segunda-feira, 26 de julho de 2021

 

Notícias  da  Califórnia

A pequena e simpática cidade de Sausalito, com cerca de 7.000 habitantes, um pouco a norte de San Francisco, passada a Golden Gate, está sobre uma bomba relógio, por se encontrar em cima da famosa “Falha de San Andreas”. Sismos são quase constantes, e a qualquer momento um grande terremoto pode acontecer. Todos os habitantes têm disso consciência, mas... a vida segue normal e tranquila.

Henry Sousa, jovem engenheiro naval nascido em San Diego, filho de um açoreano construtor de barcos de recreio, que o iniciou naquela arte e que Henry depois desenvolveu na universidade, assim que se formou mudou-se para Sausalito, onde logo encontrou trabalho, e era muito muito mais agradável do que qualquer grande cidade. Trabalhava com barcos e gostava de dar o seu passeio de bicicleta, sempre que algum tempo livre o permitia.

O seu trabalho, além de projetar novas embarcações, que não lhe ocupavam todo o tempo, era também dar assistência a muitas das que estavam fundeadas cidade.

Cidade baixa plana, rodeada por alguns morros de baixa altitude, ruas bem arborizadas, era um ótimo local para, tranquilo, fazer um pouco de exercício, pedalar, pensar, apreciar os arredores.

Ali era quase um refúgio de artistas, e de alguns endinheirados, que gozavam da tranquilidade do lugar.

Um dos casais com vida financeira folgada, Pauline e Brian Jones, ela, médica, nos trinta e pouco e ele quase cinquentão, bem de vida, sem filhos, diretor de uma empresa de informática em Silicon Valley, para onde se deslocava com frequência, ficando às vezes lá por alguns dias, em constantes reuniões, sem voltar a casa.

Pauline, trabalhava num Centro de Atendimento médico em Mill Valley, a cerca de 10 minutos de sua casa.

Amantes de mar possuíam um veleiro de 28’, onde raro saiam, cuja guarda e manutenção estava entregue a Henry com quem já haviam saído para alguns passeios naquela linda baía.

Nos seus passeios de bicicleta, normalmente de manhã, houve um dia em que Henry passava na rua onde moravam os Jones, um sismo, não muito forte, fê-lo desiquilibrar-se um pouco na bicicleta. No mesmo momento Pauline ia a sair no seu carro, de ré. Assustou-se com o sismo, não viu o ciclista e acertou-o em cheio no exato momento em que ele, meio desiquilibrado passava por trás!

Henry no chão, meio combalido, bicicleta torcida, Pauline sai do carro, aflita, ajuda o ciclista a levantar-se, o que muito lhe custou, senta-o no carro enquanto vai buscar a bicicleta caída no meio da rua, e volta com o carro para a garagem, com o chão já a tremer menos.

Preocupada com Henry, que sangrava um pouco de algumas esfoladelas, levou-o para dentro de casa, pegou desinfetantes, ligaduras e outros, toalhas para limpar o sangue, mas antes quis assegurar-se que não havia fratura alguma.

Cuidadosamente tratou das feridas, pequenas, enquanto Henry se compunha da queda que o deixara meio tonto, combalido.

Já conhecidos, Henry concordou com a médica, que não parecia haver necessidade de ir ao hospital, mas precisava de descansar um pouco.

- Deixe-se ficar no sofá até se sentir bem. Esteja à vontade. Quando quiser sair eu vou levá-lo a casa.

Verão, um dia lindo, Pauline vestia uma roupa leve, que deixava a sua figura jovem bem desenhada, o que ao “acidentado” não passava desapercebido!

Com as ideias baralhadas com o tombo, acabou por adormecer, mesmo sentado, sono que não durou muito. A seu lado Pauline aguardava, preocupada, o evoluir do problema.

Henry abriu os olhos, ajeitou-se na cadeira, olhou bem nos olhos de Pauline, ainda sem realizar o que, exatamente, estava ali fazendo! Levemente dolorido, as feridas pensadas, devagar reconstituiu o que lhe tinha acontecido.

- Pauline, muito obrigado pelo seu cuidado. Estou a sentir-me já muito bem. Posso ir para casa e não a incomodar mais.

- Não, Henry, eu é que tenho que me desculpar. Não o vi e... podia até ter sido bem pior. O sismo atrapalhou-me.

- É normal um ciclista passar desapercebido nestas ruas arborizadas, com sombra das árvores alternado com o sol direto. Eu quando vi o carro a descer para a rua devia ter parado, mas também estava meio preocupado com o sismo. E nem cuidei de olhar para me certificar se me tinha visto. Mas tudo já passou e vou ter que lhe pedir uma coisa mais.

- O que quiser.

- Levar-me a casa mais a bicicleta torcida!!! Sabe onde moro?

- Não.

- Numa boat house em meio de reconstrução, em Waldo Point.

- Com certeza, mas como são quase horas do almoço, vou preparar qualquer coisa e depois falamos nisso.

Pauline levantou-se, saiu da sala e Henry, depois de se assegurar que estava em condições de se levantar e andar, foi atrás.

No corredor que levava à cozinha de repente novo choque! Pauline tinha parado para fechar a porta de um quarto e quando Henry estava a passar, desta vez o “acidente” foi bem melhor: ficaram agarrados um ao outro. Primeiro um ar de espanto, depois o abraço foi-se ajeitando melhor, olhos nos olhos, Henry bem devagar foi aproximando a cara e beijou-a, sem que Pauline esboçasse algum gesto de repúdio!

- Desculpe Pauline. Desculpe. Foi ato impensado!

- Se foi impensado, o que lhe parece este em que eu, nós, estamos a pensar?

E sem dar tempo a resposta, agarra-o bem e o beijo foi bem mais demorado.

A seguir, pega-lhe na mão, e de mansinho leva-o, não para a cozinha, mas para outro lugar. Henry deixa-se levar, o coração a bater mais forte.

Entram no quarto dela e não tardou que tivessem esquecido a hipótese do almoço. Deixaram-se ficar em exercícios, que normalmente se fazem na cama, por um bom tempo!

Jovens, cheios de saúde, mesmo com o pequeno acidente ciclístico, deram largas à sua juventude.

Quando pararam um pouco, Pauline confessou:

- Eu e o Brian estamos casados há quase oito anos. Mas hoje os seus “bits” parecem ser muito mais importantes do que eu. Tenho até andado a pensar em divórcio. Este nosso encontro trouxe-me nova vida. Foi providencial.

- Pauline, eu sou solteiro à espera que me caia uma “deusa” do céu! Parece-me que o céu não deixa nada cair, sem que um fenómeno estranho aconteça! Como o raio, seguido do trovão, e depois a bonança. Você caiu do céu!

- Se eu soubesse já o tinha atropelado há mais tempo!

- Daqui para a frente não vamos perder mais tempo. Arranjaremos maneira de nos encontrarmos. Até...

Conversa interrompida com mais beijos e com o resto.

- O Brian só deve voltar amanhã à tarde. Temos ainda muito tempo para aproveitar. Agora vamos comer alguma coisa para não perdermos as forças!

Uma refeição rápida, uma garrafa de vinho para festejarem e, já enamorados, foram para a boat house. Pauline encantou-se com a simplicidade da casa, já habitável, que visitou sem largar o braço ou a mão de Henry.

-  Pauline: já pensei num plano para amanhã! Eu saio daqui cedo, no meu carro, e vamos passar o dia em Bird Island. Lá perto tem um pequeno e simpático restaurante e voltamos depois do almoço.

- Ótima ideia.

- Hoje vou deitar-me cedo para arrumar as ideias e amanhã, pelas oito horas passo em sua casa.

­Mais um longo beijo de despedida, Pauline, que tinha redescoberto o gosto de viver, voltou para casa a pensar que tinha que deixar o marido mais a sua informática. Conhecia já Henry, um rapaz, 29 anos, educado, que lhe pareceu uma boa companhia. Mas tinham que caminhar ainda algum tempo para melhor se conhecerem. Encontros, sempre que possível, tudo bem, mas compromisso... terá que esperar um pouco.

Henry, moído, dormiu intercalado com sonhos estranhos, mas... gostosos.

Pauline, nervosa. Sabia que uma nova vida começava para ela. O casamento com o Brian estava agonizando, apesar de sempre se terem tratado muito bem, com muito mais amizade do que amor, que parece havia sumido. Custou-lhe a adormecer até porque sabia que de manhã a esperava novo passo para...

Oito e pouco já ela estava à espera, Henry nem teve que sair do carro a não ser para lhe abrir a porta. O beijo que ficou à espera a noite toda, “vingou-se” bem cedinho antes de carro começar a andar.

O caminho para a praia, por estradas secundárias, deixava-os com um sentimento de tranquilidade, que os fazia apreciarem mais a pequena serra que tinha que cruzar, e a sua mata. A distância, curta em linha reta, acabava levando a cerca de 20 milhas.

Praia pequena, quase ninguém, um paraíso para namorados. Pauline com no seu biquini estava linda. Com Henry, também jovem, físico saudável, faziam um par perfeito, onde se via uma forte atração mutua.

Nadaram, estenderam-se ao sol, abraçaram-se, beijaram-se mais vezes do que as calmas ondas do Pacífico, deixando-se ali ficar o máximo de tempo que puderam.

No regresso a casa não houve tempo para uma parada num hotel. Brian podia chegar mais cedo!

Já em casa, ao jantar, em ambiente tranquilo, Pauline vai direta ao assunto:

- Brian, a nossa vida de casal está morta! Eu sei que a empresa te dá imenso trabalho e preocupações. Eu continuo com a minha vida na rotina da medicina e a ter que ficar muitas vezes só em casa. Sabes como te considero, mas isto não é vida de casal, tanto mais que até hoje nem um filho conseguimos. Acho que o melhor para ambos é nos separarmos.

Brian arregalou os olhos. Jamais esperaria que tal acontecesse.

- Pauline, tens razão, e eu me sinto culpado por isso. Não adianta prometer que vou ser outra pessoa daqui para a frente, porque nestas idade só a boa vontade nada faz. Se achas que vais encontrar mais felicidade na tua vida, não sou eu que te vou impedir. Não quero é perder a nossa amizade e respeito, que a vida profissional transformou o que começou como um grande amor,

É evidente que algumas lágrimas quase, quase, correram.

Pouco tempo passado, divórcio legalizado sem traumas.

Brian tinha já uma considerável fortuna. Deixou a casa e uns milhões a Pauline e foi lá para Silicon Valley aumentar a fortuna. E depois se soube que foi também ter com uma outra que tantas vezes o acompanhava nas “noites” de reuniões de trabalho! Por isso também foi tão amável no divórcio!

Henry acabou de compor a Boat House, que vendeu, e tinha à espera um grande amor, uma bela casa e até um veleiro para disfrutarem aquela baía!

Melhor do que tudo isso é que não demorou a que chegasse o primeiro filho. Um Sousa...lito!

Para estes parece ter chegado algo que caiu, MESMO, do céu.

Até ver.

 

24/07/21


quarta-feira, 21 de julho de 2021

 

Virtude, Democracia e Verdade


Mais uma incursão na filosofia, que se traduz simplesmente por pensar. Não vou já a tempo de me tornar um filósofo, mas fico-me com Descartes: “Penso... logo existo!”

Em 1757 Rousseau (o tal Jean-Jacques) recebeu da sua amiga Condessa d’Houdetot (Elisabeth Françoise Sophie Lalive de Bellegarde, que tinha um salão literário) uma carta perguntando-lhe o que era a virtude.

A resposta de Rousseau é, como tudo que lhe diz respeito, notável. Infelizmente longa demais para a reproduzir aqui, mas de que vou tirar só uma pequena passagem.

“Você procura mais embaraçar-me do que se instruir, perguntando o que é a virtude. Eu podia responder-lhe em duas palavras que é algo que ninguém consegue aprender a não ser por si mesmo, e que você não saberia nunca se o seu coração não lhe respondesse; aliás por que voltar a uma questão já tão discutida e tão bem resolvida? Abra Platão, Cícero, Plutarco, Epicteto: consulte o virtuoso Schaftesbury (Inquiry concerning Virtue como o seu Essai sur le Mérite et la Vertu) e o seu digno intérprete (que terá sido Diderot).”

E continua: “Faça ainda melhor, estude a vida e os discursos do justo e medite o Evangelho; ou, talvez, deixe todos os seus livros, entre dentro de si mesma, escute essa voz secreta que fala a todos os corações e seja virtuosa para saber o que é o ser-se virtuosa.”

Pode alguém se livrar de estudar a virtude? Não, os seus efeitos divinos são incompreensíveis, ela nos aquece mesmo antes de nos iluminar, nós a amamos tão logo a procuramos, e sentimos antes de a conhecer; e se a razão me leva a perder-me na sua procura, eu me consolaria facilmente que um qualquer erro me tornasse um homem de bem.

Dá para reler e pensar.

Os dicionários são bem mais lacónicos: “Disposição firme e constante para a prática do bem! Força moral.

Para dar agora um giro pela Democracia e Verdade, “pensei” que, sem a tal força moral e sem que olhemos bem para dentro de nós, jamais se poderá falar, ou pensar em democracia e verdade.

Os filósofos, consideram a democracia uma utopia, e desde muito tempo se veem batendo de frente, não com a filosofia da democracia, mas com a sua aplicação na vida prática.

Não se pode dizer que a filosofia e a democracia tenham nascido praticamente juntas, se bem que de começo tivessem até um razoável entendimento.

Mas a democracia não tardou a usar a força. Parece ter esquecido que cada ser indivíduo tem o mesmo direito à vida que qualquer outro com opiniões diferentes. Alguns casos são bem demonstrativos:

1.- A democracia matou Sócrates e os seus seguidores (os primeiros filósofos) e não lhes pouparam críticas. Porque Sócrates tinham uma visão humanística diferente, e não a da maioria, da turba, irresponsável e covarde. Quem tinha a Verdade no julgamento de Sócrates?

2.- Mais tarde a democracia mandou matar Jesus, mesmo que o responsável tenha reconhecido a sua inocência. A voz da maioria, falou mais alto. A Verdade de Jesus era a afirmação que o Seu reino não era deste mundo. Assim sendo o status quo da época não teria que ser perturbado! Mas, sempre a maioria, medrosa e covarde, preferiu livrar-se de Alguém que incomodava.

Se realmente a democracia é a voz da maioria, ela se identifica muito mais com uma ditadura do que com os valores humanos.

É verdade que houve até filósofos que consideraram a democracia a melhor forma de governo... desde que ela fosse exercida pelas elites! Ditadura de consenso? Plutocracia?

Terá sido por causa destas e similares questões que acabou nascendo a filosofia contra a democracia. As polis, cidades estado gregas, reconheceram assim, na filosofia o seu inimigo mortal. E logo a filosofia floresceu e prosperou não raras vezes com a teologia e despotismo! No homem, a autonomia está em revolta contra si mesma. Este é o propósito da filosofia; a sua razão visa sempre a verdade.

Não posso deixar de citar Buda, que na hora da morte terá dito que toda a sua vida tinha procurado a Verdade, mas morria sem a ter encontrado.

A democracia é por essência irracional: o poder em nome do número e da força! É um pré-poder anti-humano, mesmo, sendo o homem um animal racional e não apenas social.

Mas a natureza esmagadora de todos é levada a destruir-se. A vocação, pelo menos. O poder, na verdade, se é de todos, deve ser de cada um, e deve, portanto, garantir o indivíduo. E se o homem renuncia à democracia em nome da razão, também renuncia ao desencanto.

Para se fundar um governo, sobretudo no sentido da democracia moderna (melhor dizendo, atual), não é pela lógica dos argumentos apresentados, que nunca produziram valores, mas pela persuasão de um caráter idóneo, ético, do orador, se este é realmente digno de fé.

Na eterna luta entre o bem e mal, o bem tem uma irredutível desvantagem: não tem futuro, enquanto o mal tem. Uma vez que nós, humanos somos orientados para o futuro, sentimos um insaciável incentivo para deixar o mal conduzir-se em todas as suas formas: a culpa, o remorso, a pobreza, o crime, o pecado, a folia e a tolice. Nenhum destes males é suscetível, pelo menos em princípio, de ajustamento ou correção de um qualquer modo. Em vez disso, que coisa pode alguém fazer face ao bem, a não ser admirá-lo?

Como disse Voltaire, se não houvesse o Diabo, seria preciso inventá-lo.

Não é preciso grande esforço para se concluir que a democracia é mesmo uma utopia. E quando segura pela mãos dos “eleitos”, que parece jamais se ter visto algum deles abdicar do seu poder para reconhecer uma verdade que tenha ido contra a maioria, e há muitos casos, que nome poderíamos dar a este tipo de democracia levada ao extremo?

Muitos são os que ainda lembram o pomposo nome dado às repúblicas soviéticas: República Democrática da Alemanha, de Angola, e muitas, muitas outras “democracias” da AK-47! Onde, na maioria delas não entrou ainda sequer a ponta de um primeiro dedo do pé para olharem para o inferior.

As massas aplaudem os animais humanos que se esmurram por dinheiro, as mulheres que dançam nuas nas boates, pretendem defender os palestinos mas aplaudem quando os israelitas lhes dão uma imensa tareia com o seu poderio militar,

Perderam-se as noções dos verdadeiros valores, dos valores da vida: tradição, respeito, ética, felicidade. Hoje só há dois “valores” que se respeitam e almejam: a tecnologia e o dinheiro. Aquela para melhor chegar a este. Os restantes valores, culturalmente estão mortos ou a agonizar.

É o fim de uma civilização. Todas acabam. A nossa, que herdámos dos gregos, até os africanos estão já a lamentá-la, e a recear, talvez mais do que os próprios europeus, o que virá após isso.

A cultura africana vai também ser arrasada pelo poderio financeiro, como já está sendo.

A América Latina auto estrangula-se, e aplaude, com o socialismo da corrupção.

E depois?

Ah! Depois os filósofos têm que ficar de boca fechada. A democracia a vir, não aceita filosofias que se choquem com a sua ditadura do proletariado.

Pode não ser o Fim do Mundo. Mas vai ser para muitos. Sobretudo para aqueles que um dia pensaram e se bateram por um mundo melhor. Pelo valor individual de cada um.

Quer dizer que não há solução?

Talvez haja, mas a muito, muito, longo prazo. E há já um exemplo: o Japão.

O Japão e o seu sistema educativo. As escolas primárias não têm empregadas para a limpeza nem para o arruma das salas. Os alunos têm a seu cargo a limpeza geral de toda a escola, participam do arrumo da cozinha e lavagem da louça, recebem uma educação cívica, impecável, cultuam a sua história e tradições, em casa são ensinados a terem o maior respeito pelos idosos e, em todo o país ninguém consegue encontrar caído no chão um mínimo pedaço de lixo.

Ora esse respeito, que vem do berço, envolve tudo à sua volta, a começar pelo Outro. Assim, adultos, conseguem discutir na Dieta os assuntos do país, sem terem que considerar os “adversários” de outros partidos como inimigos, mas como parceiros, com ideias diferentes sempre visando o bem geral.

A isto, mesmo onde subsiste um imperador, se pode chamar de democracia.

Talvez pudéssemos chamar a este sistema de governo, governo do respeito ou do entendimento.

E não esquecer as leis dos Inuites, que julgam sem o objetivo de castigar, mas de reintegrar.

Há pouco tempo consideravam-se os países nórdicos, Dinamarca, Noruega, etc., um exemplo de democracia e desenvolvimento. A democracia deles está a matá-los. Não tarda a verem-se todos nas horas santas ajoelhados no chão virados para Meca.

A democracia não tem que ser boazinha. Não é uma espécie de brincadeira infantil. Não pode deixar que outros destruam os seus valores.

Apartheid ou firmeza na manutenção da sua cultura, no respeito à sua história, aos antepassados?

Parece mesmo utopia, apesar de haver alguns povos, raros, que conseguem, com educação e simplicidade, viver em democracia, em perfeito entendimento.

E nós, os chamados ocidentais?

Perdidos.

 

09/07/21

 


terça-feira, 13 de julho de 2021

 

No país da loucura e do Sorriso


Na minha “inocência”, própria da juventude na segunda ou terceira meninice, imagino que possivelmente a maior parte da população mundial algum dia tenha desejado, ou sonhado, sair do seu país e ir procurar algum Eldorado alhures. Mais sol ou mais frio, menos impostos, salários mais condignos, mais estabilidade, mais liberdade, gente mais afável, ou até a garota, ou o garoto, dos seus sonhos.

Houve uns que conseguiram, a maioria ficou em casa a ver tv e a lastimar-se, e uma grande parte não encontrou nas novas terras a concretização do talvez infantil ou inocente sonho que o levou para longe.

Eu... fui um destes. Mas como nada vem de graça, lutei, passei muitas vezes por um qualquer Lucifer que me prometia o céu e me dava o inferno, mas, olhem, sobrevivi e penso que tanta luta me fez mais forte, porque... porque ainda por aqui ando!

Ando num país que ainda não se encontrou consigo mesmo! Desde há 500 anos, meio milénio, é espoliado, esventrado, cobiçado, criticado e ofendido por ignorantes e invejosos, e agora mais ainda pelas pandemias esquerdopata e heterofóbica, considerando mesmo a da Covid algo passageiro (passageiro chato e perigoso que teima em não nos largar), mas onde se encontra tudo aquilo que é inimaginável. O imaginável é difícil de encontrar!

Vamos começar por analisar a loucura, esquecendo, se possível isso fosse, a roubalheira de trilhões de dólares dos governos anteriores que enriqueceram a mais absurda e idiota gente deste país.

Ora bem, aqui ninguém deve, por exemplo, entrar numa farmácia e comprar um qualquer medicamento, mesmo que o medicamento seja ótimo, não falso (que os há), porque depois pode ter um ataque de coração ou raiva, apesar dos impagáveis sensíveis e carinhosos sorrisos que as funcionárias fazem (nas farmácias, nos correios, nos supermercados, em todo o lado), mas porque se arrisca a constatar que em outra qualquer farmácia (que as há de montão) o mesmo medicamento está com um preço incrivelmente mais baixo!

Já falei nisto várias vezes, já escrevi para os mentecaptos do ministério da saúde para que explicassem tais absurdos, mas vou relatar só unzinhos destes últimos dias.

Gatunagem Nr. 1.- Começo por laboratórios de análises, que é tudo a mesma pandilha.

O meu filho foi fazer umas análises de sangue, aquelas bem simplinhas - hemograma, creatinina e VHS. Aqui perto de casa há meia dúzia de laboratórios (distam no máximo 50 metros uns dos outros!) e decidimos fazer uma prévia consulta para ver a “moral” do nêgossu. Eis os preços das três análises:

Laboratório A – R $ 72,00

                  B – R $ 58,00

                  C – R $ 41,50

                      D – R $ 22,80

O mais caro cobra só 3,16 vezes mais que um outro, ótimo também.  Só a Creatinina variou de 5,40 a 25,00. Loucura, né? É.

Absurdo nr. 2.- Mas as farmácias vivem num mundo de manicómio. Manicómio bilionário, com o beneplácito dos, teóricos, órgão controladores.

A ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – determina, regiamente, o preço mais alto porque qualquer medicamento pode ser vendido, e depois indústrias e farmácias que se avenham como quiserem, o que resulta em absurdos de tal forma incompreensíveis como inexplicáveis.

Ontem um médico recomendou-me um medicamento, a tomar duas vezes por dia e, pior, uso contínuo, i.é, até bater a bota! Fui à primeira farmácia, o medicamento estava em falta, mas custava , embalagem de 30 comprimidos, mais de $ 520,00 reais. Isso mesmo, mais de 500 paus, porque me faziam, muito amavelmente 42% de desconto!!! Felizmente estava em falta. A 20 metros de distância outra farmácia, tinha a droga, um pouco mais barata: $499,90! Já dava um desconto de 46%! Como precisava de duas embalagens por mês, estava fadado a gastar mil paus por mês, grana que não tenho.

Disse à farmacêutica que ia alugar uma pistola, fazer cálculos técnico financeiros e voltaria no dia seguinte.

Em casa consultei a “amiga” Internet.

O que foste descobrir??? Uma farmácia, que só vende pela Internet fazia 92% desconto!!!!!! Eu sei que há incrédulos em toda a parte, mas, primeiro eu não tenho por hábito mentir (só às vezes!), e depois, para quem quiser eu posso dar todas as informações para que possam constatar tamanha animalidês.

Resultado, em vez de 1.000 reaisinhos por mês, gastei $164, e assim vou ficar bonzinho num instante. Dá para acreditar? Se não dá eu provo a veracidade desta loucura. E tem que ser depressa porque a continuar assim quem irá parar num manicómio sou eu.

Mas aqui isto é normal. Medicamento de preço “oficial” de $ 70 compra-se, em qualquer lado por 25 a 30.

*****

Mídia - nr. 3.- Dizer que neste país existem órgãos de informação, essa sim seria uma deslavada mentira. Existem jornais, rádios, tvs, mas em nenhum se pode confiar, nem na política, nem nas informações da covdice.

Os números de infetados e falecidos podem até estar certos, mas como o supremo tribunal federal determinou que o combate ao vírus ficava por conta dos Estados e Municípios, a roubalheira está muito mais dispersa e mais difícil de controlar.

O tal de supremo tribunal federal deu uma ordem que a Constituição não o autoriza, visto que isso seria da responsabilidade do governo executivo em acordo com os estados.

Pois bem, hoje os tais órgãos de desinformação berram aos 4 ventos que o Presidente é o maior genocida que este país já teve, responsável por mais de 500 mil mortes, grande parte das quais se sabe que não foi por Covid. Mas cada atestado afirmando que o Covid matou, dá direito, obrigação, a que o governo federal mande uns quantos milhares de $$$ para o departamento de saúde de onde saiu essa informação.

Assim nós temos um Presidente “acusado” do genocídio de 500 mil brasileiros, caso único no mundo, porque nenhum outro governante o presidente ou rei de outro país foi acusado de ter matado alguém. Imaginem se agora no Reino Unido acusassem a imorrível Elisabet II ou o despenteado PM de genocidas, porque já lá morreram mais de 128 mil, ou o macronzinho com 111 mil?

Em todos os outros países as pessoas morrem com o Covid. Aqui é o Presidente que as mata! Interessante.

*****

A inflação: em 1994 entrou nova moeda que veio dar alguma, alguma, estabilidade à economia, Mas tem números muito curiosos (desastrosos) que mostram como tudo isto está desencaixado.

Só um exemplo, petróleo e gasolina, comparando os preços de 1996 e 2022.

Petróleo – barril    - 1996 - US$ 22,39    2022 - US$ 70,00 = 210%

Gasolina, Portugal, litro - 1996 -     0,81      2022 -    € 1,65    = 103%

 (Portugal não tem petróleo!)

Gasolina, Brasil, litro    - 1996 -  R$ 0,58     2022 - R$ 6,75  = 1.063 %

Produz 3 milhões de barris/dia)

Bolívia: com 55 mil barris/dia, a gasolina custa R$ 2,12! Menos de 1/3 do Brasil!

É. Talvez o Eldorado seja lá. Em 96 eu gastava R$ 35 reais para encher o tanque do meu carro. Hoje... mais de $400! Vou-me queixar a quem?

Se eu ainda estivesse a trabalhar e atualizassem o meu salário por esta inflação, hoje faria concorrência ao Warren Buffet. Assim o máximo é tentar ir para um albergue do governo!

*****

 

Moral da história: aqui anda tudo, e todos, loucos, mas fora dos avacalhados da política, não há gente mais simpática, prestativa, carinhosa.

As pessoas aqui sorriem umas para as outras, as funcionárias de qualquer loja ou farmácia ou mesmo qualquer pessoa que por acaso se encontre na rua ou numa fila para ser atendida num hospital, sempre, sempre, têm um sorriso para quem está a seu lado, mostram interesse na saúde do desconhecido, tratam-no por “meu bem” ou “amor”.

Ontem mesmo enquanto eu aguardava ser atendido, várias senhoras, umas até com ar abatido se levantaram para me oferecerem o lugar sentado (não aceitei nenhum).

A primeira atendente que preencheu a documentação, quando perguntei onde assinar, mostrou no documento e disse “aqui, meu bem”! E, quando eu ia a sair da clínica ela me acenou como se fossemos amigos há cem anos.

Tem isto em Portugal? Na Alemanha? Nos EUA? Na França?

Ainda tem em Angola, sim, e em alguns outros países de África.

Lá onde ainda conseguem sobreviver os humildes. Bem aventurados os humildes.

 

*****

Não encontrei o Eldorado. Mas com todas estas vicissitudes encontrei um impagável calor humano.

Infelizmente o calor humano não queima a malandragem!

E assim, continuamos nesta infindável, eterna, luta do bem e do pior, que estas “caricaturas” mostram com toda a clareza:

1ª. - Os gastos do governo central com publicidade. Como a mídia não há-de fazer tudo para o derrubar? Deturpar notícias, esconder as positivas, mentir, etc.?


 2ª.- Mostra, alegremente e com toda a evidência, como funciona (aliás, não funciona) a justiça, leia-se injustiça, neste país. Juízes de rabo preso, muitos deles altamente vulneráveis e corruptos.


10/07/2021

 


quinta-feira, 8 de julho de 2021

Um Amigo e Hospedeiro

 

Na nossa tão falada, e escrita, ida a Angola no "Mussulo", ali fomos recebidos com enorme entusiasmo e imenso carinho.

Um dia depois de chegados a Luanda já aqueles amigos nos tiraram do barco, para irmos dormir em camas boas, em terra, com todo o conforto, sobretudo aquele calor humano que os hospedeiros nos proporcionaram.

Calhou-me como hospedeiro um jovem “sobrinho” da idade que teria o meu filho mais velho. Além de um quarto, cama e a ótima companhia, foi o meu “cicerone” durante todo o tempo que lá estive.

Acompanhou-me na procura de algumas peças para o barco, a uma antiga fábrica, em Viana, onde fomos para costurar a genoa, na compra de alimentos para o retorno do barco, a visita (por fora) às casas onde habitei quando por lá vivi, sempre com uma serena vontade, um desejo de atender da melhor maneira possível a alguma solicitação minha, que espero não tenha abusado da sua extrema simpatia.

Foi um bom amigo, novo “sobrinho”, que ganhei.

Quando lá voltei dois anos depois para o lançamento do livro “Mussulo – Um Abraço à Vela”, lá estava ele, que de imediato me levou para sua casa.

Sempre guardei uma saudade grande do Rui Cristina¸ de quem fui acompanhando, infelizmente pouco, a evolução da nova família e dos dois (?) filhotes lindos que arranjou.

    

        

Ainda tentei fazer um retrato dele que penso lho mandei. Não fiz só um, mas dois, porque nenhum me pareceu que tinha ficado bom.

Olho agora para esses dois retratos, lembro bem dos momentos em que os captei. No primeiro, “pousou” para a máquina fotográfica e no segundo “apanhei-o” em frente da TV, muito interessado não sei em que desafio de futebol.

E está a custar-me reter uma lágrima.

O meu pensamento vai sobretudo para a nova família que arranjou, que abraço mesmo não conhecendo. Que a vida lhes proporcione o que o Rui sempre terá desejado para ela.

Meu querido Amigo. Descanse em Paz. Talvez um dia nos voltemos a encontrar.

 

04/07/2021

                                                                         

 


domingo, 4 de julho de 2021

 

TEO – DEUS

Ensaio filológico e filosófico

 

Começo por pedir que me relevem a pretensão de falar sobre assuntos transcendentes, transcendência que existe há centenas de milénios. Não tenho a intenção de discutir dogmas ou profecias, mas “passear” um pouco sobre a série de vocábulos que se referem a Teo, o Deus.

Também não há nenhuma tentação de aspirar a conhecer grego, porque desconhecedor seria até amabilidade, nem de exibir conhecimentos. Vamos lá.

A palavra que mais se conhece deve ser a Teologia que estuda as questões do conhecimento das divindades, qualquer divindade, com religião ou sem ela... se existe.

Começa logo aqui o problema: ninguém sabe quem é Deus, como Ele é (sempre com maiúsculas, por respeito), e o mais difícil é tentar entrar a fundo no problema partindo dum princípio nebuloso, que é o desconhecimento total de como terá aparecido o Deus.

Arranjou-se uma fórmula demasiado simplista: Deus não teve princípio nem tem fim. Fácil, hein? A fórmula encontrada, Ninguém criou Deus. Deus sempre existiu. Essa é a definição de eterno. Deus é o Criador que não precisou ser criado.

Por muito estudiosos que sejam os grandes teólogos, ao esbarrarem no princípio dos princípios, dão logo uma saída de fininho, afirmando, como se isso fosse possível, terem conhecimento que Deus é sempiterno, e pronto. Diz a Bíblia que No princípio, Deus, do nada criou os céus e a terra.

Quem não acreditar é ateu e pode, ou podia, ser queimado na fogueira, ou morto de qualquer outro modo.

É fácil imaginar, desde que os Homo começaram a pensar, que haveria alguma força superior a que todos estavam sujeitos, mas sem entenderem o que seria. Mas que os amedrontava. Eram raios e trovões, enchentes, doenças e outras “esquesitices”! Tsunamis e vulcões, que cuspiam o fogo divino, zangado, lembrando o tempo em que Deus mandava alguns povos guerrearem outros e se apropriarem das suas terras e mulheres. 

E foram surgindo os mais vivaços que se autodeclararam interpretes desse divino. Criaram normas, leis, submetendo o povo, povo mentecapto, com medo da vingança desse terrível divino e assim chegavam a reis, imperadores, grandes chefes, etc. Como muitos reis com a Graça de Deus, rei de...¸ juntando assim à força das suas tropas a de uma hipotética divindade.

Nasceu a Teocracia, como todos sabem, governo baseado em religião, que perdura até hoje em muitos países, governos que se mantém, não pelo temor a qualquer divindade, mas à vingança dos chefes, que se dizem representantes do incognoscível!

Basta ver o que se passa hoje, bem por baixo dos nossos narizes, com o Islão, como se passou com a Sagrada Inquisição, e mais lá para trás com os massacres em nome de Deus, para conquista de riquezas, regiões, etc.

Alguns dos fundadores de religiões convenceram os seguidores porque tiveram aparições com Deus que lhes disse o que haviam de fazer. A isto se chamou Teofania, a aparição ou manifestação de Deus, ou mesmo a festas com imagens de Deus. E, ai de quem não aceitasse essa ligação homem-deus.

Durante uns tempos houve até quem se chamasse Teofano ou Teofana. Não há memória de uma Teófana mais teofanada do que uma tal esposa de Romano II († depois de 991) chamada Teófano Anastácia, que foi nora de Constantino VII Porfirogênito, esposa do tal Romano II, depois esposa de Nicéforo II Focas, amante de João I Tzimisces e mãe de Basílio II, Constantino VIII e da princesa Ana Porfirogênita. Mulher valente!

Mais - quase dizia absurdo - é a Teogonia (doutrina mística sobre nascimento de Deus), quando, sendo Deus sempiterno, sem princípio nem fim... não nasceu! Por isso os teógonos devem discutir dias, meses, anos, para jamais saírem do problema: “Quando, como, onde, etc.”

Herança, também não se sabe de onde, a Teomancia, adivinhação por suposta inspiração divina, permanece um negócio para aqueles que leem as linhas das mãos, que adivinham (adivinham?) o futuro, jogam as cartas do Tarô, e outras práticas esotéricas a que se passou a chamar quiromancia, para não comprarem briga com Teo.

Com a modernidade (?) e a tecnologia, tem-se vindo a notar o afastamento dos crentes das cerimónias ditas religiosas, daí esses pseudo crentes encontraram então, como princípio, a Teofilantropia, crença em Deus, mas sem culto, uma vez que é muito mais cómodo ficar em casa do que ir aos centros de culto, a esmagadora maioria... por obrigação e muito pouca devoção, palavras há poucos dias citadas pelo Papa Francisco. Essa filantropia com vista a abater nos impostos, ou até por caridade, caridade essa que é humilhante, quando se trata de dar alguma coisa a outrem sem se dar de corpo e alma. A caridade assim é ofensiva. Quando se dá uma esmola, cria-se um servo, um devedor, e ninguém, intimamente, gosta de dever o que quer seja. Muito menos a um superior.

Homens para tentarem encontrar o divino, ou simplesmente para se refugiarem das multidões, se refugiavam como eremitas, no alto das montanhas, isolados ou nos conventos, orando ou não, à procura de salvarem as suas almas, quando esqueciam de salvar as suas vidas. Procuravam a bondade divina e, nesse viver praticavam aquilo a que os filólogos chamam Teodiceia, um conjunto de ideias que procuram justiçar a bondade divina). É também uma prática que parece estar em vias de extinção. Não há mais vocações e muito menos eremitas.

E ainda há os que se afirmam teólogos, que procuram inúteis discussões para se exibirem. Esses têm um nome de que eu até gosto muito. São os Teologastro, os teólogos medíocres. Estes, vaidosos, dedicam-se mais ao Teologismo, ao abuso de princípios teológicos, para impressionarem os incautos. Muitas leis e muita certeza do que é incerto.

É certo que houve, na história do catolicismo, teólogos, que merecem o maior respeito, porque além de não se dedicarem somente ao estudo das coisas de Deus, puseram sempre em primeiro lugar as coisas dos homens. Pensaram no Outro. Só para citar alguns: Erasmo, Lutero, Fernando Martins Bulhões conhecido por Santo António, Benedito de Spinoza, Tomaz de Kempis, Teillard de Chardin que lutaram com o seu pensamento por uma religião humanizada, a quem eu ao longo da vida várias visitas, e ainda hoje vou, já raras vezes, visitá-los.

Talvez estivessem mais ligados à Teosofia, a doutrina sobre a união do homem com a divindade, já que não esqueceram que a autêntica doutrina é a que procura levar a humanidade a encontrar o paraíso neste planeta onde fomos colocados, em vez de esperar por algo lá... nos céus... pura invenção dos que montaram hierarquia para governar os mais fracos.

O que dizer da Teomania, loucura, obsessão por Deus? Será o que fazem aqueles que se mortificam? Loucura e obsessão são desiquilíbrios mentais, e há, na sua Fé, aqueles que buscam tudo para procurar agradar a Deus, e acabam desiquilibrados.

Mas aqueles de mais Fé são os que têm Teofobia, que é horror a Deus! Simples. Alguém só pode ter horror a algo que ele conhece, sabe que existe, é verdade. Penso até que o teófobo é o que mais tem a certeza da existência de Deus, mas, perdido, sem saber onde o encontrar, e com a carga violenta de toda a história das religiões com as ameaças dos castigos divinos acaba, por ter pavor do que Deus lhe pode fazer.

Por fim a Teofilia, dos mais simples, como Francisco de Assis, são os Teófilos, os amigos de Deus, aqueles que se entregam inteiramente. Conheci bem um, amigo. Não sei se seria muito crente, mas mostrou enorme coragem ao defender e ajudar Outros em muito difíceis situações. 

Para terminar estes considerandos, deixamos a palavra aos filósofos, com alguns pensamentos sempre de grande atualidade:

A mais simples frase, de Pascal: a única solução é apostar em Deus: se Ele existe ganha-se tudo; se Ele não existe, nada se perde.

Para Nietzsche essa ideia de Deus e do paraíso celeste nos impedia de aproveitar a vida em prol de um objetivo imaginário. Ele dizia haver apenas um mundo, e afirmava que, quando percebermos isso, somos obrigados a rever nossos valores e aquilo que entendemos como humanos.

Paolo Flores d’Arcais dá-nos uma definição de grande profundidade: A filosofia nasceu como uma exigência sacrílega, como investigação que revoga em dúvida, e, portanto, desafia, as respostas da religião consagradas pela autoridade da época, e por todas as autoridades.

Descartes deixou uma frase basilar: a dúvida é o primeiro passo para se chegar ao conhecimento, o que significa não aceitar como certo tudo o que nos dizem. Obriga cada um a refletir e se interiorizar.

Paul Valery desmascara a política (que interfere em tudo) com uma afirmação, ótima para terminar este pequeno e despretensioso passeio pela Teo... e pela Filo...:

A política é a arte de impedir as pessoas de se envolverem no que lhes diz respeito.

 

03/07/2021