Desacordos
Ortogárficos
(Orto gárficos)
Lembro muitas vezes algumas máximas, que são
mesmo o máximo, como esta: “A estupidez
humana é a única coisa que nos pode dar a noção de infinito”, segundo
Ernest Renan.
Razão
tinha também Alexis-Charles-Henri Clérel, o visconde de Tocqueville, quando terá dito que “Um Estado
mal governado, em vez de reformas faz revoluções” !
Em
relação ao Brasil, Venezuela, Equador, Angola e tantos, tantos, outros países
atrasados, eu disse atrasados, estarão eternamente sujeitos à “lei” de Fialho
de Almeida: “É lei inflexível que
enquanto o povo for ignorante, a revolução será estéril” !
Parece já ter passado a febre da tão acesa discussão
sobre o famigerado “Des-Acordo”, que teve acérrimos defensores do pode e do não
pode, deve e não deve, enquanto, pelo meu lado, modesta e ignorantemente,
decidi ficar pelo MEU acordo. Escrevo como sei, influenciado pelos meios em que
vivi, e imagino que as pessoas que lêem o que escrevo compreendam, não só a
escrita, como o pensamento do “escritor”.
Como por exemplo a
palavra “zukumuna”, que deu origem a um blog que, por falta de leitores e/ou de
paciência abandonei, palavra linda, de bela e forte sonoridade, de origem angolana, da língua Cokwe, ou
Tchokwe, ou Quioco, ou... qualquer outra grafia que lhe queiram emprestar, e
que significa: “arremessar, atirar ou
lançar com força um pau ou coisa semelhante".
A ideia era malhar em
tudo que me parecesse errado! Quixotismo.
A partir da premissa, do mútuo entendimento, creio
que estamos todos de Acordo. Se alguém não estiver, é problema dela/dele.
Como todos também sabemos a língua é viva.
Vivíssima. Na portuguesa entraram palavras de origem grega, celta, romana, germânica,
árabe, hindu, africana, brasileira, inglesa e de outras bandas, e assim a partir
do século XV o nosso vocabulário, de poucas dezenas de milhares de palavras,
multiplicou por cinco ou seis a sua quantidade, devendo hoje em dia ser uma das
mais ricas do mundo.
Mas o Brasil (desculpem-me de falar outra vez do
Brasil!) parece estar empenhado em aumentar o vocabulário, não só em nomes
próprios como em verbos, adjetivos, substantivos e, até em preposições, quando,
desde há muito decidiu engolir uma destas, logo por azar ou premeditação a
primeira: o “a”, o “a” mudo, a preposição.
Raros são os que, por exemplo, vão ao Rio. Onde vai? Vai o Rio! O póbrema (outro vocábulo
interessante) é que se o Rio se vai... só pode ser por água abaixo, por descaso
político ou acidente “natural”, para o que nos basta constatar que em 2016
houve só 5.033 homicídios, 93.955 roubos a transeuntes e 41.704 roubos de viaturas
(só no Estado do Rio).
Não admira. Vejam só: a polícia deve a
fornecedores, só do Rio, repetindo, R$ 523 milhões (uns cento e cinquenta
milhões de €uros) e assim falta a gasolina para perseguir bandidos, dar
manutenção às viaturas, etc. Por este andar o Rio está indo mesmo por água...
Mas também há quem more fora da cidade e decida
ir “no Rio”, o que pressupõe que tenha transporte fluvial.
Está também a crescer um novo vocábulo
interessante, que deve ter saído da recém casta de galfarros (consultar
dicionário) que estão a pensar ocupar o vácuo político deixado pelos gatunos já
julgados e pelos outros centos destes a julgar e meter na cadeia (se os
tribunais não os “inocentarem”). São os prepostos novos pretendentes ao poder
que se estão “empoderando”.
Traduzindo, uma vez que os dicionários ainda não
tiveram nova edição: significa ganhar “poder”! Olha que vocábulo interessante.
O “empoderamento” da nova gatunagem... orto-gárfica! Tem que ser. Os velhos
donos do poder já estão todos empoeirados, e vão-se desempoderando!
Mas é sobretudo nos nomes próprios que o desacordo
mais se faz sentir mais profundamente. Já não nascem mais Gabrielas! Agora são Gabrielles
ou Gabriellys, de preferência com “y” em vez de “i”, não tem mais Mateus, mas
Matheus, já não falando em Ambrísia Estilingue, na Defuntina, no Eradonclóbes
ou Emanuelly, Marielle, Wilder, Eurides, e tantos outros que se exibem em todas
as telas de Tv com os jogadores de futebol, como o Allison, o Weverton, e
tantos outros. Lembro ainda uma garota que foi pedir um autógrafo ao grande
mestre Ariano Suassuna e quando ele lhe perguntou o nome ele disse: Whaydja! Quando
o Mestre lhe pediu para soletrar, ela não deixou de sublinhar que tinha um
“dabeliú”, um “agá” e um “ipislão”. E era uma brasileira da mais pura raça!
Moral da história: para quê estarem os sábios da
filologia e semântica a gastar as meninges para se fazer um acordo ortográfico?
Bobagem, né?
Para amenizar, aqui vão algumas palavras
interessantes, de origem tupi. Espero que apreciem:
·
Pare com este nhen-nhen-nhen.
A expressão vem do verbo nhe’eng (falar, piar) e significa pare
de ficar falando, de falar sem parar.
·
O velho jogo
de peteca, que é um pequeno saco cheio de areia ou serragem sobre o qual
se prendem penas de aves, tem este nome devido ao verbo petek —
golpear ou bater com a mão espalmada. É com a palma da mão que se joga o
brinquedo.
·
Velha coroca
é uma velha resmungona. O termo nasceu do verbo kuruk, que
significa resmungar.
·
O verbo cutucar,
em português, origina-se do tupi kutuk, cujo significado original
— furar, espetar — modificou-se ligeiramente. Em português, cutucar é tocar com
a mão ou com o pé.
Estar jururu
é estar melancólico, tristonho, cabisbaixo. O termo indígena aruru,
de onde surgiu a palavra, tem o mesmo sentido.
·
“Todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem”, diz
uma música de Chico Buarque de Holanda. Pereba, do tupi, significa
ferida.
·
Várias
palavras mantiveram pronúncia e significado praticamente originais: mingau
(papa preparada geralmente com farinha de mandioca), capim, mirim (que
significa pequeno) e socar (do verbo sok, com o mesmo
significado).
·
A expressão
estar na pindaíba muito brasileiro conhece: significa estar em graves
dificuldades financeiras. É uma expressão que vem das palavras pinda’yba
— vara de pescar (pindá, isoladamente, significa anzol). Antigamente, quando a
pobreza abatia as populações ribeirinhas, era comum tentar tirar a subsistência
do rio, pescando para comer ou para vender o pescado. Segundo os pesquisadores,
a expressão nasceu no período colonial brasileiro, em que o tupi em sua forma
evoluída conhecida como “língua geral” era falado pela maioria dos brasileiros.
·
A perereca
recebe esse nome simplesmente porque ela pula. Vem do verbo pererek,
pular, que é também a origem do Saci-Pererê que, por não ter uma perna, anda
aos pulos.
E que tal estes termos de Angola:
· Cabeça de pungo – cabeçudo (aliás o peixe, pungo, é uma delícia. Quem se lembra?)
· Bugar –
dizer mentiras
· Cuia – uma
espécie de prato ou vaso feito de metade de um abóbora seca. Palavrada usada no
tupi e em quimbundo!
· Cusunguluca – ser modesto. (Com esta palavra... quem o pode ser?)
Ou então se for a
Moçambique e quiser uma bebida fresquinha, doce, peça nzizima (no norte, no sul
maheu), se preferir cerveja, uma yovurya.
E sabem quantos nomes
já encontrei, em Angola e Moçambique, para o instrumento que no Brasil é mais
conhecido por berimbau?
Fica para a próxima.
Por hoje chega. Vamos
pensar num acordo universal!
Maio 2017
Outro dia, ouvindo a conversa de duas técnicas de enfermagem também aumentei significativamente a minha cultura em relação aos termos, vocábulos, palavras que se acrescentam todos os dias à nossa língua neste vasto país:
ResponderExcluir- vc sabia que próbrema é diferente de póbrema? diz uma;
- nãooo diz a outra
- pois, próbrema é aquele entre as pessoa e póbrema é aquele das matemática, dos numero, entendeu???
Ainda perguntei mas não me souberam dizer o que significava problema...
Fato real passado no HOspital das Clínicas da Faculdade de Medicina universidade de São Paulo
JGMP
Maravilhoso!!!!!!!!!!
ExcluirBeijinhos