terça-feira, 31 de dezembro de 2013



Babel


Nada mais indicado do que começar o ano com um paralelo à história (ou lenda?) da Torre de Babel.
Toda a gente conhece a história dessa “torre” que os homens começaram a construir para chegar onde estava Deus, Iavé, porque sentiam-se segregados por Deus estar lá no alto e o povão em baixo. Queriam, de qualquer forma repetir a “gracinha” de Adão igualando-se ao Deus!
A forma grega do nome, Babilônia, é do acadiano Bāb-ilu, que significa "Portão de Deus". Isto seria mais tarde o propósito religioso das grandes torres-templo (os zigurates) da antiga Suméria (Sinar bíblica, no sul do Iraque moderno). Estes templos enormes, quadrados e com escadas, eram vistos como portões para os deuses virem à terra, escadas literais para e do céu, e serviam de observatórios astronómicos.
Para os judeus, no entanto, Babel ficou significando confusão, e hoje talvez em todo o lado se use esta palavra com esse sentido, porque Jeová desceu para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam. Disse Jeová: Eis que o povo é um só, e todos eles têm uma só linguagem. Isto é o que começam a fazer, e como isso significaria a arrogância dos homens, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam a linguagem um do outro. E assim Jeová os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.
Fazendo as contas da “idade” da Torre, esta teria sido uns 2.000 anos antes dos sumérios construirem os zigurates, e alguns destes seriam do terceiro milênio antes da era cristã. Resumindo, a “Torre” estaria “em construção” há 2.000 + 3.000 + 2.000, i.é, há uns bons 7.000 anos.
E o tamanho, é evidente que ninguém sabe até que altura chegaram, mas o Livro dos Jubileus refere a sua altura como sendo de 5433 cúbitos – o tamanho do maior osso do braço – e 2 palmos (2.484 metros de altura). (Reparem na precisão dos dois palmos!)
E, eis-nos agora, nós, no ano da Graça de 2014, o 5775 dos judeus (será que o Adão é posterior à Torre de Babel ???), 1422 para os muçulmanos, o não sei quantos dos hindus, mas o que todos sabemos é que, passados já tantos milhares de anos, cada vez menos as pessoas se entendem, mesmo que falem a mesma língua ou que tenham equipamentos chiquérrimos de tradução simultânea.
É muito fácil saber onde estão hoje essas “torres babélicas”, onde se junta um monte de indivíduos com regalias de marajás, para não só não resolverem nada e sobretudo para provocar uma maior desunião, mas o que é difícil compreender é porque Jeová insiste em que ninguém se entenda.
Em qualquer congresso, teoricamente democrático, como nos EUA, no Brasil, na UE, não existe qualquer hipótese de concordância, a menos que se lubrifiquem os bolsos dos votantes. E como é impossível lubrificar todos... Mas é fácil “ver” também onde estão as “torres da concórdia” – na China, com seu parlamento comunista-capitalista selvagem, Rússia com um dono igualmente capitalista selvagem kágêbista, Coréia do Norte, com a Imperial Monárquica República Popular, onde o voto nem sequer existe, mas a unânime aclamação dos Queridos Líderes, mas estes ainda estão na fase da construção da “torre”. Mais dia menos dia tudo isto ruirá e “não ficará pedra sobre pedra”, mesmo nos países teoricamente democráticos.
No Brasil também se entendem os congressistas, porque com o jeitinho brasileiro de resolver tudo pela forma mais fácil, há uma concordância inata quando se trata de legislar em causa própria, e mais inata ainda quando surgem as oportunidades de meter a mão no bolo da res-publica!
Este país tropical agora endoidou! Vai ficar rico, riquissimo, com o petróleo que sairá (sairá?) do tal pré-sal, vai este ano sediar a Copa do Mundo e está convencido que será o campeão, e em 2016 vêm as Olimpíadas. Por conta de toda esta riqueza pré estabelecida, mas pertença do futuro, se... – como “previu” Stefan Zweig, o país do futuro – os preços de tudo subiram em flecha! No Rio os hotéis, em média duplicaram os preços dos apartamentos, há até quem os tenho multiplicado por três e quatro, as viagens de avião são para além do absurdo – basta saber que uma passagem normal entre Rio e São Paulo, ida e volta uns 750 quilómetros, é mais cara do que uma ida e volta a Londres, que são mais de 18.500 quilómetros, quase 25 vezes mais longe! Isto significa que algumas passagens de avião custam por aqui até vinte e cinco vezes mais do que, por exemplo, na British Airways!!! E muito pior serviço a bordo. (Existe no Brasil serviço a bordo?)
No Natal, desde há muitas décadas é habitual juntar a família e comermos o perú. Pois pasmai, ó gentes! O preço do perú no Canadá, um país onde a vida está estabilizada e as pessoas ganham para viver, o preço do perú, feitas as contas para transformar libras em quilos, e dólares em reais é de R$ 3,71 o quilo. No Brasil, terra da fartura, do milho e da soja, o país que mais barato produz estes alimentos básicos na composição das rações, o nosso PIRÚ custou R$ 14,40/quilo. Só 388% mais caro! Tivémos que estender o chapéu aos filhos para que não ficassem na Consoada só com um pão dormido em molho de fingimento!
Aqui ainda se pode argumentar que o perú é nativo da América do Norte, então faz um precinho camarada para os conterrâneos! No Brasil é coisa importada! Vou sugerir que passemos a comer papagaios, araras, tucanos e outros patrícios. Além de serem muito mais bonitos também não pagam taxa de alfândega.
Mas tem mais coisas interessantes. Interessantissimas. Por exemplo, nos medicamentos. Já um dia demonstrei que os medicamentos custam no Brasil cerca de três a cinco vezes mais do que nos EUA, Portugal, Argentina, etc. Mas as lojas têm sofismas curiosos: anunciam, por exemplo Sinvastatina 20 mg, 30 comprimidos, por $14,16 mas podem fazer um desconto “especial” de 70%!
O leitor deve estar incrédulo, e fará a pergunta: mas pode? Aqui no Brasil? Pode, sim, aqui pode tudo, até roubar milhões do governo, levar dez ou vinte anos para ser julgado, condenado, se for, e depois... ah!, depois não só não devolve o que roubou, apesar da sentença o determinar, como cumpre os sete anos de “cadeia” em regime domiciliar, e ao fim de um ano estará livre para recomeçar a roubar de novo.
Melhor que isso? Nem o pré-sal, o pirú do Natal ou viagens a São Paulo.
Mas 2013 foi uma benção para o Brasil, com ignorantes do, total, des-governo. Enquanto a Bolsa de Tóquio fechou o ano com alta de 56.7%, Nova York entre 25 e 38%, o Brasil... fechou com 15,5% NEGATIVOS. Mas porque?
Alguém vai investir onde o des-governo camufla as contas públicas, com uma dívida interna oficial de  40% do PIB (e talvez perto de 60 na verdade), reserva 42% do orçamento para pagar o “juro da dívida”, e com as contas externas a crescer por causa do aumento de importação de petróleo? Difícil.
Mas os burrocratas de Brasília, como não sabem o que fazer com o rombo externo, colocam a culpa nos turistas. Mas o problema não é que muita gente viaja para o exterior, mas o fato de que o Brasil atrai poucos estrangeiros, como escreve a economista Miriam Leitão.
Como atrair turista para o país que está a tornar-se o mais caro do planeta? Só Carnaval, caipirinha e futebol, é pouco.
Pobre país rico!
Que em 2014 se derrube a canalha que se apoderou do país há onze anos. Qualquer outro que venha, diferente, de certeza que pode ser melhor, porque pior... não existe.
E que não faça como os babélicos: dialogue com a população. Ela sabe o que é bom para o país.

31/12/2013




quinta-feira, 26 de dezembro de 2013




GASTRONOMIA


Vem bem a propósito falar sobre gastronomia nesta época do ano quando, os que podem, enchem a barriga de petiscos, almoçaradas, jantaradas, bacalhauzadas, perus, bolo rei (que aqui no Brasil não existe que preste!!!!) e outras iguarias, em festa com a família, com os colegas e... muitas vezes, num agitado sossego, com “aquela/aquele” chamados da mão esquerda, que toda a gente sabe que existe e só os dois pensam que vivem no doce secretismo da mentira!
Os assuntos aqui focados foram repescados de um dos magníficos livros de José Quitério, um mestre em gastronomia e história, uma delícia a ser lido, como os outros: Histórias e Curiosidades Gastronómicas. Tenho este livro há uns trinta anos e creio que foi a terceira vez que o fui ler, aliás, reler.
Comecemos por Ho Chi Min. Nguyễn Sinh Cung nasceu em 1890 e somente mais tarde seria mundialmente conhecido como Hồ Chí Minh ("aquele que ilumina"). Ele era pródigo em pseudônimos, muitos usados para despistar inimigos e outros por fetiche. Em 1911 começa a trabalhar como cozinheiro num navio francês que o levou à Europa e usou Nguyen Van Ba. Instala-se em Londres em 1915, e depois parte para França, onde vive como jardineiro e garçom. Envolve-se com os movimentos socialistas franceses e ajuda a fundar o Partido Comunista Francês. Em 1941 funda a Liga Vietcong, para lutar contra os Franceses. Durante a II Guerra Mundial utiliza a guerrilha no combate aos japoneses, invasores da Indochina. No fim do conflito, forma um Estado independente ao norte, o Vietname. A França contra-ataca e a Guerra da Indochina só termina em 1954, com a grande derrota dos franceses em  Diên Biên Phu. O país é dividido em dois. Ho Chi Minh, presidente do Vietname do Norte, treina e aparelha as forças da Frente de Libertação Nacional do Vietname do Sul (Vietcong), que visam reunificar o país, o que leva à Guerra do Vietname. Morre em Hanói em 2 de setembro de 1969. Em 30 de abril de 1975 um tanque Norte-Vietnamita entrou no palácio presidencial do regime Sul-Vietnamita encerrando mais de dez anos de sangrento conflito. Saigon, antiga capital do Vietname do sul, foi rebatizada com o nome de Ho Chi Minh. 
Atualmente, ainda é mantido no Vietname gigantesco culto a Ho Chi-Minh: sua imagem é presente em quase todo o lado, em salas de aula e altares de famílias.
Tudo isto é muito bonito, mas onde fica a gastronomia? “Ouçamos” José Quitério.
Manuel Teixeira-Gomes, o 7° presidente da República de Portugal (1923-1925), deixou uma razoável obra literária. Em 1911 é nomeado ministro de Portugal em Londres, o primeiro a seguir à implantação da República, onde  fica, com um pequeno intervalo, até 1922. Em 1923 é eleito presidente da República.
“Enquanto embaixador na capital inglesa Teixeira-Gomes comia no famoso Hotel Carlton e ali levava seus convidados. Um dia, conta Urbano Rodrigues, fui surpreendê-lo no “hall” em conversa animada com um senhor baixo, de bigodeira grisalha, vestido de escuro, que segurava numa das mãos o chapéu de coco, enquanto com a outra gesticulava em estilo de orador. Falavam em francês e o senhor de coco não poupava as “Excelências”. Como, discretamente, eu esperava afastado, o ministro de Portugal chamou-me e disse-me depois do aperto de mãos: - Não conhece? É o nosso colega Mr. Scoffer.” Quando, algum tempo depois, Urbano Rodrigues se deu conta de que tinha sido apresentado ao cozinheiro do Carlton, não se coibiu de perguntar que era isso de serem colegas. “Porque é autor de livros!” retorquiu o nosso embaixador. “Quem nos dera, meu amigo, ganhar com os nossos, o que ele recebeu pelos seus”. Era, efetivamente, Auguste Escoffier, o maior cozinheiro dos tempos modernos, que Teixeira-Gomes tratava como confrade, nas letras e nas artes.
Como curiosidade histórica saiba-se que nessa altura trabalhava como ajudante de cozinha de Escoffier um jovem vietnamita que se fazia chamar simplesmente por Ba, nada mais do que o futuro Presidente Ho Chi Min.”
E esta, hein?
E a palavra “restaurante”? Até à revolução Francesa só em botequins e estalagens se serviam refeições, e nos famosos cafés de Paris, dos quais o mais famoso e antigo é o “Procope”, inaugurado em 1686, pouco mais se servia do que o café, algumas goluzeimas e sorvetes. O café era o ponto de reunião dos parisienses, era ali que tudo se discutia e durante a Revolução alguns serviram como salas de assembleias de revolucionários e outros aos moderados. Cafés para todos os gostos e opiniões e até mulheres que raramente apareciam nesses lugares ali passaram a ser vistas com frequência.
Em 1765 um tal Boulanger, ao contrário das estalagens e tabernas onde só eram admitidos clientes para comer, fundou um estabelecimento e colocou na porta a seguinte tabuleta:
“VENITE AD ME OMNES QUI STOMACHO LABORATIS EGO RESTAUROBO VOS”
A palavra “restaurant” significava então “fortificante” e aplicava-se a certos caldos reparadores à base de galinha. Boulanger alargou a lista, o que lhe valeu logo um conflito com os estalajadeiros porque a atuação dessas profissões – estalajadeiros, taberneiros, salsicheiros, assadores e pasteleiros – estava estritamente regulamentada à maneira das corporações medievais.
Mas o novo sentido de “restaurant” é consagrado oficialmente em 8 de Julho de 1786, num acordo que permitte aos “restaurateurs” receber clientes e fornecer-lhes de comer.
O que passou a distinguir o restaurante dos botequins, tabernas e congéneres era o asseio e o luxo da decoração.
Ainda com a Revolução Francesa, não necessariamente como consequência desta, nasce o bife à Chateaubriand – por ironia um contra revolucionário – e na mesma época o garfo tal como hoje o conhecemos, com quatro dentes! Há quem diga que surgiu antes, mas... Há quem diga que foi porque que o garfo de três dentes não segurava o espaguete! Um quarto ente resolveu o problema!
Só mais um detalhe de outro produto muito nosso conhecido, sobretudo por ser o “prato forte” no tempo das navegações e descobertas: o biscoito.
Em qualquer dicionário lá vem a origem do nome, mas como não se lê o dicionário como um romance ou um livro de história, só quando surge a dúvida e/ou a ignorância é que o consultamos e ficamos muito admirados porque “está-se mesmo a ver”: do latim biscoctus, bis todos estamos cansados de saber que é repetir, tornar a fazer, e coito – deixem-se de maus pensamentos porque não vem do latim couitu, “ato de juntar” – vem de coctu, “cozido”. Quer dizer que o biscoito é, ou duas vezes cozido, ou cozido durante mais tempo para que possa ficar bem seco. Quando mais cozido fosse, naquelas viagens de naus e caravelas, em princípio mais aguentava, mas ficava “duro como corno”. O Padre D. Rafael Bluteau no seu Vocabulário Português e Latim, chama-lhe “pão do mar” ou pão náutico”.
Por enquanto chega. Mais tarde falaremos de outras coisas.
Que todos, TODOS, tenham um bom 2014, e que não lhes faltem biscoctus!


24 de dezembro de 2013

domingo, 22 de dezembro de 2013



Meu kirido Papai Noel:

Não lembro se na minha meninice alguma vez lhe escrevi a pedir um presentinho. Não creio, porque naquele tempo, e bota tempo nisso, não era hábito escrever-se... que eu me lembre!
Mas agora tenho um pedidão enorme a fazer, e sei que o faço em nome de muitos milhões que, ou não têm coragem de o fazer, ou...
Por favor Papai Noel, livre-nos desta corja de desonestos, ladrões, mentirosos, corruptos, mal educados, burros, iletrados, ineptos, etc., que se apossaram deste país, deste
Brasil! Meu Brasil Brasileiro,
O Brasil do meu amor
Terra de Nosso Senhor...
Você, Papai Noel, que deve estar perto de Nosso Senhor, quando voa com as suas renas, dê-lhe uma palavrinha, e como na Eternidade o tempo não conta, peça-Lhe para que leia só estes dois textinhos saídos no jornal de hoje, que Ele, que neste caso nem necessita da Sua Infinita Sabedoria, vai logo ver que alguma coisa, e muito urgente, tem que ser feita.
Obrigado kirido Papai Noel. Agora você mesmo, enquanto viaja de uma chaminé para outra, leia o que segue. E não chore ao ver as desgraças que por aqui REINAM.

Cidade mineira ganha mar,
Caminhos de ferro
e fronteiras com outros países

Por juliana castro
juliana.azevedo@oglobo.com.br

Localizada no Norte de Minas Gerais, a cidade de Januária não tem mar, nem trem. Muito menos faz fronteira com algum país. Mas o Plano Plurianual de Ação Governamental do município, que traça as metas da prefeitura para os próximos quatro anos, traz pontos sobre transporte marítimo e ferroviário, além da proteção das fronteiras. A proposta foi aprovada na Câmara Municipal, por 13 dos 15 vereadores, em primeiro turno.
Já estava a ponto para ser avaliada em segundo turno, na semana passada, mas a população fez pressão pelo adiamento.
A prefeitura atribui o erro a um funcionário que teria copiado um plano de uma outra cida­de e de uma portaria da União. O documento entregue à Câmara tem cerca de mil páginas. O plano do governo federal, por exemplo, tem 278. Na cidade, corre a notícia de que o plano fala até em exploração de petróleo, o que o se­cretário municipal de Planejamento, António Vidal Júnior, nega peremptoriamente:
- Aí, já é invenção.
O prefeito, Manoel Jorge de Castro (PT), diz que trataram o erro como "a expressão maior do plano, e isso é um detalhe":
- Colocaram mais farinha no ventilador do que se merecia. Foi um erro de redação.
Agora, a prefeitura prepara um novo plano, sem os itens que deram o que falar. O prefeito, no entanto, tentou amenizar o erro e disse que o transporte por trem é tendência na região. So­bre a extração do petróleo, afirmou que há estu­dos sobre a existência de um campo de gás na­tural na região do Rio São Francisco, onde a ci­dade está localizada.

De “O Globo” – 22-dez-13

Comentário: Comentar para que?  Januária, como se vê no mapa abaixo está a 600 quilômetros do mar e a 1.600 da mais próxima fronteira, o que mostra o quanto os 13 analfabetos vereadores, que têm direito a carro e milhares de outras regalias, estão cientes das necessidades do seu município. Quanto ao caminho de ferro, e a hipótese do gaz, a Divisa do Estado de Minas Gerais

Município de Januária, no norte de Minas Gerais
E o mapa de Minas no Brasil.

faz jus aos projetos desta cambada, quando diz “Libertas quae sera tamen” – A liberdade, ainda que tarde.
Já o douto prefeito, acha que foi um pequeno erro de redação o projeto apresentado, o que mostra bem que é do PT, o partido dos telectuais.
Quem merece um substancial aumento de salário é o funcionário que copiou imensas coisas de outros planos que ele não faz a menor ideia de quem são e para que servem, mas que escreveu quase mil páginas. Levou uma boa estafa.
Como é mais do que óbvio ninguém leu o projeto, nem o funcionário que o escreveu.
E a gentxi vai levando...

Mandela e o mensalão

Por GUILHERME FIÚZA

A frase que resume os dez anos de reinado do oprimido no Brasil foi dita pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no processo do mensa­lão: "Se o Mandela ficou 27 anos pre­so, eu suportarei também."
Nelson Mandela tinha acabado de morrer, e já era contrabandeado pelo herói mensaleiro. Os oprimidos de gravata sugam o que podem, até a memória alheia. Não se pode esque­cer que, em sua propaganda eleitoral, Dilma Rousseff confiscou a identida­de de Norma Bengell, usando uma fo­to da atriz na passeata de 1968 em sua apresentação biográfica. No dia se­guinte ao brado de João Paulo Cunha, Dilma estava no Congresso do PT que apoiou os mensaleiros condenados. A presidente repetiu, com a ajuda de Lula, o já famoso gesto do braço er­guido com o punho cerrado — inau­gurado por Dirceu e Genoíno na che­gada à prisão. Não se sabe bem o que significa aquela mão fechada. Há quem diga que é um aviso de que não vão devolver o que roubaram.
Como pode a presidente da Repúbli­ca participar de um comício em defesa de corruptos condenados e presos? Um comício onde um partido político censura a mais alta corte da Justiça, com pesados ataques a seu presiden­te? Dilma pode. Assim como o mensa­leiro João Paulo pode se comparar a Mandela e, em seguida, dizer "longe de mim me comparar a Mandela". Pode também distribuir centenas de exem­plares de uma revista inocentando a si mesmo, e se declarar ofendido quando a imprensa pergunta quem pagou aquilo. Num país saudável, João Paulo Cunha viraria piada e Dilma Rousseff teria de prestar esclarecimentos no Congresso Nacional sobre seu gesto fa­vorável a criminosos. Mas no Brasil a moral virou geleia.
Tanto que, no embalo do espírito nata­lino, virou moda entre a elite culta defen­der José Genoíno. Vozes intelectualiza­das se erguem para avisar que o ex-presidente do PT, condenado e preso, não fi­cou rico e vive até hoje modestamente. Os samaritanos não chegam a dizer que o mensalão não existiu, mas dizem que a biografia de Genoíno é ótima e ele é car­díaco. Bradam que é um absurdo estig­matizar como bandido um cara tão legal.
Não é preciso dizer mais nada para explicar o Brasil de hoje. Um indiví­duo condenado como partícipe do maior assalto aos cofres públicos da história da República encontra, entre vozes supostamente respeitáveis, uma espécie de anistia informal. Estava no bando mensaleiro, mas leva uma vida franciscana. Se meteu nesse rolo, mas é gente boa. Note-se que essas pesso­as de bem não chegam ao delírio petista de afirmar que qualquer um dos mensaleiros seja inocente. Apenas se mostram indignadas com o fato de um sujeito bacana como Genoíno (condenado por corrupção ativa e for­mação de quadrilha) ser tratado como criminoso. Está inaugurada a figura do infrator bonzinho.
Possivelmente Genoíno não tramaria o valerioduto, exatamente por sua boa índole. Mas então deveria, em vez de assinar a papelada suja de Valério, ter se demitido imediatamente da presi­dência do PT. Não o fez porque já havia transformado a política em emprego assim como o exército de companhei­ros medíocres que tomaram o Brasil de assalto como meio de vida. E não larga­rão o osso em 2014, justamente porque os brasileiros honestos são indulgentes com o infrator bonzinho.
No mesmo congresso partidário em que Dilma participou do desagravo aos mensaleiros, Lula deu mais uma aula de princípios. O oráculo afirmou que a im­prensa (sempre ela) exagerou no caso do emprego de José Dirceu. Um sujeito condenado por desviar uma montanha de dinheiro público consegue, na pri­são, salário de 20 mil reais como gerente de um hotel que tem um "laranja" entre seus donos. Mais impressionante: esse condenado que não disfarça suas ótimas relações com o submundo é apoia­do em público pelo ex-presidente e sua proposta que governam o país. E o país, ato contínuo, avisa que vai reeleger o bando em primeiro turno.
Pensando bem, com um salvo-conduto desses, piratear Nelson Mandela e Norma Bengell está barato. Jesus Cristo não escapa.
Enquanto isso, na realidade tedio­sa dos que não têm os punhos cer­rados em direção ao céu, o Brasil bate mais um recorde: maior rombo nas contas externas em mais de 50 anos. Uma bobagem, puro preconceito contra o governo popular: os investidores estão fugindo do Brasil só porque o governo petista mente sobre suas contas, tenta esconder a inflação comprimindo tarifas e comprometendo empresas como a Petrobras, diz coisas desencontra­das sobre política monetária, abandona a infraestrutura e fatura com a selva tributária, fazendo o risco Brasil disparar. Tudo inveja da as­censão terceiro-mundista, diria o saudoso Hugo Chávez.
Agora há uma corrente do PT de­fendendo apoio formal aos métodos boçais dos black blocs. Medida desnecessária. Os métodos do partido destroem com muito mais eficácia.

Guilherme Fiuza é jornalista.
De “O Globo” – 22-dez-13

Comentar? Para que?


22/12/2013

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013




Paris – Place Vendôme


Paris.. é Paris. C’est toujours Paris. Cidade maravilhosa, com o Sena a serpentear lá por dentro, as suas pontes, a Torre Eiffel e o Arc du Triomphe, o Louvre, a Ópera, o Museu d’Orsay, a Notre Dame e a Sainte Chapelle, e mais uma infinidade de pontos turísticos sem esquecer o Moulin Rouge e Lido, a gastronomia, e por aí vai.
É verdade, o Óbelisque, roubado em Luxor aos egípcios, plantado no início dos Elíseos Campos, e logo ali ao lado, a famosa Place Vendôme, que além duma belissima arquitetura que data do início do século XVIII, 1702 a 1720, projetada em 1699, ostenta as lojas de tudo quanto é absurdamente caro, para que os “emergentes” exibam as suas fortunas, com roupas, perfumes, jóias, relógios e outras inutilidades mais, e onde os especuladores aplicam em diamantes, ouro e qualquer outra coisa com que possam um dia, ganhar ainda mais dinheiro. São botecos como Cartier, Louis Vuitton, Van Cleel & Arpels, Mikimoto, Breguet, Chanel,etc. Coisa de caipiras! Ah! E um hotelzinho “brega”, o Ritz!
Apesar de ser um dos centros mundiais do desperdício e esbanjamento de dinheiro, a verdade é que uma passadinha pela Place Vendôme sempre vale a pena a quem vai a Paris, nem que seja para olhar o obelisco, mais coluna que obelisco, que está no centro da praça e que tem uma história curiosa, e ver a placa recordando que num dos prédios viveu Chopin.
Naquele lugar, em 1698, nem tinham começado as obras dos edifícios circundantes, começou por ser colocada uma estátua ao, ainda em vida, Luis XIV, o Roi Soleil, o rei do “L’Etàt c’est Moi” e roi ainda de outras humildades. Aliás foi este rei quem acabou com as trocas da propriedade que tinha sido primeiro do Duque de Vendôme, comprando-a ao último proprietário e oferecendo-a à cidade. Mereceu a estátua.
Cem anos depois chegou a Revolução Francesa com a sua Liberté, Egalité, Fraternité e guilhotiné e a estátua do orgulhoso Luis foi apeada e destruída e fundida. Não tardou a que Napoleão andasse a dar bordoada pela Europa fora, vencendo exécitos de tudo quanto era lado, regressando a Paris carregado de despojos militares. Sujeito de ideias, e atitudes, audazes, mandou que fundissem uns mil – 1.000 – canhões de bronze para erguer um memorial às suas vitórias. O local escolhido para erguer esse monumento foi o centro da Place Vendôme, onde, após o Luis XIV ter sido despedido, às pressas fora erguida uma coluna que era suposto representar uma estátua à liberdade. Provavelmente não seria uma obra muito artística, e depois das vitórias de Napoleão em Austerlitz, ele ordenou que essa coluna fosse substituída pela que se vê lá agora, com a estátua de si mesmo em traje de imperador romano na parte superior da dita coluna, que deveria chamar-se “Colonne de la Grande Armée” em homenagem aos seus soldados.

Construída em pedra, envelopada até a parte superior numa fita contínua de placas de bronze com baixos-relevos, com cenas da campanha austríaca. Esse bronze teria saido da fundição dos mil e duzentos canhões capturados em Austerlitz. No entanto, Napoleão parece ter sido um pouco mais modesto, pois no anúncio que ele emitiu para seus soldados no dia seguinte a esta batalha (3 de dezembro de 1805), diz-lhes que eles haviam capturado trinta mil prisioneiros, vinte generais e cento e vinte canhões. Hoje sabe-se que foram cento e trinta e três os canhões capturados!
A Coluna Vendôme, nome por que ficou sempre conhecida, foi inspirada na coluna de Trajano, em Roma, mas um terço mais alta do que a romana, tem 44,3 metros de altura.
Como seus antecessores, a coluna que Napoleão colocou sofreu também algumas mudanças. Durante os turbulentos anos que se seguiram à restauração sua estátua foi substituída duas vezes, e uma vez ela mesmo veio abaixo da cabeça aos pés. Quando a estátua de Louis XIV foi arriada do seu pedestal, a estátua de Henrique IV, que estava na Pont-Neuf desde que esta ponte fora construída, foi arriada e derreteu também com os canhões. Mas quando Louis XVIII assumiu o trono, ele quis colocar Henry de volta na ponte. A fim de obter o bronze, ele tinha a estátua de Napoleão que retirou da coluna e refundiu a do Henry IV, que voltou para a sua velha ponte. No entanto, isso não é razão para a expressão divertida que se vê agora na cara de Henry. Ele tem exatamente a mesma expressão sobre as notas de cinquenta francos franceses, pois ele era um rei muito bom. De qualquer forma, foi a primeira experiência humilhante para a Colonne de Vendôme.
Para poder ter alguma coisa em cima da coluna, Louis XVIII colocou lá uma flor de Lis enorme, mas quando Louis-Philippe chegou ao poder ele voltou a pôr Napoleão no alto da coluna, mas desta vez vestido com seus trajes de soldado. Mas isso não é tudo ainda. Quando a França se tornou um império pela segunda vez, Napoleão III substituiu Louis-Philippe, e torna a colocar no alto da coluna o primeiro Napoleão, novamente vestido como um Imperador Romano, tal como continua hoje. Napoleão, com a sua farda militar foi parar nos Invalides!
A experiência mais humilhante e final veio durante a revolta de 1871, quando o município conseguiu derrubar a estátua mais uma vez, com coluna e tudo. Esse ato de vandalismo é dito que foi organizado pelo pintor Gustave Courbet, um dos membros da Comuna de Paris, cujas pinturas se encontram no Museu do Louvre.
Felizmente, os destruidores planejaram o seu trabalho de tal forma, com a colaboração do Museu da Artilharia que a coluna caiu, muito bem, mesmo na Rue de La Paix! Diziam que a ideia era transferir a coluna para a Place des Invalides.


A derrubada da coluna sob os aplausos do povo!


Napoleão, “de saiote à imperador” jaz... inteirão.

A coluna só voltou ao seu lugar em 1875 depois que a França mais uma vez se tornou República, por ordem do Presidente Mac-Mahon, e como o seu peso é estimado em duzentos e cinquenta e uma toneladas é provável que por lá permaneça ainda muito tempo.
Mac-Mahon condenou Courbet a pagar a reconstrução da coluna, pagando 10.000 francos por ano durante 33 anos. Courbet safou-se dessa porque morreu antes de pagar a primeira parcela!


O Marechal Mac Mahon e o emblema da cerveja!

O Marechal Mac-Mahon, Duque de Magenta, estará ad semper ligado à vida de Portugal e sobretudo de Moçambique. Os ingleses, os sempre muy amigos de Portugal queriam roubar a Portugal a baía de Lourenço Marques, a que eles sempre chamaram Delagoa Bay, e tudo o mais daí para o sul, porque era o melhor e mais perto porto de mar para as suas exportações e importações da África do Sul.
Em 1860 o vice-almirante britânico Keppel, a bordo da fragata Brisk, entrou na baía de Lourenço Marques e notificou as autoridades portuguesas que a Grã-Bretanha exercia a soberania ao sul da baía que tencionava ocupar. As autoridades portuguesas protestaram mais uma vez em Londres contra as pretensões britânicas e num acordo assinado com a República do Transval – na mão dos boers, inimigos dos ingleses – em 1869, esta reconheceu a soberania portuguesa na região cobiçada pelos britânicos, o que originou, por seu turno, os protestos do governo de Londres. Após complicadas e difíceis negociações foi aceite por ambas as partes o recurso à arbitragem, tendo sido escolhido como árbitro o presidente da República Francesa, na altura Louis Adolphe Thiers. A sentença, foi, porém, pronunciada pelo seu sucessor, o marechal Mac Mahon, em 24 de Julho de 1875, a favor de Portugal.

Mac Mahon, que entre outras coisas, em Lourenço Marques de então – hoje Maputo – deu nome a uma fábrica de cervejas conhecida por 2M onde passei algum tempo da minha vida.
E a propósito: a cerveja era ótima!



16/12/2013
Continuando com as Religiões


- G -
Galicanismo – Doutrina que visava defender as “liberdades galicanas”, mesmo mantendo a fé nos dogmas do catolicismo, a igreja de França queria conservar a sua organização particular e as suas liberdades. Esta doutrina fez-se sentir nos ensinamentos teológicos do séc. XV com os debates em torno da pragmática sanção de Bourges, praticamente imposta ao rei Charles VII pelos bispos reunidos em Bourges. Esta reforma proclamava a superioridade dos concílios sobre os papas, alterava as formalidades para eleição dos bispos e dava uma certa independência à Igreja de França. Esta doutrina foi vencida pelo concílio do Vaticano, em 1870 que definiu o dogma da infalibilidade do papa.
Ganesha ou Ganapati – Acólito e filho de Siva e Parvati, um dos Deus mais populares na Índia. É o Deus dos escritores e dos estudantes, da sabedoria e da felicidade, porque afasta os obstáculos e reparte suas riquezas e benifícios pelos seus fiéis.
Ganges – Rio sagrado dos hindus. Faz parte das divindades do panteão brahamânico, sendo descendente duma gruta nos Himalaia, na montanha santa de Kailassa – onde existe o maior tempo da Índia – de que é filho.
Geb – Deus egípcio da Terra, equivalente a Gaia na Grécia. Esposo de Nout, a Deusa do céu, sua irmã, ele separou o Céu, através do Deus Shou (atmosfera).
Gnose, gnosticismo – Conhecimento absoluto que abrange tudo. Este conhecimento em si explica a divindade e a criação,isto é, o universo e o homem pela teoria do emanatismo.
Gomateçvara – Santo jainista da seita dos digambaras. É conhecido sobretudo pela sua estátua gigantesca em Sravanabelgola, no Estado de Mysore na Índia, que abriga um templo jainista para peregrinação dos fiéis. Esta estátua do santo, completamente nu, foi executada em 1208.
Guru – Do sânsc., significa “velho, idoso, pai espiritual”.

- H -
Hadith – Palavra árabe que significa “conversão” ou “história”. Conjunto de todos os escritos tradicionais consagrados à vida de Maomé e sua doutrina que fazem parte da sunna e formam com o Corão a base da religião e do direito muçulmanos.
Haffadah – Ver Talmud.
Haji – Nome dado à peregrinação a Meca.
Hannukah – Ver dedicação.
Hanumant  - O Deus macaco do hinduismo. Desde a epopeia de Ramayana (IV ou V séc. a.C.) ele é amigo de Rama, sempre pronto a prestar-lhe serviço e ajudar o herói a reconquistar Sita, raptada por Ravana.
Harpocrate – Nome gr. do Deus egípcio Horus.
Hasidins – Do hebreu significa “os piedosos”, antepassados dos fariseus. No séc. II a.C. um partido se formou para preservar ferozmente a preservação dos costumes e das particularidades do judaísmo e resistir à helenização. Depois da destruição do Templo, estes resistentes conseguiram manter a sua religião e reconstruir o Templo de Jerusalém, e tornaram-se os verdadeiros guardiães da fé. Durante a diáspora reapareceram em alguns países da Europa Central quando é desenvolvida a Cabala. No séc. XVIII um movimento com este nome dirigido pelo rabino Israel ben Elizer (chamado Baal Shem) teve grande sucesso na Polónia e em toda a Europa do leste; ele desenvolveu uma renascença religiosa entre os judeus orientais, que formam hoje em Israel e na Diáspora, sobretudo em Nova York, o núcleo da ortodoxia. Esta corrente opõe-se ao Talmud que consideram
muito intelectual.
Hégira – Em ár. hidjira, “expatriamento”. Nome dado à data que marca a partida de Maomé para Medina, quando foi obrigado a fugir de Meca, em 12 de Julho de 622.
Heresia – Do gr. hairesis, “escolha, opinião”. Na Antiguidade esta palavra designava uma escola filosófica mas o termo, no cristianismo, passou a significar “doutrina contrária à ortodoxia”.
Hermetismo – Doutrina oculta do conhecimento, ou conhecimento pagão, que aparece nos primeiros séc.d da era cristã, no Egito, quando os gr.s assimilaram o seu Deus Hermes, que se tornou o Mercúrio dos romanos ou o Deus Thor dos egípcios. Consideravam Hermes como o revelador da sabedoria divina.
Hesicastos – Do gr. hêsukia, “repouso, silêncio, paz interior”. Nome dado aos monges com doutrinas místicas quietistas que inquietaram muito a igreja grega até ao séc. XIV.  A prática do hesicatismo se mantém ainda no Monte Athos e outros mosteiros ortodoxos.
Heterodoxia – Do gr. heteródoxos, "de opinião diferente", inclui "quaisquer opiniões ou doutrinas que discordem de uma posição oficial ou ortodoxa”.
Hiero – Raiz grega que significa “sagrado, poderoso”.  Hierático, hieroglifo, hierogamia, etc.
Higoméne – Do gr. hegoumenos, “chefe”. Nome dado ao superior de um mosteiro da regra ortodoxa de São Basílio.
Hinduismo – A religião da maioria dos hundus, resultado da evolução do brahmanismo. Oriunda do Vedismo, de que conserva os livros sagrados, os Veda, e os seus complementos Brahmana e Upanishad. O hinduismo conserva duas formas: a dos sábios que tendem para o monoteismo na doutrina brahman, imutável e eterna, e a religião popular com os grandes Deuses, sobretudo Vishnu e Siva.
Hititas – Povo da Ásia Menor a arqueologia encontra várias figuras de deusas – séc. III a.C. Esta civilização desenvolvida “à  sombra” da Mesopotâmia, estará na origem da cultura grega.  Nos diferentes níveis de escavações em Troia atestam cultos de fecundidade, e túmulos que indicam que o rei era também um grande chefe religioso.
Hosana – Do hebreu “Salva-te, eu te peço, ou Salva-te agora”.
Hospitaleiros – Designa todas as ordens dedicadas aos doentes, viajantes ou peregrinos, entre elas os Irmãos Hospitaleiros de São João de Deus, fundada em Córdova  em 1539 por São João de Deus, de seu nome João Cidade (Montemor-o-Novo, 1495 – Granada 1550) um santo da Igreja Católica que se distinguiu na assistência aos pobres e aos doentes, através de um hospital por si fundado.
Hostia – Do lat. hostia, “vítima”. Na antiguidade vítima animal imolada em sacrifício.
Huguenotes – Nome dado aos protestantes franceses, sobretudo calvinistas, nos séc. XVI e XVII. O origem da palavra é discutível, para alguns deriva do alemão eigenossen, “conjurados” mas em Geneva chamaram-se eignots.
Hus – João. Reformador checo (1369-1415) ensinava teologia em Praga onde foi reitor da Faculdade de Teologia. Apoiou as ideias de Wycliff que criticava os abusos do clero do seu tempo. Em 1410 o arcebispo de Praga mandou queimar os livros de Wycliff e interditou a cidade enquanto João Hus se mantivesse na Universidade.Três dos seus seguidores foram decapitados e considerados mártires por João Hus. Convocado ao concílio de Constança em 1414 foi metido na prisão, acusado de heresia e as suas obras confiscadas e queimadas. Ele mesmo foi queimado e suas cinzas jogados no rio Reno. Na Boémia é considerado mártir e herói nacional ao mesmo tempo que reformador.
Husain  Terceiro imam dos xiitas (Medina 626 ou 627 – Karbala 680), segundo filho de Fátima e Ali, neto de Maomé, Considerava-se o califa legítimo depois da morte do seu pai, mas vencido  na batalha de Karbala foi morto assim como grande parte da sua família. Esta cidade, no Iraque, onde está o seu túmulo, tornou-se lugar de peregrinação para os xiitas e o ritual é quase o mesmo que o de Meca.

- I -
Içvara – Do sânsc. que significa “o senhor”, nome dado no hinduismo ao Ser supremo.
Imam  Do árabe imma, “proceder, caminhar na frente, chefe”. No árabe eram assim chamados os condutores de caravanas, e foi dado a Maomé, e depois a seus sucessores, enquanto o termo califa passou a referir os “chefes dos crentes”, não só no campo espiritual como temporal. Nos sunitas o título de imam foi dado aos fundadores dos quatro grandes ritos ortodoxos, ou escolas de jurisprudência como a certos grandes teólogos. Nos xiitas do Irão, os imans, em número de doze, são os sucessores de Ali, mas os ismaelitas são só sete. Hoje o imam é aquele que em cada mesquita dirige as orações.
Imposição das mãos – Gesto de benção, simbolo da invocação e pedido da graça de Deus. Rito antigo muito referido na Bíblia.
Incas – Povo do Andes,  sobretudo do Peru, onde o soberano absoluto, de direito divino, filho do Sol, impunha a todos os súbditos um medo reverencial, sendo assim o chefe do culto oficial, do Sol, a que se juntava o do Trovão, da Lua, da Terra, etc.
Indra – Na Índia antiga um dos grandes Deuses da mitologia védica, o Deus do Céu, das Núvens, da Chuva e do Relâmpago. O seu culto muito popular afirma-se com o brahmanismo no séc. VIII a.C.
Inferno – Do lat. infernum, “lugar inferior”. Muito tempo considerado o lugar dos mortos, bons ou maus em todas as religiões primitivas. Mais tarde o Hades dos gregos – local de residência dos mortos – divide-se em Campos Elíseos para os bons e Tartária para os maus; no zoroastrismo a alma pura juntava-se a Ormuzd, enquanto a alma danada era entregue aos demónios, e foi sempre assim evoluindo, passando pelas religiões do Egito, budismo, judaísmo, cristianismo, etc.
Inquisição  Tribunal eclesiástico medieval, encarregado de procurar e julgar os heréticos, face ao crescente número de heresias que inquietou a igreja católica.
Ise – Cidade santa do Japão, centro do shintoismo, na ilha de Hondo, onde esite um conjunto de templos dedicados à Deusa do Sol Amaterasu. Um dos edifícios guarda o espelho mágico Yata, cuja origem é lendária: terá sido forjado pelos kamis para enganar Amaterasu e fazê-la sair da caverna, devolvendo, assim, a luz do Sol ao Mundo.
Ishtar ou Astarte – Grande Deusa assírio-babilónica, a Astarte dos cananeus e dos fenícios, Deusa da fecundidade, da vegetação e do amor. A ligação entre o céu e a terra.
Isis – A Deusa mais familiar do panteão egípcio, filha de Geb e de Nout, esposa de seu irmão Osiris, mãe de Horus. Deusa universal foi assimilada pelos gregos como Demetra, Deusa mãe, ou Deusa da distribuição, e em Roma chamou-se Ceres, de onde os cereais e a cerveja.
Islão – Do árabe, “resignação, renúncia, abandono a Deus”, religião fundada por Maomé cujos seguidores são muçulmanos, do árabe muslim, “submisso, crente”. O dogma, “iman”, ou fé, é simples e compreende a crença em Alá Deus único, não criado e criador, e em Maomé o seu enviado, que deu a conhecer a sua religião através do livro santo, Corão. Esta doutrina assenta em cinco pilares a que mais tarde acrescentaram um sexto: 1°- a recitação e aceitação da crença (Chahada ou Shahada); 2°- orar cinco vezes ao longo do dia (Salá, Salat ou Salah); 3°- pagar esmola (Zakat ou Zakah); 4°- observar o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam); 5°- fazer a peregrinação a Meca (Haj) se tiver condições físicas e financeiras, e 6°- fazer a guerra santa, o sexto pilar, (Djihad) que permitiu a rápida expansão da religião muçulmana, onde o combatente estava seguro de ir para o paraíso de Alá se morresse em combate. Monoteísta, rejeita a Trindade mas admite a veneração de Jesus como profeta e de Sua Mãe a Virgem Maria de quem fala no Corão. Admite a crença no anjos e sua hierarquia (Gabriel, Micael, Azael e Israfil estão no topo); os outros ajudam os fieís a triunfar do mal, abaixo vêm os djinns, bons ou maus génios populares ou esposas celestes ou damas de honra do paraíso que devem ser a recompensa do crente nos jardins de Alá. Os muçulmanos dividem-se em sunitas, cerca de 80 por cento, e xiitas. Há ainda uma ramo Karajita, hoje conhecidos como ibaditas que vivem sobretudo em Omã. “Os islâmicos consideram-se superior aos judeus, aos cristãos, aos budistas, aos hindus. A única lei que Alah aceita é o Islamismo. E qualquer um que aceitar outra lei que não o Islã, não será aceito", e a sua agressividade vem, dentre outras da Sura 4, Versículo 89: "Eles almejam que renegueis a Fé como eles a renegam, e, assim, sereis iguais. Então, não tomeis, dentre eles, aliados, até que emigrem, no caminho de Allah. E, se voltarem as costas, apanhai-os e matai-os, onde quer que os encontreis. E não tomeis, dentre eles, aliado nem socorredor." 
Ismaelismo – é uma das correntes do esoterismo islâmico, que se enquadra no Islão Xiita.
Ismaelitas – Seita fundada no séc. VII no seio do xiismo admitindo a crença em Ismael, sétimo imam, a que a morte está negada. Este deve reaparecer um dia como “mahdi” ou Messias, fará reinar a justiça e punirá os opressores dos descendentes de Ali. Os dois filhos de Ismael foram corridos de Meca, um refugiou-se na Pérsia e outro na Síria.

Izanagi e Izanami – Grandes Deuses da mitologia japonesa do xintoismo, Pai Céu e Mãe Terra. Foi a sua união que gerou o mundo dos Deuses e dos homens.

sábado, 14 de dezembro de 2013



A propósito de Mandela

O homem é simultaneamente incompreensível para o homem.
Blaise Pascal

Muito se tem escrito sobre o velho Mandiba. O mundo (quase) todo elogia, curva-se perante a sua memória, dirigentes da “esquerda” e da “direita”, enquanto uns quantos “sabedores” de história malham no homem e fazem piada dizendo que agora o querem santificar.
Que ele foi comunista, que foi membro do PC, que mandou colocar bombas ali e mais além, etc. e com isto o tratam de bandido. Fez tudo isto, claro, e muito mais.
Alguém por acaso conhece alguém, em África, africano, que não tenha sido comunista, membro do PC, os únicos amigos, interesseiros bem sei, que os ajudaram em todas as lutas contra o colonialismo?
Quantos milhões de alemães aplaudiram Hilter quando este os tirou da miséria? Desses milhões quanto o abjuraram depois? E também se devem lembrar de Gorbachev, Premier da União Soviética que mandou o comunismo para o lixo.
E no chamado Ultramar português, quantos e quantos a ditadura salazarista, muda e queda para o diálogo, obrigou a se refugiarem nos países comunistas, que os acolheu, ensinou e treinou?
Lembro Amílcar Cabral que devia ter sido, quando estudou em Portugal tão comunista como eu, que continuo a abominar tal “receita”. E Eduardo Mondlane, o primeiro negro em toda a África a doutorar-se, MBA, nos EUA, também seria comunista, ou foi obrigado a receber o auxílio destes?
Sem o apoio da União Soviética e seus satélites, como Cuba, talvez ainda hoje Portugal fosse um Império Colonial, aliás eufemisticamente chamado de Ultramarino, a Zâmbia seria a Rodésia com Ian Smith a presidir, e a Áfrca do Sul com o apartheid nas mãos do africanders. Quem sabe?!
Voltemos a Mandela. Filho de um soba, a nobreza local, obrigado a estudar em escolas só para negros e non-whites, a não poder entrar em cinemas, restaurantes, onibus, etc. que eram só para brancos. Ele e os outros milhões de africanos a serem tratados como sub-humanos por causa da cor da pele.
Se eu, ou você que está a ler isto, tivesse vivido nas condições dele, e de todos os outros, o que faria para dar dignidade ao seu povo? O mundo ocidental a apoiar os brancos e a fingir que estava tudo bem, e só uma porta aberta para os apoiar: os soviéticos. Por muito anti comunista que fosse, eu não hesitaria em ligar-me a essa gente, também racista, sabendo que no ocidente o máximo que poderia obter seria levar com a porta na cara.
Lembro que os EUA só se deram conta que estavam a perder totalmente a “corrida” para os países africanos, que eles, na sua arrogante ignorância nem sabiam que existiam, quando viram a União Soviética já senhora da situação. Apoiaram o Congo e suas revoltas para não perderem o controle do cobre e, correndo, sempre asneirando na sua política externa, financiaram os maiores assassinos de Angola, a UPA.
Em qualquer altura a gente pode agradecer aos que nos apoiaram, e depois sair, mas terá que ficar sempre reconhecida pelo apoio recebido.
Certamente também se lembrarão do tipo de “diálogo” entre os africanders e os incipientes partidos dos africanos: polícia, bordoada, chacinas no Soweto e muitos outros lugares, mortes às dezenas, centenas, milhares. Há como dialogar assim? Ou retorquir no mesmo tom? Foi o que aconteceu; Mandela e todos os outros partiram para actos chamado terroristas. Os objetivos, bem definidos, eram que não atingissem pessoas, mas numa revolução ou guerra subversiva, ou qualquer outra guerra, os civis são sempre, de longe, quem mais sofre. E morreram brancos e negros.
Os brancos, menos de dez por cento da população total, queriam eternizar-se no comando do país. Utopia! Como foi em toda a África, e ao fim de 50 anos de falta de diálogo, só conseguiram um interlocutor válido, sensato, e que lhes dizia exatamente o que fazia e continuaria fazendo se não se chegasse ao princípio “one man, one vote”. Esse homem foi Mandela.
Mandela que sabia do ódio aos brancos, mas que não podia, primeiro prescindir deles, e depois permitir uma guerra civil que seria uma imensa catástrofe, desacreditando os africanos, como aconteceu no Congo, Angola, Moçambique, Nigéria, etc.
Negociou habil e educadamente a transição. Como era de se esperar foi eleito o primeiro presidente negro, e no fim do mandato declarou que não se queria reeleger.
E quando eleito, ao agradecer os aplausos entusiasmados de milhões, fez questão de agradecer levantando, junto com a sua, a mão do ex-presidente De Clerk.
Teve também aquela atitude sensacional no jogo de rugby que foi mais um passo importantissimo para unir brancos e negros: sabendo que os africanos detestavam a equipa “nacional”, os Sprinboks, por ser uma equipa de brancos racistas, e por isso aplaudiam o adversário, ensinou os jogadores a entoar o hino, já africano, e foi assistir ao jogo com a camisa do clube. Acabou o jogo com brancos e negros se abraçando.
Há, em toda a história, de toda a África, alguém que se aproxime da grandeza de toda esta trajetória?
Podem pensar em Senghor; mas este não deu um tiro, não mexeu uma palha a favor da independência, foi um grande poeta, o pai, com Aimée Cesaire, do movimento literário que se chamou Negritude, porque escreviam de “dentro para fora de África”; só esteve preso durante a guerra e pelos nazis, um amigo da França e de Portugal, mas quando agarrou o poder ficou lá vinte anos.
Não há, nem em África, nem talvez em todo o mundo quem, com o prestígio que Mandela atingiu, uma vez no poder não tenha querido perpetuar-se: os ditadores, os pseudo democratas, em toda a Europa, no Brasil, nos Estados Unidos, China, etc.
Mandela, foi um jovem, como qualquer de nós, fogoso como poucos, lutador, inteligente e valente.
Lutou com os meios que pôde. Venceu.
Porque o mundo inteiro o aplaude e lamenta a sua perda?
Porque há tantos que insistem em querer mostrá-lo como “terrorista”?
Em todo o meu tempo, e já lá vai muito, houve dois GRANDES homens a quem presto a mais profunda homenagem: Ganhdi, o Mahatma (Grande Alma), e Nelson Mandela, o Mandiba.
Eu vivi em África por vinte anos. Talvez no país onde as relações branco-negro eram as mais cristãs. Mas hoje, passados tantos anos já, reconheço que se eles não pegassem em armas...

13/12/2013