aquele carro... seria o comprador certo, não fosse um fator simples: não tinha dinheiro! Lembro-me que ele queria 20 contos e que eu lhe pagasse como entendesse. Não havia entendimento possível sem os equivalentes “Angolares”! Até hoje sonho com essa lindeza de carro! Sempre sonhando...


Olhem que belezoca ! O "meu" ainda era mais bonito: verde, com estofos bege!


Precisava de vinte destas notas para ter o bólido!


O verso da nota.

Vamos agora aos insetos cantadores. Em Benguela era o Martrindinde, que para quem não conhece, é uma espécie de grilo, que inspirou o nosso grande boêmio/poeta Ernesto Lara

O canto do Martrindinde

O canto do Martrindinde
é um canto da cidade
vem pela noite dentro
cheio de ambiguidade


O canto do Matrindinde
é um cantar nacional
veio do mato à cidade
e tornou-se universal.


O belo martrindinde

Catengue, a cerca de 70 ou 80 kms de Benguela, no caminho para o interior, para o Huambo, por exemplo, era um local de passagem de carros e do combóio. Este metia água e lenha, os carros, alguns, combustível, e os passageiros aproveitavam para comer no “palace”, quase única casa, pensão, restaurante e comércio do lugar. A única atração daquela terra, além da eventual fome dos passantes, ou cansaço para passar a noite, era um búfalo que o dono do “hotel” tinha preso num curral de madeira. Bicho grande, o “Bonifácio”, pacífico, adorava que se lhe fizessem festas, comia o capim que lhe era servido com regularidade e... ali estava. O problema é que aquela região era (ou ainda é?) terra de búfalos, e quando chegava a época da reprodução o “Bonifácio” apurava as ventas e chegava-lhe o cheiro doce do cio das fêmeas! Apesar do curral ser feito de fortes troncos de madeira, “Bonifácio” dava um ligeiro empurrão na cerca e saía atrás das garotas! Não adiantava proculá-lo. Ficava uns dias desaparecido e, após certamente cumprido o seu dever de procriador, voltava tranquilamente para a pensão que o alimentava e mantinha forte, sem ter que brigar por um lugar na manada!


O "Sincerus caffer" - "Bonifácio"

Nesse “hotel”, uma noite em que ali passei, fizemos uma paragem para jantar. Noite. Janelas e portas abertas para tornar o ambiente mais agradável, os martrindindes estavam longe e as cigarras tinham já cessado o seu canto. A minha mesa a uns 8 ou 10 metros da porta para a rua, eu sentado de frente para a porta, comendo sem pressa o habitual bife com batatas fritas, acompanhado dum copo de vinho tinto, de momento ainda cheio pela metade. De repente sinto uma pancada na cabeça que me despertou em menos de um segundo, porque imediatamente após, a cigarra, que fora ela que num vôo suicida se chocara com a minha testa, caíra dentro do copo de vinho e vibrou tanto as asas que o vinho espirrou todo de dentro do copo! Tudo isto demorou uns segundos, mas foi o suficiente para que o meu companheiro de viagem, e eu, ficássemos com a cara, braços e camisa toda encharcada em vinho tinto. Até o bife e as batatas tiveram que ser substituídos!



A cigarra do género "bebedolas!

A cigarra após seu desesperado “canto do cisne”, jazia, morta de bêbeda, no fundo do copo vazio!

Mas nada disto impedia que tivéssemos perdido a juventude sem praticar desporto. Havia a praia, mas que já lá vamos, e a Associação Comercial com seu campo de Tênis.

Nesta foto vê-se o belo edifício da Associação Comercial e quase no canto inferior direito o campo de ténis que no ano seguinte desapareceu!

Toda a semana, às vezes mais do que uma vez lá ia jogar uma ou outra partida. O principal parceiro era um jovem, como eu, funcionário da Fazenda, cujo nome... há muito me fugiu. Ótimo parceiro, simpático, bom jogador – creio que era ele que ganhava quase sempre; depois de sair de Benguela só encontrei uma vez, em Luanda, cabelo levemente a encanecer, já diretor de Fazenda, mas sempre atencioso e educado. Está na foto à minha direita. Se alguém o reconhecer, ou melhor, souber do seu paradeiro, eu ficaria imensamente feliz. O mesmo para o outro parceiro, o Magalhães, funcionário também da Lusolanda, na contabilidade, jogador do clube de futebol da terra, sempre bem disposto e motociclista!

Os três tenistas de Benguela: Pompeu, funcionário da Fazenda, eu e Magalhães também da Lusolanda

Naquele tempo para se falar ao telefone com a famigerada metrópole... só do Lobito. A Benguela ainda não havia chegado esse imenso avanço tecnológico! Minha mulher aguardava instruções para embarcar de Lisboa para a nossa aventura africana. Nas vésperas da sua chorosa largada – largava os pais e a irmã! – eu quis telefonar-lhe. O Magalhães emprestou-me a sua moto – talvez fosse uma Norton! – e lá fui eu aqueles trinta e poucos quilômetros de asfalto, falar ao telefone. A minha caneta tinteiro de estimação que levava no bolso externo da camisa... voou no meio da viagem!
Foi este rapaz, o Magalhães que me apresentou aos “atletas” praianos! Aos domingos lá ia com minha mulher até à praia. Não conhecíamos ninguém. Só eu, os colegas de trabalho. Como em toda a praia, juntava-se uma turma de jogadores, normalmente de vôlei; ótimo para aquecer os músculos e dar um bom mergulho a seguir.

Num dos dias de grande calema, quando as ondas, enormes, que chegavam à praia, tinham o condão de encher de areia a rua atrás do “Porta Aviões”, tomar banho de mar era uma temeridade. Mas... lá está o atrevimento da juventude... Com uma grande câmara de ar a fazer de bóia, era uma delícia passar a arrebentação e ficar lá fora subindo e descendo no ondular daquelas grandes ondas. Depois, para vir para terra, é só esperar aquele intervalo das sete ondas quando o mar dá uma folguinha! Assim fiz. Pareceu-me que tinha chegado o momento para regressar à praia e comecei a nadar e ao mesmo tempo empurrando a bóia. Só que... estava um pouco longe demais para ter tempo de aproveitar o tal intervalo das ondas, e quando estou já perto da praia, olho para trás e vejo um autêntico “tsunami” – nesse tempo não existia este termo! – a desfazer-se por cima da minha cabeça! Solto a bóia, encho os pulmões de ar, e andei a rolar dentro da onda apanhando em todo o corpo uma valente surra de cascas de mariscos, pedras, pequenas mas pareciam chibatas, não sabia qual era o lado do céu ou do fundo, até que esse castigo acabou, ponho a cabeça fora de água e vejo a segunda onda, igual em tamanho e fúria, a despencar! Repete-se a cena, mas desta vez o mar foi generoso: a onda agarrou em mim, como um trapo velho, desprezível, e me jogou para cima da areia, onde fiquei uns momentos estendido... a respirar!
A minha mulher assistiu àquele pré naufrágio, pensando que eu estava total senhor da situação! Não estava. Só a levar pancada e a aprender.

3-jan-10

domingo, 11 de abril de 2021

        O silêncio no alto de Angola

(já no blog em dez/2011)

Quatro horas da madrugada, noite ainda escura, aqueles dois amigos que estavam a dormir numa modestissima pensão de Artur de Paiva(1) acordam para cedo sairem para caçar. Na pequena povoação os justos dormem. Os escassos guardas da noite, embrulhados nos seus cambriquites, continuam encolhidos nas soleiras das portas que lhes foram entregues à guarda, e dormem também.

Noites frias naquela região com mais de 1.000 metros de altitude!
Quem se levantara primeiro foram os donos da pensão para preparar o matabicho(2) para os hóspedes: um belo bacalhau cozido com batatas, um bife de golungo(3) – morto pelo hospedeiro havia dois dias – com batatas fritas, tudo isto, alta madrugada, acompanhado de alguns copos do tinto de capacete(4), e um bom e forte café para terminar. Era preciso “abastecer-se em terra quem ia para o mar”, ali, o mato, onde nunca se sabe o que pode acontecer.

O lindo Golungo

Saem os caçadores, agasalhados com lãs, blusões espessos, cachecoles, barretes, as óbvias armas, e ainda um sucolento farnel para o almoço e até jantar.
Jeep aberto, um frio que penetra toda aquela vestimenta, correndo para chegar ao despontar do dia aos locais onde se imagina estar a caça.
Uma ténue luz azulada indica que não tarda o sol vai aparecer, e como nos trópicos os dias num instante se enchem de luz, lá desponta o astro num horizonte longínquo ainda de cores frias. Pouco ainda se enxerga; umas árvores aqui e além.
O jeep agora anda devagar, e os caçadores vão-se livrando dos agasalhos com a chegada dos raios do sol mais quente que já se apareceu inteiro e esplêndido!
Respira-se ainda o ar frio da manhã, os olhos dos caçadores vasculham lentamente a entrada das matas ou dos muxitos(5) onde é suposto encontrar alguma peça de caça.
Em pouco tempo já os agasalhos vão todos no banco do carro, os caçadores só de camisa, e por vezes até sem elas, silêncio, mas os animais nesse dia teimam em não aparecer.
Dez horas da manhã, sol alto, bem quente, os animais vão esconder-se. A caça e os caçadores param.
Escolhem todos a melhor sombra, animais e seus perseguidores, estes desembrulham o farnel, bebem algumas cervejas que permaneceram geladas, dorme-se, mesmo no chão, algo muito ao longe parecido com uma sesta, e a meio da tarde, volta ao jeep e continua a procura da caça. Por fim um outro pequeno antílope é apanhado.
Aos saltos dentro do jeep ninguém sente cansaço, mas quando o sol vai também descansar volta a faina de começar a vestir os agasalhos.
O dia esta a chegar ao fim, depressa vai escurecendo, os céus dançam numa panóplia de cores que só o Criador sabe compor e são os mimos que nos dá ao entardecer. Não há como não se extasiar!
Por toda a África, como pelos planaltos de Angola, as fogueiras começam a queimar!
A lenha a crepitar, elevam-se fagulhas ao alto, cada vez se sobressaindo mais no escuro, erguendo-se a perder de vista, e quando pensamos que já não se vêm, é porque se transformam em estrelas! É o agradecimento daquelas gentes ao espetáculo que, todos os dias, lhes é oferecido.
Senta-se o povo à volta da fogueira, a conversa segue devagar para não perturbar aquela quietude, como uma oração, e logo se escutam histórias que vêm também de tão longe, como aqueles pôr do sol, transmitindo a velha sabedoria, os contos e lendas ouvidos desde sempre e que se confirmam verdades milenares.
Devagar o chefe da senzala, ordena “cuatiça o ngoma”(6) e os tocadores enchem os ares de ritmo e alegria, mas só em plena escuridão porque antes disso o ambiente não está formado, e aproveitam o silêncio para louvarem o Criador pela beleza com que foram acariciados.
O ritmo e animação vão aumentando, e todos dançam. É um louvor à vida, simples mas de trabalho, um agradecimento ao Alto por não consentir que a sua alegria de viver seja perturbada.
E os caçadores, que ao anoitecer se juntam a este povo, compartilham extasiados tamanha vida, tamanha simplicidade e tamanha pureza na forma com são recebidos.
Num instante a caça foi esfolada, limpa e recebe como homenagem as quentes fagulhas que a vão transformar em deliciosa comida. Para todos. As cervejas, ainda geladas também correm soltas.
Todos meditam e pedem a Deus que aqueles momentos se eternizem, porque, no dia seguinte, o regresso “à civilização” é uma tristeza. Aqui reina o chefe, o poder, a falta de verdade.
Sair duma noite assim é como ser rebaixado do céu a um purgatório.
Quem viveu momentos destes não esquece nunca. De vez em quando se o silêncio volta a “falar” e estas memórias afloram, teima também em aflorar um lágrima de saudade.
Gostaria que pudéssemos todos viver a noite de Natal naquele ambiente, ouvindo o silêncio entrecortado pelo som dos ngomas, mas onde se pode louvar a Deus.

1. Hoje a vila de Cuvango, a cerca de 280 km a sul do Huambo.
2. A primeira refeição da manhã, que “virou” verbo: eu matabicho, nós matabichamos, etc.
3. Pequeno antílope – Tragelaphus scriptus – que pesa cerca de 35 a 40 kg.
4. Os melhores vinhos de garrafão eram enviados para Angola bem fechados com um “capacete” de gesso. Bom!
5. Bosque. Pequena mata.
6. Toquem os tambores.

17-dez-2011

sexta-feira, 2 de abril de 2021

 

MORO  NUM  PAÍS  TROPICAL


Já muito tenho escrito sobre isto, mostrado que sou grato por me ter acolhido sem burocracias, reconheço e afirmo que o Brasil tem o melhor povo do mundo, mas... até hoje ainda não acertou em ética, responsabilidade, corrupção, organização, etc.

Uma tristeza.

Somos capazes de lançar satélites, tudo made in Brasil, fabricamos aviões de altíssima qualidade que está a vender como água, para todo o mundo, temos a melhor agricultura do planeta, o maior rebanho de gado, as exportações das nossas commodities alimentam 1,5 bilhões de pessoas fora daqui, e podemos aumentar muito rapidamente sem alargar as áreas plantadas, em 30 a 50% a produção de grãos, temos a maior maravilha do planeta, a Amazónia, rica, riquíssima, cobiçada (5.500.000 de kms2 com 20% de área protegida) uma imensidão com gigantes dificuldades para se proteger integralmente), e saqueada por gente e empresas do Brasil, EUA, França, etc.

1.- Tem situações caricatamente absurdas com a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – que estabelece, por exemplo, os preços dos medicamentos duma forma pior que idiota. Vejam este exemplo:

- precisei de comprar um medicamento. Perto de nossa casa há duas farmácias, uma ao lado da outra o que já é um contrassenso; pelo mesmo medicamento uma pediu R$ 77,00 e a outra R$ 47,00. No Brasil os medicamentos pagam 39% de imposto!!! Em Portugal 1% e na Argentina e EUA 0 % !!!

A Anvisa é quem estabelece o preço máximo de venda, em patamares além de absurdos. Vejam esta nota

 

O Aciclovir 400 mg tem o preço “limitado” a R$ 230,05!!! A farmácia faz um desconto de 79,5% !!! E ainda deve ter um lucro de 150% ou mais porque há milhares de farmácias, por todo o lado! É um magnífico negócio. Comprei mais dois medicamentos e vejam como fechou a Nota:

Valor Total R$285,37, desconto $202,96, valor pago R$ 82,41!!! Absurdo. 

2.- Agora vai sendo “moda” a bandidagem roubar a fiação dos telefones. As companhias têm obrigação de resolver o assunto de imediato. Pois bem o nosso telefone fixo está mudo há mais de 3 meses! Depois de “n” reclamações veio um dia um técnico. Resolveu. Assim que ele saiu daqui choveu um pouco e logo o telefone emudeceu, até hoje. Desta vez não foi de roubo de fiação.

Faço a conveniente reclamação, responde o computador: “Estamos a trabalhar. Ficará resolvido amanhã às “x” horas”. Já reclamámos umas vinte vezes, e ligarem o telefone que é bom... nada!

3.- Quando chove, tanto faz que seja aqui como na Suécia, falta a energia elétrica. Há dias estivemos sem luz 16 horas. Cada vez que mandava uma mensagem a avisar que faltara a luz recebia um SMS a dizer que “Estamos a trabalhar. A energia voltará às “x” horas” Não volta a não ser 4, 5 ou 10 horas depois!

4.- Neste momento estamos a viver a maior catástrofe mundial: Covid e destruição da cultura.

Sobre a Covis o infame STJ tirou do governo central – Bolsonaro – a luta contra a pandemia, e entregou-a aos governos dos Estados e Prefeituras. O governo central tem que mandar o dinheiro para o combate. Assim quando morre alguém que eles dizem que foi de Covid o governo manda uns milhões para a “luta”. Está-se a ver que uma grande quantidade de mortes, de infeções pulmonares (como tem havido desde sempre) câncer, cardiovasculares, atropelamentos, etc. são registradas como Covid! Daí estarem estatiscamente a morrer tantos e tantos, e haver tantos e tantos corruptos a roubarem o país. Basta pensar que há 26 estados federados, 5 568 municípios. Já prenderam vários secretários de saúde, governadores e outra canalha. E há muitos inquéritos em andamento.

Vão morrendo inúmeras pessoas e o ataque ao Presidente é abaixo de vergonhoso: chamam-lhe genocida e entram com processos crime contra ele em todos os tribunais possíveis.

Bolsonaro não é o presidente ideal, mas só o fato de não deixar roubar... o torna o inimigo nr. 1 da politicagem, e a mídia em vez de informar somente e desinforma.

A esquerda não para de soltar inverdades e desinformação, Os políticos não abdicam das suas milionárias benesses, juízes do supremo, 90% deles, com um curriculum ligado à pouca vergonha, soltam a gatunagem política, e procuram atacar  os juízes da Lava-Jato que os condenou, É evidente que o povo já não acredita em nada e mais ninguém.

Decreta-se um lockout e enchem-se os bares, as praias e até hotéis.

E isto da Covid, uma das maiores desgraças que atingiu o planeta desde o meteoro que matou os dinossauros, é ao mesmo tempo um dos maiores crimes da história, com Fauci e semelhantes a mentirem e esconderem a verdade sobre os medicamentos eficientes para só propagandearem a medicação das indústrias que os financiam!

Mentem, desorientam e mantém o mundo aterrado, confinado, afastando cada vez mais profundamente a família e os amigos, a base da sociedade e da felicidade entre os homens.

Chegaram as vacinas. Mas... objeto de negociações abjetas, porque o interesse das indústrias farmacêuticas e dos seus governos não é a cura ou salvação de pessoas, mas o inimaginável lucro que estão a obter.

Não há dúvida que caminhamos, a passos largos para um fim desastroso.

 

02/04/2021