quarta-feira, 6 de março de 2024

 

  

Paulo Freire

Outra Grande Fraude

 

Há anos que ouço falar num sujeito que se chamou Paul Freire, cultuado, aclamado, endeusado pela extrema esquerda, pelo grande milagre que fez ensinando milhares de nordestinos, em poucos dias, a ler e escrever.

Quando tive a oportunidade de colaborar com a minha paróquia e dar aulas de alfabetização de adultos, onde por acaso eu era o único homem entre seis ou oito mulheres-senhoras, um dia fez-se uma reunião do pessoal “docente” e a “chefa” lembrou às colegas que deviam usar o método Paulo Freire, porque ela tinha feito o “curso” e sabia que dava ótimos resultados.

Cutucou onde não devia! Eu pedi a palavra, dei uma “lição” sobre a fraude-freire, explicando que ele não tinha ensinado nada, mas mentalizado centenas de trabalhadores para apoiarem  a esquerda.

Diz ele, aliás disse ele, que tinha reunido, lá no Nordeste, terra de seca e fome, 300 cortadores de cana, rurais e que ao fim de 45 dias todos sabiam ler e escrever. Grande mentira.

Logo aplaudido pela esquerda, considerado um génio, não tardou a receber convites de universidades pelo mundo fora para ensinar o seu método!

Averiguações sérias vieram depois a contar a verdade sobre esse milagre

A verdade começa por serem 122 homens e não 300, e ao fim dos tais 45 dias somente 45 sabiam, unicamente, escrever o seu nome e ler... NADA.

O que ele fez foi mentalizar aquela gente usando um método curioso: tentou ensinar-lhes a escrever palavras que eles abominavam, como latifúndio, proprietário rural, água, fome, patrão, etc., assunto que com que eles se deparavam diariamente, muitas vezes em luta íntima. E essas palavras eram aplaudidas pelos pobres e pacientes trabalhadores.

O génio freire tentou mais tarde fazer outro ensaio que não deu qualquer resultado, e por isso não foi divulgado.

Entretanto formou-se em direito, o Partido dos Trabalhadores espalhou o seu milagre mundo fora e começou a ser doutorado Honoris Causa por todo o lado. Deve ter mais 50 Honoris Causas, como o seu big chefe, o maior Honoris Causa d mundo dos corruptos e mentirosos.

Freire é mais conhecido por seu ataque ao que chamou de conceito "bancário" da educação, em que o aluno é visto como uma conta vazia a ser preenchida pelo professor. Ele observa que "transformar os alunos em objetos receptores é uma tentativa de controlar o pensamento e a ação, leva homens e mulheres a ajustarem-se ao mundo e inibe o seu poder criativo".

Curioso, né? Foi exatamente o que ele fez metendo na cabeça dos alunos a luta contra o sistema “capitalista”, base de ataque do Partido dos Trabalhadores de que fez parte. Coitados ainda hoje não sabem que é a iniciativa privada que rende impostos para o governo gastar!

Em 2012, já defunto, foi nomeado, de forma oficial, Patrono da Educação no Brasil, pela Lei nº 12.612, de abril de 2021, lei do PT no governo.

Tudo quanto Paulo Freire foi errado? Não. O grande mal foi ele basear os seus conceitos na política marxista. Não para ensinar mas para conquistar revolucionários.

A forma como os alunos são ensinados e o que lhes é ensinado serve a uma agenda política que se aproveitou dessa mentira, e propalou e continua a propalar aos setes ventos, mares e terras, que o Brasil tinha um génio professoral!

Ninguém pensou, nem podia, porque pensar não é dado aos políticos corruptos e se alguma vez é dado a um esquerdista ele rapidamente se afasta, que a História da pedagogia tem GRANDES nomes. Podemos pensar em Platão, Sócrates, Comenius, Pestalozzi, Montessori e, sem ir muito longe, aqui mesmo no Brasil, George Agostinho da Silva.

O que o comuna freire aprendeu destes Mestres? Absolutamente nada. Fez testes inúteis, mentiu sobre resultados e quase é santificado e colocado num altar.

Tem já estátuas em vários lugares e é venerado pelo PT.

Num país nas mãos da ditadura esquerdopata, uma APOCRACIA, onde condenados por tribunais de 1ª e 2ª instância governam, aliás desgovernam, qualquer um da pandilha pode inventar um novo método, que, mesmo que não funcione é aplaudido.

E ainda ganha lugar de destaque nos supremos tribunais para sancionar a ladroagem.

 

05/03/24

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Este blog, eu, esteve em descanso muito tempo. Outros valores mis altos se levantaram e deixaram o blog repousar em cima das 952 postagens que foram entretanto colocadas.
Falam de tudo e quase nada, mas têm história.
Hoje retomo, determinado a prosseguir com textos vários enquanto o Caronte não levar a moeda para me embarcar.

Boa leitura e comentem, mesmo que estejam em desacordo.

25 de Abril

Portugal = Brasil

Democracia ou Cleptocracia

Nos vários dicionários que há anos me ajudam a ser menos burro (reconfirmo que tenho a maior simpatia e admiração pelos burros, os Equus africanus asinus, e considero uma ofensa covarde chamar burro a alguém dotado de estupidez e ganância, de que os simpáticos Equus africanus não participam), já tive o trabalho de riscar a palavra democracia, porque ou ela foi mal traduzida da origem ou se deturpou de tal forma que hoje não sei de lugar algum onde in vero a fonte de soberania seja o conjunto da população.

Continua a existir o “sabe com quem está falando”, ou o “juiz é quem resolve” mesmo em situações que ele não sabe ou não quer resolver, e ninguém do chamado PRIMEIRO mundo (uma piada covarde esta designação) conseguiu aprender com os inuits como se resolvem problemas “judiciais”.

Vamos dar uma pequena volta no Vinteecincobarraquatro que vai ser estrondosamente festejado daqui a um mês em Portugal pelo seu 50° aniversário.

Vivia-se um regime podre, gasto, empedernido, sem visão, fechado e covarde em muitos aspetos, e foi preciso uma cadeira podre também, para derrubar, primeiro, o velho ditador para a seguir assistirmos à pusilanimidade daquele que assumiu o governo, pusilanimidade que ele havia demonstrado toda a sua vida na política. Grande professor de direito e covarde político.

Sem jamais se ter aberto diálogo com os africanos e consecutivos erros governamentais, meia dúzia de capitães, pensaram que derrubando o governo tudo entraria numa planície florida.

Imbecis não escolheram as flores, nem souberam o que fazer depois de enfiarem na cadeia todos aqueles a quem lhes apeteceu.

Apareceram as flores, sim, os cravos vermelhos há muito encomendados em França pelos comunistas que sabiam que nesse dia se iam apropriar do país deixando os imberbes capitães a assistirem ao desmonte de uma história, de uma economia, apregoando democracia, palavra gasta e falsa, que se consumou em assassinatos e prisões arbitrárias.

Entregaram-se as colónias ao bloco soviético, que devastaram tudo quanto os portugueses por lá haviam feito com trabalho e dedicação, deixando as populações nativas em terríveis guerras fratricidas que aniquilaram bem mais do que 1.000.000 de vítimas fatais, além daquelas que não conseguiram sobreviver por falta de estruturas de produção.

Por fome. Coisa que jamais tinha acontecido na chamada África Portuguesa.

Donos do poder, os tais “capitães” promoveram-se todos a generais e almirantes, quiseram implantar em Portugal o sistema bolchevista, dizimaram a economia que estava forte, com uma das moedas mais fortes de toda a Europa, e “arrotavam” grosseiramente a palavra democracia.

Hoje insistem nessa palavra amaldiçoada e mais ainda em liberdade, quando é notório o domínio do governo sobre todos os órgãos de informação que se permitem até insultar presidentes de outros países – do Brasil, por exemplo – que não alinhem com a sua vermelhusca e torpe mentalidade.

Hoje Portugal e o seu país irmão Brasil vivem em CLEPTOCRACIA plena. Desgarrada.

E foi este sistema de governo que ajudaram a implantar em África. Governantes que ficaram, e ficam milionários, bilionários e o povo... O povo? Que se dane o povo.

Hoje muitos choram a saída dos portugueses. Não adianta chorar. A luta agora é interna e vai levar ainda muito, muito tempo a normalizar.

No Brasil, quando aqui cheguei há quase meio século, afirmei, quando questionado, como é que eu previa o futuro desta terra.

Tem que fazer como os chineses: - Se os teus planos forem a um ano planta arroz ou trigo, a dez, planta árvores, mas a cem -100 - educa o povo.

Exclamação de quem me fez a pergunta: Cem anos ???

Minha resposta: - Sim, cem anos, a contar a partir do momento em que comecem a ensinar o povo, o que ainda não começou.

E ainda hoje não começou com seriedade. Deturpa-se a história, criaram-se heróis de mentirinha e o povo agarra-se ao samba, à beleza das praias, às mulheres desnudas, e... o principal fica nas mãos de poderosíssimos grupos de traficantes de tudo quanto existe, grupos que recebem triunfalmente o maior cleptomano de toda a história do país e o aplaudem.

Tudo farinha do mesmo saco podre.

Democracia morreu. Vota-se nesses países? Como no Brasil, Coreia do Norte ou Rússia, e chama-se a isso democracia?

Rouba-se descaradamente dos cofres públicos, nomeiam-se condenados para altos cargos no governo e até nos chamados superiores tribunais, e isso é democracia?

Controla-se toda a mídia, toda, que se “esquece” de criticar o governo e ataca constantemente os oponentes, e isso é democracia?

Populi potencia, com populares, como em Roma?  O que existe hoje é populatio ou populatrix comandados por um populabundus.

Este recado, em língua muito usada no direito, tem destino.

Pobre país rico, o mais rico, naturalmente, de todo o planeta, que exporta milhões de toneladas de alimentos e não coordena os núcleos de gente com fome.

 

29/02/2024




quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

 

Rio de Janeiro, 24/01/2024

Estimados TODOS, filhos, netos, parentes, amigos, amantes de história e outros

Tenho o livro sobre FRANCISCO  GOMES  DE  AMORIM, o meu (nosso) bisavô (ou tri ou mais) já enviado para a editora.

Terá cerca de 125 páginas e muita história contada pelo próprio FGA, quase tudo desconhecido, a quase totalidade sobre a sua vivência na Amazónia, além de algumas opiniões de colegas literatos da época. MUITO INTERESSANTE, e ficará também muito bonito.

Mas como a minha “fortuna” não permite gastos extras (além de batatas, frango, tomate, uns vinhitos  e afins, entre os quais os impostos sobre a casa, carro, e uma carrada de medicamentos [UM HORROR]), tenho que fazer a pré venda – CROW FUNDING. Se não for assim... o livro fica no éter!  Quem quiser o livro paga agora e logo que esteja pronto (cerca 40 a 45 dias) lhe será enviado pelo correio. Quanto mais depressa começarem a mandar dinheiro, mais rápida será a entrega.

O preço é de R$ 60,00, acrescido do custo do Correio, para o que temos aqui um póbrema cãopulicado: como os Correios estão falidos, o preço para enviar um – 1 – só livro para o estrangeiro é absurdo, igual ao preço do livro, R$ 57,00= €11,00!!!  

Se forem cinco os seis – 6 – juntos numa caixa o custo baixa para € 6,5/unidade

Melhor ainda se forem 20. O preço ainda é de € 5,00  

Assim temos:

Euros: 11,50 + correio – Total entre € 15,00 e...

Dólar: 12,00 + correio + 1/5 = US$ 16,00 e ...

Dólar Canadá: 16,50 + correio + 1/5 = CD $ 19,80

Libra: 10,00 + correio + 1/5 = £ 14,00 ou 15

No Brasil: R$ 60,00 + eventual correio = R$ 8,00

O que sugiro e já está combinado com uns sobrinhos: vão querer 20 livros, tudo enviado para um dos membros que depois os distribuirá.

Assim, por grupo de família ou de amigos pode-se atingir um número razoável que dê para cobrir os custos desta aventura em que me meti !!!

Para o envio do dinheiro, espero que me indiquem quantos livros vão querer, para onde os enviar, nome cada um que receberá o livro para eu poder assinar, e eu indicarei o modo de efetuarem o pagamento.

A capa será algo assim, ainda em estudo (ambos os retratos pelo bisneto homónimo!)

   ou   

 Abraço a todos de quem fico dependendo para a realização deste projeto.

Obrigado

O FGA - bisneto

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

 

As Lágrimas Não Secam

 

Quanto mais longa a vida maiores e mais numerosos os momentos de luto.

Daí dizer-se que quanto mais idoso se é, e lhe chamam “bonita idade” é porque as pessoas não sabem o que é sofrer vendo desaparecer os amigos, irmãos, familiares e outros que durante tanto tempo foram o esteio da nossa vida, do crescimento em comunidade, melhor dizendo irmandade, do apoio que em diversas, e por vezes, em muito difíceis situações nos suportámos uns aos outros.

É impossível classificar os amigos, dando a prioridade a algum deles como número “um”. Mas quando ele, por fim, descansa, entre tão poucos, tão raros os que ainda por aqui andam, que dentro de nós soa algo que é verdade: hoje perdi o meu maior amigo.

Enquanto escrevo isto as lágrimas teimam em correr pela cara sem que as possa reter.

Vêm à cabeça inúmeros momentos em que estivemos juntos, em que demos as mãos, nos apoiámos, em que rimos, em que trabalhámos juntos, em que vimos irem nascendo os filhos de cada um, todos eles hoje sobrinhos muito queridos e, mesmo quando longe, insistíamos primeiro em trocar algumas cartas, depois faxes e finalmente pelo telefone, quando conversávamos, vendo cada um a cara do outro aproveitámos para dizer umas bobagens que nos fizessem rir, para tentar ignorar a distância que nos impedia de darmos aquele abraço de irmãos que muito se amavam.

Nenhum de nós já não sabia desde quando vinha tão profunda amizade. Desde sempre, sem cerimónias, com o á vontade entre irmãos.

Convidou-me um dia para trabalhar no banco que ele dirigia. Eu?!?! A antítese do bancário? Fazer o quê?

A resposta deixou-me sem fala: vais fazer o que vires que falta ao banco! Pensei que estava brincar comigo.

Trabalhámos juntos. Ele era o patrão, mas a confiança entre nós ultrapassava sempre os mais complexos problemas sem que fosse necessário pedir contas, e sei que o ajudei a resolver alguns problemas dentro daquela organização.

A amizade nem aumentou nem diminuiu. Desde há muito tempo que tinha atingido o ponto máximo.

Chegou a diáspora dos que viviam em África. Uns tempos ainda no Brasil e depois foi para Portugal. Aqui mais uma vez me encarregou de trabalhos novos e diferentes, sabe Deus se contra a opinião de alguns outros dirigentes.

Felizmente que todos os resultados foram positivos, até que eu regressei ao Brasil, obrigado a, uma vez mais deixar os amigos tão longe.

Tinha acabado agora de lhe mandar, pelo correio um retrato que fiz dele. Mandei pelo correio para que ele se risse da maluquice. Não sei se o chegou a receber. Era mais uma prova da nossa amizade e uma brincadeira.

Estava mal. Eu não sabia era quanto mal. E a notícia caiu-me em cima com dobrado peso.

Penso muito na Maria João, também cheia de problemas de saúde. Uma irmã que sempre esteve também ao nosso lado e que tanto estimamos.

As nossas vidas estiveram sempre juntas, mesmo quando a geografia nos afastou.

Meu querido Manel, não vou deixar de conversar contigo, de te dizer bobagens, de te desejar o melhor, mesmo sabendo que é onde agora estás.

Sento-me aqui no escritório, sozinho, e conversaremos. Eu sei que vou te ouvir.

Não que haja hipótese de te esquecer, mas para não deixar arrefecer tão forte amizade.

Até breve. Até sempre Manuel Carlos Teixeira de Abreu.


 

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

 

(continuação)

Viagens pelo interior do Brasil

 

Da obra de Francisco Gomes de Amorim que viveu no Amazonas entre 1837 e 1848

Trabalho publicado em Artes e Letras, Lisboa, 1872. 

 

III

O ubá, canoa dum só cedro, e feito por ele com a forma duma flecha, para correr mais, toma-se seu companheiro inseparável até à morte; quando sai dos lagos para os rios, leva-o pelo canal mais curto; se é preciso dar uma grande volta, por ficar distante a boca do lago, prefere arrastá-lo através da floresta, às vezes até distancias grandíssimas: de sorte que quando o ubá não leva o índio, é o índio quem leva o ubá; e assim atravessam a vida, unidos sempre!

Nas horas de repouso, a canoa dorme também, amarrada, com cordas de embira (xylopia frutescens) no portozinho, onde o índio ergue o seu tijupar; ao menor rumor desconhecido, adeus casa e família! Com o remo em uma das mãos e.as armas na outra, o homem arremessa-se ao ubá e faz-se ao largo, com a rapidez da seta despedida pela corda do arco! A canoa toma-o invencível; os rios, lagos e igarapés, são aos milhares, e ele conhece-os todos; se porém navega em sítios desconhecidos, vai sempre pelo meio do rio, e se o rio é estreito atravessa-o sem cessar, de uma para outra margem, aproximando-se da terra o menos possível e remando sem ruído; uma boa remadela coloca-o num instante longe da praia, e outra o aproxima; sentado à popa do ubá, maneja-o com o remo, com que rema e governa ao mesmo tempo, melhor e mais facilmente .do que o ilustre marquês de Marialva manejava um cavalo. De vez em quando, se a prudência lhe não recomenda que seja desconfiado, lança-se à água e nada alegremente à roda da canoa, coma faria em volta de qualquer jovem índia um amante apaixonado; umas vezes pendura-se-lhe à popa, outras à proa; ora se debruça  numa, ora  noutra  banda;  e não raro se compraz  em nadar com uma das mãos, arrastando-a com outra sobre o elemento liquido!... Ao vê-los tão estreitamente unidos - homem e embarcação - dir-se-ia que o madeiro inanimado sente, compreende, e é sensível a essas demonstrações de ternura! Outra mão que não seja a de seu dono, move custosamente o ubá, governa-o mal, e não lhe imprime a velocidade usual; como o cavalo, que reconhece nas rédeas e nas pernas o seu cavaleiro, o cedro cavado pela mão do selvagem parece distinguir o seu remador, e como que se faz mais leve e mais dócil para ele do que para os estranhos! Privado da canoa, o índio, apesar de nadador excelente, foge da água, entristece, esconde-se nos matos e toma-se mais feroz. Os hábitos da vida fluvial, no sertão do Brasil, ao contrário do que sucede entre os povos cultos, são mais brandos e suaves do que os da terra. A guerra com as onças, tigres, serpentes, ou tribos inimigas, toma os gentios mais selvagens e sanguinários; os rios também tem os seus jacarés, mas a canoa separa-os do índio, e um remador valente nem teme afrontá-los, nem ser alcançado por eles quando quer fugir.

Havia mais duma hora que nos tínhamos sentado  tristes  e desalentados ao pé das tartarugas, quando avistámos uma canoinha passando ao largo; tripulada por uma só pessoa. Antes de gritarmos para que nos acudisse, ocorreu a um de nós que podia muito bem ser a nossa canoa e o seu roubador; deitámo-nos imediatamente na praia, espreitando-lhe a direção e procurando adivinhar, pelos movimentos do remador, as suas intenções.

A lua estava meio encoberta e próxima a desaparecer de todo.

O desconhecido remava lentamente, e, conquanto não virasse a proa para a terra, indicava visível intenção de se aproximar dela; ia rodeando a praia, que formava um semicírculo, e parecia perscrutá-la com o olhar - que nós adivinhávamos, mais do que víamos, pelos movimentos da sua cabeça. Chegado a certa altura, virou para trás, sempre com a mesma indolência de movimentos, e sem fazer o menor ruído. Era evidente que procurava alguém ou alguma coisa. Não havia probabilidade de que andasse ali para se divertir, sozinho, às onze horas ou meia-noite. Não podia ser pescador nem caçador de tartarugas, porque para isso deveria ter vindo ao anoitecer, que é quando elas costumam sair da água; e no Xingu pesca-se deitado na rede, dentro de casa, e mata-se peixe sem necessidade de perder a noite em peregrinações aventurosas pelo rio.

Mas que procurava então? Quem era? Donde vinha? Para onde ia?

Tais eram as interrogações mudas, que cada um de nós fazia aos seus botões, apertando o punho do sabre. E viria só, ou teria perto alguns companheiros? Havia pouco tempo que a revolta dos cabanos (1) se tinha apaziguado no sertão, e alguns restos dispersos  do acampamento de Icuipiranga (2) não tinham ido entregar-se, preferindo ficar com as armas a gozar da amnistia que lhes salvava as vidas.

Não poucas canoas de comércio tinham sido assaltadas e metidas a pique, depois de roubados e mortos os tripulantes; muitas casas haviam sido invadidas em diferentes lugares do Amazonas, e corriam vagos rumores de que nos bosques do Xingu se acoitava um bando de assassinos. Todas estas lembranças nos salteavam o espírito ao tempo em que o misterioso navegador girava em volta da praia, chegando-se sempre, e cada vez mais cautelosamente, para a terra. •

- É o ladrão da nossa canoa - disse em voz baixa o índio mundurucu.

-Talvez.

- Com certeza. Vem espreitar se estaria por aqui alguém, para depois passar com ela ... porque, provavelmente, quer passar para este lado e tem-na amarrada a alguma árvore, lá para trás da ilha...

- Pode muito bem ser.

- É algum pescador de tartarugas, que andaria pelas praias do lado oposto ao tempo que a maré a levou pelo rio abaixo; viu-a sem gente, amarrou-a, e veio a descoberta; se visse aqui um homem só... Quem sabe? Talvez tentasse matá-lo!... Acreditem que já nos sentiu e que se anda assim devagar e para ver se nos descobre...

- Mas com que fim?

- Eu sei... para nos vender, talvez, a nossa canoa ... ou para saber quem nós somos, e a levar depois para sítio onde não a tornemos a ver...

Vê-se que o tapuio discorria admiravelmente, e chegava à verdade pelos caminhos por onde andam os maiores sábios.

Eu continuei o dialogo com ele.

:- Seria bom chamarmos o homem?

- E se ele  fugir?

- Sendo o ladrão, de certo que foge! Porém, se não for? Perderemos a ocasião de atravessar o rio para a feitoria, e Deus sabe quando passará por aqui outra canoa que nos leve.

- Isso é verdade ... O homem parece que já nos viu... Lá volta para o largo e agora rema com força! Ponham-se todos em pé, e deixem-me falar eu só.

Erguemo-nos dum salto, e o índio gritou:

-Ó da canoa!

O remador desconhecido deu ainda duas remadelas para se afastar mais de terra; depois atravessou a canoinha e respondeu pachorrentamente:

- Que é? Quem me chama?

- Atraca!

O homem virou a proa para o rio, dispondo-se, provavelmente, para pôr-se mais ao largo. Neste momento a lua, já prestes a esconder-se, rompeu o véu de nuvens que a envolvia e alumiou esplendidamente o teatro desta cena.

- Se das mais uma remadela para o largo - gritou o índio mundurucu fazemos-te fogo, e de cinco balas alguma te há-de acertar!

Dizendo isto agitou no ar o sabre, pondo-o em pontaria como se fora espingarda; nós movemos também os nossos, e o luar, reflectindo-se nas lâminas, fez crer talvez ao desconhecido, que eram com efeito os canos das armas de fogo que ele via luzir, porque se aproximou sem responder.

Conservamo-nos todos em posições de atiradores até a canoa estar quase em seco; providencialmente a lua sumiu-se no momento em que o remador perguntou:

- Então que me querem?

Em vez de responder, precipitamo-nos sabre ele, e apoderamo-nos da canoa.

- Não me matem!

- Reconhecemos com grande mágoa que a embarcação era uma casquinha de noz, que apenas levaria dois homens a vontade!

Interrogamos o tripulante; sobre se tinha visto a nossa; pedimos-lhe, que se a tinha achado, nos levasse onde ela estava porque o recompensaríamos largamente; mas ele afirmou que tal canoa não vira, e que andava por ali a caça das tartarugas - confirmando o dito com uma, que levava a bordo, e não tivemos dificuldade em o acreditar.

- Então leve-nos à nossa feitoria, na boca do rio Arapari!

- Tão longe! A canoa não pode com mais de duas pessoas...

- Pois há-de levar-nos todos, que somos seis, com você, afora as tartarugas.

- Impossível!

- Experimentemos.

- Vamos todos para o fundo!

- Paciência.

- Valha-me Deus!

O homem era um mestiço, que dizia morar da outra banda do rio; tremia de medo, vendo-nos embarcar as tartarugas, e, se dois dos nossos não estivessem a bordo, teria fugido, desde que viu que não tínhamos armas de fogo. A previdência aconselhava-nos a que f6ssemos metade par cada vez; mas, como a distância era grande, ninguém  quis ficar na ilha deserta, a qual todos tinham tomado horror, sem nenhuma razão porque era formosíssima!

Metemo-nos, pois, dentro da montariazinha (3), e afastámo-nos da praia. Imediatamente começou a entrar água por todas as costuras mal calafetadas, e por cima das bordas, a cada movimento do remo!

As tartarugas esperneavam no fundo da canoa fazendo maior balanço e dificultando o esgoto da água, que metíamos sem cessar, a noite tornava-se escuríssima!

O homem desconhecido, que era quem remava, dava grandes gemidos e encomendava-se a Deus, chamava pelos nomes da mulher e dos filhos; e pedia-nos, por tudo quanto havia de mais sagrado, que, ao menos, deitássemos fora as tartarugas, que pesavam por dois ou três homens.

O pedido era sensato; mas custava-nos, depois de tantos trabalhos, da canoa perdida - que teríamos de pagar ao chefe da exploração da borracha - e dos sustos passados na praia dos Cajueiros, não levarmos sequer par prémio as objectos dessas fadigas! Ordenámos ao mestiço, que em vez de seguir pelo rio acima, na direção da nossa cabana, atravessasse em linha reta para a ilha (4) onde ela era situada, porque depois, embora naufragássemos, não corríamos o risco de morrer afogados; e se de todo em todo a canoinha não pudesse levar-nos pelo rio acima, iriamos por terra, logo que nascesse o sol.

0 terror era geral quando chegamos a meio rio; não se dava vencimento à água, e íamos prestes a alagar-nos.  Por maior diligência que fizéssemos para evitar o balanço, tínhamos que revezar­-nos a miúde no esgoto, aumentando-o com os nossos movimentos; íamos todos estafados, e, se não fosse o temor de soçobrarmos mais depressa, teríamos então deitado todas as tartarugas ao rio! Mas essa manobra tornava-se agora perigosíssima, porque os animais eram muito grandes e pesados!

Tive muitas ocasiões de susto, muitos perigos e naufrágios; mas nunca me vi em situação comparável à daquela travessia, onde tive de encarar friamente a morte, durante duas mortais horas, por uma escuridão horrível! E tudo isto sem necessidade, porque, se esperássemos o dia, teríamos feito uma jangada em que facilmente atravessaríamos!

Enfim, chegamos ao pé de terra, e respirámos. Nessa ocasião quis um dos tapuios experimentar se haveria por ali jacarés, para saber se eles nos devorariam, em caso de naufrágio, e imitou-lhes os gritos. Respondeu-lhe um milhão de vozes temerosas, cavas, profundas, tétricas, que nos fizeram arrepiar; por isso, em vez de desembarcarmos ali, que também era perigoso e difícil pelo emaranhado da margem, preferimos ir indo pelo rio acima, lutando com o esgoto da canoinha. Seriam três horas da manha quando chegamos à feitoria! Gratificamos o nosso remador, e dias depois soubemos que fora aquele desalmado tratante que nos havia roubado a nossa canoa! Mas nunca mais os tornamos a ver, nem a ele nem a ela.

 

(1) Denominação dada ao bando de facínoras que em 1835, se apoderou do Pará..

(2) Lugar onde pretenderam resistir à tropa que os perseguia.

(3) Denomina-se montarias, umas canoinhas muito leves, que não são coma os ubás, de uma só peça, mas feitas como as outras embarcações pequenas, com costuras e cavernas.

(4) Julgava-se que era terra firme e ainda hoje se denomina rio Arapari, o que não é mais que um furo ou canal, que, tendo do lado superior esse nome tem de inferior a denominação, creio eu, de rio Acahi. Os dois não fazem senão um, que forma a ilha em que assentava a minha feitoria e que erradamente se considera terra firme.

 

(a continuar)

 

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

 

NATAL * 2023

 

Estamos perto da “Festa da Família”, mesmo que muitos não a considerem assim.

Já se “respira” o ar natalino, com árvores de Natal por todo o lado, o comércio a fazer propaganda e descontos especiais, gente preocupada com o presente que vai dar ou receber, mas será que, também muitos, pensam o que na Verdade representa o Natal?

Desde há alguns anos que escrevo alguma coisa, uma mensagem, um abraço, sobre esta época, em que o meu pensamento “voa” mais profundamente para lugares longínquos, à procura de entes queridos que já nos deixaram, de outros que estão longe, sem ser capaz de esquecer aqueles que por qualquer motivo, seja fome ou guerra, estão esquecidos e ou abandonados.

A mensagem que este ano vos deixo foi escrita pelo nosso filho Jorge que nos deixou há mais de meio século.

Poucas palavras, mas uma profunda comunhão com o espirito natalino.

Abraço todos, todos, com as palavras, sentidas, que nos deixou:

 

Mensagem de NATAL

 

... e se houvesse no coração da gente, a toda a hora do dia, um pouco de Paz de Natal, 

sentido e não imposto, poder-se-iam ouvir conversas de flores com aves, 

e desvendar-se todos os segredos da vida.

Natal/ 72

Jorge

 

*****

Leiam novamente a mensagem do Tiago

 

Escrito pelo Tiago que já foi lido no nosso Natal de 1991

 

 

Eu acredito em Deus, da mesma maneira que acredito que o sol existe, não porque eu o veja, mas graças a ele eu vejo tudo.

Pois é, aqui estou, esta carta vai para todos no Natal como mensagem de paz, de solidão de um irmão que vos ama muito, apesar de pouco mostrar, mas vos digo que se algum precisar do meu coração para continuar vivendo eu o daria.

As coisas por aqui estão bem, eu estou mais gordo, mais forte em físico e espírito, pois tenho aproveitado para estudar, fiz um curso que ainda não terminei de teologia que na verdade são 3 anos, e tenho realizado o quanto tempo eu perdi e quanta coisa errada eu tenho feito, mas eu dei um grande passo na vida.

Primeiro por admitir o que fiz, e segundo por reconhecer o caminho certo, apesar de ainda tropeçar em pequenas tentações, sinto dentro de mim uma paz de espírito, nunca estou só, só quando quero.

Agora Natal, uma época de presentes, uma época de um sentimento estranho, como algo que ficou para trás na infância, uma falta de... ?

Eu agora sei que falta é e é nossa culpa, e só falta de sinceridade para conosco, e o porquê? Porque nós estamos sujos e não queremos admitir, pois eu peço que neste Natal vocês abram o coração para Deus e peçam a Ele que o limpe e que o encha de amor e paz, para que vocês o possam dar para aquele que não o tem.

Eu estou bem, tenho o que comer, onde dormir e bons amigos aqui; dois padres, pois eu trabalho na igreja já há 9 meses, não vou virar padre, pois vou tentar ser um bom homem para comigo e meus irmãos, irmãs, inimigos...

Queridos, que este Natal seja um Natal de Paz, um Natal de compaixão para com os que necessitam, um Natal de alegria, um dia de agradecimento a Deus por tudo que tem feito por nós e por nos ter dado seu Filho que veio por nós e foi crucificado.

Acho que vocês podem pensar que eu esteja assim porque estou aqui, mas estão certos, mas uma coisa vocês podem ter a certeza, é que Ele, Jesus, tem me dado muita paz, calma, e muita atenção e amor, mas ao mesmo tempo cheio de amor, um amor que sem Ele eu não teria esta experiência, tem me disciplinado em todos os sentidos e isso é muito importante.

Queridos, espero que vocês abram o coração, o vosso coração para Ele, e assim Ele vos encherá todas as vossas necessidades, e que tenham um Natal como as crianças, de Paz e Amor.

Um grande beijo com muito amor do vosso irmão

1991 

Tiago