quinta-feira, 29 de agosto de 2019



No topo das administrações públicas, isto é nos governos, aparecem diferentes tipos de indivíduos e/ou personalidades. Se fizermos uma estatística, talvez se chegue à conclusão que uma boa parte, talvez a maior parte seja de charlatões, tipo Boris Johnson ou António Costa, de ladrões e corruptos, que evito citar nomes para não cansar, ferozes ditadores (ferozes é pleonasmo) que se encontram espalhados no mundo oriental, ocidental e central, de gananciosos e ignorantes, indecisos, etc.
No meio dessa espécie humana há alguns que a mídia odeia, que são aqueles que por obras valerosas se foram da lei dos grilhões libertando e, pese aos que não gostam, há pelo menos um que está nessa qualificação, o atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
Político pouco preparado, mas intrinsecamente honesto e lutando contra uma imensidão de adversários, para ver se consegue que este imenso país, cheios de problemas, comece a caminhar para o patamar, para o nível a que, sem dúvida, tem direito, e lá chegará.
Quando? Não esqueçam que o homem é o mais recente mamífero que apareceu na terra, e que, por exemplo, só em 1956 é que os tribunais americanos autorizaram os negros a andar nos ónibus sentados nos lugares que quisessem.
Bolsonaro tem o defeito de ter o coração à frente da boca e mais uns filhos que se alcandoraram a dar opiniões e semear a cizânia no meio dum governo que sofre com pesado e constante bombardeio da esquerda caviar que foi posta na rua, mas... não morreu.
E ainda há uma corja de puxa-saco que, burros, fazem um monte de estupidez.
Há alguns anos ouvi de um grande estadista uma interessante opinião sobre os presidentes em baixo índice de aprovação em seus países: eles procuram para melhorar a sua posição fazer muitas visitas ao estrangeiro e gostam de opinar sobre a política de outros países.
No primeiro destes casos o exemplo mais flagrante foi Mário Soares, o Dom Mário I, que viajou o mundo inteiro à custa do “Zé pagante” sem qualquer vantagem para Portugal, e no segundo caso temos dois exemplos recentes: Trump a querer desestabilizar a União Europeia, a chatear a China e o Irão e o Macron a xingar o Brasil porque a casa, dele, estava a arder. (Esqueceu-se dos imensos fogos em França!)
Isso traz palmas dos seus conterrâneos, palmas de jornalistas à porta do desemprego, mas não leva a lugar nenhum, muito menos desestabilizar a EU que não pode estar mais periclitante!
A arder estão as igrejas em França.
Mas o que sabe essa gente do Brasil? E da França, por exemplo, e até dos EUA?
Do Brasil nada além de praias, mulatas e samba (não esqueçam a caipirinha!), de França sabe que tem o Louvre a Torre Eiffel, as bolsas Louis Vuitton, os grandes costureiros, mas não sabem que, por exemplo, em Março de 2008 Jacques Chirac declarou que Sem África a França desceria para o nível dos países do terceiro mundo”, e Miterrand em 1957 também profetizou dizendo que “Sem África a França não teria história no século XXI.”
Estranho? Porque? Consultem os sites abaixo e depois pensem no assunto:
ou este outro
e vejam como a França vive à custa das ex-colónias e dos territórios ultramarinos. Uma vergonha, ou pior se poder haver outra palavra.


Você sabia que muitos países africanos continuam a pagar taxas coloniais a França desde a sua independência, até hoje? Cerca de sessenta anos!
E vem o senhor Macron falar nos incêndios da Amazónia!
Nos EUA o Trump, para achincalhar os europeus mostra-se muy amigo do Brasil mas a propaganda do poderosíssimo grupo dos produtores de milho é o slogan "Farms Here, Forests There". Nada explica melhor esse estado de desordem mental e ganância do que essa organização "Farms Here, Forests There" (fazendas aqui, florestas lá) atualmente um dos mais ativos e poderosos lobbies na defesa dos interesses da agricultura americana.
Daí que o Trump se mostre tão amigo das nossas florestas, porque se o Brasil fosse todo ele uma floresta só, não tinha a concorrência que hoje tem de um país que é o primeiro exportador mundial de café, açúcar, suco de laranja, soja, de carne de frango o segundo em carne de boi, milho... e mais um monte de coisas, sem estarmos a esgotar reservas hídricas do sub-solo.
A quem, de fato, ou de facto, estiver interessado em conhecer o Brasil, a sua agricultura, a sua política territorial  recomendo VIVAMENTE que assistam a este vídeo
Em escassos 25 minutos cala a boca dos ignorantes e se fica com uma visão que nem talvez 5% dos próprios brasileiros tenham da situação.
Somos o único país do mundo que tem mais de 30% do seu território com áreas protegidas – parques nacionais, reservas indígenas, reforma agrária – e se contar com as áreas preservadas chega-se a 48,9%, o que equivale a mais de vinte e oito – 28 – países europeus (e ainda leva mais umas três Noruegas de lambuja!).
E as áreas protegidas não são os desertos como os americanos, ou da Líbia, Sibéria, Mongólia, etc., são áreas que podem vir a produzir quando for necessário.
O senhor Macron chamou o Presidente Bolsonaro de mentiroso! É de uma baixaria inadmissível. Bolsonaro, capitão do exército, não leva desaforo e respondeu-lhe à letra.
Hoje a mídia só critica Bolsonaro, porque disse que a madame Macron era uma velha feia!
Briga jamais imaginada no mundo da diplomacia.
Só mais uma palavrinha sobre as famigeradas ONGs.
O que são? Teoricamente são Organizações Não Governamentais, mas a serviço dos governos! São regiamente pagas a voluntários, no fundo, talvez a maioria delas seja de braços de espionagem e exploração dos países que as financiam. E uma bela fonte de renda para os inventores dessas organizações.
Há alguns anos vi na Internet que procuravam voluntários para irem para África, por um ano, ajudar na luta contra a SIDA ou AIDS. Interessei-me. Pus-me em contato com eles. Sede em Copenhague, Dinamarca.
Expuseram-me o método: primeiro eu teria que pagar a viagem do Brasil para a Dinamarca. Depois ficar lá, com hospedagem por minha conta, durante seis meses – 6 meses – para aprender como ensinar o povo a usar a camisinha (preservativo). Deviam ser uns preservativos eletrônicos, porque toda a gente sabe como se usa ou aprende em dois minutos. Depois seguiria para África por três meses, e regressaria a Copenhague onde ficaria mais três meses para fazer o relatório do meu serviço! Isto daria o tal um ano de voluntariado!
Devo ter contatado um sanatório de alienados. Como não sei dinamarquês, abstive-me de os mandar para...
Isto é absolutamente verdade. Aliás jamais escrevi, nos meus textos e/ou blog algo que não fosse verdade.
Uma amostra das ONGs. Eu gastaria um monte de dinheiro, perdia um ano da minha vida e estaria três meses em África. Como nem todo o mundo é besta...
E o Brasil está cheio de ONGs. Mais de 800.000 em todo o território. Brasileiras há muitas, algumas com obras sensacionais. Só na Amazónia existem 120.000 – isso mesmo cento e vinte mil – ONGs. Certamente algumas farão um trabalho louvável, mas...  mas só francesas são 300 – trezentas – na Amazónia, segundo informação do Embaixador do Brasil em França. Estão lá a ajudar os índios? Piada.
Talvez seja ideia sensata o governo do Brasil correr com essa gente.
O Brasil já não é uma colónia há quase 200 anos. Nem somos a Guiana, Senegal ou Mali. Não temos que viver de mão estendida a mendigar essas ajudas que são como uma quinta coluna no nosso sangue.
Nem temos que ouvir coisas estúpidas de qualquer presidentinho de onde quer que seja, casado com mulher bonita ou feia, velha ou nova.
O que precisamos é rever os nossos livros de história e procurar que o povo tenha orgulho do seu passado, mesmo que ele seja triste, não só dos escravos, como de todos os outros que para aqui vieram, muitos deles descalços, trabalhar e fazer do Brasil uma grande nação.
Para tudo isso temos que lutar para que a esquerda-caviar não continue a destruir este país que tem o mais generoso povo do planeta.

28/08/2019

segunda-feira, 26 de agosto de 2019



Democracia ?

Faz um ano escrevi um texto sobre este assunto, indignado com o infame abuso da palavra, gasta, gastíssima, sobretudo com os regímenes marxistas e trotsquistas, e com todos os outros.
Democracia foi mais uma invenção dos gregos, quando alguns quiseram lutar contra os aristocratas, criando a palavra que significa δμος (demos ou "povo") e κράτος (kratos ou "poder"), que nasce já sob o signo da mentira, porque a cidadania democrática valia apenas para uma elite de pessoas. Com outro nome, era uma oligarkhía,  governo só de alguns, ou aristokrateia governo só dos melhores. Trocaram só o nome.
A palavra democracia nasce assim já deturpada, vigarizada, falsa.
Nos séculos XIX e XX os mesmos donos do poder criam o sufrágio universal e, muito contentes, porque enganaram todo o povo, afirmaram que isso era, finalmente democracia! Piada.
Democracia existiu, sim, e ainda sobrevive os últimos momentos desta Gaia, mal e triste, em paraísos terrestres, como são algumas aldeias de índios na Amazónia, nos Papuas e... pouco mais.
Aí sim. É a população INTEIRA que se reúne, numa praça ou numa oca, para discutir a solução dum problema.
É evidente que esses povos têm um chefe a quem obedecem, mas não é o chefe que dita o caminho a seguir. É o povo. E se na primeira assembleia não se chega a consenso, marca-se nova reunião para daí a uns quantos dias, e só fica o assunto encerrado quando o demos, todo, acorda com a melhor solução.
Há dias no Rio houve uma situação trágico-cómica que podia ter terminado em grosso desastre.
Um policial, não fardado, sob um surto de loucura, sequestra um ônibus, atravessa-o na ponte Rio-Niterói, ameaça todos os trinta e tantos passageiros com uma pistola que depois se verificou ser um brinquedo. Algemou os homens, pendurou garrafas de gasolina no teto do ônibus, ameaçou pegar fogo com todos os passageiros dentro, e, nem se sabe bem o que ele exigia. Surto psicótico, mas um real perigo de desastre.
Chamada a polícia e atiradores de elite, quando o sujeito sai do carro ainda ameaçando, levou seis balas e a festa acabou.
Durou quase duas horas, às primeiras horas do dia, a ponte com trânsito fechado nos dois sentidos, surge o jeitinho brasileiro.
Um sujeito que levava o carro carregado com sanduiches para ir vender noutro lugar, abre a mala, o povo ali paradão, aproveita para o seu café da manhã, faz fila e o sujeito, não precisou ir mais trabalhar. Vendeu tudo. Outro, não tendo o que fazer soltou pipa e ficou brincando ao lado do tête à tête entre polícia e assaltante. Um outro grupo mais descontraído sentou-se no chão e ficaram jogando cartas.
Esta é a democracia brasileira. Inconsciente, inculta, desligada do futuro (que nunca chega) que continua a votar num palhaço analfabeto para deputado federal (já vai na terceira legislatura) ou vota nos nomes que ele já conhece, artistas da tv ou do futebol, velhos políticos, sejam eles corruptos conhecidos e condenados, sem ter a mínima consciência de que continua a destruir o futuro dos seus filhos e, talvez, dos netos.
Democracia, onde a condenação de pedófilos e estupradores é brincadeira, quando deviam ser todos castrados, onde a imprensa livre e ainda fartamente paga pela esquerda faz o impossível por perturbar e destruir o atual governo, porque, na verdade, parece que ninguém quer saber do dia de amanhã.
Falseia-a a história para desmoralizar a população, há até um município em que o analfabeto perfeito, que devia ser internado num hospício de alienados mentais, obrigou as escolas a ensinar que não foi Cabral quem descobriu o Brasil mas sim Pinzon, e a nata podre vem ao de cima, sem que os tribunais consigam, ou queiram, condenar essa corja de malfeitores e bandidos.
Fico maravilhado quando vejo uma reportagem sobre esses povos simples que resolvem os seus problemas ouvindo todos, porque todos são os interessados nas suas vidas e na vida da comunidade, na preservação do ambiente e no futuro, e revoltado com este sistema (que dizem não ter outro melhor) vendo as cavalidades dum Trump, que nunca me enganou ou os arrojos dum Macron que até me enganou no começo, levando os seus países para buracos fundíssimos donde vai custar-lhes muito a sair.
O tal Macron agora insurge-se contra o desmatamento da Amazônia que já tem décadas a arder, com o apoio de todos os governantes anteriores, quando há um ano ele mesmo apoiou o desmatamento de boa parte da mesma Amazónia, na Guiana, para exploração de minério!
E diz com ar glorioso: “A nossa casa está a arder”! E quando arde a Califórnia, a Occitaine e a Provence?
A esquerda internacional, aquela que tem TODOS os meios de comunicação e de reunião de manifestantes, contamina o mundo contra um governo que derrotou o marxismo.
Há mais de 30 anos fui abordado na rua, em Londres, por uma garota, idiota, que procurava colher assinaturas contra o presidente Sarney por causa da devastação da Amazónia. Perguntei à dita inglesa se ela sabia onde ficava a Amazónia. Não sabia, mas sabia ser propagandista.
A mesma coisa se passa hoje em dia, com agravantes. A Alemanha e a Suécia tinham um acordo mandando todo o ano cerca de meio  milhão de dólares ou €uros para ajudar na conservação da Amazónia.
Desta vez, ao renegociarem o acordo impuseram quaisquer condições que o governo brasileiro não aceitou e respondeu claramente:
-A Amazónia não pertence à humanidade toda. Ela é pertença do Brasil. Podem guardar o vosso dinheiro que nós saberemos cuidar do problema.
Os germano-eslavos não gostaram, e a toda a hora projetam filmes de fogos jamais informando que este último, gravíssimo, começou na Bolívia e está a atingir território brasileiro. E filmes, alguns, com até dez anos.
Esqueceram de afirmar que esse acordo implicava a presença dessa gente a controlar a Terra Brasilis¸ procurando como dela tirar vantagem.
Também ninguém fala na reflorestação das terras queimadas em Portugal, Espanha, França e outros países.
O inimigo público hoje é o Brasil, o único que está a destruir o meio ambiente, a sufocar as populações até da China, e omitindo a devastação quase total de Brunei, Tailândia, Congo e tantos outros inclusive a Europa que hoje só tem 1% da cobertura florestal original.
Porque não vai cuidar do seu país? Ele, o arrogante Macron,  que não permite que a polícia reaja aos ataques dos jihadistas, nem contra os antissemitas, e muito menos àqueles que estão, sistematicamente, a destruir a cultura ocidental, a incendiar igrejas, como Nôtre Dame e dezenas de outras, e vem meter o bedelho no Brasil. Vaidoso Macron! Arrogante e criminoso no modo como está a conduzir um país que foi exemplo no mundo ocidental! Traição pura.
Contorcem-se nas tumbas os ossos de Victor Hugo, Corneille, Joana d’Arc, Vercingétorix, Racine, Pasteur, Molière, Napoleão, Ferdinand de Lesseps, e até Josephine Baker e Jean Gabin! Até o arménio Charles Aznavour!
A França já tem no DNA a traição, a arrogância, basta lembrar o que o rei Filipe IV fez por dinheiro, vendendo ao Papa Clemente V a Ordem dos Templários, e Robespierre “O Ditador Sanguinário”, um advogado incorruptível, que a seguir guilhotinou todos os que se lhe opunham, etc.
Felizmente aqui não tem lugar para mais arrogantes e covardes.
Nem Trump, outro arrogante dos EUA da América. Além dos índios contorcidos com as barbaridades dos civilizadores, ainda haverá muitos túmulos remexidos pela vergonha com que eles jamais sonharam.
E vamos falar de democracia? O que diria hoje Abraham Lincoln, George Washington ou Thomas Jefferson, que proclamaram que “todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos e devem proceder fraternalmente uns para com os outros? O mesmo que Luther King? E os emigrantes latinos que fazem a América andar? E o povo francês? E os ingleses mais o Bexit? E no Brasil? E na Suécia ou Noruega onde se penalizam suecos quando se queixam de muçulmanos que os atacam?
São todos países que vivem em democracia porque se pode votar? Porque podem fazer greves?
O homem não tem vergonha por estar constantemente a enganar-se a si mesmo e os outros?
O panorama é triste. Pior, horrorizante. Será porque o tal homo sapiens só tem uns cem mil anos e as baratas e os crocodilos quatrocentos milhões?
Vamos ter que esperar mais umas centenas de MILHÕES de anos?
Se assim é, esperto é o que rouba, mata, estupra. E bestas são os que pensam que o homem estaria acima de todos os animais.
Votar? Para quê? Para ver se um partido, QUE NÃO REPRESENTA NADA ALÉM DELES PRÓPRIOS, consegue arrumar a casa. Não consegue, vota-se a seguir no oposto, e assim vai a estupidez caminhando, os espertos aproveitando, e o grande desastre crescendo.
Descaradamente e com o beneplácito dos governantes, o islão está a destruir a cultura ocidental.
Ninguém faz nada, com exceção da Hungria, Polónia e outros que a corja da União Europeia condena.
Quem paga aos milhares e milhares de imigrantes que enfrentam, sob grande perigo, atravessar o Mediterrâneo para ocupar a Europa? Os desgraçados que nas suas terra não conseguem quase comer, jamais juntar um dólar, dizem que pagam cinco a dez mil euros para fazerem essa travessia. E ainda chegam com dinheiro no bolso para os primeiros tempos. Quem paga? Impossível que a Segurança dos países desconheça essa fonte. E o que faz? NADA.
Alguém tem que estar a receber muita, MUITA, grana para fechar os olhos.
Não tarda que os fechem de vez, joelhos e nariz no chão, voltados para Meca.
Para mim, na retinha final, não vou assistir a isso. Mas falta pouco.

25/08/219

quarta-feira, 21 de agosto de 2019


AMIGOS – 34

1946 – Estava eu, após um desaire liceal, talvez há um mês ou pouco mais, a começar nova vida na Escola de Regentes Agrícolas, em Évora, quando, uma tarde, vi chegar uma elegante charrete, com um senhor a conduzi-la, coisa que por ali não era hábito ver-se.
O senhor, amigo de alguns professores e sobretudo do diretor, parou em frente da secretaria, cumprimentou os conhecidos e perguntou:
- Está aqui um aluno de nome Amorim?
Recebida a afirmativa mandaram chamar-me, e lá vou eu desconfiado, sem saber o que se passava e não conhecendo o senhor de lado algum.
Quando cheguei perto, vendo que era a mim que ele procurava, pergunta-me:
- Tu és filho do malhado?
Fazia três anos que tinha perdido o meu pai, a ferida aberta, como continua até hoje, não gostei nada do tratamento, e pela minha cara ele logo viu que me tinha chocado. E volta:
- O teu pai não tinha um sinal preto no pescoço, do tamanho de uma moeda?
- Tinha, sim.
- Nós estudámos juntos na Escola Académica, em Lisboa, e era assim que ele era chamado.
Baixei a guarda, e sabia muito bem que o meu pai ali tinha estudado, até porque no último ano da sua vida tínhamos mudado de casa e um nosso vizinho antigo diretor daquela Escola guardava um especial carinho por aquele seu aluno que veio a destacar-se.
Pouca foi a conversa com o cavaleiro, que pede que me autorizem a ir jantar a sua casa.
Grande proprietário agrícola, tinha a sua herdade, a Herdade do Barrocal, a uns 5 ou 6 quilómetros dali. Belíssimas instalações, a casa senhorial quase um palácio, belos cavalos, enfim uma casa rica.
Lá me encaixou em cima da charrete e num instante estávamos em sua casa, onde me aguardava nova surpresa: a senhora dele, muito simpática, logo me diz que tinha andado no mesmo colégio com a minha mãe!
Coincidências raras. Conversámos um pouco, sobretudo muitas perguntas sobre a mãe e os meus irmãos, jantámos numa sala magnificamente arranjada, criado a servir à mesa, uma beleza, e eu por enfim encantado por ter conhecido tão simpático casal.
Um pouco depois do jantar mandou o feitor levar-me de volta, mas de carro.
Estive cinco anos em Évora e não nos vimos muitas vezes porque o casal vivia em Lisboa e raras vezes ia à herdade onde tinha um feitor, antigo, de confiança.
Com alguns colegas, muitas vezes íamos até lá, a pé, claro, por aquelas estradas quase sem trânsito, a estudar, porque além de nos fazer bem ao conhecimento, sempre havia a possibilidade de ver a filha do feitor que, uma vaga lembrança me diz que valia muito a pena! Nunca ninguém se meteu com ela, tudo se limitava a um platônico olhar, e a aproximação das casas não era muito convidativa porque os guardas, uns três ou quatro  magníficos Rafeiros Alentejanos, nos recebiam com latidos poucos amigáveis e uns belos dentes à vista.
Lembro de uma vez que acabámos todos em cima das árvores enquanto não veio alguém da herdade recolher as feras!
Passam os anos. Já fora de estudos saio um dia de casa dos meus avós, que moravam na Praça dos Restauradores, e logo ali em frente uma porção de gente estacada a olhar para um belo carro americano, sem ninguém dentro com a buzina a tocar!
Aproximo-me para ver o que se passava e dou de caras com o meu amigo, o senhor que um dia me levou para jantar em sua casa, no Barrocal. Também parado, a ver o que se passava!
- Senhor Alberto Rosado! Que surpresa. O que faz por aqui?
- Chiiiu! Não digas nada. Foi o meu carro que começou a tocar a buzina sozinho, e como não percebo nada daquilo, saí e fiquei à espera que aparecesse alguém para resolver o assunto. Sabes: há sempre uns curiosos e uns entendidos! Espera um pouco e vais ver.
De fato já esvoaçavam de volta uns “especialistas”! Olharam dentro do carro, abriram o capô, e passado um pouco a buzina calou! Penso que o técnico deva ter arrancado o fio da buzina! Olhou à volta, não sei se para receber aplausos dos mirones ou os agradecimentos do dono, não apareceu ninguém para o felicitar e sumiu, como os outros.
O pessoal todo dispersou, e quando já não tinha ninguém ele diz-me:
- Eu bem te dizia. Agora podemos ir embora. Vem comigo que eu levo-te a casa.
Apesar do pouco contato, foi sempre muito simpático, e um amigo a não esquecer.

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Outro amigo da família, amigo e colega do meu pai, agrónomo, um dos maiores enólogos que Portugal conheceu.
Um dos principais sócios e Presidente da firma José Maria da Fonseca, solteirão, sempre vestido de forma impecável, uma simpatia irradiante.
Foi ele quem criou e lançou nos Estados Unidos o vinho Lancers que durante muito tempo foi o vinho que Portugal mais exportava. E outro grande vinho o tão conhecido e tão amado no Brasil o Periquita.
Desde 1954 que eu fui viver para fora de Portugal, mas raras as vezes que eu passava em Lisboa e não tinha lá à minha espera um caixa do famoso branco “Branco Seco Especial”, que o “tio” António (eu também lhe chamava tio apesar de não ser da minha família) não se esquecia de mandar entregar em casa da minha mãe.

Olhem só e... bebam quando puderem

Um dia chego de Luanda e levava uns 10 kilos daquelas maravilhosas gambas, que, nesse tempo (belos tempos!) amavelmente as hospedeiras do avião guardavam no frigorífico de bordo.
Em casa, à espera de verem o emigrante, irmãos, cunhado, um primo e um tio, abraços e muitas perguntas, entrego à minha mãe o precioso pacote com as gambas.
“Mamãe”, orgulhosa com o presente do filho, lembrou-se de pegar pelos bigodes um dos camarões grandes, e ir exibi-lo toda contente à família presente.
-- Que maravilha. Quero provar um. Eu também... e eu... etc., e a mãe teve a infeliz, ou feliz ideia de pôr as gambas, que viajaram cozidas, numa travessa em cima da mesa e dizer que tinha ali o tal vinho.
Uma festa. As gambas foram-se todas e a dúzia de garrafas do famoso “Branco Seco Especial” acabaram condizendo com o rótulo: secas.
Os parentes... saíram com alguma dificuldade, no tempo em que não havia bafómetros e conseguiram chegar a casa, todos salvos e... com muito sono.
A minha mãe, magnífica cozinheira não chorou a perca dos camarões. No dia seguinte fez uma sopa com as cabeças que ficou de chorar por mais.
O vinho é que tivemos que ir reforçar comprando numa loja perto de casa.
Em 1961 passei três meses na Europa (França e etc.) fazendo cursos e visitas a empresas, e numa das vezes a caminho já não sei de onde tivemos (eu levava a minha mulher) que passar a noite na bonita cidade de Heidelberg, depois de termos percorrido quase 600 quilómetros.
Lembro que atravessamos a ponte (sobre o Neckar?) e escolhemos logo o hotel à entrada da cidade. Hotel antigo (era 1961!!!) muito confortável. Depois de deixar as malas no quarto descemos para jantar.
Não lembro o que terá sido a “papa”, mas lembro que pedi vinho e vinho da região. Mostraram-me a lista dos vinhos, mas para mim era tudo chinês, e como serviam vinho a copo, nuns copos lindos de 25 dl, achei que um copo daria para o jantar, e pedi um com um nome curioso, mais ou menos Barnabé! Não era assim , mas...
Provei. O vinho era uma delícia, obriguei a minha mulher a apreciar o néctar, e depois ainda bebi mais dois copos. Total: o equivalente a uma garrafa de 0,75 !
Estava uma noite agradável, saímos do hotel para dar um giro a pé por aquele centro.
Não tardou que eu sentisse dificuldade a andar. Doíam-me as articulações! Coisa estranha, que atribui a ter feito quase 600 kms. sem parar. Fomo-nos deitar, aquilo passou e nunca mais pensei nisso.
Uns anos depois conversava com o “tio” António, falámos de vinho como é evidente, quando lhe contei esta história.
Ele, grande conhecedor explicou-me o fenómeno. Naquela região o vinho tem não sei já que propriedades (talvez um pouco mais de ácido úrico !?) que afeta as articulações! Quem sabe, sabe.
O vinho era muito bom, mas... se eu lá voltar, o que me parece pouco provável, vou beber menos.
Bom amigo, grande figura, grande enólogo  António Porto Soares Franco.

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Outro amigo, desses tempos e dessas idades, engenheiro, responsável em Portugal pela famosa fábrica de vidros Saint-Gobin, homem tranquilo, solteirão, muito culto, era uma das pessoas com quem dava gosto conversar. A sua vasta cultura, ligada a uma personalidade simples, tornavam as conversas sempre muito interessantes.
Recordo-o muito de passagem porque só estávamos juntos em poucas das ocasiões que eu ficava em Portugal, mas a família era conhecida, sobretudo uns seus sobrinhos que, no verão, eram nossos vizinhos em Sintra e alguns amigos de infância.
Descendente de português, advogado nascido em Goa, e neto de uma senhora também goesa, brâmane, da estirpe mais alta da Índia, nasceu em Lisboa e por ali fez toda a sua vida.
Uma das curiosas passagens da sua vida deu-se quando aluno de engenharia no Instituto Superior Técnico em Lisboa. Ali teve um professor também se origem goesa mas de estirpe, ou casta inferior, que, respeitando ainda a velha hierarquia indiana, fazia questão de esperar que o aluno brâmane entrasse na aula à frente dele.
Um dia o aluno foi ter com o professor e pediu-lhe por favor para esquecer essas questões de castas. Isso era coisa obsoleta, indigna e nem sequer tinha razão de existir em Portugal. Além disso como professor tinha que tratar todos os alunos do mesmo jeito.
O professor, sempre respeitosamente, acatou “o recado”.
Lembro este amigo, este senhor, com saudade e admiração. Sempre no seu belo Citroen preto, Traction Avant, impecável, a alavanca de marchas no painel, uma delícia de carro.


Chamou-se Guilherme Andersen da Costa, filho do famoso médico Dr. Alfredo da Costa, e só me resta esta foto dele.

Uma imagem contendo homem, pessoa, vestindo, foto

Descrição gerada automaticamente

16/08/2019


sexta-feira, 16 de agosto de 2019



Amigos - 33

Não lembro já de onde vem o conhecimento e amizade com este amigo, mas lembro de algumas histórias com ele passadas, e isso é o que importa. Mas vem de muito tempo.
Em Luanda, na rua do Quintas & Irmão, a velha rua Salvador Correia, quase na esquina com a Calçada Gregório Ferreira, havia uma sala de bilhares num prédio, e o salão ficava no segundo andar. Ali se juntavam alguns amigos e sobretudo os especialistas em bater com um pau numa bola de marfim, habilidade que, como muitas outras, nunca me distinguiu.
Um belo dia este amigo, que gostava de beber o seu copo – eu também gosto – ali foi dar as suas tacadas. Quando decidiu ir embora, chamou o elevador. Abriu a porta, entrou, mas o elevador não estava ali. Como qualquer um de nós o teria feito, de noite... entrou.
E aí vai ele, despencando em aceleração de velocidade até se encaixar lá... bem fundo, com um toco de ferro onde o elevador deveria parar! É evidente que quebrou algumas coisas, e tenho ideia de que, pelo menos, uma perna. Felizmente o elevador, com a porta aberta não funcionou mais, e foi assim que o foram encontrar lá encaixado nos fundos, todo quebrado.
Hospital, etc., onde o fui ver, jovem, recompôs-se.
Alguns anos passados fui para Lourenço Marques. Lá estava ele.
Organizei uma festa de recepção a uns amigos que iam de Luanda para LM, e convidei aqueles que já conhecia entre eles o que tinha “voado”, a descer, no túnel do elevador.
Um sujeito sempre de ótima disposição, fazia amigos com facilidade, e normalmente nos encontrávamos para beber um copo nos fins do dia, junto com mais outros companheiros.
Chegou o miserável, chamado “glorioso” vinteecincobarraquatro e um descarado e abjeto interesse dos que tomaram o poder em Portugal, de entregar as colónias aos comunistas.
Lourenço Marques reagiu muito mal a essa política, bramou e manifestou-se contra os covardes “acordos de Lusaka”, e logo se criaram organizações, reuniões, fadadas à falência, que queriam que Moçambique, de brancos e pretos, não fosse vendido aos comunas. ******
Quem tiver interessado em saber detalhes desta época leia o livro que aqui já comentei, “O Puto” do jornalista Ricardo de Saavedra, edição Quetzal.
Veio a diáspora, regressei a Angola, depois Brasil e nunca mais soube deste amigo.
Neste livro vim encontrar um pouco mais da sua história. O autor, por razões de ética, tinha-lhe trocado o nome mas quando o consultei confirmou que se tratava deste meu amigo.
Depois duma teórica rebelião com o Rádio Club de Moçambique, o desgoverno comuna de Portugal, decidiu caçar todos aqueles que se opusessem ao seu criminoso programa.
Prisioneiros na Polícia portuguesa, um dos grandes contrassensos e crimes que se cometeram, eram espancados, passaram fome até que um dia, habilidosamente conseguiram fugir.
Quem relata tudo quanto aconteceu nesse período, e deu origem ao citado livro, lembra este companheiro da prisão:
O HOMEM  que esteve preso comigo em Loureço Marques foi de facto o SENHOR TEÓFILO ESQUÍVEL Quando fizemos as gravações eu disse que era a pessoa que recebia as garrafas de 7Up com Whiskey lá dentro e era ele que depois dos enxugos de pancada que o Ferreira e outros levávamos usava o Whiskey para nos esfregar. Até à nossa fuga o SENHOR TEÓFILO ESQUIVEL portou-se como os HOMENS se devem portar. Anos depois já eu estava no Batalhão 32 (Búfalo) encontrei-o em JHB tinha o café Nicola na Kerke str, em sociedade com o Forjaz de Brito. O Teófilo faleceu em 2009 aqui em JHB.
Chamou-se Teófilo Esquível, e foi amigo, alegre e valente.
Seu pai e homónimo, foi um dos melhores jogadores de futebol na primeira equipa da Académica de Coimbra, segundo, anos mais tarde, o meu sogro, também pertencente à mesma equipa, quando perguntado quem eram os melhores jogadores daquele tempo, referiu o seu amigo e colega Teófilo Esquível.
No churrasco, em LM, de recepção aos recém chegados de Luanda.
Teófilo, animado, dançava ao sabor do batuque dum grupo de nativos!

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Vou aproveitar que estou em Lourenço Marques e falar duma outra figura, de outro amigo.
Estava eu diretor comercial da 2M­ - Mac-Mahon - cerveja, Coca Cola e 7-Up, e era grande e suja a guerra comercial entre as duas concorrentes, a nossa e a Laurentina. Faziam-se as maiores burrices que em comércio imaginar se pode, dando inclusivamente dinheiro ao cliente para se comprometer a comprar 70 ou 80% dos produtos deles, o que era uma verdadeira aberração.
Bem lutei e tentei convencer o concorrente a acabar com a estupidez, o que foi mais ou menos em vão, e por isso logo que surgiu a oportunidade regressei ao banco - BCCI - e deixei aquela farra.
Um dia aparece-me lá na companhia um cliente que estava a montar um novo restaurante mas tinha-se-lhe acabado a grana e vinha pedir o nosso apoio para acabar as obras. E disse que fazia o melhor bacalhau de Lourenço Marques e até de Portugal e arredores!
A Mac-Mahon não era empresa financiadora de capitais, e eu tinha todas as ligações com o banco a que pertencia (estava nas cervejas de empréstimo). Interessei-me pelo assunto e pedi informações do sujeito.
Comerciais e financeiras não eram muito aproveitáveis, porque em qualquer altura do seu percurso como restaurador teria tido uns azares financeiros o que lhe dava um nome pouco recomendável na banca.
Mas insistiu que eu lá fosse comer o tal bacalhau, para o que desafiei dois colegas do banco, e na realidade o bacalhau era o que de melhor nós conhecíamos.
A 2M ia fazer uma pequena festa de aniversário, coisa que eu gostava de fazer nas empresas por onde andei, e fazia parte da festa um “copo de água”, comes só, que líquido tínhamos nós.
Consultei três hipotéticos fornecedores e disse a este que fizesse o melhor preço que pudesse para eu poder arguir que era merecedor do nosso apoio.
Esmerou-se. Apresentou o tal “copo de água”, com tudo da melhor qualidade e com o melhor preço.
Acreditei nele, ganhei coragem e propus ao banco que lhe financiasse os 500 contos que ele precisava que a 2M ficaria de avalista.
O cliente acabou a obra, logo tinha a casa cheia e sempre cumpriu perfeitamente os seus compromissos, e ficámos amigos.
Chega o desgramado vinteecincobarraquatro e ele decide ficar mais um tempo em Lourenço Marques. Chegaram novos donos do poder que se exibiam a comer nos melhores restaurantes e o nosso amigo juntou algum dinheiro e partiu para a Metrópole.
Lá chegado comprou uma velha carvoaria em lugar bem central de Lisboa, fez obras e abriu o seu restaurante, sempre com a especialidade de bacalhau à cabeça.
Não tardou a criar fama. E eu que com a diáspora o havia perdido de vista, ouço um dia dizer que o melhor bacalhau que se podia comer era no restaurante dum moçambicano. Alto lá! Deve ser o meu amigo. Consegui o endereço e fui lá para me certificar se seria ou não a mesma pessoa.
O restaurante estava ótimo. Bonito. 1ª classe. Perguntei quem era o dono.
- O senhor Pereira.
- Por favor pode dizer-lhe que está aqui um amigo que o quer ver.
Aparece o meu amigo. Baixinho, gordinho, brilhantina num cabelo pintado de preto, e dá-me um imenso abraço. Quase chorámos nesse abraço.


Era hora do almoço. A casa cheia.
Agarra-me por um braço, leva-me até à entrada da sala, e pede aos clientes que se calem que tem alguma coisa a dizer-lhes. Eu a ver em que aquilo ia dar.
- Ouçam bem. Se eu hoje estou rico devo tudo a este senhor.
Se ali houvesse um buraco eu teria entrado nele. E continuou:
-  Em Lourenço Marques eu estava a meio de uma obra. Acabou-se-me o dinheiro e este senhor fez o banco emprestar-me 500 contos. Com isso ganhei lá algum dinheiro, trouxe para Portugal e abri este.
Não me deixou sair do restaurante. Voltei a comer o maravilhoso bacalhau, a Couvada de Bacalhau, comida dos deuses, abriu uma garrafa de vinho e ali ficámos um monte de tempo na conversa.

Quem não comeu esta couvada não sabe nada de bacalhau

Depois insistiu para que eu lá voltasse sempre mais vezes e levasse quantos amigos quisesse que era seu convidado.
Eu morava e moro no Brasil. Mas sempre que lá voltei a Lisboa era destino sagrado ir ao Restaurante Laurentina – o Rei do Bacalhau.
Soube depois que o meu amigo ficara muito doente, até que descansou.
Depois disso não voltei lá. Custa-me pensar que não vou encontrar o tão simpático e amigo António Francisco Pereira, uma grande figura.

13/08/2019

domingo, 11 de agosto de 2019





Ahhh!  Ler Camilo!

Vão fazer o favor de me desculpar a imodéstia, mas eu disse um dia, e até escrevi, que escrever um romance como os do Eça eu talvez fosse capaz. Muita fofoca, muita bambinela, muita, aliás, pouca vergonha, um constante malhar nos grã-finos portugueses etc., mas escrever como  Camilo, jamais.
A verdade é que jamais mesmo serei capaz de escrever como um, muito menos como o outro. Mas que sou fã de Camilo, sou mesmo.
Em 1876 Camilo publica um livro que raros leram e daí ser um quase desconhecido.
O jornalista e escritor, grande especialista em Camilo, José Viale Moutinho publicou, parece que em 1986, o “Curso de Literatura Portuguesa” que eu tinha há muitos anos, mas, confesso, nunca me tinha apetecido ler.
Desta vez voltei a pegar em alguns livros do maior romancista português, que sempre são obras de arte, e lá estava na estante, aguardando a minha coragem, um tratado “histórico-filosófico” sobre literatura. Não se lê como um romance, quem como eu, ignorante nesse passado literato português (e em muitas outras coisas) quase nada conhece desses vetustos escritores e desses temas, mas... escrito por Camilo, a maçada e canseira que é ver desfilarem dezenas ou centenas de nomes de quem nunca ouviu falar, torna-se um jogo de procura por frases que só Camilo seria, foi, capaz de escrever.

Selo comemorativo do centenário do seu nascimento

E então a canseira de ler um livro com interesse quase exclusivo para estudantes de letras, tornou-se um desafio que me levou muita vez a rir com vontade.
Vou desfilar umas quantas frases, nele encontradas, sem que tenham relação umas com as outras. Todas têm com a verve e o espírito crítico de Camilo, sem igual.
Vamos a elas:
- D. João III, à semelhança de Carlos V, ganhou medo aos grandes homens que admirara e estimara enquanto, minguado de compreensão, lhes não previu os intuitos.   
Sobre Manuel de Faria e Sousa que se bandeou para Madrid para agradar à corte, até que um dia perdeu o apoio do rei:
- A baixa lisonja não logrou o estipêndio que os Filipes por via de regra costumavam decretar às consciências vendidas por escritura pública.
Quando diz que nem a História Geral da Etiópia é tão de Baltasar Teles nem a Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires é de Frei Luis de Sousa, porque ambos completaram o que estava escrito por outros: 
- Para os historiógrafos andaram outros alvenéis quebrando os mármores.
O Padre João de Lucena
- ... é inferior a todos os quinhentistas de melhor quilate, e excede-os a todos nas delongas fastidiosas. Escrevia como quem tinha de seu que dizer, e ainda se aproveitava do que os outros disseram.
Sobre o Padre Manuel Bernardes:
- O seu escrever deve ter sido mui de espaço lavrado para sair tão cuidadosamente asseado e ileso das borbulhas que pruíam nos mais talentosos escritores da sua idade.
Do famoso Dr. João de Barros:
- Em 1522 um outro João de Barros, seu parente, publicava a “Crónica do Imperador Clarimundo”, que requinta na insulsez e na inutilidade.
Frei Francisco de Santo Agostinho de Macedo:
- Frei Francisco sabia vinte e três línguas, a índole da portuguesa de Camões e João de Barros decerto era a prejudicada pela confusão da Babel que se fizera na soberbia glótica do franciscano.
O Dr. Teófilo Braga é quem leva mais bordoada! E não lhe perdoa o mínimo deslize. Professor de Letras no Curso Superior de Literatura, escreveu no seu Manual:  “Depois que Camões soube do desastre de Alcácer Quibir, nunca mais teve saúde; ao começarem os motins populares no curto governo do Cardeal D. Henrique, era em volta de Camões que se agrupavam os leais portugueses...” E Camilo:
- Isto não é provável, mas romanticamente é bom.
E volta a Teófilo, sobre a História do Teatro Português, onde diz que Afonso Mendes é um tipo de criado do género de Esganarello (sic) e de Scapin. Confunde o carácter de Scapin com o de Esganarello. Esta segunda personagem não é criado, “é bourgeois et cocu imaginaire” diz o autor da comédia. O comentador, Teófilo,  ainda insiste que “o tipo de criado astuto e velhaco foi (Molière) tomá-lo nas comédias italianas... sintetizando-o em Sganarello e Scapin”. Mas não escapa:
- Não é conveniente que os professores escorreguem assim aos pares, quando a juventude se queixa de ser reprovada em exames por não acudir com resposta certa a perguntas difíceis.


Teófilo Braga, na época em que Camilo não lhe perdoava nada!

Mais adiante, sobre as “Éclogas” de Bernardim Ribeiro, onde falam dois pastores, “Jano” e “Franco de Sandomir”. TB: “Franco” era evidentemente Francisco Sá de Miranda, e “Jano” o próprio Bernardim, que o Dr. TB assenta categoricamente que este se passara do Torrão para Lisboa em 1496.
Entra o sagaz comentário de Camilo:
- Francisco Sá de Miranda nasceu em 1495, e pondo-se a tagarelar pastorilmente nas margens do Tejo com Bernardim Ribeiro em 1496 ficamos em dúvida qual seja mais prodigioso, se o tal Sá pequerruchinho de um ano a falar, se o senhor doutor e mestre de Literatura (TB) a escrever!
 D. Frei Francisco Alexandre Lobo, bispo de Leiria, o mais esmerado biógrafo de Camões e Frei Luis de Sousa, avisadamente presume que Manuel de Sousa Coutinho (Frei Luis de Sousa) esteve em cativeiro dos argelinos em 1577, e como naquele tempo Miguel de Cervantes estivesse também cativo, inferiu o ilustre biógrafo a possibilidade do encontro dos dois escravos. Diogo Barbosa Machado, o abade de Server, historiando o que sabia sobre Frei Luis de Sousa, já tinha dito que Miguel de Cervantes contraíra estreita amizade com Manuel de Sousa Coutinho. Vai daí romanceia uma “linda” história passada com os dois e até inventou um epitáfio para o túmulo de Manuel de Sousa:

Aqui jaz a viva memória do já morto Manuel de Sousa Coutinho,
cavaleiro português, como se vivo fora. ...
Opinião de Camilo:
-  Não lhe parece, caro leitor, que Miguel Cervantes, a custo de muito lidar com o seu D. Quixote de La Mancha, já estava gafado das mesmas roncarias?
Ainda sobre o Abade de Server diz
- Que lhe falta a concisão da linguagem que ele engrinalda de flores sem brilho nem cheiro.
Camilo não duvida nem dos amores nem da existência da religiosa Mariana do Alcoforado, mas, percorrendo a genealogia da família Alcoforado de Beja, conclui:
- Ainda assim cabe alguma glória aos Alcoforados de Beja, se alguns existem, porque lá têm a mimosa vergôntea da apaixonada freira, que provavelmente feneceu e se pulverizou no claustro de Beja, sem ter frutificado, tendo florescido tanto em cartas de fina amante, amando talvez muito o conde, não escreveu tais cartas, e apenas lhe deu o amor e o nome para a vaidosa ficção.
D. Francisco Manuel de Melo:
-  Os seus escritos estagnaram-se na grande represa das obras condenadas pela inutilidade dos assuntos. D. Francisco foi o espírito mais esterilmente afadigado e o mais simbólico das academias do seu tempo.
Sobre “As Odes Pindéricas” de António Diniz da Cruz e Silva
- ... encomiadas hiperbolicamente por Bocage, graças ao seu afeto ao metaforismo, são uns transuntos de crónicas, uns fastos rimados de façanhas orientais que nos estão ressumando o sangue barbaramente espadanado nos estandartes triunfais dos heróis de Dinis, que são os mesmos de João de Barros e Diogo do Couto. Não lustra um lampejo de alguma suave e humana aspiração nessa ininterrupta cadeia de monótonas proezas.
Teófilo Braga, que no seu Manual de Literatura cita um dito de António Ribeiro Chiado: No beber sou um Golias. Camilo não perdoa:
-Não se lhe aceite o dislate. O personagem querendo inculcar que bebia muito, mediu hiperbolicamente o líquido pelo bojo do corpulentíssimo gigante filisteu Golias, a quem David derrubou com a pedrada. Como quem diz sou um gigante.
O professor (TB) porém, confundiu o gigante com o truão enfrascado na taverna fazendo Golias sinónimo do Goliardo. Tem maravilhosas intuições.
Luis Pinto de Sousa Coutinho, (1735-1804) primeiro visconde de Balsemão, casou com D. Catarina Michaela de Sousa César e Lencastre. No dia do casamento dedicou-lhe um Hino Epitalâmico!
- Esta ode (o Hino...) fecha de maneira tão desusada e tão picarescamente original que pode considerar-se a preexistência do realismo moderníssimo!   
Em Vila Real na procissão do Corpus Cristi a imagem de São Jorge desde há muitos anos costumava ir a cavalo. Por razões desconhecidas o senado da terra ordenou que passasse a ir no andor e não a cavalo. António Lobo de Carvalho poeta de língua farpada não perdeu oportunidade de os satirizar. Camilo comenta:
- A razão deste descavalamento não é bem líquida. Há muitos mistérios que nunca se hão-de elucidar, mormente em coisas de cavalgaduras.
Os fidalgos, que os havia em Vila Real, vila dileta d’El Rei D. Dinis, a julgar pelos brasões musgosos em que as andorinhas dormem no verão e as corujas assobiam no inverno, assanharam-se contra o poeta, fazendo-se representar no desforço pelos seus mochilas.  
Tem mais malhação em Teófilo Braga, mas estas já dão uma ideia!
Para rematar, duas pequenas passagens de cartas escritas ao seu amigo José Barbosa e Silva:
Meu Caro Barbosa
Não respondi ontem à tua carta, por que estive de cama combatendo com remédio preventivo um incómodo gástrico. Eu agora, já não as espero, previno as moléstias, e medico-me de antemão. É mais uma originalidade.

D. Eufrázia manda-te abraços. “Horribile dictu!” É sempre boa patroa, pacientíssima, e sedutora no seu género. Ralha e dorme, e faz regularmente digestão.
Camilo chama-lhe em outra carta “D. Eufrásia (La Forêt em 3ª mão)”; tinha casa de hóspedes, onde Camilo viveu vários períodos, e com ela terá mantido relações íntimas!           

23.06.2019