Hispânia
Vikings
e Cruzados
Não se assustem! Não vou contar
a história de Portugal. Só umas coisicas, com relação ao mar. Depois desta vou
passar uma “temporadita” – escrita – em Moçambique, porque ainda há muito sobre
o que falar daquela terra.
Não é novidade que os normandos
e/ou vikings assolaram as costas de toda a península, desde o país basco até à
Catalunha, atacando, destruindo, saqueando, durante uns bons, aliás péssimos,
quatro séculos. Já nem vale a pena falar do que fizeram na França, Inglaterra e
Irlanda, porque como estavam mais perto, mais bordoada apanharam!
Os caras eram ruins como as
cobras, selvagens completos, sanguinários, implacáveis, mas uns navegadores
extraordinários. Chegaram a sair lá da Escandinávia, ir atacar a Itália e até o
Médio Oriente, com centenas de dracares –
do viking “dragão” nome das suas embarcações – perderem
às vezes três quartas partes delas em tempestades e batalhas navais, e assim
mesmo seguirem em frente e tudo escaqueirarem.
Olha o pessoal aí! Loirinhos! Bonitinhos!
Depois – dizem - ainda levavam
os crâneos dos inimigos, cortavam-lhes uma rodela no toutiço e por aí bebiam as
suas cervejas ou vodcas, levantando gloriosamente esses crâneos e gritando
SKOLL!
Enfim eram uma malta danada, e
hoje são os mais civilizados do mundo.
Parece que todos teremos que nos
transformarmos em bestas feras para depois construirmos uma verdadeira
democracia!!!
A partir do século VIII aí vêm
eles devastando e pilhando tudo. Nada lhes escapava.
Em 844 estavam a matar galegos,
entraram na Corunha, mas deram-se mal. Ramiro I, rei das Astúrias deu-lhe uma
surra, os selvagens perderam 70 das 100 embarcações onde vinham, mas assim
mesmo seguiram até ao Tejo, onde chegaram em Agosto desse ano. Dizem documentos
antigos, muçulmanos, que ali chegaram com 54 baixéis e outras embarcações ainda
menores. Os números dessas épocas são pouco confiáveis. Os dos árabes bem mais.
Olha que belas botas tinha Ramiro !
Mas se os galegos lhes deram
muita porrada, os lisboetas – muçulmanos – durante treze dias deram-lhes mais,
e assim mesmo os raivosos seguiram até Cádiz e Sevilha que saquearam, e onde se
demoraram até Novembro, quando foram totalmente derrotados pelos exércitos
regulares islâmicos.
Aí perderam mais 30 embarcações
que foram capturadas e voltaram para casa. No caminho de volta ainda atacaram
Arzila, no Marrocos e tentaram desembarcar em Faro no Algarve e em Lisboa.
Duros de roer aqueles caras.
Em Sevilha além de terem perdido
muitas embarcações ficou um grande contingente de selvagens que, ou não
couberam nos barcos que se salvaram ou não chegaram a tempo de embarcar. Ali
ficaram e passado algum tempo já tudo estava convertido ao Islão!
E os piratas foram vindo: em 854
já estavam novamente a perturbar os galegos, e em 858-9, desta vez repelidos
pelo Conde Dom Pedro. Perderam homens e navios, mas foram encher o saco, deles
e dos marroquinos em Algeciras, Orihuela e Nakur na costa de Marrocos, dali seguiram
para a Catalunha, França e Itália, e em 861 hibernaram na Península antes de
voltarem a casa.
Em 960, reinava na Galiza Sancho
I, o Gordo, ameaçaram mas seguiram. Já tinham levado uma boa surra dos galegos!
Parece que terá sido esta a razão para que a Condessa Mumadona tivesse erguido o
castelo de Vimaranes.
Em 966 outra frota entrou no
Sado, mas os muçulmanos deram-lhe duro; saíram, mantiveram rumo ao sul e em
Silves os al-garbios acabaram-lhes com a festa.
Em 968 chegam mais de 1000
homens e lá estão a atacar durante ano e meio, penetrando pela Galiza, Douro e
Minho até Lugo, e só em 970 o Conde Gonçalo Sanches corre com eles, que voltam
no ano seguinte. À medida em que iam “aprendendo” com os saques “descobriam”
outro belo negócio: sequestro e resgate! Sacaram um monte, uma montanha de
grana, aos galegos, mas continuaram a não vencer os muçulmanos, como em duas
incursões em 972 no Tejo e Algarve.
Em 1008 voltam à Galiza e matam
o Conde Mendo Gonçalves.
Piorou em 1014. Chefiados pelo futuro
rei Olaf da Noruega, retornam à Galiza de quem tinham uma raiva danada -
cansados de perder barcos e gente - atacam o castelo de Vermoim e seguem para
sul pilhando as costas até chegarem a Cádiz.
1026 assaltam povoações
costeiras no norte Atlântico e Portugal.
A partir desta data parece que
as viagens de saque e pilhagem cessam um pouco e começam a passar frotas de
cruzados, começando em 1096, após a pregação do Papa Urbano II, prometendo o
paraíso a quem morresse a matar infiéis (isto lembra-me qualquer coisa do Corão,
né?) até 1270.
Com esta “santa” intenção
saíam aos milhares de escandinavos, ingleses, holandeses, alemães e... outros. Passaram
na Galiza, em 1107 onde já não havia mouros, e vá de saquear e pilhar! Em 1109
saquearam Sintra, outros arredores de Lisboa, Alcácer do Sal e as costas do
Algarve. Havia, ainda muçulmanos por todo o lado exceto já na Galiza, que,
mártir, volta a ser saqueada em 1111 por escandinavos (Não perdoavam as surras
que tinham apanhado anos antes!)
Em 1140 começa fase mais
simpática! Ajudam Afonso Henriques a cercar Lisboa pela primeira vez. Nesta
vinham já muitos franceses.
Em 1147 é que vem a grande
esquadra que ajuda a conquista de Lisboa.
Afonso Henriques sabendo que
vinham a caminho dá ordens para que os tratem bem no Porto onde fizeram aguada
e promete-lhes o saque total de Lisboa (podem ver neste blog 3 textos sobre
esta “farra”: No
rescaldo da Tomada de Lisboa - Da Lisboa Antiga e da Nova Lisboa - De volta a Lisboa Antiga. O
cerco durou três meses até que os muçulmanos capitularam e o saque foi um “Deus
nos acuda”!
E
começam também a fixar-se em Portugal grupos de “peregrinos” já fartos da
viagem e de piratagem e que decidem estabelecer-se. Afonso Henrique precisa de
gente para ocupar terras onde tinham estado muçulmanos e oferece-lhes uma série
de localidades que mais tarde se chamaram Vila Franca de... e de... etc.
Fixaram-se na Lourinhã, Pontével, Vila Verde, Atouguia, Azambuja que começou
por se chamar só Vila Franca e a, até hoje, Vila Franca de Xira.
Novamente
passa outra “onda de choque” em 1153 que vai em cima da Galiza para saquear! São
os simpáticos peregrinos cristãos! No verão de 1154 sucedem-se atos de barbárie
nas regiões de Portugal ainda ocupadas pelo Islão.
Mais uma
“onda” em 1157 que ajuda o rei Afonso a cercar Alcácer do Sal pela segunda vez,
mas que só cede um ano depois e atacada só por portugueses.
Em 1189 Sancho I preparava
novo ataque ao Algarve. Mais uma cruzada com cerca de 3500 homens era tudo o
que ele precisava para ajuda. Promete-lhes o saque de todas as cidades. Começam
por Portimão e a seguir Silves a grande e culta capital do Al-Garb, que capitula,
mas se recompõe no ano seguinte. Finalmente em 1197 nova cruzada, novo ataque a
Silves, que pouco mais fez do que destruir, e voltou novamente para as mãos dos mouros, sendo só em 1249, que D. Paio Peres Correia a
reconquistou definitivamente para os portugueses, no reinado de D. Afonso III.
E com a ajuda destes bárbaros
cristãos, Portugal acrescentou as suas fronteiras praticamente até onde estão
hoje.
Estas constantes viagens dos
povos nórdicos às costas de Portugal abriu-lhes os olhos: em vez de virem
saquear, andar à porrada, matar e morrer podiam fazer negócio. Portugal tinha
um produto que valia ouro, o sal, e vinho, frutas e couros, e eles tinham
cereais, têxteis das flandres e ingleses, e as madeiras de pinho para se
fazerem mastros para os nossos navios!
E mais: descobrem que em
Santiago, na Galiza, estão os ossos do apóstolo São Tiago. Começam as
peregrinações, desta vez para irem rezar junto ao túmulo do Santo e, muito
certamente pedir-lhe que lhes perdoasse todo o mal que fizeram àquela gente! E
chegam peregrinos do mais longe da Europa, que vão a pé ou de navio, e assim
estabelecem laços duradouros com a Galiza. (Finalmente!)
Começa uma era nova, mais
tranquila. Os navios vinham no norte, comerciavam pelo caminho e voltavam com
coisas novas que o sol da Ibéria lhes proporcionava.
E começam também os casamentos
entre casas reais. Uma filha de Afonso Henriques casa com Filipe de Alsácia,
Conde de Flandres, casamento negociado por Henrique II de Inglaterra (o marido
da gloriosa Eleanor d’Aquitaine), um filho de Sancho I, Fernando, com a
princesa flamenga Joana, o infante D. Afonso, mais tarde Afonso III, filho de
Afonso II casou com a condessa de Bologne, Matilde, e duas princesas
portuguesas casaram com reis da Dinamarca (ver de novo, neste blog Relações Norte Sul - Rainhas
de Portugal).
Portugal
estava a ficar importante aos olhos do mundo. (Naquele tempo o mundo era só a
Europa!)
Acabaram as
guerras de saque e pilhagem e começam os desentendimentos comerciais, e
assaltos a embarcações comerciais. Nasciam os corsários! Cria-se protecionismo,
taxas alfandegárias, etc. que volta e meia se acertavam com acordos mas que...
normalmente não se cumpriam. Tal qual hoje!
Enfim a
história é uma comédia, que se repete, repete, tal como as peças teatrais que
duram anos, vão só mudando de atores!
Só para dar
um finzinho nestas histórias.
No final do
século XIV as trocas comerciais com Portugal eram interessantes, sobretudo com
os portos do Báltico, e há dois documentos que particularmente me agradam:
Em Setembro
de 1373, um capitão prussiano, J. Westvale, fundeou a sua coca (ver imagem) no
porto cantábrico de Bermeo, região da Biscaia, país basco, e para comprar vinho
a levar para França, contraiu um empréstimo de 230 francos de ouro de um
mercador lombardo de Piacenza, de nome Francisquin Boisson. (Meu xará e o
primeiro que vejo com um nome bonito assim! Acho que vou adotar!)
Coca.
A principal embarcação da Liga Hanseática
No ano
seguinte o mesmo J. Wesvale, fundeou em Laredo, na costa Cantábrica e contraiu
novo empréstimo de 355 francos, com outro comerciante, também de Piacenza,
chamado Gheeraert de La Rocque!!! Quem sabe se um antepassado meu!
Consta de
vários documentos que o prussiano J. Westvale também esteve várias vezes em
Lisboa.
Não o conheci!
Foi pena.
17/05/2017
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