quinta-feira, 27 de agosto de 2015


Crash à vista

Há pouco tempo recebi um e-mail, nem já sei de quem, mas que no mínimo é uma chamada à consciência para ajudar a melhor ver e entender o que nos rodeia e asfixia.
A loucura.
Dizia o e-mail que somadas todas as dívidas de todos os países do mundo, e parece que todos (quase) devem, o valor dessa dívida seria algo como US$ 300.000.000.000.000. Isso mesmo trezentos trilhões de dólares!
Tamanho absurdo nem os nenéns acreditam quando se lhes contam historinhas de medo para ver se eles metem a cabeça debaixo do travesseiro e ficam quietos para adormecerem!
Ora os economistas, financeiros, banqueiros e semelhantes podem até discordar deste valor, apresentarão outro que não pode diferir muito deste, mas sabem sobretudo que tal dinheiro não existe, nunca existiu e só existirá se o dólar se desvalorizar como aconteceu com a moeda brasileira que só entre 1975 e 1995, enquanto perdeu treze zeros, ou com a moeda do Zimbabué onde hoje um dólar americano vale 92,233,720,368,547,760.00 de “dólares’ locais!!! Isso mesmo, só 92,... quatrilhões!
É evidente que tamanha quantidade de dinheiro – os tais trezentos trilhões de dólares das dívidas – só pode ser mentira, o que não impede que os “credores” apertem os devedores e os estrangulem.
Mas, quem são os credores? E, donde surgiu tamanha quantidade de moeda, falsa, falsíssima?
Como é possível que a Grécia que devia mais de duzentos bilhões de Euros, com a absoluta certeza de jamais poder pagar, mesmo a juro 0%, receba nova ajuda de outros cem bilhões?
Que brincadeira de mau gosto é esta?
Agora a China já começou a rebentar pelas também falsas costuras com que coseu o seu crescimento estratosférico! Dizem os chinos que assim mesmo devem crescer este ano à volta de 7%. E dizem os técnicos – não políticos – da finança internacional que isto é mais uma mentira dos chineses e que serão muito felizes se alcançarem 3%.
Lembro quando Angola estava ainda em guerra civil, nem sequer aparecia nos mercados. Não crescia. Destruía-se. Em 2002 acabou a guerra e começou a crescer a 10% e mais. Bastava para isso aparecer um vendedor ambulante a vender quinquilharias na rua para que a “economia” crescesse. A partir do ponto zero, vender um copo de água já dá crescimento.
Foi um pouco do que se passou na China, quando mais de um bilhão de seres esmagados pelo “comité comunista” (que em chinês “simplificado” se pronuncia assim: 中国共产党中央委员), começou a comer e a correr para as cidades.
Na Europa inventou-se a União Europeia e depois o Euro. Era preciso igualar a Grécia, Portugal, Irlanda e outros ao nível de desenvolvimento da Alemanha, Reino Unido, etc.
Puseram a máquina de imprimir moeda a funcionar e começaram a chover Euros nos países periféricos, chamemos-lhe pobres, que se embebedaram com tanto maná, criaram obras faraónicas e lindas, mas esqueceram o básico: investir em meios de produção, industrial, agrícola, transportes (marítimos, por exemplo) e sobretudo na melhoria da educação e na pesquisa científica!
Em 2008 tremeu e começou a ruir o mundo financeiro. Por todo o lado. Os Estados Unidos saíram da sua filosofia de livre concorrência para protegerem os bancos, seguradoras e algumas grandes industrias, começando a destruir o que tinha sido até ali o grande trunfo do sucesso americano: não intervenção do Estado e deixar o mercado entregue à meritocracia. Agora entra, em força, o compadrio, corrupção e outros males quando se brinca com o dinheiro do povo. Como no Brasil e outros países que não crescem porque o dinheiro é quase todo “distribuído” pela “nomeklatura” e pelos cartéis dos poderosos. (É interessante ler o livro Um capitalismo para o povo do prof. Luigi Zingales da Universidade de Chicago - A Capitalism for the People).
A União Europeia viu o Euro desvalorizar-se cerca de 25%, e então acordou para os ”empréstimos” tão generosamente feitos aos tais pobres, e vá de lhes meter as mãos nas goelas obrigando-os à tal “austeridade” que fez aumentar, de forma assustadora, o desemprego e a pobreza.
Agora as bolsas começaram a tropeçar, o Bill Gates “perde” num dia uns quantos bilhões – que não lhe fazem diferença alguma, porque é tudo papel escriturado – o petróleo está mais barato que refrigerante, e os grandes “sábios” da finança que tudo, ou quase, apostaram no gigante chino, agora não sabem o que fazer.
A Alemanha gozava com a venda de Mercedes e Porsches, a França com a Renault, Givenchy, Dior e outras sofisticações, a Suíça com relógios de ouro e diamantes, e a China exportava tudo. Mas tudo mesmo.
Há dias comprei, num supermercado aqui no Rio, bacalhau do Porto. Quando cheguei a casa é que vi: “Importado da China”! Meu Deus, até o bacalhau, do Porto, é da China. Podia ao menos ser de Macau!
Não é de agora, mas desde há muitos anos que vejo a Europa a afundar-se, e muitas vezes escrevi sobre isso. E não sou um pessimista. Taxas de natalidade negativas, e muito, invasões de milhões de refugiados – e não só – que vêm do Afeganistão, Bangladesh, Magrebe, Síria, África do Leste e Oeste, etc., e que não tardam superam as populações chamemos-lhes autóctones europeias.
Qual a perspectiva? Não parece difícil imaginar o que se vai passar.
Os imigrantes reproduzem-se a taxas de 3 a 4%. Os europeus não querem ter filhos antes de não os poderem mais gerar. Os pares homossexuais “compram” criancinhas vindas de qualquer lugar, ou simplesmente não o fazem. Resultado?
O avanço do aquecimento global está a processar-se com muito mais rapidez do que se esperava e sobretudo desejava. Secas imensas, toda a costa leste do EUA a arder, desaparecendo milhares e milhares de hectares de florestas, a tundra siberiana, apesar da sua imensidão, perde espessura e começa a ter dificuldade para a tradicional criação de renas, lagos desaparecem como o Aral que passou de 65.000 km2 a menos de 3.000 por errado uso das águas que o alimentavam, o Ártico, dizem, vai ser destruído pelas perfurações do petróleo, etc., etc.
A única esperança que me resta, extremamente egoísta, é que eu já não devo assistir à derrocada final, mas a sensação de que falta pouco, muito pouco, é real.
Penso nas gerações abaixo, filhos a quem as seguranças sociais talvez já não tenham como pagar-lhes uma aposentadoria que não seja de miséria, e os netos que, quase de certeza assistirão ao desabar do mundo que viram ao nascer.
Previsão apocalítica? Talvez.
Veio agora o Stephen Hawking lançar uma esperança: os “buracos negros” podem ser passagens para outros universos. Que maravilha. Que esperança.
Mas a vida é tão curta e raros são os que “fazem acontecer”. A esmagadora maioria assiste, assiste, alguns lastimam-se, e nada mais faz do que “ver a banda passar”.
Felizes e heróis os que sabem aproveitar a vida, mesmo não tendo capacidades para alterar o curso do desastre, sorriem, ajudam os outros e curtem cada minuto que lhes foi dado para este “instantâneo” no planeta Terra.


27/08/2015

segunda-feira, 24 de agosto de 2015




Os muçulmanos em França


Os franceses sempre brincaram demasiado com o fogo. E quem brinca com o fogo tarde ou cedo se queima!
Tanta vez em guerra, com a Alemanha desde sempre, – Carlos Magno, a Guerra dos Trinta Anos, a Franco-Prussiana, Napoleão, a I e II Guerras Mundiais, entre outras – em vez de fortalecerem, pela prática, enfraqueceram a França, seu povo e sua vontade de lutar.
Depois “conquistou” imensos territórios em África a quem impôs a segregação e toda aquele sistema de administração, de triste memória de todos os colonizadores, mas... um dia precisou dos seus colonizados para a ajudarem nas guerras em que se meteu.
Nas duas Guerras Mundiais, já no século XX, foram buscar a Algéria, Marrocos, Senegal e outros países africanos pseudo francófonos, centenas de milhares de homens para lutarem ao seu lado. Só na I Guerra terão morrido mais de 100.000 desses humildes soldados.
Mas desde há muito a França tinha já um razoável contingente de trabalhadores vindos de países de cultura muçulmana, sem um lugar onde se pudessem reunir e cumprir com as suas obrigações e devoções.
Finalmente, em reconhecimento dos que, mesmo de outra confissão, deram a vida pela França, foi dada autorização para se construir uma mesquita. Em Paris, lugar bem central, em 15 de julho de 1926 foi inaugurada a Grande Mesquita de Paris, um monumento imponente, muito bonito em estilo hispano-mourisco, lembranças do tempo em que foram donos da Hispânia, onde desenvolveram de forma admirável a sua cultura, e que até hoje, por a terem perdido, lhes está atravessada na garganta.


Nesse dia um escritor, Charles Maurras, escreveu:
“Se há um renascimento do islão, e não acredito que se possa duvidar, um troféu da fé corânica nesta colina de Sainte-Geneviève onde ensinaram todos os maiores estudiosos do cristianismo anti islâmico, representa mais do que uma ofensa ao nosso passado: é uma ameaça ao nosso futuro... A construção oficial da Mesquita e especialmente sua inauguração em pompa republicana, expressa algo parecido com uma penetração no nosso país e sua tomada de posse por nossos protegidos... Nós acabámos de cometer um crime de excesso. Faça o céu que não tenhamos que em pouco tempo pagar por isso e que as nobres raças que tivemos como herança preciosa nunca sejam esmaecidas pelo sentimento de nossa fraqueza.”
Hoje França tem mais de 2.200 mesquitas e querem dobrar este número, com o argumento de que não há lugar suficiente para receber todos os crentes.
A Alemanha quer ganhar a Europa, como o Hitler, mas sem necessidade de canhões. Os muçulmanos ganharão a França com os seus pahlavi estendidos em qualquer lado. Nas mesquitas, nas ruas, nos locais de trabalho, discretos ou acintosamente, são já mais de 6 milhões espalhados pelo país, sem que se possa afirmar a veracidade deste número porque é proibido fazer distinções de caráter religioso nas contagens da população, e a toda a hora chegam mais, aos milhares.
Em 2013 Dominique Venner, antes de se dar a morte, deixou escrito que o perigo, segundo sua opinião, o perigo maior estava na “grande substituição” da população de França e da Europa. Outros afirmam que o crescimento do islão em França tem um caráter desagregador do multiculturalismo, tanto mais que a maioria considera o islão não como uma religião, mas como um movimento político e de ambições territoriais. Já vão dizendo “nós somos a geração da fratura étnica, da falência total do viver em conjunto, da mestiçagem imposta... Somos a geração vítima de Maio/68, dos que se queriam emancipar do peso das tradições, do saber e da autoridade nas escolas, mas que se emanciparam das suas próprias responsabilidades. ”
Considerar o islão como uma religião é o maior erro. “O islão ignora a distinção entre a política e o religioso, o sagrado e o profano.”
Segundo eles, um muçulmano que respeite o laicismo não pode existir, e obrigará os seguidores que apliquem a djihad ou a qital (assassinato).
O polemista Alexandre del Valle  no seu livro La Turquie dans l’Europe, um cheval de Troie islamiste, faz deste país o seu alvo preferido.
Um muçulmano pode afirmar que é laico, para se inserir no espírito republicano, mas não é, nem pode sê-lo, a menos que tenha a coragem de ser considerado um herético e submeter-se à lei da sharia!
Alguns “teólogos” do islão, como Salih al-Fazwzan, chega a firmar que os adeptos de outras religiões, como judeus ou cristãos, são simplesmente muçulmanos que se ignoram, e por isso têm hoje a possibilidade de “regressar” à “verdadeira” religião!
Um exemplo curioso desta maneira de pensar, e ameaçar: uma turista muçulmana foi com o seu marido assistir à Ópera ver a Traviata, mas vestia um niqab (aquele que cobre até aos pés e só deixa os olhos à vista), e a direção do estabelecimento pediu-lhe para deixar a sala a pedido de uma cantora; o acontecimento suscitou inúmeros comentários, sobretudo do fórum que “aconselha” as jovens muçulmanas: “Bem feito! Para que foi à Ópera? Promiscuidade, música, misturar com os kouffar – os incrédulos” ou “Mas o que é que ela fazia num lugar demoníaco? ”
Mas como os muçulmanos de Marrocos não se dão com os da Algéria, nem estes com os sauditas, nem sauditas com jordanianos, nem Hamas com Fatah, nem curdos com nenhum deles, assim como os iemenitas, e pior ainda quando se fala em xiitas ou alauítas, haja alguma esperança que se concentrem na guerra entre eles... com os judeus de permeio!
Só mais uma piada dum cretino extremista brasileiro:
Tudo isto lembra um pouco o que um idiota deputado brasileiro (que os há na maioria) pastor de uma daquelas igrejas que vendem milagres, entrou com um projeto no Congresso propondo a alteração do Parágrafo Único do Artigo 1° da Constituição do Brasil, que diz Todo o poder emana do povo”, para o substituir por “todo o poder emana de Deus”! Transformar o Brasil em mais um Estado Teocrático!
Depois talvez queira convidar um aiatolá para presidente!


07/08/2015

quinta-feira, 6 de agosto de 2015



Cheiro a Podridão!!!


Há muito que não dou notícias simpáticas desta terra das maravilhas, das Terras da Santa Cruz (já venderam até a Cruz a alguém...) mas que no meio a tremendo e insuportável cheiro a podridão endémica ainda se encontra muita coisa para rir em vez de chorar. As lágrimas, como a chuva em muitas regiões, secaram. Há que rir.
A madama dona presidenta, que é raro dar as caras (ainda bem, pois vá ser feia lá para os quintos do inferno) volta e meia solta frases que envergonhariam Platão. Uma das últimas sobre a economia  (atenção, economia por estas bandas sempre é piada!):
Nós não temos uma meta, mas quando atingirmos a meta então dobramos a meta! ”
Brilhante. Camões, Machado de Assis e outros que se supunha saberem muito da língua portuguesa se envergonhariam com esta brilhância.
Entretanto o juro básico, o tal SELIC, está em 14,25%. O campeão absoluto do mundo! Com isto o resultado dos bancos é estratosférico. O juro do cheque especial atinge 350 a 400% ao ano, cresce a inadimplência, a venda de carros está 21,5% abaixo do ano anterior, os pátios das montadoras estão inundados de carros (à chuva e sol para se conservarem...), a indústria encolheu mais de 6%, comércios fecharam diariamente por todo o país, a dívida pública do Brasil está em 2,587 trilhões, cerca de 66% do PIB (que este ano será negativo), e só para ir “pagando” os juros da dívida o orçamento do governo, perdão, total desgoverno, terá que prever mais de 500 bilhões de Reais, o que impede quase totalmente investimentos em infraestruturas. (Ver, para 2014 http://www.tesouro.fazenda.gov.br/necessidade-de-financiamento-e-metas )
Os bancos continuam rindo com lucros impensáveis! Falar da Grécia, por aqui, é outra piada. Creio que se deveria propor uma troca: Syriza (incluindo Tsipras & Cia) x pt (com sapo barbudo, madama & os inumeráveis ladrões)!
Mas ninguém precisa ficar preocupado porque, de acordo Stefan Zweig, este é o país do futuro? Quando?
Quando é que o problema. Enquanto o Ebola pode dizer-se que foi endémico em África, aqui a corrupção está enraizada em todos, todos, mesmo todos os lugares. Não é só caso já internacionalmente conhecido da operação Lava Jato que surripiou, segundo cálculos, mais de 6 bilhões de Reais, mas é a Eletrobrás donde sumiram mais uns tantos milhões, Eletronuclear, ministérios dos transportes, da saúde, da educação, no exército, nas polícias, nos governos estaduais, nas prefeituras, no pagamento aos capangas do MST, do foi generosa e carinhosamente doado (leia-se dado) a Cuba, Bolívia, Venezuela, Angola, e uns tantos outros países, pelo ladrão chefe da ocasião, enfim em todo o lado, que somam mais um monte de bilhões de US$. Nada escapa à ferocidade desta endemia mortal.
Divirtam-se um pouco mais lendo esta crónica dum grande jornalista brasileiro, Carlos Alberto Sardenberg, que apareceu hoje no jornal “O Globo”

Ilegalidade permitida
Pode parecer coisa pequena neste momento de grandes crises, mas serve para de­monstrar um padrão de estí­mulo à ilegalidade. Seguinte: de cada dez motoristas já apanhados dirigin­do bêbados, seis continuam por aí guiando seus carros e com a carteira de habilitação na mão. Tudo dentro da lei. Isso foi medido em São Paulo, mas pode apostar que o padrão se re­pete pelo país.
Reparem agora em ambiente, diga­mos, mais importante, Brasília. O se­nador Ivo Cassol (PP-RO) está conde­nado no Supremo Tribunal Federal desde 2013, por fraude em licitações, crime cometido entre 1998 e 2002, quando ele era prefeito de Rolim de Moura. Se quiserem encontrar Cas­sol, podem procurar no seu gabinete no Senado. Ele está dentro da lei.
Nos dois casos, os recursos garantem a permanência legal da ilegalidade.
Apanhando bêbado, o motorista re­cebe uma multa, da qual pode recor­rer em três instâncias. Se perder em todas, tendo, portanto, a multa confir­mada, e se cometer outras infrações, chegando aos 20 pontos, ainda assim não perde a carteira. Tem direito a mais três recursos. E segue por aí, bar­barizando com carteira em ordem.
Cassol foi o primeiro senador con­denado no STF desde a vigência da Constituição de 88. Foi recentemente condenado outra vez, na Justiça Fede­ral, por improbidade administrativa. Tudo somado, são quatro anos e oito meses de cadeia, mais cerca de R$ 2 milhões entre multas e dinheiro que deve devolver. Deveria. Tem recurso pendente no STR. A reparar: ilícitos, na sentença do tribunal, cometidos há 13 anos, condenado há dois e, tudo bem, continua ativo no Senado.
Entre suas recentes tarefas, aliás, re­lata um pedido de investigação de contratos da Procuradoria-Geral da República, apresentado pelo seu co­lega Fernando Collor.
Diante disso, qual o problema de di­rigir bêbado? Ou ainda, qual o proble­ma se os presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e do Se­nado, Renan Calheiros, são oficial­mente investigados no STF, no âmbito da Lava-Jato, e continuam no cargo?
Nos Estados Unidos, o sujeito apa­nhado dirigindo bêbado vai para a ca­deia, de lá para o juiz, já recebe a pena e perde a carteira. Pode recorrer, mas fica sem o documento. Aqui, vai para a delegacia, assopra o bafômetro, se quiser, e vai para casa. Se bobear, diri­gindo o seu carro.
(Um amigo meu, homem honesto, tomou os 20 pontos. Em vez de re­correr, deixou o carro em casa e foi se matricular em um curso de direção, condição legal para reaver a ha­bilitação. A atendente deu o preço e informou que incluía estaciona­mento. Ele estranhou: mas é um curso para quem perdeu a carteira! E ela: ora doutor...).
Em países eticamente mais desen­volvidos, como no Japão, o político, quando denunciado de maneira mai­os ou menos consistente, mesmo que seja só na imprensa, renuncia e vai se defender. Na Alemanha, um ministro renunciou ao ser acusado de plágio numa tese académica apresentada vários anos antes.
Não vale simplesmente colocar a culpa nos políticos e legisladores. Sim, é fácil mudar o sistema de punições no trânsito. Basta alterar a lei no Con­gresso Nacional. Mas por que não se toma essa iniciativa? Porque mesmo políticos honestos não gostam de se meter nessas pautas ditas impopula­res. Já anistias de multas passam facilmente nas Assembleias Legislativas.
Também são populares as reclamações contra radares. Por isso mesmo, até 2012, a lei determinava que o ra­dar deve ser colocado em lugar visível e com sinalização avisando que o "pardal" está logo adiante. A mensa­gem: caro motorista, a velocidade máxima aqui é de 100 km/hora, mas você, perdão, o senhor ou a senhora só precisam respeitá-la nos trechos imediatamente anteriores aos rada­res, convenientemente sinalizados. Mais: no caso de se distrair e for flagrado, fique tranquilo, tem direito a seis recursos.
O Conselho Nacional de Trânsito eliminou a exigência de aviso prévio dos radares, mas há vários projetos de lei no Congresso restabelecendo a si­nalização anterior (curiosamente, um desses projetos é do ex-deputado Luís Argolo, preso na Lava-Jato). Em câ­maras de vereadores, toda hora apa­rece um projeto proibindo radares móveis, por exemplo. A Assembleia Legislativa de Santa Catarina foi mais longe: chegou a proibir a instalação de radares de qualquer tipo nas rodo­vias estaduais.
São coisas pequenas e coisas gran­des. O padrão de ilegalidade é o mes­mo. Dos "pequenos crimes" chega-se a uma Lava-Jato. O desmonte da grande corrupção deve fazer o cami­nho inverso e levar o pessoal a perce­ber que, convenhamos, tem que res­peitar a regra, do estacionamento proibido até a licitação de uma plata­forma de petróleo.
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

País do “Faz-de-Conta” onde o impossível é fácil e o normal parece impossível. Onde canta o sabiá e onde todo o mundo espera ver o cefalópode na cadeia. O miserável, vidente, até já “pôs condições” para quando for preso, o que ele sabe que tarda mas chega: algemas, não nas costas, mas na frente para poder disfarçar dentro do casaco, e aviso ao público só 24 horas depois para não ser xingado no caminho para a gaiola.


06/08/2015

sábado, 1 de agosto de 2015





AFONSO D'ALBUQUERQUE - 2

Armamento usado na Índia

Um dos pontos interessantes dos feitos de Albu­querque é saber o armamento de que dispunham os seus colaboradores naquelas guerras e, mesmo podendo ser, a retribuição recebida por alguns d'eles.
Do seu armamento sabemos que, em 19 de outubro de 1510, Afonso d'Albuquerque, escrevendo a El-Rei, pedia-lhe a remessa de 100 corpos d'armas para cada fortaleza, 500 lanças de pé para cada uma, 200 piques (espécie de lanças) e 100 padeses (escudos) biscainhos.
Em carta de 1 de abril de 1512 entendia que, para a manutenção da Índia eram precisos três mil homens bem armados e, em 28 de novembro do mesmo ano, dizia ser a gente da ordenança 500 piques, 50 bestei­ros e 50 espingardeiros. Também tinha gente de cavalo e artilharia manejada pelos bombardeiros, camelos de ferro, camelos de metal y uma espera de metal, 16 cães e 20 berços. Noutras cartas fala de pelouros de berços, pelouros de falcões, pelouros de cães e pelouros de pedra de bombarda grossa.
Sendo tais designações nossas desconhecidas te­remos de procurá-las nos livros da especialidade.
Assim, vendo o Díccionario de ciências militares por Don Mariano Rubio y Bellvé, Barcelona, 1898, en­contramos o seguinte:
Camello: peça d’artilharia usada antigamente para bater as fortalezas, e que arremessava balas de 16 libras.
Espera: peça da artilharia primitiva, de menor ca­libre que o camelo.
Cão: peça pequena de bronze.
A tal respeito reproduzimos uma síntese obse­quiosa e conscienciosamente feita a nosso pedido pelo coronel de engenharia e distinto publicista, sr. Esteves Pereira, a quem aqui apresentamos os nossos agra­decimentos:
«O emprego das bocas de fogo na Península, escre­ve, pois, S. Ex.ª começou em 1370, época em que os Castelhanos se serviram de alguns trons no sítio da Ciudad Rodrigo, defendida pelos portugueses. Em 1384 foram também usadas algumas bocas de fogo desta espé­cie pelos defensores de Lisboa contra a armada caste­lhana. Depois desta data começaram as bocas de fogo a ser mais ou menos empregadas em concorrência com as antigas máquinas de guerra até ao século XV, em que a fabricação daquelas armas alcançou uma certa perfeição e importância. Entre nós, foram as guerras de África e sobretudo da Índia, que fizeram desenvolver extraordi­nariamente o emprego da artilharia; começando este maior desenvolvimento no reinado de João II, e prosseguindo no reinado de D. Manuel. Até ao fim do século XVI além do nome genérico de bombardas, com que eram co­nhecidas as bocas de fogo nas crónicas desta época, empregavam-se outros nomes mais especiais para desi­gnar a sua força ou importância, tais como para as de maior calibre: colubrinas, basiliscos, leões, camelos, áspides; e para as de menor calibre: berços, sacres, falconetes, esperas, etc. Estas denominações permane­ceram por muito tempo; ainda em 1645 se encontram em vários documentos oficiais os nomes de águias grandes de 40 libras de bala, camelos grandes de 36 libras de bala, sacres, meios sacres, colubrinas, meias colubrinas, esperas, etc. Aos espanhóis devemos a re­gularidade nas dimensões e nas formas das bocas de fogo, que se fundiram em Portugal durante a ocupação. A restauração de 1640 trouxe a necessidade de criar de novo todo o nosso material de guerra; é desta época que datam a maior parte das bocas de fogo de alma lisa, que ainda hoje possuímos, sendo à criação especial da Tenência de artilharia do reino que se deve o desenvolvimento da fabricação da artilharia. No decurso dos anos de 1647 a 1658 fabricaram-se muitas peças dos calibres 5, 10, 11, 12, 13, 16, 18, 24, 25; e nos anos subsequentes até 1681 foram ainda fabri­cadas as dos calibres 3, 4, 8, 9, 15, que faltavam na série anterior. Todas estas bocas de fogo, feitas pelos modelos espanhóis, se distinguiam pelo reforçado da joia, pelas numerosas molduras e ornatos, e pela forma de golfinho das asas, tendo uma igual na culatra em vez de botão. Daquela última data em diante até ao meado do século XVIII pouca artilharia se fundiu.


Colubrina portuguesa. Vejam-se as asas em forma de golfinho

Antigamente o calibre das peças era designada pelo peso dos projéteis que arremessavam, expresso em libras; este modo de indicar os calibres não tinha incon­veniente, porque os projéteis eram de forma esférica. Aos projéteis dava-se o nome de pelouros e depois de balas; eram feitos de pedra rija ou de ferro fundido; o seu diâmetro era proximamente igual ao da alma da boca de fogo. A libra tinha 0,469 kg. Peças destes calibres foram fundidas de 1647 a 1658.»

Em 1 de dezembro de 1513, Albuquerque escrevia sobre as armas que deviam ser enviadas: couraças, pelouros de espera e de serpe, um castelo de madeira [FA1] com o qual facilmente se tomasse Áden; piques para a gente da ordenança, lanças e chumbo.
Em 23 de outubro de 1514 participava Albuquerque ter mandado fazer três galés; quanto aos piques man­dados para a gente da ordenança, são de faia e reben­tam, dizia ele, acrescentando que as melhores armas para a Índia eram couraças e pedia doze carretas de artilharia do campo.


Alguns formatos de “piques” - lanças

Apesar de todo este, para o tempo, progresso de armamento não se pense que os portugueses se batiam com inimigos de armamento rudimentar. Albuquerque, em carta de 30 de novembro de 1513, conta como os mouros com quem pelejavam, tinham já artilharia, ar­mas e fortalezas, como as dos portugueses.
Vejamos a remuneração recebida pelos comba­tentes:
De alguns soldos da Índia temos conhecimento, em­bora poucos. Assim, em 1510, um calafate ganhava 4 cruzados e meio, por mês, um cordoeiro, o mesmo ou 1.200 reais por mês; dos homens d'armas, havia-os com três cruzados por mês e outros com dois cruzados, notando-se que o cruzado d'ouro valia então, na Índia, 390 reais. Em 29 de março de 1512 mandava Albu­querque recrutar besteiros com suas bestas mui apon­tadas e aljavas cheias d’almazem* por dois cruzados mensalmente e um fardo d'arroz. O capitão d'esta com­panhia devia ter mil reais por mês e um fardo d'arroz.
Entre o pessoal todo, distinguiam-se os bombar­deiros, grande parte dos quais eram estrangeiros. Ha­via-os alemães, holandeses e flamengos. Também naquelas guerras se distinguiam muitos degradados, aos quais, por tal motivo, era levantado o degredo.
Este assumpto do armamento não merecia no entanto a D. Manoel o cuidado devido. D'isso se queixava amargamente Afonso d'Albuquerque na sua carta de 1 de abril de 1512. Nela chegava a dizer que El-Rei des­amparava a Índia, não lhe mandando nem armas, nem gente nem aparelhos de guerra. No entender do grande governador eram precisas armas e gente, mas junto do rei havia quem lhe dissesse ser mais preciso o trato. Na sua pitoresca frase, Albuquerque aconselhava D. Manoel a que não ponhaes o côvado da amizade dos reis nos senhores de cá!

-In Affonso d’Albuquerque, António Baião, Lisboa 1913.

* Almazem, que significava “arsenal”, deu origem a armazém, por influência de arma.

05-06-2015