sábado, 30 de abril de 2016


Há cerca de um mês (final de Março) a SIC e outros orgãos de comunicação, em Portugal, escreveram e divulgaram na Tv uma matéria “malhando” na Casa do Gaiato, a Obra de Rua, que eu conheço bastante bem, e que defenderei sempre que achar oportuno.
Burrice do jornalista que fez a matéria porque mal informado, sentadão na sua cadeira de malidecência, irresponsável. Porque o jornalista não se foi informar? A resposta é simples: ou porque não é jornalista ou porque decidiu politizar o impolitizável!
É fácil ter uma caneta nas mãos e escrever sobre o que se desconhece, e, pior, ficar impune.
Um dos padres desta GRANDE obra, indignado, escreveu no magnífico jornal “O Gaiato”, que eu leio todos os meses com um prazer imenso, o texto abaixo que reproduzo, e vejam algumas fotos do que se passav, em Moçambique há 15 anos!!! E muito tem progredido .


Pontos nos ii
Padre Acílio – Casa do Gaiato de Setúbal

De vez em quando a comunicação social, por meio dos seus jornalistas, lembra-se de, confusamente, atacar a Casa do Gaiato e isto obriga-me a por os pontos nos ii.
As Casas do Gaiato nasceram da situação miserável dos pobres, na alma do Padre Américo e só se devem chamar assim, enquanto tiverem à sua cabeça, um padre pobre, isto é: que não ganhe nada, come à mesa com os rapazes, vista e calce do que lhe dão ou lhe entre­gam para dar aos pobres, vive na Casa do Gaiato com os rapazes e nela trabalha todos os dias e fins-de-semana, sem folgas e muitos anos a fio sem quaisquer férias.

Refeitório, para os 160 gaiatos mais os responsáveis - Moçambique

Dá a sua vida aos rapazes e aos pobres como qualquer pai zeloso, se entrega aos seus filhos, tantas vezes num silêncio doloroso que só Deus avalia.
É um homem pobre, sem carro, sem casa, sem família e sem amigos. É homem dos pobres na sequência de Jesus de Nazaré que não tinha uma pedra para reclinar a cabeça. Não tem reforma, nunca descontou, não tem idade para se jubilar e dá a sua vida até ao des­gaste final.            
Esta é a situação real dos padres da Casa do Gaiato que por isso se chamam Padres da Rua.
As Casas do Gaiato são igual­mente Obras que têm como mães de família. Senhoras Consagradas à vida de Jesus, não ritualmente, mas na realidade, nas vicissitudes diárias dos rapazes com a atenção e o desvelo de uma diligente mãe de família, como os padres da Casa do Gaiato. Sem Sábados nem Domingos e alguns anos sem férias nem retiros numa oferta contínua, heróica e silenciosa a gerações e gerações de rapazes.
Estas são parte das camisas acabadas de lavar.
E faltam aqui as calças, cuecas, pijamas, meias e agasalhos!

As Casas do Gaiato são institui­ções pobres, sem qualquer apoio do Estado, onde se aproveitam e promovem todos os valores e qua­lidades dos rapazes sem menospre­zar técnicos das diversas áreas da ciência educacional como psicólo­gos, pedopsiquiatras, neurologistas e outros, mas onde os rapazes são encaminhados, a viverem um auto­governo, como Obra de Rapazes, para Rapazes, pêlos Rapazes.
Uma instituição que não goze destas características não pode e não deve ser chamada de Casa do Gaiato. É uma mentira a reclamar para si este nobre nome.
Compete a quem de direito repor a verdade e não andar a mentir.
Se, por desgraça, alguma das actuais Casas do Gaiato da Obra do Padre Américo deixar de ser assim, já não é uma Casa do Gaiato, terá de ter outro nome como casa de rapazes, de crianças, de adolescen­tes, de famílias ou qualquer outro, nunca este célebre nome tão português e cristão que pertence à Obra da Rua e a mais ninguém.
As Casas do Gaiato, são essen­cialmente instrumentos apostóli­cos ao serviço do Evangelho e não meras casas de assistência, ainda que meritória.

Creche. Construida e sistentada pela Casa do Gaiato - Moçambique

Chegam onde os Bispos e os Padres não alcançam e fazem-no em Nome do Bispo e da Igreja Católica, por Amor de Deus, dos Rapazes e dos Pobres.
Não será insensatez da minha parte fazer este esclarecimento sobre um assunto que os nossos Leitores bem conhecem, mas que os media mais pesados e mais poderosos teimam em pôr em causa.
Os jornalistas destas empresas, pagos para escandalizar o povo, com meias verdades, nem de longe sonham a dureza da vida dos Padres das Casas do Gaiato; e então, de forma ambígua, dão notícias, pisando as regras mais elementares da lógica para con­fundir todos e vender o seu peixe que é quase sempre demolidor e raras vezes construtivo.
Já estou habituado, mas à essa pobre gente também quero dizer, com as devidas distâncias, como Paulo na 2a Carta aos Coríntios. No princípio e para levantar esta Casa, passei fome e frio. Nalguns Invernos enrolava-me num cober­tor para vencer a noite e conseguir o sono. Felizmente esta carência está hoje largamente ultrapassada e distribuímos muita roupa aos pobres.
Comprei, uma vez, um cinto para segurar as calças. Fiz cerca de um milhão de quilómetros numa motorizada, em duas lambretas e duas vespas e em motos emprestadas, de Inverno e de Verão à geada e à chuva.
Com a camioneta da Casa, carreguei, da Secil, toda a pedra oferecida para construir as nossas oficinas e as nossas escolas, que agora, também por virtude das mentiras e calúnias, estão fecha­das.
Enchi com os rapazes, à pá, milhares e milhares de sacos de cimento, no meio de muito pó dele, de tal modo que os encarre­gados da Secil, com pena de nós, ofereciam máscaras para tapar­mos a boca e o nariz.
Várias vezes caí nos motoci­clos, fazendo em certa ocasião um buraco numa perna e per­dendo os sentidos. Noutra altura a lambreta avariou em Lagos e não tendo dinheiro para reparação, fui pedi-lo ao pároco que me deu cama, mesa e pagou a dívida.
Ceifei arroz à mão, muitos anos, com os rapazes e debulhei-oaté altas horas dá noite para com o dinheiro dele pagar as dívidas feitas ao longo do ano.
Agarrei no tractor, lavrei, gra­dei, semeei, sachei e colhi vários alimentos ao longo dos anos.

Casas para viúvas que tudo perderam com uma catastrófica cheia

Se saí para o estrangeiro foi para o meio dos pobres de Angola, São Tomé e Moçambique, e, por lá, sempre trabalhei para os ajudar e não ser pesado a ninguém.
Por duas vezes, tive viagens e hotéis pagos, oferecidos para ir a Roma e à Terra Santa, e nunca tive tempo.
Não me devia gloriar, antes estar calado, mas essas pessoas sequiosas de atacar quem faz o bem, precisam de saber que uma Casa do Gaiato, é uma realidade séria com que não se deve brincar e muito necessária no tempo em que foi criada — e ainda hoje, com tanta miséria escondida e tão desoladora indiferença.
Se é preciso gloriar-me da minha fraqueja, gloriar-me-ei, mas Deus, que conhece os cora­ções, sabe que não minto.
A Ele peço perdão desta amos­tra, o resto é com Ele!
A vida dos Padres das Casas do Gaiato da Obra da Rua é toda ela, semelhante e nalguns muito mais heróica que a minha.

Quem achar de interesse, por favor, divulgue.
E o jornalista que faça mais e melhor! Ou então cale a boca.


29/04/2016

segunda-feira, 25 de abril de 2016




Era uma vez...
Na Europa, África, América...

Nada existe melhor do que uma fofoca. Ou mais... Sem dizer mal de alguém, só para início de conversa.
O que vem a seguir, foi divulgado, entre amigos, no livro “Contos Peregrinos a Preto e Branco”, de 1998, escrito, com vagar, desde alguns anos antes, até ter tido a coragem de juntar tantas “Estórias com História”.
Quem leu o livro já conhece as histórias, quem não conhece, aproveite as fofocas.
*             *             *
Esta língua portuguesa é complicada. Em Portugal, e só dentro das suas pequeninas fronteiras, já é complicadíssima. Quando entram outros países chamados lusófonos, torna-se então um labirinto.
Não precisamos ir muito longe para nos baralharmos. Basta uma simples tangerina. Em Lisboa está muito bem, é mesmo uma tangerina, mas no Brasil algumas são mexericas! Mexerica ou mexeriqueira em Portugal é no Brasil uma fofoqueira. Nêspera em Lisboa, é magnório no Porto. E meias? Aquele negócio onde se enfiam os pés, podem ser meias mesmo, peúgas, coturnos e até a pretensiosa inglesice de soquetes! Bolsos ou algibeiras? Talho ou açougue? Talhante, açougueiro ou magarefe?
Falar de uma carona, à brasileira, deveria ser uma boleia à portuguesa? E a bicha que o brasileiro adora ver em Portugal e não acha graça na sua terra?
Beber uma cerveja? Em Lisboa é uma imperial, no Brasil sai um chope estupidamente gelado, em Angola um fino. Aqui, lá em Angola, é jinguba o que no Brasil e Portugal é amendoim, mancarra na Guiné, e alcagoitas no Algarve (do nauatle, México).
O que não é muito agradável para um brasileiro é chegar a Portugal onde espera ser recebido com carinho, e oferecerem-lhe uns tapas ou um prego no pão! E o paneleiro, que no Brasil todas as famílias têm em casa, na cozinha? De fato, é o nome mais apropriado para o local onde se guardam as panelas! Pois, pois, mas o paneleiro lá da terrinha é um veado no Brasil! E enquanto um fresco em Portugal será um sujeito atrevidote, metediço, no Brasil é um maricas.
E quando alguém vai descansar as pernas numa cadeira? Senta-se, ou se senta? Informa-se, ou se informa?
E em relação aos povos de África? Está consignado que os europeus são brancos, mas os africanos em Portugal têm que ser pretos porque negro é ofensivo!  Negro é o carvão! Já no Brasil não pode ser preto. Tem que ser negro ou escuro!
Se até há pouco tempo, as designações de preto ou negro eram sinônimos de gente da mais humilde condição, hoje o que está na moda é chamar branco a todo o indivíduo que destrói o meio ambiente! No Brasil, por exemplo, quem destrói a floresta Amazônica é só o branco! Não é o brasileiro, independente da sua raça, branca, negra, amarela, pura ou mestiça. É o branco! Porquê? Ah! Isso é preciso perguntar aos jornalistas e professores intelectualoides que, insistentemente, fazem esta absurda afirmação.
E por aí vai. Estes escritos não pretendem ser um dicionário de português-português, nem léxico, glossário ou elucidário.  Deus me livre de semelhante presunção. Para evitar essas confusões umas vezes vai escrito de um jeito, outras de outro. Espero que dê para entender.
Mas acaba sendo divertido, mais ainda quando depois se depara com alguém que tem a veleidade, feito sir Galaad, de defender a autenticidade ou legitimidade de determinada forma, como aconteceu quando se discutiu o acordo ortográfico!
Como esta lusofonia nunca foi, nem nunca será uniforme, a sua diversidade dá-lhe vida, graça, universalidade. E motivo para cada um rir do outro e com o outro. Saudável.
O português levou a sua língua aos quatro cantos do mundo, espalhou-a por todos os continentes, e com diversidade ou sem ela, as pessoas entendem-se muito bem. Quando querem, claro. Quando não querem, surdo mudo, é melhor.
É bastante indiferente o modo como se escreve, desde que quem leia consiga compreender, sem esforço, a mensagem que o escrito procura transmitir, se é que a tem. Por isso também a técnica usada nestes apontamentos foi baralhar os sotaques dos diversos países. Os sábios da nossa língua nem sequer têm que se preocupar em me perdoar porque não creio que algum deles se interesse pelo que escrevo! E se um dia tiver a sorte de merecer qualquer crítica, mesmo arrasante, será uma honra. Imerecida. A honra. O arraso não.
Aliás segundo as opiniões últimas dos cientistas começaram a ser perdoados os erros de escrita que os novos acordos ortográficos aposentam, para chamar a essas versões, não incorretas, mas em desuso! Ótimo (com p, com assento ou sem ele?). Como muitos anos já me passaram em cima é bem possível que eu esteja obsoleto!
À lareira em Portugal, sentados ao redor duma bela fogueira nos sertões d´África, deitados ao sol numa praia maravilhosa do Brasil, bebendo umas e outras, geladíssimas, numa esplanada descontraída ou num café, há alguma coisa melhor do que conversar, bater um bom papo, contar histórias ou estórias, aventuras, compartilhar vivências?
Às vezes o silêncio é melhor. Muito silêncio entedia. Muita conversa cansa. Tudo na vida tem que ser como o presunto. Entremeado!
Por fim uma singela homenagem ao saudoso grande folclorista angolano Oscar Ribas lembrando o título de um livro seu, que melhor traduz tudo o que se segue:
SUNGUILANDO!

1944/45. O autor esteve um ano no colégio das Caldinhas dos jesuítas, em Santo Tirso, 3º ano do liceu, onde muita bordoada apanhou do Golias, um tomador de conta dos alunos que era uma besta, grande, bruto e covarde. Antes de arranjar emprego junto dos jesuítas havia sido futebolista; o seu sucesso fora tanto que optou por ser carrasco de crianças dos 10 aos 13 anos! Quando jogava o futebol lá no colégio, o Golias era sempre da outra equipa! Malandro, escondia a bola debaixo da sotaina e muito maior do que toda a criançada, avançava, confiante, até que em frente da baliza desferia um violento pontapé na bola que o goleirinho raras vezes conseguia segurar. Como o mais velho dos mais novos, 12/13 anos, sempre seu adversário, rápido aprendeu que para segurar aquele trator só havia uma maneira: chutar por debaixo das saias do homem, que a bola estando por lá, havia de sair. E saía. A bola por um lado, o Golias por outro e o nosso defesa por outro ainda. Golias levantava-se como um dragão, olhos chispando fogo, os puxa saco ajudando a sacudir o pó da batina preta, recomeçava o jogo. Tinha sempre que se vingar, e com isso o infeliz que se atrevesse a enfrentá-lo era impiedosamente derrubado. Voltava rápido ao ataque e no momento oportuno passava a bola a outro e sem querer chutava com violência as canelas do desgraçado. Imaginem quem era o tal desgraçado e como ele tinha as canelas! Como se amavam os dois! Passou alguns maus bocados naquele colégio, mas aprendeu muita coisa interessante, uma das quais foi ter jurado que filho seu nunca para ali iria. E não foi.

1948~50. Alentejo da minh’alma... Os bailes no Clube Lusitano de Évora. Tinha orquestra. As meninas com ar cândido e olhar lânguido, vestidas de tafetá amarrotável, sem decotes, e do braço só o punho atrevidamente de fora, sentadas na primeira fila de cadeiras. Na segunda, as mamãs, conhecidas como arame farpado, muitas de lenço na cabeça e buço aparado, velando e zelando pela decência e castidade das filhinhas que ao dançar não deviam nem se agarrar com muita força, nem se deixar apertar muito pelo par. Havia que manter uma certa distância de peitos e pernas, o que era completamente impossível, não só pelo número de pares que ocupava a pista de dança, mas sobretudo porque ninguém aceitava dançar desse jeito. Sempre se dançava agarradinhos, quando os aromas emanados da parceira o permitia! De qualquer modo eram todas meninas de gentil aspecto e nenhuma esquivança aos dardos penetrantes de Cupido, como dizia Camilo. Enfim... Trocavam-se juras de amor, ouviam-se secas tampas, ao que hoje se chama levar o fora, marcavam-se encontros para um dia seguinte, arranjavam-se chaperons - pessoa que pudesse acompanhar o par, ao longe, para não prejudicar possíveis e desejáveis intimidades, mas que velasse para que não avançassem mais do que demasiado - mas poucos iam além do baile. Neste, os homens amontoados à porta que separava o bar do salão da dança, esperavam o desafinado primeiro acorde da sanfona para atropeladamente invadirem a sala, correndo para o par a quem haviam feito prévios sinais de entendimento. Quem se atrasava não dançava. Não sobrava garota nenhuma, nem feia. Os machos, nos intervalos das danças iam ao bar beber uns copos - vinho, cerveja ou aguardente, o que viesse morria - e à saída, já quentes e apaixonados, envolviam-se em idiotas cenas de pancadaria. Macho é macho. Grandes farras.

1954. Uma vez nessa África, que continua a povoar os sonhos que quem por ela se apaixonou, Angola, ali por alturas do Cubal, numa fazenda de sisal, todo equipado para andar no perigoso mato, chapéu colonial, daquele bonitão com aba de cortiça, e bota alta, teve o azar de parar bem em cima da entrada de um ninho de quissonde ou bissonde, (também conhecidas no Brasil por crauçanga, morupeteca e taoca) aquelas horrorosas formigonas vermelhas escuras que têm uma mordida forte e dolorosa. Em menos de um minuto estava a ser mordido no corpo todo. Teve que se empoleirar no trator e aí, em frente do pessoal que assistia ao trabalho das máquinas, incluindo a dona da fazenda, despir-se todo, todo, e catar uma a uma as miseráveis formigas que pelas fortes mandíbulas estavam já agarradas ao seu corpo. Se o não fizesse tão rápido talvez tivesse lá deixado somente os ossos. Foi bravo e uma bela lição. Até as grandes feras evitam essas “mininas”!
Belo chapéu!



1969 ou 70. Mais ou menos. Bebidas: só bebia nacionais e estrangeiras. Mas nada se compara a um bom vinho novo bebido em casa do produtor. Quando vivia em Angola tinha uma sequiosa saudade deste néctar. Numa das idas a Portugal, um tio, que nessa altura era importante, com direito a carro, bom, motorista e tudo, foi esperá-lo ao Aeroporto.
Onde queres ir?
Primeiro que tudo quero ir ao Cartaxo beber um copo de vinho!
Ao Cartaxo?
Sim.  
Porquê ao Cartaxo?
Porque venho com uma saudade danada de beber um copo de carrascão!
Lá foram. Andaram sessenta quilômetros, para cada lado, só para entrar no primeiro tasco que apareceu e beber dois copos de vinho: um branco e um tinto.
O homem do tasco vê parar um Mercedes à porta, coisa inusitada, sai de lá um sujeito que pede um “copo de três” branco! Ahhhh! Que maravilha.
Agora quero um de tinto!
Estavam assassinadas as saudades. Voltaram para Lisboa.


Escrito em 2002 – A continutar

segunda-feira, 18 de abril de 2016



O crepúsculo


Frase feita: a cada novo minuto, ou segundo, entramos nos últimos dias da nossa vida. Tanto faz ter 20 ou 80 anos a Dama de Branco nunca marca hora, mas sempre aparece.
Os hindus são talvez – alguns – dos que mais meditam, e procuram dedicar a velhice à preparação da sua estadia no Além, que, para praticamente todos é de pouca duração visto que acreditam na reencarnação. Nessa altura da vida nada os interessa mais do que meditar, penitenciarem-se por algum pecado cometido, esquecer o corpo, o Ego, e esperar o momento da transição com a mente, o Eu, preparada.
Além disso pouco mais um ancião pode fazer: faltam-lhe as forças, começa a confundir os problemas, uma maleita aqui, outra ali, se por acaso o cérebro não foi afetado, ele vive com algumas memórias, que sabe que são assuntos que deixaram de lhe pertencer, e valoriza o espírito.
Renasce.
Jesus disse: “Na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o reino dos céus. João 3:3.”
É difícil renascer quando se está em plena força da vida. A família, o trabalho, o sobreviver, a luta diária, muitas vezes não permite uma folga, um tempinho para deixar o ego de lado e pensar no eu. Mesmo sem querer viramos egoístas
“Conhece-te a ti mesmo”.
No antigo templo de Luxor, há dois provérbios, gravados na pedra: um deles, no templo exterior onde os iniciantes estavam autorizados a entrar, diz "O corpo é a casa de Deus". É por isso que se diz: "Homem, conhece a ti mesmo." No templo interior, onde só se podia entrar depois de comprovado estar digno e pronto para adquirir maior conhecimento e iluminação, um dos provérbios é "Homem, conhece-te a ti mesmo, assim conhecerás os deuses."
Mas quem é o “A ti mesmo”?
Sou eu? Só, ego-ísta, ego-centrista, que me olho no espelho e procuro melhorar a minha imagem, a imagem passageira do tempo em que era jovem, bonito (?), cheio de saúde, que me quero exibir aos outros, a querer sempre mais e melhor, ou a do velho, carcomido pelos anos, doenças e quantas vezes pela solidão?
Lembram de “O Retrato de Dorian Gray”? Um dos mais bem explorados “retratos” daqueles que não tomam conhecimento do Outro, do seu igual, do ambiente, e do seu espírito.
Há alguns dias escrevi um pouco sobre Confúcio, um homem de rígida moral social, que orientou a vida do povo chinês durante mais de um milénio. Mas Confúcio não passou para o plano espiritual todo o seu imenso saber e exemplo. Até ao fim dos seus dias procurou um lugar de relevo em qualquer das cortes reais.
Possivelmente contemporâneo outro grande homem, uma grande lenda, viveu para procurar conduzir os homens ao plano mais elevado, à existência dum Ser supremo que rege o curso do Universo, o Tao.
Esse homem foi outro mestre, Laozi ou Lao Tsé, o Grande Mestre Lao.
Uma biografia, Shih-chi, compilação histórica escrita no século I a.C. descreve um encontro estes dois grandes Mestres. Lao Tsé teria reprovado o orgulho e a ambição de Confúcio em termos tão profundos que este o terá comparado a um dragão que cavalga sobre nuvens até ao céu.
Para Laozi, tudo tem origem no Tao, obedece às leis do Tao e finalmente retorna a Tao, que pode ser descrito como a divindade, o ser absoluto, a ordem do mundo, a natureza moral do homem bom, enfim ao que nós chamamos de Deus, havendo quem lhe chame Brahman, Yahveh, God, Boh, Jumala e tantos outros nomes.
Lao-Tsé, quando, segundo a lenda desapareceu montado num búfalo

Deus não é um castigador, nem jamais mandou exércitos para combater “infiéis”, nem faz milagres para que a vida deste ou daquele corra melhor. Nem mesmo que se encha o mundo de velas e promessas deixarão de haver terramotos, tsunamis e outras catástrofes naturais.
O monoteísta reconhece um Deus-pessoa que reside no céu. Os hebreus no tempo de Moisés não reconheciam um Deus Único para todo o mundo, mas privativo para Israel, o Deus dos Exércitos. Einstein escreveu que há três tipos de concepção de Deus:
1.- Deus-máquina entre os povos primitivos;
2.- Deus-pessoa entre os hebreus do Antigo Testamento e os cristãos de todos os tempos;
3.- Deus-cósmico professado por poucos místicos que ultrapassam a noção de igrejas, teologias e se encontram em todo o lugar. Entre estes enumera três Demócrito, Francisco de Assis e Spinoza, um pagão, um cristão e um hebreu.
Demócrito considerava a felicidade como objetivo do homem, Francisco, o Poverello “casou” com a Pobreza para viver somente o seu Eu, o espírito, e Spinoza para quem Deus e Natureza nada mais são do que dois nomes para a mesma realidade, a única e qualquer espécie de matéria em que consiste o universo.
Para fechar, que o tema é complicado, uma pequena passagem de um dos poemas de Lao-Tsé
A ética genuína só existe
Onde o homem vive de dentro da sua fonte
E age pela pureza do seu coração;
Onde a genuinidade do seu ser
Se revela em atos desinteressados
E isentos de desejos.
Ou ainda
Quem dá valor a si mesmo, não é valorizado.
Quem se julga importante, não merece importância.
Quem se louva a si mesmo, não é grande.
Tais atitudes são detestadas pelos poderes celestes.
Detesta-as também tu, ó homem sapiente.
Quem tem consciência da sua dignidade,
De ser veículo do Infinito, se abstém de tais atos.

P.S.- Estes poemas não lembram seres repelentes tais como... uns quantos políticos?


18/04/2016

segunda-feira, 11 de abril de 2016



Luanda 1962 (ou 3?)
Cervejas e baratas

Faz muito tempo e pode ser que a memória apresente algumas falhas, mas o que vamos contar, em poucas linhas, retrata como era o tempo em que quase se via o Tarzan a passear nas matas dos arredores daquela cidade que nos ficou “cá dentro”!
Vai já lá para o tempo do Kaparandanda! Quando eu ainda trabalhava da Cuca!!!

Estes copos da “Cuca” têm uma história curiosa. Qualquer dia eu conto.

Volta e meia, raras vezes, felizmente, aparecia uma reclamação de tal forma violenta que parecia que o mundo vinha abaixo; Alguém tinha encontrado uma garrafa, fechada como de fábrica, com uma enorme baratona dentro.
“Aqui d’El-Rei - o pessoal da Cuca são uns porcos, nem as garrafas lavam, isto vai render um monte de dinheiro que é para eles aprenderem, etc.”
Lá ia o pessoal do serviço de vendas falar com o cliente, quase sempre muito renitente em aceitar que aquilo era obra de terceiros, porque a garrafa parecia, efetivamente, inviolada.
Como é de imaginar a Companhia não pagava um cêntimo, e o assunto acabava por se resolver no papo, nuns copos, e pronto.
A verdade é que para todo o pessoal da Cuca, serviços de produção e comerciais, aquela baratas sempre foram um mistério! Garrafas lavadas em máquinas, com água a 90° graus, soda cáustica, depois detergente, etc., as garrafas saiam da máquina de lavar mais limpas do que quando novas, e não havia a menor condição de uma barata, um prego ou que fosse permanecer lá dentro.
Antes do enchimento passavam pelo menos por duas funcionárias que viam até mosquito na outra banda, e o mesmo se passava após cheias e capsuladas.
Baratas? Um mistério que ficou por desvendar! Sabotagem? Azar? Chi lo sa?
Um dia, num miserável comércio de beira de estrada, onde depois todos os brancos sumiram, dia quente, para variar, de regresso lá dos interiores, parei para refrescar a goela, saber como estava o abastecimento e... beber uma cervejinha. Lá dentro um outro cliente berrava que lhe tinham servido uma cerveja com a tal baratinha dentro. Aliás baratona. Imensa.
Não me dei a conhecer como funcionário da Cuca, mas tentei explicar que conhecia a fábrica e que tal situação era impossível de acontecer. O cliente deve ter-me mandado para algum lugar pouco conveniente, e quem estava a servir ao balcão era um garoto dos seus 12 ou 13 anos, que logo quis meter mais gasolina no fogo: “Eu sei que “eles” lá não lavam as garrafas. Contou-me um cliente que aqui passou!”
Já a só, identifiquei-me e convidei-o a visitar a fábrica, o que fez brilhar os seus olhos de jovem ignorante do mato.
A Cuca faria 10 anos de atividade (?) e decidiu convidar todos os seus clientes comerciantes, da cidade de Luanda e arredores, para uma visita à fábrica seguida dum... lanchezinho!
Tudo muito bem organizado, convites bonitos, impressos, encomenda a pasteleiros, confeiteiros e ao cozinheiro da companhia, uma imensa quantidade de pasteis de bacalhau, croquetes, pasteis de nata e outros doces, sanduiches diversos, camarão “tira-gosto” e mais um monte de outros petiscos, incluindo os indispensáveis tremoços, e uma dobradinha que se ia petiscando com um palito, além de, o que seria de esperar, cerveja a copo – chope – a correr solta!
Aí pelas 3 ou 4 da tarde os convidados, incluindo o garoto “convidado especial”, foram chegando, a maioria gente humilde, relativamente poucos africanos, todos envergando a fatiota mais chique que puderam encontrar, apresentavam o convite na portaria onde eram recepcionados pelo Secretário da Administração, o meu querido amigo João Matos Chaves para, como bom dono de casa, ir cumprimentando todos os que apareciam.
Os convidados eram agrupados, talvez uma dúzia de cada vez e um funcionário dos serviços comerciais acompanhava-os na visita à fábrica, coisa que, praticamente todos, não tinha ideia do que seria! Faziam perguntas. Extasiavam-se ao ver tão “magníficas” instalações de onde saía aquela bebidinha gostosa, ‘a rainha das cervejas” de Angola.
Entre os convidados surgiu o porteiro da Companhia, todo “bem posto”, convite na mão.
-“Tu aqui”? – “Sim sr. Dr. Eu tenho um pequeno comércio, a minha mulher ficou a tomar conta da loja e eu vim aproveitar para conhecer a fábrica. Trabalho aqui há cinco anos e nunca passei desta portaria”!
Acabada a visita à fábrica dirigiam-se para o galpão onde normalmente ficavam estacionados os caminhões de entrega, nessa tarde ocupado com inúmeras mesas cheias de apetitosas iguarias.
A primeira coisa que viam era um funcionário a oferecer-lhes um copo... bem geladinha.
Soltos em frente às mesas com os petiscos, era ver a velocidade como se saciavam e com que rapidez iam virando os copos, garganta abaixo!
Chegaram umas quantas dezenas de visitantes, que o tempo passado não permite já calcular quantos teriam sido e, por muito que o pessoal da Companhia quisesse dialogar com eles, as bocas entupidas de bacalhau e bolos não lhes permitia grandes conversas.
O dia chegava ao fim, e ninguém arredava pé. Festa daquela, “boca livre” com cerveja na própria fábrica segurava a turma.
O sol posto, as luzes da “garagem” acesas, uma boa porcentagem dos convivas já mal se aguentava nas canelas, e ninguém atinava com a melhor maneira de os mandar embora.
Surgiu por fim uma ideia luminosa: apagar as luzes! Não todas mas as suficientes para lhes mostrar que a festa chegara ao fim.
Foi um Deus nos acuda. O povo decidiu que em cima das mesas não devia ficar nada e vá de encher os bolsos das calças, do casaco e das camisas, com pasteis, croquetes e até pasteis de nata. Houve alguns que cerimoniosamente vieram perguntar se não nos importávamos que levassem “uns bolinhos para a esposa e crianças”! “Podem levar tudo. Até facilita a limpeza que se seguirá. ”
E foi o assalto final! Metia nojo ver aqueles selvagens a encherem os bolsos com doces, salgados e ainda a quererem beber o último copo de cerveja.
Alguns abriam a camisa e, em bom português enchiam o bandulho “externo”!
À medida que se iam despedindo, bolsos e camisas cheias, pensámos (eu estava lá!) que a melhor maneira de retribuir a simpática visita deles eram abraçá-los com “viva” emoção, esmagando o que pudéssemos nos seus bolsos e barrigas! E lá foi aquele bando de hienas, semi bêbedos, cheios de nódoas no corpo e na roupa o que não os perturbou minimamente!
Não deixaram uma só migalha para mais alguém aproveitar, o que facilitou imenso o serviço de limpeza!
Depois disto, o pessoal da Companhia, muito riu e muito se desgostou com a bestialidade de alguns, felizmente a minoria.
Reclamações de baratas... se não sumiram todas, ficaram reduzidas a muito vagas exceções.
Mas, é preciso confessar: eram muito mais simpáticas aquelas baratinhas do que a zika, o dengue, a chicungunha, a madama vaca, o sapo ladrão, e outros bichos horrendos que infestam esta região, além da tristíssima microcefalia. Sem esquecer o total desgoverno, a desorganização na saúde, economia, educação, transportes... já chega, né?
Quem não tem saudades de Luanda do tempo do Kaparandanda?


08/04/2016

segunda-feira, 4 de abril de 2016



Primeiro... Eu!


Para quem não conhece bem a história, aliás histórias recentes do Brasil, aqui vão algumas.
Comecemos pelo futebol.
Em 1976 a companhia de tabacos J. Reynolds lançou uma campanha para dinamizar as vendas de mais um “fumo cancerígeno”, o Vila Rica. Contratado para ser o garoto propaganda foi o então muito conhecido (e ótimo) futebolista, Gerson. A mensagem era simples:
Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!”
Brincando com essa publicidade a verdade é que toda a gente sabia já, de há muito, que era preciso levar vantagem SEMPRE. Da constante repetição desta frase publicitária, nasceu aquilo que ficou conhecido como a Lei de Gerson: Levar vantagem em tudo, o que, como se está bem a ver, a grossa maioria da politicada levou tão a sério que hoje o Brasil está semifalido. Econômica e politicamente. E se não 100%, aí uns 99,99% dos brasileiros consideram que “levar vantagem”, só trouxa é que não leva: na “conversa” com o guarda de trânsito, com os falsificadores de cartas de condução – aos milhares, todo o ano, no Brasil – mais uma graninha para que a repartição pública despache logo o pedido de qualquer documento, o preenchimento de cargos “convidados”, e mais acima, sem falar no PT e nos políticos, até por estas bandas existem muitos juízes metidos em venda de sentenças. E por aí vai o Levar Vantagem!
Historinha simples mas bem endémica! Mais ou menos, porque o “vírus” já está por toda a parte!
Podemos aqui recordar mais uma frase de Confúcio: “Não te preocupes por não teres emprego, mas tem antes o cuidado de te tornares capaz de o ter; não te preocupes por não seres conhecido, mas tem antes tem o cuidado de te tornares digno de o ser.”
Mas não se fica por aqui o “Levar Vantagem”.  Há formas sofisticadas de levar TODA a vantagem.
Em 2005 faleceu um grande músico, sambista, Bezerra da Silva, que cantava um sambinha, que muito tem ajudado a “turma do andar de cima”, e que se chama “Meu pirão primeiro”.


Ouçam bem a música enquanto acompanham o cantor com a letra que aqui vai, e por fim iremos aos finalmentes, para ver como o Levar Vantagem e O Meu Pirão Primeiro, dominam o comportamento da infâmia e, por exemplo dos (ir)responsáveis, da coletânea.

Meu Pirão Primeiro 

Farinha pouca,
Meu pirão primeiro.
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro.

E a chica assim dizia,
Na hora de preparar.
Pro pirão ficar gostoso,
Tem que saber temperar.

Eu falei pra você,

Se a farinha é pouca,
Meu pirão primeiro
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro.

Olha que o pirão da tia Chica
Todos queriam comer
Porque era preparado
No azeite de dendê

Tô dizendo a você!

Se a farinha é pouca,
Meu pirão primeiro.
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro.

Olha que preto velho Benedito,
Dizia pra tia Inês.
Quem comer o pirão da Chica,
Fica sem comer um mês.

Eu falei pra você,

Se a farinha é pouca,
Meu pirão primeiro.
Este é um velho ditado,
Do tempo do cativeiro

Com o país à beira da falência técnica, sobretudo o Estado do Rio de Janeiro, cuja folha de pagamento dos funcionários, conforme é público, é igual a 110% do total da arrecadação... o governador tem que andar a mendigar empréstimos e a adiar o pagamento dos salários! Habituado a contar com o ovo no c... da galinha petrolífera, agora que o petróleo foi por água abaixo, os royalties estão na base da amargura.
Até há pouco o Estado do Rio vivia dando risada com sobra de grana e agora...
Nunca ouviram a fábula da Cigarra e da Formiga!
Mas há muitos gersons em posição de super mando: entre eles destaca-se o judiciário! Pelo segundo mês consecutivo, o tribunal emite uma ordem – sentença? – mandando que o governo lhes pague integralmente na data estabelecida, mesmo que os restantes funcionários tenham que esperar... meses.
Coisa a que eles chamam, eufemisticamente, de Justiça!
Isto não chega a ser infâmia. A palavra mais apropriada seria ESCULHAMBAÇÃO! Já ouvi dizer que se chama de democracia. Dos Três Poderes! Pudera.
O total desprezo pelo Outro.
Deviam mudar a bandeira do Brasil. Para isso atrevo uma solução alternativa:
1.- substituir as estrelas, todas, por moedas de ouro;
2.- tirar a “Ordem e Progresso” e escrever “MEU PRIRÃO PRIMEIRO”, mandando hastear esta nova versão, em tamanho gigante, em todo o lugar.
E mais uma vez uma “lembrança” da Velha China, com este poema, a propósito, de Lao Tsé:
Favor e desfavor geram angustia.
Honras geram dissabores para o ego.
Por que é que favor e desfavor geram dissabores?
Porque quem espera favor paira na incerteza,
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor também paira na incerteza:
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Por que é que as honras geram dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
De alguém ser um ego.
E não é possível contentar o ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego,
Não haveria mais dissabores.
Por isto:
Quem se mantém liberto de favores e desfavores
Liberta-se da idolatria do ego
Só pode possuir o Reino
Quem está disposto a servir desinteressado,
A esse se pode confiar o Reino.

Também se atribui a Lao Tsé esta verdade, fria e cortante como aço: Quanto maior o número de leis, tanto maior o número de ladrões.” 

Resumo: “É difícil viver com as pessoas porque calar é muito difícil.” (
Nietzsche)


03/04/2016