terça-feira, 28 de março de 2017


O Rio de Janeiro
Histórias da sua História
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Sempre foi assim e não vai mudar nos próximos séculos.
O Brasil bateu todos os recordes do mundo em ladroagem e corrupção, tem uma classe política com uma abissal falta de educação, cultura, ética, classe e conhecimentos, mas continua a ser um lugar meio mítico com o seu carnaval, as suas praias e as suas gentes, sempre amáveis.
Corrupção houve desde sempre, sempre. Lembremos só o Bezerro de Ouro, a ter-se passado foi há mais de 3.500 anos, os 30 dinheiros que o pobre Judas recebeu, os presentes que davam a Khrushchov quando premier dum mundo eufemisticamente chamado comunista, o governo do general Grant no EUA, considerado o mais corrupto de toda a história daquele país (incluindo Busch) e centenas, milhares de outros, entre eles o Príncipe Bernardo da Holanda que recebeu mais de um milhão de dólares de para que usasse sua influência junto ao governo neerlandês na aquisição de aviões de combate... americanos! No melhor pano cai a nódoa! Haja panos!
Joaquim Manuel de Macedo, médico, escritor e jornalista brasileiro (1820-1882) deixou-nos uma preciosidade histórica no seu livro “Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro”.
É deste livro que vos contar algumas histórias, ao mesmo tempo que vos desafiamos a visitar os lugares nelas citados.
Sabemos que é difícil andar pelo centro da cidade à procura destas histórias, sobretudo para quem, como eu, que já não pode andar quilómetros, e quase também não hectômetros, sem ter que parar para repor o folego que se gasta rapidinho.
Comecemos por algumas que não requerem visitas.
Entre 1769 e 1778 governou o Rio de Janeiro, como vice-rei, o Marquês de Lavradio, chamado modestamente Luís de Almeida Portugal Soares de Alarcão d'Eça e Melo Silva Mascarenhas! Aqui chegou com 40 anos, dinâmico, encontrou o Rio num estado de quase abandono, sujo, ruas de terra, praticamente sem esgoto, e deu nova cara à cidade. É considerado um dos melhores governadores que por aqui passou. Quarenta aninhos, na força da vida, cheio dela e de energia era um “rabo de saias”, e ia “traçando” as meninas e senhoras fáceis que, normalmente depois, se vangloriavam de terem acolhido o marquês em suas alcovas... e suas pernas!
O governador saía de noite, todo encapuzado, quase irreconhecível e sabia bem a que portas bater, levemente, para não despertar a curiosidade dos vizinhos; ali fazia o que “tinham” a fazer e regressava altas horas ao palácio. Como é de imaginar os vizinhos não eram cegos nem surdos, era sabida a fama e proveito de Sua Excelência, e das parceiras (óbvio) mas ninguém se atrevia a comentar.
“Vice-rei! Acima dele só Deus, porque o rei, mesmo estava a meses de distância e, muito ocupado com a vida das freiras!!!  (Só de uma prioresa, D. João V teve três filhos)
Havia nessa época no Rio um conhecido doido, pobre e inofensivo, que vagava pelas ruas, e dizia o que lhe apetecia. O povo sempre gostou de puxar pela língua daqueles que nada têm a recear. Um dia sua excelência seguia a cavalo pela cidade, para visitar o andamento das obras que mandara fazer e cruzou-se com o doido, Romualdo.
Achou graça ao vê-lo, parou o cavalo e perguntou-lhe:
- Romualdo! Que dizem de mim aí pela cidade?
- Dizem que Vossa Excelência limpa as ruas mas suja as casas!
O povo que estava por perto ouviu a resposta, não conteve o riso e o Marquês picou o cavalo e saiu a galope!
Alexandre Dias de Rezende era um homem pardo, filho de um reconhecido carpinteiro trabalhador, que lhe deixou uma pequena fortuna que ele soube aumentar, entregando-se ao comércio. Passado algum tempo já tinha comprado uma grande chácara no caminho de Mata-Porcos (hoje rua Estácio de Sá). Com meios de fortuna, mulato, Alexandre sofria da inveja de muitos incapazes, dizendo que ele teria desenterrado um tesouro escondido no morro da Conceição e não o teria partilhado com os verdadeiros donos, que não havia! Se isso o perturbou, ele continuou seu caminho, honrado e acabou respeitado.
O vice-rei, entre o bom governo que fez, foi organizar os terços ou regimentos auxiliares da cidade do Rio de Janeiro, dispôs que o 4° regimento fosse de pardos e nomeou capitão de uma das companhias ao invejado Alexandre de Rezende.
No comando desse regimento ficou um português, major Melo, austero, violento e grosseiro.
Os pardos desse regimento eram frequentes vezes vítimas do mau génio do comandante, e atribuíam também esses maus tratos por influência do Marquês que tinha sido humilhado pelo pobre Romualdo.
Entretanto, terminado o seu mandato, o governo passou para Dom Luis de Vasconcelos e Sousa, 4° conde de Figueiró, cujo coração também se descompassava ao ver as lindas Moreninhas ou outras de quaisquer variados tons de pele das cariocas, mas não consta que tenha sido um Casanova. Afável, duro quando necessário, duas pequenas passagens atestam a sua personalidade.
Continuemos com Alexandre e o major Melo que se manteve no posto no novo governo, quando um dia tratou indignamente o capitão, que, à noite, foi a casa do major expondo o acinte que sofrera e que não devia passar sem uma satisfação a todo o regimento.
O major olhou-o com desprezo, e disse-lhe com tom de idiota zombaria:
- Homens, vocês que são mulatos, lá se entendam.
O capitão Rezende cada vez mais ultrajado pelo major foi direto ao palácio e pediu para ser recebido pelo vice-rei, no que foi logo atendido. O vice-rei ouviu as queixas, despediu-o e mandou chamar o major.
Como é evidente o major acudiu “correndinho” ao chamado e, interrogado, orgulhoso, expôs tudo como se tinha passado.
O vice-rei, repreendeu-o severamente deixando claro o seu descontentamento e o insulto com que ultrajara o capitão Rezende e ordenou-lhe que se recolhesse, sob prisão, a uma das fortalezas.
O major ao ouvir a ordem de prisão:
- Preso, eu? Pois é verdade que V. Exma. me manda prender?
Dom Luis de Vasconcelos, respondeu-lhe tranquilamente:
- Homem, nós que somos brancos, cá nos entendemos.
O major Melo perdeu o comando do regimento, foi mandado lá para o Sul, e Alexandre Dias de Rezende terminou a sua carreira como Sargento-Mor, posto equivalente a coronel.
O “nosso amigo” Alexandre Dias de Rezende, homem bom, generoso, prestigiado, quis entrar para a Irmandade de S. Pedro de quem era devoto. Sabia que sendo pardo a sua entrada não seria fácil. Um belo dia lá se decidiu e fez a sua proposta a um dos padres daquela igreja – Luiz Gonçalves – que a levou a uma reunião da mesa. Para votar a entrada desse personagem, a reunião tinha presentes todos os membros, e a discussão foi renhida. Não suportavam a ideia de ver um pardo lá “misturado”! Um dos padres que depois foi senador do Império, foi de tal violência contra, que a mesa não o aceitou.
Quando o padre Luiz a quem Rezende tinha feito o pedido o informou da negativa o pobre-rico Alexandre, de tão chocado até chorou!
- Paciência. Os senhores padres não me querem. Paciência.
Alguns anos mais tarde Rezende vendeu a sua chácara (onde está hoje a sede da Prefeitura do Rio) e, apesar de estar já bem velho fez construir duas casas na rua de S. Pedro, uma delas ao lado da Igreja. O padre Luiz estranhou que ele, velho, ainda se metesse em obras e perguntou-lhe qual era a sua ideia.
- É um segredo que só será conhecido depois que eu morrer. Tenho muita pena dos senhores padres que, sendo pobres e estando velhos e doentes não tenham onde ficar e celebrar.
Não durou muito mais. Ao abrirem o seu testamento:
“Declaro que entre os bens que possuo são duas casas com sobrado na rua de S. Pedro... que deixo à irmandade de S. Pedro... para assistência aos Rev.mos sacerdotes que se acharem enfermos...” etc.
Alexandre Dias de Rezende morreu sem fazer parte da Irmandade, mas enriqueceu-a. (Nesta ocasião os padres não discutiram se deviam ou não aceitar o legado!)
Como benfeitor, teve ofício de corpo presente na igreja de S. Pedro e foram os padres que por fim carregaram nos ombros o caixão do pardo para a igreja da Ordem Terceira de S. Francisco de que era irmão. E mais: quando chegaram perto do convento de Santo António os “terceiros” estavam presentes para receberem o caixão que os padres de S. Pedro não queriam entregar! Quase brigaram pelo morto os que o tinham desprezado em vida!
Uns bons anos mais tarde a administração da irmandade de S. Pedro mandou colocar na sacristia um retrato de Rezende!
A bonita igreja de S. Pedro foi demolida em 1943 quando se abriu a Avenida Presidente Vargas.
Estava onde é hoje uma das faixas da mesma avenida.

Só mais uma do vice -rei Dom Luis de Vasconcelos.
Descia um dia o vice-rei, a pé, o morro da Conceição, acompanhado do mestre Vitorino a quem encomendara a execução do Passeio Público, para o que foi necessário desmontar o Morro das Mangueiras (que ficava entre o de Santa Teresa e o de Santo António) para aterrar a famigerada lagoa do Boqueirão, de águas paradas, sujas, malcheirosas, quando se cruza com uma liteira carregada por dois escravos que, com o imenso calor que fazia, suavam como se estivessem debaixo dum chuveiro.
Mandou parar, abriu a cortina que dentro escondia o “amo”, homem gordo. Ordenou-lhe que descesse do “bem bom”, e no seu lugar mandou entrar um dos escravos. Ao “patrão”, depois de o descompor pela vergonha e maldade que fazia aos seus escravos, ordenou-lhe que subisse ele a carregar a liteira para ver como era!
Vice-rei mandou, ninguém discute! Onipotente. E lá seguiu o “patrão” a carregar, encosta acima, sentadão na liteira, um dos seus escravos!
O mais curioso é que esse homem era rico, e até hoje, a ladeira tem o seu nome: Ladeira de João Homem!
Parece que o Dom Luis de Vasconcelos e Sousa faz, hoje, a maior falta no Rio de Janeiro... e não só!


04/03/2017

domingo, 26 de março de 2017



Alguns números

Para o fim de semana

Não é para pensar. Só para ver!

A)- Brasil, segundo os “fóruns internacionais este é  o4º país mais corrupto do mundo! Devem ter esquecido da Guiné Equatorial, Angola, Rússia e Coreia do Norte, Sudão, e tantos outros, incluindo Cuba, mas não esqueceram da Venezuela.

B)- Também é o país mais religioso do mundo: só entre 2010 e 2016 foram registradas mais de 55.000 “igrejas”! Uma delas tem o simpático nome de Associação Missionária da Boneka!
É um magnífico negócio, porque não paga imposto de cólidade nenhuma, não precisa declarar proventos ao Fisco, não tem inspetores de saúde, trabalhista... nada.  A IURG continua a ser a campeã de arrecadação. Tanta devoção e nenhum milagre! Mas muito avião a jato, mansões, Ferrari e outros pequenos milagres operados pelos babacas.

C)- Mais de 50% dos congressistas – senadores e deputados federais – têm processos a correr na justiça por corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e outras simpáticas atitudes, como assassinatos, mas são os que continuam a criar leis para ver se se safam da cadeia. Isto é, a correr na justiça... não estão os processos, porque quando não metade dessa corja já estaria presa. Estão na justiça... estacionados!
Há até garotão há cerca de oito anos condenado a oito anos de cadeia, FIRME (?!?!) que não só não foi preso como se elegeu deputado e agora vai concorrer a governador dum estado... de sítio, lá pela Amazonas! Se calhar vai ser eleito. Como já sabe roubar, vai ser uma alegria.

D)- 80% dos radares de trânsito da cidade do Rio de Janeiro estão desligados. Porque? São propriedade de instituições privadas que prestam esse serviço, mas a Prefeitura não lhes paga e eles desligam! De qualquer modo, e “nunca fiando” os motoristas ainda abrandam!

E)- É verdade, e o PIB? Ah! Segundo os altos crâneos, o PIB em 2017 deve ficar em -0,7, negativo, não, aliás, em 1,6 positivo, não, em 0,2 positivo, e em cada semana o seu inconfundível e inegável e aprofundado estudo da economia, vareia!
Para 2018, os palpites continuam: 2,6. Não, talvez, 3,1, melhor, 2,3, etc. Como em 2015 e 2016 o PIB recuou cerca de 8 a 9 %, bota-lhe anos em cima para voltarmos aos tempos dourados de... 1%!

F)- Desemprego. Em pleno. Só 12% - oficial – de desempregados, fora os que vivem SEMPRE de quebra-galho e nem procuram trabalho, são já mais de 12.000.000 – doze milhões – pendurados numa Segurança Social... falida.
Segundo estudos (bem feitos?) se o governo não fizer uma completa reforma da segurança social, que continua encrencada nas assembleias de bandidos, calcula-se que daqui a uns 10 – dez – anos não haverá mais dinheiro para pagar. A ninguém.

G)- Mas este é o país do futuro. Futuro daqui a quantos anos? Espera-se para breve um meteoro, como o que acabou com os dinossauros, que venha resolver o problema.
O Padim Pade Ciço mandou dizer que não vai fazer mais milagres.

De vez.

26/03/2017



quarta-feira, 22 de março de 2017

Livros
Breves comentários

Comentar um livro que se leu nada tem a ver com a “augusta” crítica literária, somente permitida a “augustos” linguistas ou renomados prosadores.
Mas pode ser que a opinião de leigos facilite a escolha de algum livro ou evite a compra de outros menos apreciados. Vamos nesta.
Há talvez um ano, sempre curioso por história dos mais antigos, desta vez os astecas, comprei um livro, “best-seller mundial”, cerca de 800 páginas, com o título “AZTECA” e subtítulo “La vida, el amor desesperado y el martírio de los tempos de la Conquista – Uma real y desgarradora historia Azteca”. 3ª Edicion
Este pomposo título, 800 páginas de história real, e já na 3ª edição, cheirava a maravilha, comprei.
Não foi necessário ler nem 100 páginas para começar a perceber que o ”bestseller” se devia a uma história de autêntica e nojenta pornografia!
Começa por descrever um pouco da viva no tempo imediatamente pós conquista, com algum interesse, e de repente entra no “best-seller”: o filho de um azteca de classe média, adolescente, aprendeu com o pai a pescar num lago perto de Tenochtitlán, hoje a cidade do México, e dali poderia tirar o seu sustento.
Após as primeiras pescarias, para onde ia sozinho, e levando consigo algo para comer ao meio dia, a sua irmã, mais velha um ano, passou a levar-lhe a comida.
E aqui começa a pornografia. A irmã na segunda ou terceira vez que lhe leva o almoço, despe-se toda em frente do irmão, começa a excitá-lo, passando-lhes as mãos nas “partes pudendas”, e convence-o a ter relações sexuais com ela, tão habituada a ver os seus pais a fazerem isso que, queria porque queria, também fazer o mesmo.
Da primeira vez ambos concluíram que tinha sido muito bom! E previram continuar.
Nos dias que se foram sucedendo, sempre ela no comando, ensaiando métodos e posições diferentes, o relato dos encontros foram baixando de nível, até ao insuportável.
Não era o que eu esperava dum livro sobre história dos astecas! Saltei dez páginas para diante, à espera de encontrar a “real história”. Continuava a “pouca vergonha” com detalhes de cabaré de 8ª categoria.
Mais vinte páginas para diante: o mesmo.
Moral da história: não era exatamente o que me interessava e nem gostaria de dar o livro para alguém o ler. Arranquei e guardei a capa e queimei todas as tais oitocentas e tantas páginas. O pouco que já sabia dos astecas não avançou nada. Só a irritação de saber que um livro de linguagem – castelhana – tão reles tinha sido um best-seller!
Mal empregado dinheiro e tempo perdido. Mesmo só para quem “gosta” de temas porcos.



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Há dias recebi de presente um outro livro. Só fala de Angola. Escrito por alguém que nasceu em Otchinjau, lá bem no sul, em 1933, e durante a vida percorreu todo o território, de Cabinda ao Cunene e de Benguela a Teixeira de Sousa, hoje Luau.
Todas as regiões ali são descritas com muito entusiasmo, muita graça e vigor, foram por mim também visitadas, sempre em trabalho, o que me fez “recuar e viajar no tempo” e voltar a percorrer aquela terra de que tantos sofrem de saudade.
Ironia no que respeita aos governos e “importantes” administrativos, a incompreensão para com os valores humanos e a falta de diálogo, tudo escrito com muita leveza, pode não chegar a ser um best-seller, mas para quem gosta, e sobretudo para quem conheceu bem aquela terra é um livro que muito recomendo.
Algumas passagens, como... “Naquele tempo, no Otchinjau, não havia uma igreja, nem padre, que pudesse ensinar as inocentes crianças e olhar pelos vivos e pecadores, ou pelos mortos, já sem pecado, todos em busca do paraíso perdido...”, ou “...o velho Ford, modelo T4, chamado de pontapé, ou de calça arregaçada... pegando à primeira de manivela... enfim, aquilo era uma máquina, caramba! Só queria que a vissem!... levam-nos bem para dentro do “mato”.
Só tem um probleminha: quando se acaba de ler fica-se meio triste. Quer-se mais!
“CHUVA TOMBA CAPIM – (Eteya-ua-soke)”, escrito por António José Figueiredo, “Tosé”, sem indicação de editora, impresso por AGL -Artes Gráficas de Lisboa (351-213421376), em Maio de 2016.
Este senhor, que não tive a sorte de conhecer, é sogro, de um dos filhos do meu amigo de Luanda, José Azevedo Mendes.
Aquela era uma grande terra, mas quando lembramos de quantos amigos ali tínhamos, parece-nos pequena!
Livro para quem quiser viajar por Angola, sentadão em casa a beber um copo.



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Comentar outro livro que há pouco tempo também me mandaram, escrito por um consagrado jornalista e escritor, com inúmeros prémios no seu curriculum, cheira mesmo a atrevimento.
Mas como imagino que muitos dos que vêem este blog não o devem ter lido, não custa muito afrontar o ridículo, e pedir ao autor que me perdoe a ousadia.
“UM JANTAR DE ESCRITORES – seleção de textos e notas epicuristas”, de José Viale Moutinho, (Colares Editora) é uma delícia de se ler. Uma repescagem de escritos gastronómicos dos mais conhecidos autores portugueses de todos os séculos, como Eça, Garrett, Júlio Dinis, Camilo, Wenceslau de Morais, até Fernando Pessoa, e bem mais, além do prazer da escrita, é uma bela oportunidade para quem sofre de fastio, e uma terrível inveja, pelo menos da minha parte, o não poder reunir com bastante assiduidade os amigos para compartilharmos a alegria dum daqueles petiscos tão bem temperados e regados com... Colares tinto!
Como todo o bom gastrónomo, o autor sabe muito bem que a comida, e sobretudo a bebida, quando em boa companhia se aprecia sensivelmente melhor e, além disso, vai situando o leitor com um rápido curriculum dos consagrados escritores.
Passagens como estas: de Camilo “A minha desgraça está nos apetites glutões, delicadíssimos, que se limitam às subtilezas do bacalhau e do caldo verde. Um perfeito sibarita, não lhe parece?”, ou esta outra do Eça... “Nada de ideias! Deixem-me saborear esta bacalhoada, em perfeita inocência de espírito, como no tempo do senhor D. João V, antes da democracia e da crítica!”, além estarem muito bem temperadas no livro, há que confessar, deixam-nos água na boa.
Reparem com cuidado na capa do livro e tentem dar nomes a todos os personagens ali tão bem representados à volta duma farta ceia!
Livro para quem quer boa literatura e... boas patuscadas. Para ler duas vezes... seguidas!



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Outro livro ainda, acabadinho de chegar, e ser lido, é um tipo diferenciado de dicionário, onde o autor “especula” com as palavras, conseguindo com essas “especulações” dar-nos um vivo retrato da sua personalidade, do seu pensamento.
São cerca de 300 verbetes, escolhidos com cuidado, para com eles poder deixar-nos uma mensagem de bom senso, de ética, hoje em dia cada vez mais raro, enquanto nos leva num passeio pelos quase inúmeros “matizes’ que as palavras nos podem proporcionar.
Um livro diferente, fruto do vasto conhecimento de quem já tem mais de quarenta livros publicados.
Obrigado Inácio Rebelo de Andrade pelo interessante, e recreativo trabalho “COMO JOGAR COM AS PALAVRAS (Especulações vocabulares) de A a Z”.
Eu que, por vezes, gosto de ver “formigas na Outra Banda”, só não concordo que o autor tenha limitado as desavenças de Deus com Caim quando matou Abel, porque a seguir deve ter tido infinita misericórdia para com Sete, que Adão gerou tinha cento e trinta anos, e que seria, como seu pai, o patriarca” de todos os humanos! É também consensual, na Bíblia, que Adão, com Eva (?), continuou a ter filhas e filhos e ainda viveu mais oitocentos anos. Se assim foi, quem será o nosso super vovô?
Enfim, “especulações” da Bíblia!



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Para quem tem livros comprados há bem mais de meio século –lidos na ocasião - saboreia uma outra vez as “novidades” com a releitura de muitos desses antigos, com que estou a ocupar a maioria de todo o tempo ocioso de que disponho, como por exemplo com a “MEMÓRIA sobre LOURENÇO MARQUES” – do Visconde de Paiva Manso – de 1870, ou os OPÚSCULOS de Herculano (alguns são bem chatos!), melhor ainda a “CRONICA GERAL DE ESPANHA DE 1344”.
E volto a encontrar passagens sobre as quais há sempre assunto para me ir entretendo a escrever!
Com a minha provecta idade o que mais poderia fazer?


18/03/2017

sábado, 18 de março de 2017



19 de Março
Desde que nasci, o dia dos Pais. Dia de São José

Um hino maravilhoso, ao Pai.
Do GRANDE, GRANDE e humilde, por ser GRANDE,
José Craveirinha

AO MEU BELO PAI EX-EMIGRANTE

Pai:
As maternas palavras de signos
Vivem e revivem no meu sangue
E pacientes esperam ainda a época da colheita
Enquanto soltas já são as tuas sentimentais
Sementes de emigrante português
Espezinhadas no passo de marcha
Das patrulhas de sovacos suando
As coronhas de pesadelo.

E na minha rude e grata
Sinceridade filial não esqueço
Meu antigo português puro
Que me geraste no ventre de uma tombasana
Eu mais um novo moçambicano
Semiclaro para não ser igual a um branco qualquer
E seminegro para jamais renegar
Um glóbulo que seja dos Zambezes do meu sangue.

E agora
Para além do meu antigo amigo Jimmy Durante a cantar
E a rir-se sem nenhuma alegria na voz roufenha
Subconsciência dos porquês de Buster Keaton sorumbático
Achando que não valia a pena fazer cara alegre
E um Algarve de amendoeiras florindo na outra costa
Ante os meus sócios Bucha e Estica no 'écran' todo branco
E para sempre no zinco um tap-tap de cacimba no chão
A minha Mãe agonizando na esteira em Michafutene
Enquanto tua voz serena profecia paternal: - «Zé:
Quando eu fechar os olhos não terás mais ninguém.»

Oh, Pai:
Juro que em mim ficaram laivos
Do luso-arábico Aljezur da tua infância
Mas amar por amor só amo
E somente posso e devo amar
Esta minha bela e única nação do Mundo
Onde minha Mãe nasceu e me gerou
E contigo comungou a terra, meu Pai.
E onde ibéricas heranças de fados e broas
Se africanizaram para a eternidade nas minhas veias
E teu sangue se moçambicanizou nos torrões
Da sepultura de velho emigrante numa cama de hospital
Colono tão pobre como desembarcaste em África
Meu belo Pai ex-português.

Pai:
O Zé de cabelos crespos e aloirados
Não sei como ou antes por tua culpa
O «Trinta-diabos» de joelhos esfolados nos mergulhos
À Zamora nas balizas dos estádios descampados
Avançado-centro de «bicicleta» à Leónidas no capim
Mortífera pontaria de fisga na guerra aos galagalas
Embasbacado com as proezas dos leões do Circo Pagel
Nódoas de caju na camisa e nos calções de caqui
Campeão de corridas no xitututo Harley Davidson
Os fundilhos dos calções avermelhados nos montes
Do Desportivo nas gazetas à doca dos pescadores
Para salvar a rapariga Maureen O'Sulivan das mandíbulas
Afiadas dos jacarés do filme de Tarzan Weissemuller
Os bolsos cheios de tingolé da praia
As viagens clandestinas nas traseiras gã-galhã-galhã
Do carro eléctrico e as mangas verdes com sal
Sou eu, Pai, o «Cascabulho» para ti
O Santinho para minha Mãe
Todo maluco de medo das visões alucinantes
De Lon Chaney com muitas caras.

Pai:
Ainda me lembro do teu olhar
E mais humano o tenho agora na lucidez da saudade
Ou teus versos de improviso em loas à vida escuto
E também lágrimas na demência dos silêncios
Em tuas pálpebras revejo nitidamente
Eu Buck Jones no vaivém dos teus joelhos
Dez anos de alma nos olhos cheios da tua figura
Na dimensão desmedida do meu amor por ti
Meu belo algarvio bem moçambicano!

E choro-te
Chorando-me mais agora que te conheço
A ti, meu Pai, vinte e sete anos e três meses depois
Dos carros na lenta procissão do nosso funeral
Mas só Tu no caixão de funcionário aposentado
Nos limites da vida
E na íris do meu olhar o teu lívido rosto
Ah, e nas tuas olheiras o halo cinzento do Adeus
E na minha cabeça de mulatinho os últimos
Afagos da tua mão trémula mas decidida sinto
Naquele dia de visitas na enfermaria do hospital central.
E revejo os teus longos desejos no dirlim-dirlim da guitarra
Ou o arco da bondade deslizando no violino da tua aguda tristeza
E nas abafadas noites dos nossos índicos verões
Tua voz greve recitando Guerra Junqueiro ou Antero
E eu ainda Ricardito, Douglas Fairbanks e Tom Mix
Todos cavalgando e aos tiros menos Tarzan analfabeto
E de tanga na casa de madeira-e-zinco
Da estrada do Zichacha onde eu nasci.

Pai:
Afinal tu e minha Mãe não morreram ainda bem
Mas sim os símbolos Texas Jack vencedor dos índios
O Tarzan agente inglês disfarçado em África
E a Shirley Temple de sofismas nas covinhas da face
E eu também é que mudámos.
E alinhavadas palavras como se fossem versos
Bandos de sécuas ávidas sangrando grãos de sol
No tropical silo de raivas eu deixo nesta canção
Para ti, meu Pai, minha homenagem de caniços
Agitados nas manhãs de bronze
Chorando gotas de uma cacimba de solidão nas próprias
Almas esguias hastes espetadas nas margens das húmidas
Ancas sinuosas dos rios.

E nestes versos te escrevo, meu Pai
Por enquanto escondidos teus póstumos projectos
Mais belos no silêncio e mais fortes na espera
Porque nascem e renascem no meu não cicatrizado
Ronga-ibérico mas afro-puro coração.
E fica a tua prematura beleza afro-algarvia
Quase revelada nesta carta elegia para ti
Meu resgatado primeiro ex-português
Número UM Craveirinha moçambicano.

JOSÉ CRAVEIRINHA


GLOSSÁRIO XI-RONGA-PORTUGUÊS

GÃ-GALHÃ-GALHÃ - Som onomatopaico dos rodados do carro-eléctrico nos carris.
SÉCUA - Pato; ganso.
TINGOLÉ - Pequeno fruto vermelho, saboroso e farináceo.
TOMBASANA - Rapariga solteira.
ZAMBEZE - Grande rio moçambicano que desagua no Índico.
XITUTUTO - Motocicleta. Onomatopeia do trabalhar da moto.

ZICHACHA - Zilhalha, régulo dos tempos da "pacificação" militar, considerado pels autoridades coloniais como rebelde.

segunda-feira, 13 de março de 2017



TROPAS NEGRAS

Este texto foi retirado do livro com o título acima, escrito em 1926 pelo major Francisco de Aragão, nascido em Pangim, Índia, de famílias açoreanas, que combateu no Sul de Angola, em Naulila em 1914, onde foi aprisionado, e no norte de Moçambique em 1917/18, sempre enfrentando os bem treinados, comandados e municiados alemães.
Neste livro mostra um profundo conhecimento e sentido de organização das tropas “coloniais”, a que o govêrno nunca deu seguimento, e onde sobressai a proposta de não existirem dois exércitos – metropolitano e colonial – mas um único, com soldados de ambos os lados, todos usufruindo das mesmas condições e obrigações.
O livro que enaltece os soldados africanos, começa por citar alguns que foram louvados e condecorados.
Vamos ao livro:

Ali, 1º cabo da 24.ª companhia expedicionária, louvado
 “pela coragem, sangue frio e valentia que revelou durante o combate de 22-11-1916, na defesa da água da ribeira de Nevala. - Tendo sido nomeado para ir à posição ocupada pela companhia buscar munições, mostrou extraordinária coragem transportando um cunhete através de terreno batido por uma me­tralhadora que procurava atingi-lo, transmi­tindo ao seu comandante de pelotão, em voz baixa, para que as demais praças o não pu­dessem ouvir, a informação, que recebera do Comandante da companhia, de que não havia mais munições”».
Promovido por distinção, medalha de valor militar, Cruz de Guerra.

Almério, 1° cabo indígena da 4.ªda Beira, louvado
«pela muita coragem e sangue frio que de­monstrou no combate de Negomano no dia 35-11-017 e ainda porque, debaixo de fogo intenso das metralhadoras inimigas, ajudou a transportar para a rectaguarda o major Tei­xeira Pinto, quando este caiu ferido, voltando em seguida a ocupar o seu logar na linha de fogo».
Cruz de Guerra

Tear, 1.° cabo indígena do Corpo de Polícia do Niassa, louvado       
«pela extraordinária valentia e arrojo com que, na manha de 8-12-1917 na Serra Mkula, à frente de 6 praças indígenas, se lançou ao ataque do inimigo que ocupava a água com infantaria e metralhadoras, só retirando para se remuniciar e transportar um ferido, voltando novamente ao ataque, sem para isso ter rece­bido qualquer ordem, mantendo-se na frente até ao assalto do inimigo”
Promovido por distinção — Cruz de Guerra.

Tabu, soldado indígena da 39.ª Companhia Expedi­cionária, louvado
“porque no combate de Nhamacurra, despre­zando o perigo, esteve sempre na posição de combate a peito descoberto, fazendo fogo inin­terruptamente sobre os alemães que via através o cisal, indicando aos seus camaradas os pontos que deviam visar, mostrando assim muita coragem, sangue frio e perfeita compreensão dos seus deveres».
Promovido por distinçao – Cruz de Guerra.

E segue o livro...

Quando no último período da guerra, em Moçambique, acabámos por nos convencer da impossibilidade de continuar a luta com tropas europeias, improvisámos, à pressa, numerosas com­panhias indígenas que a urgência de man­ter na frente, cada vez mais extensa, efectivos numerosos, nos obrigou a instruir em condições precárias e deficientes.
Só forçados por uma realidade que não perdoa nos resignáramos a fazê-lo.
Mas, nem a preparação que lhes demos foi cuidada, porque não tínhamos previsto com antecedência a necessidade do seu em­prego, nem os chefes e graduados puseram grande confiança nas suas qualidades: uns supunham-nas incapazes de se defrontarem com os askaris inimigos (os soldados africanos do Tanganika), aguerridos por três anos de luta e de êxitos; receavam aumentar sensivelmente os efectivos dessas tropas — não fosse voltar-se contra nós o instrumento de força que criávamos.                
Todos cometeram uma grave injustiça atribuindo às tropas de cor culpas que nunca lhes pertenceram: durante quatro anos de luta a nossa infantaria indígena sempre se bateu com valorosa decisão, quando bem enquadrada e comandada, e das suas fileiras não saiu um exemplo de deslealdade ou de traição. Companhias de landins e de macuas, de angonis ou de mchopes — todas suportaram a sua dura sorte com aquela estóica resi­gnação que tantos lhes admiraram. Lança­das na frente à pressa e mal preparadas, em luta com um adversário cuja fama cada vez mais exaltávamos e criador dum sistema de guerra que nós, os europeus, nunca fo­mos capazes de aprender e realizar, batidas em dezenas de recontros sem que se modificassem as circunstâncias que a isso nos conduziam e sem que se procurasse melhorar as suas condições morais e materiais —| nunca por elas passou o espírito da revolta e, até final da campanha, serviram, — já quási aniquiladas — com lealdade e dedicação, a bandeira a cuja defesa as chamáramos.
Muitas citações premiaram essa dedicação e a natural bravura e valentia que as caracterizam. Mas o concurso mais importante que deram à causa por que nos batíamos permanece ignorado para a maioria dos portugueses.
Naqueles climas hostis, que prontamente invalidam o europeu, resiste a todas as agru­ras o soldado indígena. Alegremente e sem fadiga, bronzeado — a rir-se ao sol que o não queima —, olhando seguramente a selva emaranhada e confusa, ele lá vai, o ousado e tradicional caminhante que tudo sabe, tudo vê, tudo conhece e tudo improvisa, palmilhando os intermináveis quilómetros das marchas africanas, sem um desânimo e sem um desalento.
Com sagacidade e solícita delicadeza ini­cia o branco confiante e ingénuo, desconhecedor da vida do mato, nos segredos complicados e nos mistérios tenebrosos da floresta.
E ele constrói a carinhosa palhota que o abriga nas noites de friagem, e cozinha, num fogo que faz brotar repentinamente da terra, a mísera refeição que o conforta.
Homem da planície, a sua mão, em vi­seira, limita e descobre os horizontes longínquos e esfumados. E o rasto das feras e do inimigo que procuramos ou nos perse­gue — logo o lê, com a clareza e segurança de velho letrado, na areia igual, apenas poeirenta, como na rocha que se defende, agressiva, do traço e da impressão do vian­dante,
E quando, à noite, nos acampamentos es­condidos por entre a densa ramagem das árvores seculares, se acendem as fogueiras — a sua conversa, algaraviada, evoca, sem desânimo, antes com uma esperança, os dias distantes do sossego e da abundância, a ve­lha terra amiga que o dever obrigou a abandonar...
O prestígio do branco e a lembrança das duras lutas que sustentou, altivamente, contra ele, fazem-no aceitar agora, já sub­metido, a sua protecção e autoridade in­discutíveis. E reconhece na sua firmeza intransigente, logo que justa, a melhor afirmação do seu direito.
De resto, o branco para ele, na ideia e na palavra – chinderi ou m’zungo – é o português
Há 400 anos que nas suas aldeias passa de boca em boca, de vida em vida, a histó­ria dos seus cometimentos aventurosos— algumas vezes dolorosa e sangrentamente assinalados — e se fala da sua grave aparên­cia, que uma ingénita generosidade para com os indígenas adoça e suaviza.
Verdadeiro amparo do europeu, infatigá­vel auxiliar do capitão-mor tradicional e do «senhor comandante», toda a África altiva e agreste se deixa vencer por nós — ao seu conselho sábio e à sua experiência vigilante.
Leal e submisso, venera com o respeito que só tributa aos deuses a memória dos grandes homens que em larga e porfiada luta o venceram e dominaram. E o nome de Mousinho — o Grande Feiticeiro — pro­nunciam-no ainda muito baixo, quase que no gesto de quem olha a terra para se prostrar.
Teimam que não morreu!
Pode lá ter caído, varado pelo destino em plena glória, o homem lendário que der­rubou com um gesto o Gungunhana e, ao cabo duma cavalgada de dias, através dos segredos misteriosos das florestas de Gaza, descobriu e abateu para sempre essa heróica figura de chefe negro que foi o ter­rível Maguiguana.
Pode lá ter desaparecido o homem da justiça implacável e segura, aquele de quem, depois do fuzilamento do Manhume e do Queto, diziam os negros dentro do Kraal de Manjacaze — «branco sabe tudo, até sabe quem há-de mandar matar!»
Quê? Morrer, o homem grande, que, em horas, corre ao Maputo, e à frente de 60 cavaleiros esmaga a revolta de tantos mi­lhares de negros sublevados? Para eles não parece possível que o «feitiço» invencível que possuía o tivesse assim abandonado.
E, ainda há poucos meses, um velho soldado landim que acompanhou Mousinho nas campanhas de Moçambique, já encar­quilhado e encolhido na sua pele da velhice, entrava nervosamente no Quartel da Guarda, em Lourenço Marques, procurava com insistência o oficial de dia e lhe dava parte de que dois condenados indígenas, fugidos da cidade, tentavam albergar-se na sua aldeia, escondendo-se da justiça portu­guesa que os procurava.
Que a lealdade dos nossos bravos soldados de cor, ainda hoje, acompanha fielmente a memória do Grande Chefe branco — quando já há tanto a morte, que procurou entre os seus, o guarda ciosa­mente sob o mármore, ingrato e frio, que lhe cobre o corpo inanimado...

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Muito curioso é que no fim do livro, que comprei há não sei já quantos anos, tem cinco folhas, escritas à mão (parece que em 1935), acrescentadas pelo seu antigo proprietário, que faz uns muito interessantes considerandos sobre “tropas negras” pelo mundo: França, Turquia e, o que vem agora muito a propósito, nos Estados Unidos. É este pedaço que o senhor trampa deveria ler, reler e engolir:
“Durante a Guerra de Secessão, as tropas negras utilizadas pelos federais do Norte dos E.U.A. em número de 300.000 comandados por oficiais brancos, fizeram-se notar pela disciplina, boa apresentação e fidelidade e tiveram um papel decisivo na sorte da guerra.
Desde sempre houve negros no exército do E.U. e ali mostraram as mais sólidas qualidades militares em Cuba e Filipinas na guerra contra os espanhoes. O regimento negro, os famosos Buffalo Soldiers do 25° Regimento de Infantaria, 1890, que tomou de assalto a colina de S. João, em Cuba, é célebre no exército americano e foi chamado a Nova York para desfilar numa pompa triunfal.”

Buffalo Soldiers do 25° Regimento de Infantaria

Mark Matthews, o último Buffalo Soldier, com a patente de 1° sargento, morreu em 2005 com 111 anos e está sepultado no Arlington National Cemetery.


08/02/2017