quarta-feira, 27 de maio de 2015



Os Celtas

Que me perdoem os cientistas e investigadores, mas é muito interessante “viajar” pela História! Melhor ainda pela Protohistória.
Muito se ouve falar dos celtas, mas com absoluta certeza não se sabe muito sobre eles.
Dizem que terão “nascido” na Europa Central, mais ou menos onde é hoje o sul da Alemanha, leste da França e Áustria, Boémia e Eslováquia, ao lado da região que já se chamou... Galicia, sobre o que já escrevi em Outubro de 2012 (ver http://fgamorim.blogspot.com.br/search?q=iberia ).
Mais curioso é saber que onde viveram, conforme as regiões, línguas e os tempos, se chamaram gália ou gaulia dos gauleses, galácia dos gálatas, galícia, gaélicos do Norte da Escócia e da Irlanda, os galegos da Galiza, e muitos, muitos outros nomes que se perderam, e ainda tribos comos os Boiens, uma das maiores tribos celtas, cujo nome parece significar “os terríveis”, também conhecidos por boers (em holandês significando paisano ou agricultor). O nome atual de Bohemia vem de Boio, terra dos Boiens.
Até os gálatas, mais conhecidos talvez pelas epístolas de São Paulo, eram “gauleses” que se aventuraram para leste, e após batalhas com uns e outros fundaram a Galátia que seria a parte central da hoje Turquia. Foram eles que fizeram de Ancyra, agora Ankara, o centro, a capital, de todas as tribos celtas que ocuparam a região.


Os celtas foram um povo – ou diversos povos? – extremamente guerreiro. Expandiram-se para o leste, assolando o sul da Rússia, a Grécia, o norte da Itália, praticamente toda a região da França, e mais da metade da Península Ibérica.
Hoje boa parte dos cientistas que se dedicam ao estudo das origens célticas, afirmam, com base em dados antropológicos e até de DNA, que eles foram da Península Ibérica para a Britânia, quando outros creem que terão ido diretamente da região da Germânia ou da Gália.
Entram nas Ilhas Britânicas, por volta do século V a.C.
Na Península Ibérica já se encontravam, segundo alguns autores (Políbio, Estrabão, Homero e muitos outros comparsas) talvez desde antes de 1.000 anos a.C. numa região encostada àquela que os romanos vieram a chamar Tartéssia, dos tartessos ou turdetanos. Esta seria onde hoje a parte ocidental da Andaluzia, e aqueles na Extremadura, estendendo-se pelo Sul do Alentejo e Algarve, como se vê no mapa abaixo.
40.000 anos a.C. os Neandertal já estavam no sul da Península Ibérica. No norte as pinturas de Altamira terão entre sido feitas entre 12.000 e 32.000 a.C.
9.000 a.C. há vestígios de migrações da região da Fenícia para o sul da Península e da expansão dos chamados “indo-europeus” pelo centro da Europa.
Em 1.800 a.C. tribos celtas já ocupavam a maior parte da Península, mesmo que os nomes das tribos fossem muito aleatórios porque quem escreveu sobre eles pouco ou nada sabia!

Como é de supor não havia fronteiras fixas entre os diversos povos primitivos naquele tempo, mas não é difícil calcular que entre os que viviam nos limítrofes se entrecruzassem, e assim os romanos, que melhor os descreveram, acabaram por englobar na Tartéssia o Algarve, o Sul do Alentejo e a parte sul da Extremadura, o que significa que os celtas teriam sido “incluídos” numa única região, a Baética.
O primeiro autor antigo a escrever sobre os celtas na Península terá sido Hecateo de Mileto (-548 a -475), que além de os colocar em Marssilia se refere também aos keltoi, keltoi – celtas - o povo da Península.
Os Turdetanos eram considerados, pelos romanos, como os mais sábios dos ibéricos; faziam uso de um alfabeto e possuíam registros de sua história antiga, poemas, e leis escritas em verso com seis mil anos de idade, mas desconhece-se quando o tartessiano deixou de ser falado; Estrabão (c. 7 a.C.) registra que os Turdetanos e particularmente aqueles que vivem sobre o Baetis (Guadalquivir) mudaram completamente ao longo da ocupação romana, nem mesmo lembrando mais de sua própria língua.
Há documentos, sobretudo estelas que remontam a um passado muito remoto, com escrita até hoje indecifrável, com características fenícias e até misturadas com tipos de hieróglifos egípcios.
Ainda pelos antigos historiadores “sabemos” que terão sido os tartessos que, hábeis navegadores, práticos no tráfego sobretudo com a Fenícia, também foram os primeiros a navegar pelo Atlântico até as “Ilhas Cassiterites” (do grego kassiteros, estanho), onde se abasteciam deste metal.
Estas ilhas que mais tarde cartógrafos chegaram a colocá-las no lugar dos Açores, não é difícil concluir, digo mesmo concluir, que serão as Ilhas Britânicas, porque estas ficaram conhecidas por serem o principal fornecedor de estanho de “antanho” na Idade do Bronze.
Pensando neste conhecimento podemos começar a tirar algumas conclusões:
- Primeiro, é bem possível que os celtas tenham começado a ser conhecidos como tal, quando se juntaram (?!) no centro da Europa, Grécia e norte da Itália, apesar de serem inúmeras as tribos, mesmo sem unidade antropológica, a que hoje se lhes dá o nome genérico de celtas;
- Também é sabido que os povos celtas chegaram à Península Ibérica muito antes de às Ilhas Britânicas;
- Começaram por ocupar a Meseta Central da Península Ibérica, estenderam-se depois por quase todo Portugal, com os lusitanos e formando os Celtíberos, e sobretudo no Norte, Minho e Galiza, onde encontraram ricas jazidas de estanho, e dando à região o nome de Galecia ou Galiza;
- Daqui à Britânia... onde encontraram o mesmo estanho, não lhes deve ter sido impossível, até porque exportavam depois esse estanho dali também via Gadis;
- Assim também não custa supor que foi este um dos motivos que os levaram a ocupar a Britânia, tendo saído da Península Ibérica.
Além de todas estas hipóteses, há ainda a considerar a semelhança cultural, definida por espadas de bronze, pontas de lança, caldeirões, “garfos e espetos” estirados dos Tartessos à Galícia, Bretanha, Grã-Bretanha e Irlanda. No oitavo século a.C. uma nova elite levantou-se rapidamente entre os nativos parceiros comerciais dos fenícios.
  


Neste mapa vê-se bem o desenvolvimento da exploração de alguns metais: no sul da Península já se explorava o cobre 3.000 anos a.C.; o estanho, no Norte (entre Minho e margens do Douro) com mais de 2.500 a.C. e nas Ilhas Britânicas e Irlanda, um pouco mais tarde.
No entanto parece terem sido os ingleses que mais nos têm dado menções e elementos da história deste povo, ou grupo de povos que acabaram por falar a mesma língua, ainda hoje viva em muito lugar.
Sempre ferozes guerreiros, lutavam até entre si selvaticamente, mas vaidosos da sua aparência; usavam sabão especial e perfumes, túnicas de tecidos estampados e bordados, e adoravam carregar consigo cornetas e outras joias em ouro, em que eram exímios artistas.
Nas lutas aterrorizavam os inimigos, berrando que nem loucos e fazendo soar longas cornetas. Muitas vezes lutavam completamente nus com as suas longas cabeleiras, as tranças clareadas com limão!
Eram muito fechados nas suas hierarquias. O povo dividia-se em três principais classes:
- o rei ou a rainha;
- a classe superior, os guerreiros, com os seus grandes bigodes;
- e a classe baixa, escravos e trabalhadores, a maioria agricultores.
E os druidas sempre escolhidos entre gente da classe superior; muitos lutavam entre si para se fazerem notar e ganhar um lugar entre estes “sacerdotes”, que por vezes tinham mais poder do que os reis (tal como se passou e ainda passa em muitas outras religiões). O treino para se chegar a poder praticar o culto durava vinte anos!
Não iam à guerra, mas previamente aconselhavam o rei e os guerreiros sobre a melhor data para as batalhas, e sempre participavam do espólio colhido pelos vencedores.
Eram eles que estabeleciam a “ligação” entre o supernatural e os homens, e adoravam sobretudo dois deuses: Sucellos, o deus do céu e Nodens, o deus das nuvens e da chuva.
Vem de um banquete, em 355 a.C. entre Alexandre, o Grande, e alguns celtas no golfo da Jónia, (a caminho da sua invasão na Ásia Menor) a célebre frase que sempre se encontra nos maravilhosos livros do Asterix: Alexandre perguntou-lhes o que mais temiam neste mundo: “Que o céu nos caia sobre a cabeça! ”
 

16/05/2015

segunda-feira, 25 de maio de 2015


Portugas e lisboetas: deixem de se lamentar!


Rio -Lisboa


Magnífica crónica do grande jornalista Joaquim Ferreira dos Santos


O bom de descer as ladeiras de Lisboa é que durante alguns dias você está longe da selvageria carioca, pode sentir a nostalgia de sair flanando como fazia antes nas ruas da sua cidade. Zero de medo. Assim como quem não quer nada, um sorvete da Santini numa das mãos, você vai Rua do Carmo abaixo, passa pela luvaria Ulisses e, quando dá com os cornos no Rossio, o largo monumental po­de fazer a surpresa de oferecer uma festa de máscaras ibéricas, comidas e danças por to­dos os lados, mas nunca a cena de um médi­co ensanguentado no chão do Café Nicola, esfaqueado por algum garoto que em segui­da lhe roubou a bicicleta e foi embora.
Isto aqui é Lisboa, opa. Zero de deslumbra­mento. As escolas de Portugal acabaram de ser avaliadas em trigésimo lugar num ranking de 38 sistemas educacionais europeus, há muita coisa a ser feita, mas o bom listo aqui é que se vive em paz com os pequenos valores da existência. Zero de sobressaltos. A delícia antiga de se ir ali à esquina e, a ordem natural da felicidade das coisas, voltar sem que a polícia lhe tenha metido uma bala perdida nas costas.
Agora, por exemplo, você está na ladeira do Príncipe Real e basta pôr os pés na faixa de pedestres para que os carros parem até você legar do outro lado. Aí é só começar a descer a rua por uma calçada de pedras portuguesas, todas postas em seus lugares, nenhuma solta e chamando os pés para um tropeço que pode para sempre lhe estuporar os joelhos e desgraçar a sobrevivência.
Não está acontecendo nada de muito notá­vel, Lisboa está linda, mas não se faz aqui um regis­tro de qualquer grande marco a se exaltar na re­volução civilizatória moderna. É apenas uma ci­dade que tem se descoberto feliz consigo mesma.
Lisboa está coberta dos caminhos simples, ver­dadeiros yellow-brick-roads para se levar a vida com leveza, essa carência carioca, e num deles você desce o Bairro Alto, atravessa o Largo Luís de Camões, pega a Rua Alecrim e, ao final, apesar de todas as modernidades da Rua Nova do Carvalho, é possível encontrar ainda de pé as tascas da tra­dição gastronómica. Tudo convive sem conflito. Ao contrário do Rio onde toda semana fecham uma mesa na memória do paladar e tiram da bo­ca do cidadão um gosto familiar, em Lisboa é pos­sível sentar num tamborete do quase botequim Sol e Pesca para comer as conservas que há sécu­los apetecem ao apetite local. Ninguém mais sabe ao certo o que é antigo e o que é moderno. As sar­dinhas continuam nas latas, o azeite continua de oliva, mas o estilo de tudo isso agora vem embru­lhado em papéis do mais fino design.
Isto aqui é Lisboa, ó pá, e isto não é o anúncio de que o mundo está sendo reinventado a partir de suas oito colinas. Os políticos corruptos tam­bém estão, como os ratos de sua corja internacional, nas capas do "Expresso" e do "Público". Mas na vida real do dia a dia a cidade encontrou um jeito delicado de lustrar os seus casarões magníficos, parecidos com os que todo mês desabam na Lapa carioca e, ao mesmo tempo em que se orgulha deles, reinventa suas funções. Não há mais loja de roupa, mas de "conceito" e portuguesa de bigode era a vovozinha. Agora as garotas são todas "giras” o termo local para traduzir o "cool"
A sensação em alguns momentos é que você vai sair da Rua Augusta, tomar uma ginja no canto da Praça da Figueira e quando dobrar em direção ao Largo dos Intendentes vai dar na verdade nos Arcos da Lapa. Mas é só impressão. As ruas são limpas, os garçons servem às mesas com presteza, os telhados são os mais bonitos do mundo e as praças estão sempre tomadas por se­nhoras que descansam ou jovens, no Quiosque do Refresco, animados por doses de capilé. Taga­relam, paqueram, o de sempre. Ninguém aporrinha o próximo.
O Cais do Sodré, por exemplo, está basica­mente o mesmo de sete anos atrás. Mas se você prestar bem a atenção, andar para a direita e entrar no Mercado da Ribeira, lá sobrevive o co­mércio tradicional das barracas dos tripeiros, convivendo com os stands da nova culinária portuguesa, tudo redesenhado sob o patrocí­nio da revista "Time Out" - e é impossível ao carioca não pensar que um dia, sem precisar ir tão longe, poderia estar assim, curtindo a vida em paz, comprando suas flores, gastan­do pouco, beliscando o que quisesse, na Cadeg de Benfíca. Depois, sem entrar em pâni­co, passaria pela Barreira do Vasco e chegaria em casa para contar aos que ficaram como foi bom.
Ao carioca-da-semana-passada, um dos períodos mais tristes da vida da cidade, foi preciso ir até Lisboa para recolher histórias de não acontecimentos, comer um bacalhau ao sossego e ter a sensação inenarrável de que não corre o risco de ser assassinado na próxima esquina - é em Lisboa esses so­nhos, essas pataniscas simples, parecem cada vez mais fáceis de se realizarem. A cidade se pacificou com suas tradições, entendeu feliz que um bom jeito de avançar é o da refazenda das suas guarirobas. Ao invés de gourmet, os pastéis de Belém procuram resgatar a receita original. E se em algum momento a cidade tentou esquecer Amália Rodrigues, por causa de suas relações com Salazar, Lis­boa agora, em mais um arroubo de orgulho pelas suas referências, está cercada de moto­ristas de táxi com os carros sintonizados na recente Rádio Amália, um chorrilho de 24 horas de fados da grande cantora.
Na chegada ao Galeão, o carioca-da-semana-passada foi cercado pela notória turba­multa de taxistas. Sonhou que uma Rádio Elizete Cardoso iniciava o processo de pacifi­cação geral e convocava a cidade a guardar suas facas.


sexta-feira, 22 de maio de 2015

_Sortes de Gaiola_: Homenagem ao SENHOR António Paim...

_Sortes de Gaiola_: Homenagem ao SENHOR António Paim...: Foi hoje sepultado um Senhor que muito estimava e considerava, e ao qual há uns anos escrevi esta carta pública que hoje volto a publicar c...

terça-feira, 19 de maio de 2015



As pedras dos “Sarracenos”

Esta coisa de ser curioso, de ir atrás do que se apresenta um tanto nebuloso, é uma “atividade” que me dá prazer e por vezes muita luta.
Uma delas, como já tenho mostrado é o “porque” das palavras significarem “o que”, isto é cutucar na etimologia até encontrar o que procuro ou... ficar por isso mesmo.
A propósito, “curioso” vem do latim, com base em cura, atenção, cuidado. E depois vem curiosidade, misericórdia, saúde (cura), o padre cura da aldeia, etc. Que dá muito gozo, a mim, dá.
Há uns anos ao ler uns livros da história antiga das Ilhas Britânicas, deparei com algo que me cutucou (desta vez, cutucar é uma palavra brasileira, do tupi cotuca, picada, ferroada).
Em Avebury, Wiltshire, há um sítio arqueológico sensacional, cuja “construção” se situa em cerca de 3.000 anos a.C., com uma elevada quantidade de blocos de pedra, pesando por vezes dezenas de toneladas, dispostas em circunferência por dentro de um henge.
Henge a Neolithic or Bronze Age structure found in British Isles, consisting of a large circular earthwork often enclosing an arrangement of standing stones, wooden posts, mounds or buri at pils.
Uma vala de três ou mais metros de profundidade, normalmente circular, por vezes oblonga, em que a terra dela retirada foi colocada na parte exterior da vala.

 Avebury, Wiltshire

Nesta foto vê-se bem a vala (henge) e os blocos de pedra que permanecem no local, uma vez que se sabe que ao longo de tantos milénios muitas foram dali retiradas para...
Compare-se o tamanho de algumas pedras com as pessoas que lhes estão ao lado!
A estas pedras, lá em Avebury chamam-lhes sarcens: Only twenty seven of the original stones now remain. These stones, called “sarsens” (meaning “saracen” or foreign to the indigenous chalk), o que será sarracenos no dialeto local.
Sarracenos? Para pedras que ali foram colocadas há uns 5.000 anos? Não pode ser. E comecei a perguntar a alguns ingleses, sem que algum fosse capaz sequer de me responder.
Há pouco tempo, noutro livro sobre o mesmo período aparece Stonehenge, mais do que famoso, mas com uma nota que me veio inflamar outra vez a curiosidade:
“Os sarcens, do anel exterior pesam cerca de 25 toneladas cada.”


 Tu quoque, Stonehenge? Volta à baila o porque dos sarracenos!
“Histórias” de sarracenos só poderiam ter chegado à Britânia, por volta do ano 1000, possivelmente depois que se tomou conhecimento dos desaforos que o tal Al-Hakim fez em Jerusalém em 1009.
Aqueles pedregulhos eram, mais para trás, conhecidos por heaten stones, o que significa pedras dos pagãos, idólatras, selvagens.
Os historiadores são unânimes em afirmar que estes henge (chamado ao conjunto do local) não teriam finalidades cerimoniais, apesar de encontrarem evidências que mostram preciso conhecimento, por exemplo, de solstícios. Mas atribuir a culto de druidas, quando os druidas foram para às Ilhas Britânicas com os celtas, cerca de cinco séculos antes da nossa era, é demais. Ninguém sabe para que serviriam estes monumentos, mas atendendo a que têm no máximo três entradas, normalmente uma e mais raro duas, pode-se imaginar que seriam praças para mercados, por exemplo, até pelas largas centenas que se encontram espalhadas pelas ilhas.
Pergunta, pesquisa, diversos prestimosos colaboradores dando dicas, até que um dia chegou a resposta.
No final encontramos, por indicação de um clever inglês, Philip Masheter, em www.sarsen.org:
The country folk, always picturesquely minded, call them "Grey Wethers," and indeed in North Wilts, it is not hard to conjure up their poetic resemblance to a flock of titanic sheep, reclining at ease upon the pasturage of the Downs. The alternative name Sarsen, has an interesting derivation. It is a corruption of the word "Saracen." But what have Saracens to do with Wiltshire? Frankly nothing. The name has come to the stones from Stonehenge itself, and is a part of that ever interesting confusion of ideas, which has been bequeathed to us by our ancestors of the Middle Ages. To them all stone circles and megalithic monuments were the work of heathens, if not of the devil himself. Heathenism and all its works was roundly condemned, whether it be Celtic, Mahomedan, or Pagan; and the condemnation was as concise and universal as the phrase "Jews, Turks, Infidels, and Heretics" of the Christian Prayer Book to-day. In the early days of the Moyen Age, the Saracen stood for all that was antagonistic to Christianity. Consequently the stones of Stonehenge were Saracen or heathen stones, which the Wiltshire tongue has shortened in due time to Sarsen.
Traduzindo:
A gente do campo, na sua mentalidade pitoresca chamava-as de Grey Wethers, “Carneiros Cinzentos” e não é difícil imaginar a sua semelhança “poética” com um rebanho de ovelhas titânicas, descansando à vontade nas pastagens das terras planas do Norte de Wilt. A alternativa para “sarcens” é uma corruptela da palavra Saracen. Mas o que tem sarracenos a ver com Wiltshire? Francamente, nada. O nome veio para as pedras de Stonehenge, e é parte dessa confusão já interessante de ideias, que tem sido legada por nossos antepassados da Idade Média. Para eles todos os círculos de pedra e monumentos megalíticos foram obra de pagãos, se não do próprio diabo. Paganismo, e todas as suas obras, foi severamente condenado, seja celta, maometano ou pagão; e a condenação foi tão concisa e universal, como a frase judeus, turcos, infiéis e hereges do livro cristão de orações de hoje. Nos primórdios da Idade Média, o sarraceno ficou por tudo o que era antagônico ao cristianismo. Consequentemente as pedras de Stonehenge passaram de “pedras de pagãos” a “sarracenos”, que na língua de Wiltshire se encurtou para sarcens.

Não admira que lhes chamassem pedras do diabo. Pode-se imaginar o trabalho que deu para as colocarem onde estão. Milhares de trabalhadores, milhares de horas, dias e anos, só obra dos demónios. Algumas das pedras de Stonehenge foram levadas de Wales a mais de 240 quilómetros de distância.
São obras da grandeza das pirâmides, pela sua monumentalidade.
E assim finalmente “descoberto” o mistério dos sarcens, numa altura em que os tais fundamentalistas sarracenos estão a dar tanto que falar, e até de chorar.
Pena não se poderem pô-los a carregar “pedrinhas” daquelas nas costas!

28/04/2015


quinta-feira, 14 de maio de 2015



O velho Januário


Fazia um calor do cão. Seco, de torrar a cabeça de quem não usasse chapéu.
Na casa onde nascera, no sertão da caatinga, o velho Januário, que há anos vivia sozinho, festejava com a família os seus 100 anos, com o sol, implacável como sempre, a castigar os valentes que por ali se atrevessem a estar, pior, a ficar. A perder de vista um juazeiro aqui outro mais além, espinhosas anãs e corcundas com os galhos secos a desafiarem a canícula, a terra vermelha.
Casa velha, velhinha, cheia de remendos, sempre cuidada e limpa, telhado sem goteiras, aliás inúteis porque a chuva ali o seu Januário dizia que não caía coisa que se visse há mais de ano, numa tosca mesa umas imagens da Senhora da Conceição e de Aparecida, ao lado das fotos da mulher e dos filhos e uma em que quase nada já se via, do dia do seu casamento. Na parede um velho crucifixo e um poster amarelado do Bom Papa João XXIII.

Tava rijo e são o bom do velho, cabelinho branco, ralo e de uma alvura linda, calejado e tisnado, cara bem enrugada, sabia que aquela figura, esquelética, escondida debaixo dum capuz e com a foice na mão, há tempos lhe rondava a vida. Não se amedrontava, nem pensava nisso. Esperava, tranquilo, a hora para ir ter com a sua saudosa e querida esposa com quem vivera perto de setenta anos e também com alguns dos filhos que se lembraram de partir mais cedo. Mas continuava todos os dias, sem jamais descansar, a procurar desde antes do raiar da aurora, um pouco de grama ou o que pudesse não deixar morrer de fome três ou quatro de cabeças de gado, já que as cabras bem se desenvencilhavam comendo tudo, e as galinhas ciscavam em todo o canto.
Nesse dia juntou quase toda a família. Filhos e filhas, noras e genros, netos e bisnetos, vieram de todo aquele sertão, uns quantos da cidade, dois até da capital, juntar-se à festa. Naquele grupo havia já um médico, advogados e comerciantes. Raros os que se mantiveram agarrados a um pedaço inóspito e ingrato daquelas terras. Não trouxeram presentes que o velho desprezava, mas comida e bebida para que todos vivenciassem com alegria tão importante momento. Vô Januário matara até o último porco, magro, que comprara ainda leitãozinho já a contar com este dia.
Netos e bisnetos nem todos se conheciam, e o encontro foi motivo de grande satisfação.
Os mais velhos, idosos, aposentados, procuravam relembrar momentos da infância e adolescência vivida naquele casebre onde se criaram, as brincadeiras que inventavam e os trabalhos para ajudar os pais, enquanto a garotada não parava de brincar e correr em volta da casa, procurar “novos” bichinhos pelo ralo mato em derredor, e o anfitrião feliz e agradecendo a vida que teve, dura, privado de conforto, mas que lhe dera uma prole magnífica. Revia-se nos filhos, admirava o tamanho dos netos já adultos e enchia-se de ternura com os bisnetos a quem acariciava e abençoava com as suas mãos calejadas.
Fora da casa estacionavam, pacientes, os vários meios de transporte que os descendentes usaram para ali chegar: uns jegues, uma mula, duas carroças e até, para espanto de alguns, três automóveis.
Bem comidos e bebidos, a conversa começava a perder a vivacidade e diminuir de volume sonoro porque o estômago lhes absorvia parte da necessária energia, alguns roncando num canto do casebre.
Vô Januário desde o ano anterior havia começado a preparar uma boa pinga, da melhor, porque 100 anos não se festejam sem grande festa, e não deixava de acompanhar os vários brindes de “saúde” e os “tchim-tchim” com que os presentes o brindavam, desejando-lhe ainda muitos anos de vida.
Aguentava ele bem o tranco, as peles da face mudavam do tisnado para um bonito tom de rosa escuro, quando pediu que todos se calassem. Queria dizer-lhes alguma coisa que era importante.
Fez-se silêncio, mandaram que se aquietassem as crianças ou fossem para longe, o avô ia falar!
Vô Januário, sentado num banco um pouco mais alto, a família como que em anfiteatro, olhou para todos com um sorriso de alma limpa, e na sua foz rouca:
Meus filho, netos e bisneto. Todos sabem, ou deviam saber que nesta casa, construída com muito suor e sacrifício pelo meu pai que Deus tem, foi onde eu nasci. Nunca daqui saí a não ser as poucas veiz que fui à cidade, onde sentia que não era lugar para mim, habituado a esta simplicidade, pobreza, sim, também, mas onde nunca se viu alguém faltar ao respeito aos pais ou até entre irmãos. Todos cresceram à sombra da palavra que sempre honraram. Nesta casa nasceram os nove filhos, que só seis ainda aqui estão porque o Pai do Céu achou que precisava lá no Alto de mais alguns anjinhos para o ajudarem.
Há algum tempo, que para mim tem sido muito e difícil de suportar, a vossa mãe foi encontrá-los e sei que estão todos Lá à minha espera. Irei quando o Senhor Deus, o Pai do Céu, quiser.
Desta terra seca, cheia de pó voando quando entram os ventos, terra de retirantes e pobreza, com muito esforço e muita fé conseguimos tirar o suficiente para criar os seis filhos e filhas que sobreviveram. E que foram à escola aprender o que os mais velhos nunca conseguimos.
Foi a natureza que nos deu tudo, até a coragem para não baixar os braços e não desanimar na luta permanente.
Falta pouco para a “malvada com a foice” me vir buscar. Há muito que a aguardo, e às vezes, de noite, sonho com ela e sorrio, o que a deve deixar muito desanimada. Prova disso é que não aparece! (Risos da família). Mas ela é teimosa e ninguém pode fugir dela muito tempo.
Uma coisa vos quero pedir, e que levem muito a sério.
Foi esta natureza, seca e dura, que, como disse, nos deu toda a vida que levámos. A ela devo tudo quanto fui e quanto tenho.
Quando eu fechar os olhos, quero que me prometam que me ajudarão a pagar-lhe o muito que recebi.
Não quero funeral, nem caixão, nem velório, nem velas acesas, nem cemitério. Nada disso.
Envolvam o meu corpo, nu, nuzinho, pelado de tudo, num pano velho e vão depositar-me lá no alto daquela elevação. Deitam-me de barriga para o ar, tragam o pano de volta e deixem-me ali ficar.
Aquilo que recebi vou devolver aos urubus, corvos, formigas, minhocas e quem sabe até a um lindo lobo guará, ou mesmo à rainha do mato, a onça pintada. Assim conseguirei saldar parte da minha dívida.
Os ossos, com o sol forte e inclemente e o tempo quente, acabarão também em poeira.
Para o caso da papelada, vocês vão dizer que quando aqui voltaram não me encontraram, ninguém sabia de mim, que há muito não me viam, e que eu deveria ter morrido andando lá no meio do nada.
Também tudo quanto tenho para vos deixar é este pedaço de terra que não vale um mirréis furado!
Não se preocupem. A partir do momento que fechar os olhos, o velho Januário não vai preocupar-se mais com as coisas deste mundo. E vocês, quando pensarem em mim não é para se lembrarem dum velho quase sem dentes, mas do que vos ensinei e do exemplo que procurei dar-vos.
Sois todos gente honrada.
Que mais posso eu pedir a Deus?


31/03/2015

domingo, 10 de maio de 2015


Do Brasil                                                                                                                             

Será isto o Islão do entendimento?
O ensino nas mesquitas?

Fora da curva no Dia das Mães

Por Dorrit Harazum, jornalista – “O Globo”, 10/05/2015

Farkhunda. Não é preciso saber pronunciar corretamente o prenome dessa afegã de 27 anos para embarcar na corren­te de indignação. Adesões têm se mul­tiplicado há dois meses, atravessaram fronteiras e percorrem as redes sociais em todas as línguas imagináveis. Para a histórica revista feminista "Ms.”, cofundada por Gloria Steinem nos anos 1970, o caso da jovem merece ser cha­mado de crime contra a humanidade.
Filha de pai engenheiro e mãe com ensino médio completo, Farkhunda cursara a faculdade de Matemática antes de optar pelos estudos do Direi­to Islâmico numa madrassa. Nascera, portanto, numa família de formação excepcional para um país que há qua­tro décadas está em guerra ou foi go­vernado por extremistas do Talibã que proibiam meninas de estudar.
Na manhã de 19 de março passado, a jovem decidiu enfrentar o bando de ambulantes que vendia amuletos para mulheres numa mesquita adjacente a um famoso santuário de Cabul. Fark­hunda considerava imprópria a atividade mercantil naquele local de oração, e também criticava a atuação de videntes que apelavam à superstição de fiéis. Pretendia convencê-los a sair dali.
O que se seguiu à luz do dia no pátio de uma mesquita a poucos metros do palácio presidencial, numa cidade que é a 64a maior do mundo, foi selvagem.
Diálogo não houve e a discussão, breve, logo atropelada pela acusação fatal, em voz alta, de um funcionário do santuário: "Essa mulher é uma in­fiel. Ela queimou páginas do Corão." De imediato o esparso aglomerado inicial de gente adensou-se e virou multidão, com centenas de homens fechando um cerco em torno de Fark­hunda e passando a xingá-la.
De um dos muitos punhos veio o primeiro soco, seguido de pedras e paralelepípedos. Um dos golpes com tábua de madeira a fez voar. O véu lhe foi arrancado como blasfémia. Nem quando ela já estava abatida no chão a selvageria diminuiu: houve homen­zarrões que deram pulos de vitória em cima do corpo estendido.
Essas e outras tantas sequências fo­ram sendo captadas pelos celulares em mãos das crianças e adolescentes que iam se esgueirando em busca do melhor ângulo. Horror maior do que o close do rosto desfigurado da jovem talvez seja a imagem da mão infantil que segura o celular e busca esse close do rosto desfigurado.
Ao final, um dos perpetradores ainda passou o automóvel por cima do corpo de Farkhunda, que é arrastado por algu­mas ruas de Cabul e incendiado numa das margens do rio poluído da capital.
Em momento algum um só polici­al presente interveio ou fez menção de intervir.
O sinal de que tudo isso poderia não ser totalmente em vão ocorreu no momento do enterro, quando o país que assistia à transmissão viu o cai­xão ser carregado só por mulheres, ao arrepio da milenar tradição de om­bros masculinos. Um solitário pinhei­ro também havia sido plantado por ativistas de um pequeno partido de oposição no local em que o corpo da jovem fora incendiado. "Se não levan­tarmos a voz, mais Farkhundas have­rão de ser incineradas no inferno do islamismo”, explicara o líder do grupo.
Entidades feministas mundiais decretaram uma espécie de estado de alerta enquanto no Afeganistão a pa­lavra de ordem, abraçada por homens e mulheres, passou a ser "Somos to­dos Farkhunda. Queremos justiça"
Não teve outro jeito. As autoridades afegãs tiveram de admitir que a jovem vivera como muçulmana devota e que era falsa a acusação da queima de páginas do Corão feita pelo funci­onário do santuário.
Assim, Farkhunda passou de pária a mártir e começa a ser vista como heroína por ter desafiado um homem na defesa do Islã.
Esta semana, um tribunal de primei­ra instância de Cabul anunciou as sen­tenças para 30 dos 49 acusados pela morte da jovem: quatro condenações à morte, oito condenados a 16 anos de prisão e 18 absolvidos, entre eles o que achou necessário passar com o carro por cima do corpo inerte. Os 19 restan­tes são todos policiais acusados de ne­gligência, cujas sentenças devem ser anunciadas ainda hoje.
É possível celebrar o fato de a famí­lia de Farkhunda ter decidido adotar orgulhosamente o nome da filha co­mo sobrenome, quando é comum afegãos se identificarem a vida inteira apenas pelo prenome. Ademais, con­trariamente à insistência da polícia para que saíssem da capital, todos continuam morando em Cabul.
Outros aplaudem o compromisso assumido pelo Ministério de Ques­tões Religiosas de banir tanto vende­dores de amuletos quanto videntes em santuários. Fala-se até mesmo em renomear uma rua em homenagem à jovem.
Ainda assim, a reabilitação de Farkhunda através de sua morte não elimina a distorção principal de que foi alvo em vida. Farkhunda morreu aba­tida como animal por ser mulher.

Dorrit Harazim é jornalista

N.- Se alguém tiver coragem que veja na Internet (procure Fakhunda) a bestialidade de fotos e de videos.
São um horror. Só isto já justificaria tudo quanto os americanos lá andam a fazer. Infelizmente mal feito, como é hábito deles.
Os homens, em bando, são uns covardes fdp! Riem olhando para a mártir enquanto a arrastam, morta, e continuam a apedrejá-la! Como se fosse um joguinho! Infâmia.
Um clérigo ainda levantou a voz para dizer que ela "tinha merecido o que lhe fizeram!"
Um drone que “cumprimentasse” aquela mesquita seria um bem para a humanidade!

A nossa capacidade criativa jamais poderia pensar que tal bestialidade pudesse existir. COVARDES!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Carta enviada à redação do jornal "O Globo"
Para variar, NUNCA publicaram qualquer das minhas críticas ou observações! Como a madama presidenta que nem acusa a recpção do que mando!

Às voltas com Zumbi


Muito gostam determinados indivíduos de falar, e enaltecer, um hipotético Zumbi.
Desta vez foi o senhor Irapuã Santana que escreveu para “O Globo” e sempre martelando na nota da descriminação racial.
Só um pouco de “marcha à ré” e lembrar os feitos de Zumbi:
- atraiçoou e assassinou o tio, Ganga Zumba, que depois de lutar mais de 30 anos contra o governo, tinha negociado, como ninguém, liberdade e direitos para os escravos;
- a seguir o próprio Zumbi, arvorou-se em rei, rodeou-se de escravos e tratava-os tão mal quanto qualquer escravocrata da época. Os textos coesos o mostram claramente.
Qual é afinal o legado de Zumbi? A luta contra a escravidão? Essa não foi com certeza.
Descriminação racial? Também não.
O que ele não queria, e nisso estamos de acordo, era não servir a terceiros, quer como escravo ou liberto, o que também desejei toda a vida e não consegui. Queria a sua independência e, enquanto a teve, foi um senhor de escravos, também. Era assim em África desde tempos imemoriais, porque não haveria de ser no Novo Continente?
Quer o senhor Irapuã que durante o feriado de Zumbi, Dia da Consciência Negra, se discuta a descriminação racial.
Há alguns anos que este tema tem sido muito discutido e, de forma insistente, procurando impor ao povo brasileiro que somos um povo racista.
Não senhor Irapuã, não somos um povo racista, mas um povo que navega às escuras, desgovernado, sem que se deem oportunidades iguais a todos. Agora o senhor vai dizer: É isso mesmo. É, mas isso não começa por distinguir as cores das peles, mas por promover um ensino básico de qualidade para que todos possam chegar onde chegou, por exemplo, o grande ministro Joaquim Barbosa.
Não é racismo que existe: é desprezo pelo povo, povo de qualquer cor de pele, e eu conheci muito bem esse problema porque tive netos em escolas públicas e vi o quanto eram maltratados, desprezados pelos professores.
E não acha o senhor Irapuã estranho que não haja o Dia da Consciência do Índio? Com mais razão ainda do que o da Consciência Negra? Afinal europeus e africanos ocuparam as terras que eram deles!
O que falta no Brasil é o Dia da Consciência Nacional, que só se empolga quando ganhamos um campeonato de futebol!
Há anos saiu uma lei obrigando ao ensino da cultura africana. O que se fez sobre isso? O que faz, por exemplo, o Município de Mauá – SP nas suas escolas?
E o ensino da cultura indígena? Alguém, até no seu Município, conhece alguma coisa de Tupi-Guarani?
Costumes, tribos?
Fala-se demais em “discriminação social”, enfeitam-se notícias sobre “desenvolvimento social”, mas o Brasil permanece em vergonhosa situação de IDH.
Racismo existe sim, em muitos lugares, como por exemplo nos EUA, na África do Sul, agora negros contra negros, mas no Brasil o que existe mesmo é segregação financeira.

“Tudo tens tudo vales, qualquer que seja a tua pele” ou “Nada tens nada vales”.

Rio, 06/05/2015 

terça-feira, 5 de maio de 2015



Nepal e o Mediterrâneo

1.- Nepal e o Boxe

Um horror este terremoto no Nepal. Milhares de mortos, muito mais milhares de feridos, milhares de casas e monumentos destruídos, a população com dificuldades incríveis para ser socorrida, uma catástrofe imensa.
Famílias que perderam tudo, casa, recheio, roupas, etc., e nada têm para comer!
Muitos países correm para lá com equipas de socorro, alimentos, hospitais de campanha. Pelas contas da Unesco são necessários uns US$ 500 milhões para socorrer e dar de comer àquela população e reorganizar um pouco a vida.
Para mim essa verba é quase inimaginável, mas quando sabemos que o número de bilionários, pelo mundo, dobrou em cinco anos, e bilionários contam os seus dinheiros aos bilhões, parecia fácil com um ou dois cheques desses açambarcadores resolver-se o problema. Mas é o povo que contribui, um pouco de cada um, que por vezes esse pouco de “um” pode até ser muito.
Paralelamente vimos uma desmesurada propaganda na TV sobre o combate de boxe do século! Em Las Vegas, é claro.
Só para entrar no ringue um dos contendores recebeu 180 milhões de dólares e o outro 120 milhões! E a organização gaba-se de que com a venda de ingressos (entre 1,5 e 7,5 milhares de dólares cada) e mais a venda de imagem para as TVs de todo o mundo e a publicidade, devem fazer mais 500 milhões. Um grande, enorme, negócio para que se vejam homens à porrada!
Escândalo! Vergonha! Podiam ir para a Síria ou Líbia. Bestialidade é a mesma!
Só para que dois brutos se esmurrem e um monte de carniceiros pague para ver a bestialidade humana no seu melhor, gasta-se o dobro do que seria necessário para resolver o problema da alimentação dos flagelados e reconstrução do Nepal.
É nestas alturas que eu tenho vergonha de ter aparecido na Terra como humano. Preferia ter reencarnado como barata, rato, qualquer coisa que não me envergonhasse.
O contraste é tão grande, violento, que mostra bem como os homens perdem o senso da ética e que a palavra humanidade não tem qualquer valor nem significado.

1.- O Mediterrâneo e o Negócio dos Refugiados

Todos os dias milhares de.. ia a dizer de fugitivos da fome e da guerra, morrem estupida e covardemente na tentativa de chegarem à Europa, o sonhado, e falso, Eldorado.
Mas... serão todos, mesmo todos, desgraçados?
Não dá para acreditar.
A partir da Líbia, o embarque é feito sob o controle dos jihadistas, e só embarca quem lhes tiver pago alguns milhares de Euros, ou para eles tenha trabalhado, como escravo, até 4 e 5 anos como alguns já o afirmaram.
Uma boa parte deles são mesmo os tais desgraçados que fogem à fome e guerra, mas outra boa percentagem será de terroristas que se estão a infiltrar na Europa para depois espalharem ainda mais o terror e a guerrilha, porque o EI não desiste, e sabe muito bem como alcançar o que se propõe.
É evidente que à chegada, sobretudo na Itália, é extremamente difícil fazer a triagem do quem é quem. Pior ainda àqueles que chegam à Grécia atravessando a fronteira a pé.
O que se pode ter a certeza é de várias coisas:
- os jihadistas estão a receber diariamente milhões de dólares dos que procuram alcançar a Europa;
- no meio desses, uma percentagem, desconhecida, será de guerrilheiros treinados;
- a Europa não tem meios de albergar toda a gente que chega;
- pior ainda, não tem capacidade nem meios para distinguir os que procuram paz, comida e trabalho, dos que vão para aguardar ordens para o terror;
- a Europa não é responsável pela loucura do avanço da jihad, nem das guerras no Sudão, etc. (Falaremos disto noutra ocasião!);
- alguém, além dos jihadistas está a lucrar muito com este monstruoso crime, vendendo barcos infláveis, motores outboard, e armas, muitas armas, aos selvagens fundamentalistas, quer seja no Iraque, Líbia Nigéria, etc.
Vêm-se artigos nos jornais “perguntando” porque não se vão refugiar em países muçulmanos e ricos como os árabes! É piada de jornalista. Nos árabes não entram de jeito maneira.
Ainda há dias, cinco contrabandistas foram degolados na Arábia Saudita, e o mundo... valou. Só fala nos condenados ao fuzilamento na Indonésia!
Fogem desgraçados da Nigéria, o maior produtor de petróleo de toda a África... e também estão a sair do Brasil o país do eldorado do ex-famoso pré-sal!
Onde estão os refugiados da Síria e do Iraque? A maioria, e há muitos anos, no Líbano. Por exceção muitos também na Jordânia.
Quem cuida dessa gente? O Crescente Vermelho ou a Cruz Vermelha?
Onde estão as fontes do dinheiro barato, pelo menos até agora? Nos trabalhadores da Europa ou nos poços de petróleo dos sultões, emires, e outros podres de grana?
De tudo isto algumas conclusões:
- a cristandade, espalhada pelo mundo, o que tem feito para ajudar os perseguidos e em vias de extinção cristãos siríacos, católicos, coptas, etc. na Síria, Iraque e outros países? Nada ou quase nada.
- os países árabes, das riquezas inesgotáveis e dos príncipes muçulmanos que gastam, em seus países, fortunas em noitadas de orgias, prostitutas e álcool, porque não acolhem os seus correligionários de religião?
- o que pode fazer a Europa para interromper este fluxo assassino que sai, sobretudo da Líbia? Bloquear os mares da Líbia, como fizeram os ingleses a Lisboa no século XVIII? Difícil, dizem os “politicamente corretos”, porque iriam entrar em águas territoriais de outro país sem que este o tenha solicitado! Que piada besta! Alguma vez se pede licença para começar uma guerra ou para tentar acabar como uma carnificina?

Repetindo o que acima já disse: porque eu não nasci minhoca, cágado ou urubu?


02/05/2015

sábado, 2 de maio de 2015

Lembrando a chegada da frota comandada por Pedro Álvares Cabral 
ao território onde hoje se localiza o Brasil: 22 de abril de 1500


"Pátria-Mãe!"
pelo General Exército Paulo Cesar de CASTRO,
(último Chefe do DEP, atual DECEX (Departamento de Educação e Cultura do Exército), e Acadêmico da AHIMTB - Academia de História Militar Terrestre do Brasil.)

"Quando, triste e envergonhado, leio a mentira divulgada em textos revisionistas... quando, feliz e orgulhoso, associo-me às comemorações da data magna de Portugal, ainda que dela nenhuma referência tenha encontrado na imprensa brasileira, brado com emoção..." 
...Obrigado, Portugal, Pátria-Mãe do meu Brasil!
Obrigado porque teus descobridores partiram da ocidental praia lusitana e, por mares nunca d'antes navegados, foram bem além do Bojador, além da dor, e descobriram para o mundo a terra onde eu nasci.
Obrigado por teres batizado esta parte do Novo Mundo de Terra de Santa Cruz, e que se fez conhecida como Brasil. Nas velas enfunadas da esquadra de Pedro Álvares Cabral, teus navegadores, a cruz e a espada lado a lado, revelaram-nos e marcaram-nos para sempre com a Cruz da Ordem de Cristo. E, de imediato, mandou o Descobridor celebrar missa em louvor a Nosso Senhor Jesus Cristo, fazendo do Brasil a Nação cristã da qual e do que todos nos orgulhamos. Obrigado pelo cristianismo!
Obrigado pela última flor do Lácio, inculta e bela! Porque tu, Portugal, nos colonizaste, herdamos o idioma que Luiz Vaz de Camões e Fernando Pessoa imortalizaram. Obrigado, pois que, assim, permitiste que na tua língua latina se imortalizassem Machado de Assis, Castro Alves, Olavo Bilac, Rui Barbosa, Gustavo Barroso e outros patrícios que bem a esgrimiram. Graças ao teu Português, ao nosso Português, os cento e noventa milhões de brasileiros se expressam e se entendem, emprestando unidade exemplar à Nação. É por meio do idioma de nossos antepassados luso-brasileiros que se entendem o caboclo da Amazônia e o capoeirista da Bahia, o jangadeiro nordestino e o empresário paulista, o gaúcho dos pampas e o seringueiro do Acre, o sambista carioca e o boiadeiro do pantanal, o seresteiro das Minas Gerais e o índio de todas as tribos. Obrigado pelo idioma que nos une e nos faz Nação! 
Obrigado pelo território que nos legaste! Obrigado pela audácia, bravura, coragem, empreendedorismo e despojamento dos teus e dos nossos bandeirantes e entradistas que ousaram transpor Tordesilhas. Povoados e vilas, rios e campos, riquezas e ciência, tudo legaram em função da obra desbravadora que tanto enriquece nossa História. Pelas mãos daqueles bravos e dos homens do litoral a Pátria foi sendo desbravada, demarcada e construída. Obrigado pelo território, magistralmente defendido por teus diplomatas, cuja obra tornou-se imortal nos teus tratados com Espanha, entre os quais sobressai o de Madrid. Obrigado pela terra que nos legaste.
Obrigado por esta mesma terra que para nós demarcaste e defendeste, semeando marcos, padrões e fortificações. Aí estão os fortes e fortalezas das Baías de Guanabara e de Todos os Santos. Aí estão as fortificações em todo o litoral, como, por exemplo, as do Recife, de Natal e Belém. Aí estão, sobretudo, provas da obstinação e da capacidade de teus engenheiros em Príncipe da Beira e em Coimbra. Obrigado, pois, pela riqueza histórica e cultural que, por meio tuas obras defensivas, tu nos presenteaste.
Obrigado pela coragem e bravura, pelo espírito combativo e destemido com que tu, Portugal, lideraste lusos e brasileiros nas lutas contra o invasor francês, no Rio de Janeiro e no Maranhão. Assim também nos combates contra o ousado invasor holandês, na Bahia, em Pernambuco e em outras praias do Nordeste. Da mesma forma, com determinação, comandaste os teus e os nossos nas pelejas contra os ingleses na calha amazônica.
Obrigado pela integridade do patrimônio territorial, afirmada e confirmada pela transmigração de tua Corte para o Rio de Janeiro, o que fez do monarca português o único rei europeu a visitar e a viver no Novo Mundo. Não fora a sábia e oportuna decisão tomada pelo Príncipe Regente, quem sabe como teríamos nosso País, quase metade da América do Sul, do qual desfrutamos em pleno Século XXI? Obrigado pelo legado da permanência da Corte no Brasil, de que são exemplos o Jardim Botânico e a Academia Militar das Agulhas Negras, o Banco do Brasil e o Arquivo Histórico do Exército, a Justiça Militar, a Polícia Militar do Rio de Janeiro e o Corpo de Fuzileiros Navais, exemplos lembrados a esmo entre tantos outros que bem poderiam ter sido recordados. Obrigado pela integridade do território.
Obrigado pela independência, proclamada pelo teu Pedro IV, que, em momento de magnífica lucidez e de amor ao Brasil, D. João VI deixou-nos como Príncipe Regente. Fizemo-nos independentes de ti, mas o sangue lusitano organizou o Império do Brasil e nos governou até a Regência. Não se pode esquecer que, também nas veias e artérias do brasileiro D. Pedro II corria o sangue de Portugal, filho de teu Rei D. Pedro IV. Obrigado pela voz que bradou "Independência ou Morte!".
Obrigado pelo verde e pelo amarelo, nossas cores nacionais desde o Império e que perpetuaram, em nosso pavilhão, as cores das dinastias de Bragança e dos Habsburgos. Nelas, hoje e no mundo inteiro, encontramos nossa identidade e por elas somos prontamente reconhecidos. São cores que fazem bater mais forte o coração do brasileiro. Elas estão em nossos quartéis, belonaves, aeronaves, edifícios públicos, estádios, legações e trajes desportivos. Obrigado aos da Casa de Bragança e aos da Casa dos Habsburgos por nossas cores nacionais.
Obrigado pelo jeito brasileiro de ser, tão marcado pela miscigenação adotada e praticada pelo colonizador. Porque os teus se miscigenaram, não somos racistas. Ao contrário, abominamos os que nos querem fazer ver e pensar de outra forma. Não fossem os teus e não teríamos as decantadas mulatas que tanto nos orgulham e que encantam platéias quando evoluem ao som de samba e do frevo, do maracatu e do boi bumbá.
Obrigado pelo legado artístico que hoje exibimos em nossas igrejas. São, os próprios templos, admiráveis obras de arte, com seus riquíssimos acervos em imagens, objetos de ouro e prata, pinturas e esculturas. Obrigado pelo que nos ensinaste e deixaste em arte sacra.
Obrigado pelo que nos ofereceste quando comemoramos, em 1972, o sesquicentenário de nossa independência. Deste-nos o corpo do próprio D. Pedro I, hoje guardado em venerável repouso no Monumento do Ipiranga, às margens do mesmo riacho no qual proclamou-nos Nação livre e soberana. Obrigado por deixá-lo repousar em terras brasílicas.
Obrigado pelos costumes, valores e tradições que nos fazem parte inconfundível da civilização ocidental. À tua predominante cultura somaram-se contribuições italianas e indígenas, espanholas e africanas, finlandesas e alemãs, japonesas e coreanas, holandesas e russas, todas artífices da cultura brasileira, perfeitamente integrada e identificada à do Ocidente. Obrigado por nos ter aberto as portas do Ocidente cristão.
Obrigado por tudo, Portugal! Obrigado, Pátria-Mãe!

General-de-Exército Paulo Cesar de Castro