segunda-feira, 28 de abril de 2014




“I have a dream”


Há poucos dias um velho amigo, entre dois copos e uma animada conversa, soltou este “grito d’alma” como fez Luther King, que se tornou universal, e me assustou!
Todos nós temos sonhos. Por vezes não nos queremos incomodar para os realizar, outras vezes não temos meios para os tornar realidade. Mas sempre nos sobra um pouco do sonho que teimamos em alimentar, com a ideia, quase infantil, de saber que a esperança é a última que morre.
Mas ele teve um sonho e decidiu contar-me.
“De repente veio uma luz forte que quase me cegou e paralisou. Depois ouvi uma voz que dizia: ‘Tens que lutar pelo teu país, pelo povo que te rodeia, tens que sair dessa vida de ver correr o tempo e esperar que a vida do Além te alivie do sofrimento constante. Fica sabendo que a partir de amanhã tu serás o presidente do teu país.’
A luz sumiu, devagar, e eu vi-me sentado numa cadeira alta, quase um trono, rodeado de homens e mulheres que pareciam aguardar uma palavra minha e me tratavam por ‘Senhor Presidente’. Parecia que algumas me eram conhecidas.
Perguntei quem eram os ministros do Interior e da Defesa e avançou uma mulher e um homem.
O Ministro da Defesa informou que convocara em urgência máxima os Comandantes das três forças militares, que chegaram de manhã ao Palácio em trajes civis, à vontade, e utilizando carros particulares ou taxis, para que não se notasse a sua vinda. O mesmo para com o diretor geral da Polícia Judiciária. Isto significa que estamos atentos e prontos para as consequências.
Muito bem. Vamos trabalhar. Anotem tudo o que vos disser e que serve de lei a partir do momento em que eu assinar:
 ‘A partir da publicação deste documento:
- É declarado o Estado de Sítio, face à grave ameaça à ordem constitucional democrática a que o país tem vindo a ser submetido durante os últimos anos. Para tomar esta atitude  foram ouvidos o Conselho da República reduzido aos conselheiros nomeados pela Presidência da República, os ministros da Justiça, da Defesa e o do Interior e o Conselho de Defesa Nacional; só não se solicitou autorização do Congresso Nacional porque este fica dissolvido e os seus componentes iriam alertar, prejudicando o andamento do nosso programa.
- Este Estado de Sítio não ultrapassará os trinta dias previstos na lei.
- Ficam suspensos o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, marcando-se novas eleições para daqui a trinta dias. Qualquer cidadão sobre quem incorram protestos judiciais, quer já nos tribunais, como correndo em inquéritos policiais ou do Ministério Público, estará automaticamente impedido de se candidatar.
- O mesmo para todos os governadores dos estados e câmaras estaduais.
- O mesmo para todas as câmaras estaduais e municipais.
- Durante estes próximos trinta dias, para que o país não paralise, assumirão o funcionamento das instituições governamentais, unicamente em situações de exceção e reconhecida urgência, os tribunais administrativos.
- Somente o Presidente da República, não por mérito pessoal, mas para que se não instale o caos e anarquia, será a única pessoa com foro especial. Assim que o seu mandato termine voltará a ser um cidadão comum sujeito a todas as leis. Todos os que até agora têm gozado e abusado dessa infame e descabida prerrogativa, deixam, imediatamente de a ter.
- Mantém-se assegurada a liberdade de reunião e de expressão, com a responsabilidade estabelecida.
- Este governo não será um governo de partidos políticos, mas nele entrarão todos os que, independente das suas convicções, tenham já demonstrado capacidades de liderança e conhecimento para os cargos.
- Qualquer indivíduo condenado pela justiça terá que cumprir a pena imposta como qualquer outro, seja criminoso comum ou os chamados de colarinho branco.
- Todo o funcionário sobre quem incida o princípio de suspeita de irregularidades e que a Polícia Federal confirme, ficará suspenso de suas funções até que os tribunais dêm por findo o julgamento. Entretanto perdem todas as regalias, vencimentos, etc.
- Todos os que ocupam cargos nomeados, chamados “cargos de confiança” são exonerados. Assumem os seus lugares, se necessário, os funcionários de carreira que, em votação entre si, devem eleger o mais competente.
- Ninguém mais terá o privilégio de usar viatura oficial a não ser para deslocações em serviço; e serviço compreende-se deslocações para fora do local habitual de trabalho, e regresso. Entre a residência e o local de trabalho equipara-se a qualquer outro cidadão e será de sua conta e risco o transporte. Isto engloba todos os funcionários sem qualquer exceção, quer sejam ministros, juízes, senadores, governadores, etc.
- Nenhum município poderá gastar com remunerações a prefeitos e vereadores mais do que 3 por cento da sua arrecadação. Nos municípios com menos de 5.000  habitantes os cargos de prefeito e vereador não são remunerados.
- Todos os que ocupam cargos públicos nomeados por qualquer governo anterior estarão demitidos.
- As polícias, quaisquer que sejam as suas funções, militar, civil ou judiciária, deverão, desde já estudar a criação de instituições capazes de formar, com a melhor base possível e a mais completa ética, não só os seus atuais componentes como os que venham a ser admitidos.
- As empresas que se têm destacado no quase exclusivo fornecimento de grandes serviços, mercadorias e obras, pagas com recursos públicos, ficam suspensas de concorrer a novas solicitações de preços e projetos até que se apurem responsabilidades em atos de corrupção denunciados ou a denunciar. Do mesmo modo os sócios dessas empresas ficam impossibilitados de criarem novas sociedades até apuramento final de suas eventuais responsabilidades.
- A Polícia Judiciária bem como o Ministério Público procederão a devassas sobre o patrimônio de todos aqueles que ocuparam cargos públicos e não só, e cujas declarações de renda sejam incompatíveis com as remunerações oficiais auferidas. Essa devassa deve estender-se a todas as pessoas de suas famílias que apresentem as mesmas anomalias.
- A todos os bancos, nacionais, estrangeiros e de paraísos fiscais, quer diretamente, quer através da Interpol serão solicitados e exigidos extratos de contas bancárias de suspeitos cidadãos brasileiros e ou residentes no Brasil que aqui tenham sua forma de sustento.
- Os movimentos que pretendem ser de gente marginalizada deixará de receber os subsídios com que têm sido mantidos. Chama-se para este assunto a especial atenção de todos as polícias, do senhor Ministro da Defesa e todos os Comandos Militares, uma vez que alguns já ameaçaram governos anteriores de terem às suas ordens centenas de milhares de homens armados que podem ser mobilizados em 24 horas.
- O subsídio Bolsa Família que tem servido principalmente como compra de voto, será, com muito critério e o tempo que for necessário, substituido por salários desde que as pessoas que o recebem possam dar em contra partida alguma mão de obra em serviços públicos.
- Como um dos mais profundos males do país tem sido a muito baixa qualidade do ensino, sobretudo o primário, o Ministério de Educação terá uma semana para apresentar uma solução concreta para acabar com esta situação, privilegiando os salários dos professores sem descurar a sua intensa formação profissional.
- Ainda no que se refere a escolas primárias os municípios deverão providenciar, de imediato, a melhoria das suas instalações e preverem que todos os alunos recebam, durante o horário escolar, refeição condigna. As prefeituras que não tenham condições financeiras para isso serão subsidiadas pelos governos estaduais ou federais.
- O Ministério da Educação fará igualmente um aprofundado estudo sobre o número absurdo de faculdades que existem por todo o país, quando se sabe que boa parte delas concede diplomas a alunos com baixissima qualidade. As que não alcançarem o nível que se entenda indispensável serão fechadas.
- Outra devassa deverá ser feita às chamadas igrejas que vêem enriquecer os seus responsáveis de forma inadmissível, extorquindo dinheiro a seus crentes. As igrejas continuarão a beneficiar das leis existentes, mas os seus dirigentes serão submetidos a minuciosa devassa financeira.
- Todo o cidadão que se sentir lesado ou pressionado por algum funcionário que lhe queira extorquir dinheiro para lhe “vender facilidades” tem o dever de o denunciar ficando o Estado obrigado à sua proteção.
- No que respeita ao tráfico de drogas ou de armas, as polícias serão reforçadas para que esse câncer seja minimizado uma vez que se sabe que é quase impossível acabar com ele. Mas quem quer que esteja envolvido nessa traficância, do menor ao maior deverá ter as penas aumentadas.
- O Ministério da Justiça deverá ainda elaborar um novo projeto de lei para que menores de 18 anos possam responder direta e proporcionalmente pela gravidade de seus crimes, sem se acobertarem com a argumentação de menoridade.
- O Ministério da Igualdade racial deixa de existir. O Brasil é um país que prima pela miscigenação e igualdade. Qualquer um que levante a voz contra o seu semelhante, qualquer que seja a coloração da sua pele, será judicialmente responsabilizado e estará sujeito a pena de prisão, e se não for cidadão brasileiro corre o risco de expulsão do país.
- O mesmo procedimento será usado para os problemas de maus tratos conjugais ou familiares.
- Pedófilos deverão ser submetidos a rigoroso tratamento que os iniba de repetir tais crimes.
- No que respeita a estupros pode encarar-se a mesma solução mas recomenda-se vivamente sobretudo às mulheres que não se vistam de forma a provocar a masculinidade dos homens.
- Todas as greves ficarão suspensas até novas instruções com a finalidade de se poder manter durante os próximos trinta dias a ordem pública.
- O vandalismo e seus executores serão considerados inimigos do Estado. Destruir bens públicos e/ou particulares não pode ser aceite. Os responsáveis serão tratados de acordo com a lei existente.
De repente, diz-me o meu amigo, ainda a dormir ouvi um estrondo, seguido de imensos tiros e pensei: ‘Pronto, ainda nem comecei já fui assassinado!’
Acordei sobressaltado, a suar. Quando a minha mulher me diz:” Que estrondo enorme! Estes vizinhos, quando há futebol não nos deixam dormir.”
Já não consegui dormir o resto da noite, mas fiquei a pensar que teria feito uma coisa bonita.
Mas era certo que, se alguém fizesse isto, no mesmo dia levaria um tiro, ou um monte deles.”
- É. Disse-lhe eu. Sonhar é fácil. Mas o que tu me contas lembra o sujeito que declarou que devia baixar a altura dos Montes Himalaias. Eram muito altos. Para lá foi com uma picareta e uma pá.
Acabou num hospício.


19/04/2014

quinta-feira, 24 de abril de 2014



BABILÓNIA  e  DILÚVIOS



Vimos que a origem da palavra Babilónia significaria O Portão de Deus, mas em hebráico bibel é confusão, e até o balbuciar tem a mesma origem.
O mais curioso de tudo isto vem de muito longe da tal Babilónia que ficaria a umas cem milhas a SO de Bagdad.
Quando os espanhóis invadiram o México em 1517, ficaram impressionados por já encontrarem disseminada a lenda da Torre de Babel, como é evidente, com outro nome. A grande pirâmide de Cholula, segundo o povo daquela terra foi construída para servir de abrigo contra um futuro dilúvio, mas seus construtores foram dispersados por uma confusão de línguas.
A Pirâmide de Tepanapa, também conhecida como a Grande Pirâmide de Cholula, é o maior monumento e simultaneamente a maior pirâmide em termos de volume do mundo,  com 65 metros de altura e 439 metros de base.
Os arqueólogos imaginam que terá começado a sua construção 900 a.C., mas...

Maquete da pirâmide

Quando os espanhóis chegaram a Cholula, no século XVI, a pirâmide estava degradada, tendo perdido a cobertura de pedras. Sobre o adobe cresciam plantas e árvores; por esta razão ela foi confundida com um morro, confusão esta que permaneceu até 1930, quando os arqueólogos começaram a explorar o local.
Seguindo a tradição de construir uma igreja sobre o local onde existisse qualquer templo de adoração “pagã”, os espanhóis construiram a igreja da Virgen de los Remedios no cume da pirâmide onde antes havia um templo dos nativos. (Aliás pelo mundo tem-se assistido a transformar mesquitas em igrejas, igrejas em mesquitas, igrejas do rito A para o rito B, sinagogas em... etc.)
Desde a década de 1930, já foram escavados, dentro da pirâmide, mais de 8 km de túneis, em vários níveis.



Há um trecho maia, n livro Popol Vuh, que deixa muito o que pensar, mesmo sabendo-se que foi escrito em 1547 em latim, no idioma quiché. Apesar de deixar transparecer a influência cristã, para muitas tribus maias continua a ser a “sua bíblia” já que  o texto aborda questões sobre a criação do mundo, dos homens e dos animais, segundo a sua tradição.
Um pouco do trecho sobre a grande pirâmide:
Aqui as línguas das tribos mudaram – sua fala ficou diferente. Tudo o que ouviam e compreendiam, ao partir de Tulán, tornou-se diferente... Nossa língua era uma quando partimos de Tulán. Ai! Esquecemos nossa fala.
Do mesmo modo, dilúvio, antropólogos dizem que há mais de 1.000.000 de narrativas do dilúvio em povos e culturas diferentes no mundo e todas elas, coincidentemente são no início das civilizações.
George Smith, especialista em línguas antigas, empregado no Museu Bri­tânico, fez uma descoberta que sacudiu o mundo vitoriano. Por volta de 1870, ao tradu­zir uma seção partida de um dos livros de barro de Nínive, deu-se conta repentinamente de que lia uma história parcial do Dilúvio, escrita an­tes da versão hebráica e interrompida pela quebradura no tablete. Tanto furor causou sua descoberta que o London Daily Telegraph finan­ciou-lhe uma expedição à Mesopotâmia onde ele, em Nínive, conseguiu localizar os segmentos que faltavam. A história completa do Dilúvio era um paralelo quase exato da versão bíblica, com a exceção dos no­mes dos deuses e de Noé, que era Ut-naphistim. Mas as atividades intensas de Smith destruíram-lhe a mente e a saúde. Após realizar uma tradução original especialmente difícil no Museu Britânico, exclamou: “Sou o primeiro homem a ler este texto após 2 mil anos de esquecimento!”
Provou que Noé e a sua Arca não eram só um história da Bília.
Ficou louco e faleceu pouco depois!
Voltemos a Babel como confusão de línguas.
A lingua basca que ninguém sabe bem de onde vem, e atribui-se à pré-história, já que a última glaciação terá parado antes dos Pirinéus, no país basco francês, mas existe um pequeno bolsão linguístico basco nas montanhas do Cáucaso! Como?
As pirâmides astecas eram chamadas de teocalli, a casa dos deuses. Em grego, theo kalia é a casa de deus! Já os sacerdotes maias, num exorcismo contra estranhos diziam konex oman panez; os gregos dizem konex om panex como invocação dos mistérios religiosos. E tem mais umas quantas palavras que, se não são de origem grega, devem ser... gregas!
Quem sabe se não foi Ulisses que passou por lá?!
A língua quíchua, falada em quase todo o continente sul americano tem inúmeras palavras iguais às dos maoris, os principais e primeiros habitantes da Nova Zelândia, que terão saído em várias ondas de migrações do leste da Polinésia entre 80 e 100 d.C..
Por exemplo (a primeira em maori, e a segunda em quíchua) :
- chefe tribal – kura, kuraca
- batata doce – kumara, kumara
- pele – kiri, kara
- entre – pura, pura
- amor – muna, munay
- mutilado – mutu, mutu
Se a bibel aconteceu, como diz a Bíblia, por mando de Deus, ninguém poderá afirmar. Mas a dispersão dos homens pelo mundo, os desencontros e reencontros, hoje a filologia dá-nos indicações preciosas, como alguns dos exemplos acima.
E ainda o  caso de Ibéria e Galiza, que tem nomes idênticos aos de Espanha nas regiões fronteiriça entre Hungria e Eslováquia, e Ibéria ao norte da Arménia, alcançando os Cárpatos (já mencionado num texto http://fgamorim.blogspot.com.br/search?q=Ib%C3%A9ria) onde existe o bolsão de falantes de basco.
Dilúvios, sempre houve e vão repetir-se, através de inundações, tsunamis e, quem sabe? com o aquecimento global.
Bibels, confusão, desentendimento propositado, vão subsistir até que o homem entenda que qualquer outro é seu irmão.
Só mais uns 200.000 anos.

17/04/14


segunda-feira, 21 de abril de 2014



Escrito em Setembro de 2000

A  BABILÓNIA


Apesar das controvérsias sobre o significado da palavra Babilónia, a verdade é que hoje quando alguém diz isto é uma babilónia¸ está a dizer que isto é uma confusão, uma bagunça, onde ninguém se entende.
Há quem atribua a origem da palavra a Bab-ilu, que seria a Porta de Deus. Seja como for também o Génesis diz que foi por causa da Torre de Babel que Deus acabou pondo cada homem a falar a sua língua, para que não se entendendo se dispersassem, e não insistissem na teimosia de querer chegar ao céu através da tal torre.
Mais tarde apareceram os línguas, os poliglotas, os tradutores, os dicionários, tudo para ver se homens, que teimam em não se entenderem, pelo menos imaginam o que os seus semelhantes querem dizer, ou mais profundamente, o que estão a pensar!
Consta agora que pela União Européia vai uma baita babilónia com o gravissimo problema da venda do passe dos jogadores de futebol, quando terminado um contrato!
Os governos todos empenhados nisso, ministros, embaixadores, juristas, enfim um enxame de gananciosos à procura de uma lei que lhes permita mamarem mais alguma grana com os pés dos virtuosos da bola! Não dá para acreditar que se mobilize tanta gente importante por causa do futebol.
O mais babilónico de tudo isto é que ninguém está preocupado com o jogador, não. É na entrada de divisas no seu país, quando não tarda nada acabam as tais divisas, na Europa.
Mais babilónico ainda é o assistirmos, há milhares de anos, a congressos, senados e diversos outros conjuntos de gente que se reúnem para fazerem leis, sabendo de antemão que essas leis têm como finalidade primária o interesse dos poderosos.
Tempos houve, e ainda há num ou outro canto deste planeta global, em que o pobre nem sequer podia levantar a cara e olhar nos olhos do chefe! Era lei.
Tempos há em que as leis são iguais para todos, mas todo o mundo sabe que há uns todos que são mais do que os outros todos!
Nos processos jurídicos é tal a babel, que se faltar uma vírgula no texto, o outro, se for pobre, pode até nem ser condenado, mesmo que tenha sido flagrado a roubar, matar, estuprar. Rico então... para quê o texto?
No Brasil Deus juntou emigrantes de quase todos os cantos do mundo. Os primeiros a emigrarem lá donde tenha sido, foram os que se convencionou chamar-se de índios, depois vieram os portugueses, e meia dúzia de franceses, a seguir levas infindas de africanos, holandeses, e por fim italianos, alemães, espanhóis, japoneses, coreanos, chineses, hindus, palestinos, libaneses, turcos, árabes, e os outros etc. todos.
Esse povo, trabalhador, desbabelizou-se num instante, e contribuiu para o progresso do país. Os outros, os que vão para a administração pública, salvo honradas e ignotas exceções, babelizam-se e não entendem mais a vox popula.
Neste país, como em toda a parte do mundo, há que pagar impostos. Muitos impostos. Imensos impostos. Injustos impostos. Quem paga a maioria deles somos nós. Os outros fazem ouvidos de... babel.
Um deles é o Imposto de Renda, que se vai depositando ao longo do ano. Quando por fim o cidadão, o comum, apresenta a sua declaração anual, pode ter direito a restituição.
O japonês, um dos povos com mais dificuldade a aprender português, em terra estranha muitas vezes permanece fechado no círculo da família onde a sua língua original é falada quase em exclusivo. Só os filhos, nascidos ou criados no Brasil, vão para casa a falar a língua dos coleguinhas de escola e assim o português, lentamente, vai repondo as línguas dos emigrantes.
Vovô Takashiro fez a sua declaração anual do imposto de renda. E aguardou. Tempo passado, falando pouco mais que japonês, sem receber resposta da receita federal, foi a uma das suas repartições saber se tinha direito a receber de volta algum trocadinho que lhe fazia falta.
Dirigiu-se a uma funcionária e:
- Eu Takashiro Kakombi.
- O que o senhor deseja?
- Fukhyu? Fukhyu?
A funcionária, dona Viollante (com dois “l”), que não sabia muito de inglês mas estava cansada de ver estas educadas palavras nos filmes americanos que passam na tv, ficou... p. da vida! Foi chamar o chefe.
O chefe olhou para ele, ar grave, e Takashiro, calmo, sorriso amarelo e enrugado, voltou a repetir
- Fukhyu? Fukhyu?
Escândalo! Polícia. Delegacia. Takashiro, sem entender nada do que se passava. O delegado mandou chamar alguém da família dele, que chegou horrorizada por ver seu honrado chefe de família quase trancafiado no meio dos bandidos.
- Seu delegado, o que fazer meu honrado pai?
Delegado, constrangido (delegado constrangido?) lá explicou o que se passara na repartição da receita federal, quando seu Takashiro insultara a dona Violante.
- Oh! Seu delegado! Meu honrado pai não falar bem poruguês. Esse palavra feio a inglês, no Japão querer dizer restituição! Ele só querer saber se tinha restituição do IR.
Nessa altura dona Violante foi consultar a ficha dele e aproveitou para se vingar:
- Fukhyu.
- Como?
- Em inglês. Não tem!


11 set 2000

quarta-feira, 16 de abril de 2014




Farsas trágico-cômicas


1.- Diretora do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é demitida! Isto porque apresentou (atenção: em ano eleitoral!) um percentual de desemprego no país mais alto do que a registrada nos centros urbanos.
Outros quarenta e cinco coordenadores pedirão também a demissão em solidariedade com a diretora.
Como já é hábito trocar-se de diretores de empresas estatais que revelam índices que desagradam à ditadura petista, agora procurarão outro que faça os cálculos de maneira “mais amiga” e mostre as maravilhas do seu, total, des-governo.
À la cristinhinha das pampas que manda comunicar a inflação que lhe apetece! Em vez de 30 ou mais ao ano ela MANDA que são só 8 ou 9. E viva o tango.

2.- Exatamente uma semana após o governador do Rio ter inaugurado uma escola que ele afirmou “seria uma escola-padrão”, apresentando, nesse dia, as salas cheias de computadores e projetores de imagens, a Secretaria de Educação foi lá e retirou os computadores todos. E não só: levou também telefones e projetores. Mas na ocasião o governador tirou muitas fotos ao lado dos equipamentos.

3.- A Petrobrás, a grande Petrobrás, está na pior. Os escândalos sucedem-se, envolvendo largos, larguissississimos milhões de Reais em corrupção para “intermediação de negócios”, compra de equipamentos de cinquenta milhões de dólares sem concorrência pública, além da compra da refinaria em Pasadena US, vendida por quarenta e dois milhões de dólares um ano antes do Brasil a comprar por dois bilhões.
Os petistas com o sargento lula à cabeça estão a fazer os impossíveis que uma CPI da Petrobrás não ande. Mas é tanta a corrupção, e são tantos os diretores envolvidos que se um bota a boca no trombone... vai entrar no ventilador.
Ainda tem uma “gracinha” que é a construção de outras refinarias: a de Pernambuco orçada em 2,5 bilhões de dólares e para ser parceria com a Venezuela, vai custar mais de 20 bilhões e... só o Brasil entrou com a grana.
Já na refinaria de Itaboraí RJ, a Auditoria do Tribunal de Contas constatou atrasos injustificáveis nas obras e serviços, devido a dificuldades financeiras da contratada em pagar seus fornecedores e impactos causados pelas chuvas, o que causou prejuízo mensal estimado em R$ 213 milhões. Em novembro de 2013, de acordo com o TCU, 27% das obras das tubovias tinham sido concluídas, bem abaixo dos 72% previstos no cronograma.
Estas duas obras já custaram, até agora e estão longe de começarem a trabalhar mais de 40 bilhões de dólares do que o orçado!
Outro docinho que está a aparecer: um contrato escuso que a Petrobrás assinou com um empresa ligada a essa canalha, só de 453 milhões.
A madama dona presidentA agora diz que “querem destruir a Petrobrás”! Tem até graça, quando a quadrilha que ela lá dentro comanda está a deixá-la no esqueleto. Mas a culpa é dos orgãos de informação, claro!
Soma e segue.

4.- A Balança Comercial do Brasil continua a apresentar saldos negativos. O pior resultado em quase... muitos anos. É que os “negócios da China” estão a amarelar, e os investimentos no “país-do-faz-de-conta” a sumir. Nem deu para tapar a vigarice ter metido nas contas “Exportação” uma plataforma de petróleo que foi para... aqui mesmo!

5.- Um dos gangteres do “pt” que conseguiu alcandorar-se a vice presidente da câmara dos deputedos e, muito educadamente fez um imenso manguito ao Presidente do Supremo Tribunal, com a intenção, declarada, de lhe dar uma cotovelada na cabeça, está em vias de ser preso. As suas ligações com a banditagem da corrupção, por ora só indicam desvios de cerca de 10 bilhões.

6.- Uma das hidrelétricas em construção, Jiraú, em 2008 tinha inauguração prevista para 2013. Agora será (?) para 2016, e o custo orçamentado em US$8 bilhões irá para, se... em US$17,4 bi. Entretanto com a falta de chuvas São Paulo está à beira de um colapso. O sistema de abastecimento está abaixo do nível mínimo! O que os des-governos, central e estadual, têm feito? Isso mesmo: mais ou menos nada.

7.- Ainda no tempo do sapo-barbudo se inventou um nome para programas de investimento a que, lindões, chamaram de PAC. Algum tempo depois ainda este PAC não ia nem em 20% do previsto, estrombolicamente o governo lança o PAC 2 que deveria ficar concluído até finais de 2014. Deste PAC, 53% ainda não saíu do papel e só 12% das obras foram prontas. Das 5.257 creches prometidas estão prontas 233 – 4,44% – e de 9.158 quadras esportivas, concluíram 481, isto é 5,25%.
Mas a madama já afirmou: vai lançar o PAC 3 e se for reeleita tudo ficará pronto até ao fim de mandato, no “país  do faz de conta”!
Já estou a acreditar até em Papai Noel!

Sugiro que leiam a crônica, escrita por um grande jornalista, Nelson Motta, e publicada em “O Globo” dia 11 de Abril:

Câmara ardente
Por Nelson Motta
A Câmara dos Deputados vai abrir concorrência para escolher uma agência de propaganda para identificar as causas do desgaste de sua imagem e melhorá-la com uma cam­panha publicitária de 10 milhões de reais. No país da piada pronta, seria só mais uma, se não fôssemos nós a pagar a conta desse deboche com contribuinte e afronta à inteligência alheia. Nem 100 mi­lhões de reais e Nizan Guanaes, Washington Olivetto e Duda Mendonça juntos fariam o milagre: a própria ideia da campanha suja ainda mais a imagem da Casa. Logo em seguida ao anúncio ultrajante, co­mo uma irónica resposta da realidade, foram ao ar o voo de 100 mil reais que um doleiro | preso pela PP pagou para o então vice-presidente da Câmara, André Vargas, e as relações perigosas entre os dois. Apavorados com a contaminação, o Planalto, Lula e o PT já joga­ram Vargas ao mar, outros partidos temem novos nomes, a manada entrou em pânico di­ante do perigo iminente. As eleições vêm aí e agora as cassações são por voto aberto. Quem condenará quem?
As ações e omissões de cada um numa even­tual CPI-bomba, com televisão ao vivo, vão ser mais convincentes, para o bem e para o mal, do que qualquer campanha publicitária. O públi­co acaba percebendo o que eles tentam escon­der e as manobras para diluir as culpas, que, no fim, atingem toda a instituição. Mas terminar em pizza no meio da campanha vai ter um pre­ço salgado para todos.
No que se refere, como diz aDilma, à Câ­mara, a única certeza é a de Ulysses Gui­marães: a próxima será pior. A matemática é triste: entre os novos e honestos que en­trarão, vários vão se corromper pelo po­der, pelos privilégios e pela vaidade, mas quem acredita que algum dos velhos picaretas já instalados vai se regenerar? Não é por acaso, André Vargas estava se prepa­rando para tomar a presidência da Câma­ra, o ex-presidente João Paulo Cunha está preso, e o próximo pode ser o deputado Eduardo Cunha.
Nossos 10 milhões de reais só vão melhorar a vida da agência de publicidade e piorar ain­da mais a imagem da Câmara. Mas eles não ligam, repetem para nós o que o doleiro Youssef digitou a André Vargas: kkkkk. •

6.- Tem muito mais farsas. Mas... reclamar para quê? A ditadura continua a comprar votos, a destruir as instituições que ainda tinham alguma notoriedade e isenção, através de delegados escolhidos a dedo, e o “país do futuro”... agoniza.


12/04/2014

sábado, 12 de abril de 2014




Índia – 6

Final - Considerações

Nos cinco textos anteriores demos uma ideia, mais que simplista, da história da Índia. Somente a The Cambridge History of India  são, só, oito volumes com uma média de 700 a 800 páginas cada um! Aquilo, sim, é história!
Mas busca daqui e dali sempre se descobrem coisas do maior interesse, e esta é uma delas:
Comparem-se as inscrições, com cerca de 5.000 anos, encontradas em Mohenjo Daro nas escavações desta antiga cidade do vale do Hindus,  – as da linha de cima – com as que foram descobertas em cavernas na Ilha de Páscoa, em frente do Chile, a mais de 20.000 quilómetros de distância uma da outra, e relacionem com os primeiros habitantes da Índia, os aborígenes da Austrália, etc, e com a língua mais antiga da Índia, chamada Austric. É evidente que não é coincidência.

Já alguém pensou na possibilidade de construir, nos dias de hoje um palácio como Versailles, a Cidade Proibida de Pequim, a igreja de Notre-Dame, o templo da deusa Meenakshi, a coleção dos templos de Khajuraho com todos as suas figuras mais do que eróticas, pornográficas, ou mesmo o Taj-Mahal? Nem Bill Gates teria capacidade financeira para tais empreendimentos. O que se assiste hoje é à explosão da opulência dos países produtores de petróleo, porque o mundo inteiro paga para isso.
Desde há 1.000 ou mais anos quem “pagava” tudo isso era o trabalho escravo ou de miseráveis servos, sempre com um único objetivo em vista: o engrandecimento dos senhores, a auto promoção, quer fossem reis ou chefes religiosos. São obras magníficas, sem dúvida, mas subsiste a pergunta se teriam sido obras necessárias ou só exibição de fortuna e poder.
Só há muito pouco tempo se começou a investir em obras sociais, transportes, saúde, educação, e assim mesmo nem em todo, o lado.
Quando se admira, por exemplo, Versailles poucos pensam nos milhares de miseráveis que ali trabalharam, mas na vaidade do “rei Sol”!
Os pobres substituíram os servos ou escravos o que conduziu a sociedades dominadas pelo capitalismo, talvez a mais absurda das ditaduras.
Tem sido assim em todo o mundo, e continua, guardadas as proporções e as épocas, mas constatando-se que democracia e capitalismo, são, acima de tudo, antagónicas (J. Le Goff).
E se é difícil ser-se completamente objetivo, uma verdade antiga continua a sê-la nos nossos dias: “só a História nos leva a conhecer, e compreender, o presente.”
Países há que continuam a querer “ensinar” uma história deturpada, com a finalidade única de culpar os governantes anteriores pela incapacidade, inépcia e corrupção do festão atual, e desse modo a maioria dos povos vai perdendo a sua cultura e como consequência pondo de parte os valores e o interêsse coletivo. Basta pensar que num elevado percentual de escolas nos EUA foi proibido o ensino de “A Origem das Espécies” de Darwin, outras, fundamentalistas, insistem que o primeiro homem foi mesmo o Adão da Bíblia, e quando se lhes mostram pinturas rupestres com 15 ou 20 mil anos dizem que é invenção de cientistas falsos, mas o topo de todas essas mentiras, aberrações e/ou negações está na recusa de aceitar que o homo sapiens tem uma só origem comum, e essa, veio de África. A menos que essa gente se considere descendente dum pedaço de barro e de uma costela, como, figurativamente nos conta o Gênesis!
Gente que não entende que corpo e espírito são completamente independentes. Um, como diz o poeta brasileiro Nei Lopes, nada mais é do que “embalagem pra viagem”, descartável, duração extremante precária, auto-destrutível, enquanto o espírito é eterno.
A dispersão dos homo sapiens pelo mundo ainda envolve hoje muito mistério. Um deles, por exemplo é o povo Ainu, que vive nas ilhas a norte de Hokkaido, hoje sob administração russa, e de que se desconhecem as origens. Traços aparentam-nos com caucasianos, tibetanos, mongóis, etc.

Grupo de Ainus, em 1904

Continuam o mistério sinais inequívocos da presença de ocidentais nas Américas, talvez milhares de anos antes de Colombo, como estas pedras encontradas, a de cima, a pedra rúnica de Kensington, em Minnesota, em 1898  descreve um ataque de skerlings (índios?) a um grupo de vikings.
A outra encontrada em um túmulo pré-histórico também no final do século XIX, com caracteres que parecem hebraicos de cananeia, e cujo significado poderia ser “Ano Um da Idade de Ouro dos Judeus”. Teoria corroborada pela descoberta no Tennesee e no Kentucky de esconderijos de moedas romanas de cerca de 135 d.C.


Se tudo quanto se tem conseguido apurar sobre a evolução do homo sapiens pela Terra for verdadeira, o que não podemos esquecer é dos nossos primeiros antepassados. Alguns deles com hábitos preservados pela sua determinação em lutar contra invasores, nas ilhas Andamã, que hoje fazem parte da Índia, a um pouco mais de mil quilômetros a sudeste do continente.


Eram assim os nossos antepassados. TODOS!

Para quem não gostou destas nossas jovens parentes... pode escolher estas outras:
 


12/04/2014

quarta-feira, 9 de abril de 2014




Índia – 5


O nosso objetivo ao começar a escrever um pouco sobre a Índia foi com a preocupação de compreender duas situações:
- porque a Índia tinha tanta gente de côr negra, de onde vieram, como se misturaram;
- e a origem do sistema de castas que, abolido oficialmente, se mantém ainda em grande parte do povo;
Pensamos ter conseguido ir às fontes mais antigas encontrar as necessárias explicações para esses dois assuntos.
Depois, com a chegada dos chamados arianos, novos caminhos surgiram no sub continente indiano, e sobre eles vamos passar “voando”, porque não era, nem é, nossa intenção escrever história, o que seria um absurdo, mas divagar sobre a evolução dos povos.
Vimos que chegaram os arianos, de onde terão vindo, e como o Rigveda, a memória mais antiga que se manteve, conservou e esclareceu alguns dos princípios filosóficos que presidiram os destinos de toda aquela gente.
Cerca de 600 a.C. surgem dois pequenos desdobramentos da mais antiga religião, o hinduismo, que vem desde todos os tempos, o jainismo e o budismo. A primeira fundada por Mahavira, voltada sobretudo para o ascétismo, a pureza, o total respeito pela natureza incluindo o vestiário, que aboliram. Nada mais completo do que o contato com a natureza seria o corpo não ser coberto de panos ou andrajos. Mais tarde foram proibidos de entrar nas cidades sem no mínimo um pano que lhes cobrisse o sexo. A mais alta estátua isolada da Índia, com dezoito metros de altura, é em honra dum santo jainista Gomateshwara Bubali, que se apresenta completamente nu.

 Gomateshwara, vendo-se os andaimes montados para a festa, que inclui limpeza e pintura

Na mesma época aparece Siddhartha Gautama, o Buda (em sânscito, O Iluminado) que procurou pela introspeção ultrapassar a dor e o sofrimento, o apêgo às coisas materiais, para, em paz alcançar o Nirvana.

A maior estátua do mundo em Leichan, China. Buda, 71 metros de altura

Nesta época começa a fixar-se a gramática do sânscrito, língua de origem ariana (veja-se a relação entre sânscrito, a língua nobre porque podia ser escrita, e a palavra portuguesa escrita, em relação à língua do povo, somente falada, o prácrito, prático!)
Cerca de um século depois de Mahavira e Buda, os persas sob o comando dos reis Ciro, Cambises, Dario e Xerxes, expandem-se para ocidente ocupando o vale do Hindus. Depois é Alexandre quem conquista todo o Império Persa, atravessa as montanhas Hindu Lush, e a seguir o rio Hindus, vence um exército indiano comandado por Poro na batalha de Hispades, e em 326 a.C. desiste de seguir em frente. Perto dali perde o seu famoso cavalo Bucéfalus que manda enterrar junto a uma nova cidade, Nicea, que manda construir e deu ao lugar onde enterrou o cavalo o nome de Bucefala.
A Índia já estava muito dividida por reinos maiores ou menores, mas aparece uma tendência a se unificarem para ganhar forças, sobretudo depois de terem assistido ao poderio e organização dos exércitos helénicos.
Neste cenário surje um personagem chave na história da Índia: o primeiro grande império fundado em 321 a.C por um obscuro guerreiro, Chandragupta, comandante do exército de Magadha, da dinastia Nanda. Revoltou-se contra o rei  Dhana Nanda, que era extremamente cruel e perverso com o seu povo, mas a revolta falhou e fugiu para junto de Alexandre Magno pedindo refúgio e conselho, quando este se encontrava no noroeste da Índia. Assegurado levou a cabo um novo ataque ao rei Nanda, matando-o e subindo ao trono. Dava-se início a uma nova dinastia na História da Índia, a dinastia Máuria, que reinou um século e meio e unificou de imediato todo o norte do sub continente.
Sob Chandragupta, seu ministro Kautalya Chanakua escrevia o Artha shastra que é o mais antigo e um dos maiores tratados sobre economia, política, administração, assuntos exteriores e guerra que, junto com os Éditos de Ashoka se constituiram no arcabouço doutrinário de todos os governantes do império.
Com a unificação, a Índia experimentou um longo período de paz e prosperidade com desenvolvimento da economia e ciência, melhoria do comércio, agricultura e sistemas administrativo, tributário e legal. No campo da religião Chandragupta incentivou o jainismo enquanto Asoka, seu neto, que conquistou o sul e se tornou o maior de todos os reis da Índia, favoreceu enormemente o budismo a que se converteu, tornando-se o predecessor da tutela dos direitos dos animais.
Deve-se ao Império Gupta, também, a invenção dos conceitos de zero e infinito e os símbolos para o que viria a ser conhecido como os algarismos arábicos (1-9).
Com as castas, sobravam servos, escravos, muita mão de obra disponível para os grandes senhores, uma imensa concentração de poder nos bramanes e sobretudo nos kshatryia ou rãjanya – os que ficaram conhecidos por rajás – para a construção de grandes templos ou palácios e começa então o período da monumentalidade.
Acaba o Império Gupta com a invasão dos hunos brancos, nos séculos V e VI d.C., idos do atual Afeganistão, que também arrasaram a Europa central e do leste, e continuamente a ser invadida por tribus e exércitos vindos de outras terra, começa a invasão islâmica no século VIII que se apodera de Deli no século XII. Iconoclastas, foram destruindo na sua passagem imagens de figuras humanas como há pouco fizeram os talibãs com as estátuas de Buda. Deixaram uma obra magnífica, sim, o Taj-Mahal, mas como tudo no islão, somente decorado com flores e frases do Corão.
Finalmente a colonização britânica acaba vencendo os imperadores muçulmanos, sempre mal recebidos pelos indianos, e que termina com a separação dos atuais países, Paquistão, islamizado e Índia, ainda com quase 14% de muçulmanos, constantemente hostilizados pelos hinduistas, que são mais de 80% da população total.
A colonização britânica pode ter tido muitos males, como todas, mas foram os cientistas ingleses que decifraram e conseguiram traduzir os textos sagrados do sânscrito, que descobriram e prospectaram sítios arqueológicos e deram a conhecer ao mundo as maravilhas daquele país.

07/04/2014


Ainda continua. Só mais uma vez!

quarta-feira, 2 de abril de 2014




Índia – 4


Foram mais os filólogos do que os arqueólogos que se aproximaram do conhecimento da origem dos arianos, uma vez que encontraram inúmeras ligações entre o sânscrito, o grego e o latim, que obrigatoriamente os levaram a concluir que algum dia tinham tido uma fonte comum, como por exemplo as palavras que designam a bétula e a faia –árvores de climas frios, mas não gelados – e ainda a tartaruga e o salmão, com áreas de desenvolvimento original bem específico, que em sânscrito, eslavo antigo, alemão, lituano, grego e outras línguas tem muita semelhança.
Ao mesmo tempo foi difícil entender como povos que não tinham deixado grande cultura na sua origem, tivessem dado um avanço às tradições milenares do sub continente indiano.
Mas é preciso lembrar que eles atravessaram regiões onde grandes civilizações despontavam, principalmente na Mesopotâmia.
Esses arianos não chegaram todos à Índia numa só vaga, mas foram-se sucedendo, as primeiras encontraram as grandes cidades das zonas do Hindus e do Pendjad – Pend, cinco, ab, rio, Cinco Rios – como Harappa e Mohenjo Daro, talvez no fim do seu apogeu, mas exibindo ainda as suas grandezas.
Este imenso fluxo de povos arianos e iranianos, durou uns seis séculos, apesar de se ter conhecimento que há talvez uns 20.000 anos as migrações haviam começado.
À medida que os novos migrantes foram penetrando para Leste, sempre à procura de melhores terras, ao encontro da região do rio Ganges deparavam-se com as populações autóctones, em sua maioria de origem africana. Os negros, com sistema de vida muito primitivo, que se distinguiam dos povos do Oeste e Norte, de pele mais branca.
E começa aqui um dos mais longos sistemas coloniais e de escravatura de todos os tempos.
Os arianos, invasores, mais fortes, mesmo quando em alguns casos tiveram que se misturar com os autoctones, quase que só o faziam através de casamentos de interesse, com os chefes locais, porque precisavam de paz e sobretudo da mão de obra.
E assim nasce o que se chama brahmanismo, palavra do sânscrito que significa os de caracter nobre, os nobres, os brahmanes, e com eles o sistema de castas.
Sendo o povo indiano extremante religioso, os brahmanes reservaram para si o exclusivo de conduzir os rituais religiosos, ficando assim com o “poder” de comunicar com os deuses, estando acima de todos os outros, eles que eram os sacerdotes, e os poetas, os que nos deixaram a história antiga, mesmo via oral.
A seguir vinham os nobres e os guerreiros que não podiam deixar de ser contemplados, os kshatryia ou rãjanya, depois os vahisya ou viç, os agricultores, mercadores e artesãos, e por fim a classe dos servos, os Çudra possivelmente o nome de uma tribu Dasa conquistada pelos arianos. Os Shudra, ou Dalit, palvra do século XIX para designar os membros da mais baixa casta, para parecer menos pejorativos, que nós conhecemos comos os Párias.
Os três primeiros grupos pertencem ao grupo dos conquistadores arianos e o último aos Dasyus. E a distinção entre eles foi simples, uma questão de varna, ou jati, côr ou pele: os arianos eram coletivamente conhecidos como os de “côr clara” e os Dasyus como de “côr negra.”
Tão forte foi este sistema implantado que afetou todas as outras religiões, e todo o povo indiano, o que justifica que o budismo tenha quase desaparecido de muitas regiões da Índia, absorvido pelo sistema de castas passado para o hinduismo.
E pior, a proibição, salvo casos muito especiais, de casamentos entre gente de classes diferentes.
Com o sistema de castas implantado, os rituais e sacrifícios foram ganhando cada vez mais importância e codificados na literatura védica, o que permitiu sempre concentrar mais e mais poder e riqueza nas mãos dos membros das duas primeiras classes.
Os Shudra – notar a relação com a palavra portuguesa “choldra” – coisa imprestável, ralé – eram os intocáveis, aqueles que fazem trabalhos considerados indignos, sujos, lidando com os mortos (animais ou pessoas), com o lixo, ou outros empregos que requerem constante contato com aquilo que o resto da sociedade considera abjeto e desagradável. 
Privados de direitos e sendo propriedade privada, como “coisa”, foram a mão de obra, os grandes obreiros dos monumentos, hoje considerados maravilhosos, que pouco adiante os poderosos foram mandando construir.
Pouco falam os Vedas sobre a estratificação do povo em classes, mas isso ficou marcando e distanciando, sempre os poderosos dos mais fracos, desgraçadamente ainda classificados pela cor da pele.
Só mais tarde fazem referência a indivíduos que não merecem o “status” nem os privilégios dos nascidos duas vezes. Com o tempo, os Shudra, ficaram excluidos dos rituais de purificação, como impedidos de atingir o moksha – última serenidade de libertação da transmigração – devido ao seu carma – a lei de causas e efeitos que transcende o limite da existência – e deste modo condenados a permanecer eternamente na terra.
O homem esquece com facilidade o que não lhe interessa recordar.
Talvez não soubesse, como ainda hoje a maioria não deve saber que o Homo Sapiens, a espécie a que pertencem os seis ou sete bilhões de habitantes deste planeta, terá surgido em Africa, como já dissémos, há uns duzentos mil anos, o que demonstra que todos, mas todos, viémos do mesmo lugar e que os nossos antepassados foram, repito, todos, negros.
Não é preciso lembrar a “vovó” Lucy, que terá vivido há mais de três milhões de anos, porque essa estava ainda muito longe do Homo Sapiens. Era um  Australopithecus afarensis. Talvez tenha sido, talvez, um antepassado do homem moderno. E também era de África.

02/04/2014


Continua