quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017



A Argonáutica do
ARGUS

Os Argonautas (em grego antigo: "Ἀργοναῦται - Argonautai"), na mitologia grega, eram os tripulantes da nau Argo que, segundo a lenda, foi até a Cólquida (atual Geórgia) em busca do Velo de Ouro (ou Velocino de Ouro). Essa nau terá sido construída por Argus, filho de Frixo.
Usando informações astronômicas, a mitologia e o estudo dos equinócios, Isaac Newton calculou a data do início da expedição como sendo o ano 939 a.C., 2645 anos antes do início do ano 1690, dunque há 2956 anos.

A nau ARGO, segundo Lorenzo Costa (1460-1535)

A saga dos argonautas descreve a perigosa expedição rumo a Cólquida. Conta o mito que Éson, rei da Tessália, havia sido destronado por Pélias, seu meio irmão. Seu filho Jasão, exilado no interior do país, retornou ao atingir a maioridade para reclamar o trono que por direito lhe pertencia. Pélias então, que tencionava livrar-se do intruso, resolveu enviá-lo em busca do Velocino de Ouro, tarefa de extremo perigo. Um arauto foi enviado por toda a Grécia a fim de juntar heróis que estivessem dispostos a participar da difícil empreitada. Cerca de cinquenta jovens se apresentaram, todos eles heróis de nomeada. 
Em sua primeira escala, aportaram na ilha de Lemnos, habitada somente por mulheres. É que Afrodite, insultada por estas que lhe negavam culto, castigou-as com um cheiro insuportável de forma que seus maridos partiam em busca das escravas da Trácia. Movidas pelo ódio e pelo despeito, assassinaram seus esposos instalando na ilha uma espécie de república feminina, situação que perdurou até à chegada dos argonautas, que então lhes deram filhos.
Chegaram enfim à Cólquida, onde cabia a Jasão a tarefa mais árdua: capturar o Velo de Ouro. Medeia, filha do rei e conhecida por suas habilidades na arte da feitiçaria, apaixonou-se perdidamente por ele e por isso, não mediu esforços para auxiliá-lo nas árduas tarefas que o rei impôs como condição para entregar-lhe o talismã.
Jasão tirou proveito dos feitiços e encantamentos da feiticeira e sem esforço partiu da Cólquida levando consigo o Velo de Ouro. Os argonautas ainda passaram por alguns percalços, mas enfim chegaram a seu destino final onde entregaram a Pélias o Velocino. Com uma das suas magias, Medéia deu morte a Pélias!

A viagem dos Argonautas. Quanto tempo demorou? Ninguém sabe.

Há cerca de 3000 anos, portanto, a famosíssima nau ARGO, saiu de Tessália, passou na ilha de Lemnos cheia de garotas e mulheres desesperadas por homem (Imaginem a chegada dum monte de heróis, bonitões a uma ilha só com mulheres... nem Camões teve esse brinde!) chegou a Cólquida, recuperou o Velo de Ouro, e voltou para casa fazendo uma volta imensa. Ao argonautas passaram por onde é hoje a Romênia, Hungria, Eslovênia, desceram e subiram o mar Adriático, norte da Itália, entraram na Suíça e França, desceram o mar Tirreno, passaram no estreito de Messina e apanharam um tremendo temporal que os atirou para a Líbia, tendo a nau ido parar dentro do deserto. Ali encontraram umas dançarinas que lhes disseram que tinham que carregar a não à mão até ao mar, e finalmente conseguiram chegar a casa!
Foi uma “aventuraça” e tanto, mas como ninguém fez o diário de bordo, não se sabe quanto tempo demorou o trajeto. A única coisa que se pode calcular, com um elevado índice de erro, é a distância, terra e mar, que percorreram, qualquer coisa como umas 4000 milhas marítimas, ou, para os terráqueos, uns 7500 quilômetros.
*          *          *
3000 anos mais tarde o “grande” ARGUS, construído em Angola, Luanda, em 1952, ali morreu de morte miserável, abandonado ao tempo e às cracas menos de um quarto de século depois!
E tanto prazer deu aos seus primeiros e segundo proprietários. Era um barco lindo!
Mas salvou-se a sua memória, através duma maquete, meticulosa e magnificamente construída pelo marceneiro do navio “Vera Cruz”, e entregue ao seu orgulhoso proprietário de então, em Luanda, 1969.


Começa aí o “périplo” não do ARGUS autêntico, mas da sua maquete, sempre guardada e exposta em casa com um misto de saudade e tristeza por não poder navegar.
Sai de Luanda para Lourenço Marques em 1971, quando deixou o “autêntico”, vendido, em Luanda. Regressa a Luanda em 1974, no meio da revolução/confusão, e é embarcada para o Brasil em 1975, dentro de um contentor, cheia de imbambas, e, aparentemente, fixa-se em São Paulo.
Em 1992 vai até Portugal, regressando ao Rio de Janeiro em 1995.
O tempo, as viagens, tinham-lhe feito alguns estragos, até que chegou o tempo em que foi decidido que o ARGUS tinha todo o direito de descansar na terra de origem e, sobretudo no Club onde primeiro esteve inscrito com o número 29, o Club Naval de Luanda.
Não podia regressar como um filho pródigo, um mendigo.
Sujeitou-se, complacente e alegre, a um restauro, mais ou menos (!) minucioso, para poder enfrentar a última viagem da sua vida.
Restaurou-se: velas novas, casco calafetado, alguns moitões “novos”, pintura “anti-craca” (?), pintura e verniz geral, e ei-lo pronto para o seu último destino.


Bem embalado, encaixotado com muito cuidado e carinho... ali vai ele!
Saiu de casa, com lenços brancos a acenarem já de saudades, pelas 14H00 do dia 15 de agosto de 2016, data que foi (ainda é?) das festas da cidade de São Paulo da Assunção de Luanda, dia da Padroeira daquela linda cidade, quando ele participava das regatas comemorativas.
Seguiu no dia 16 para São Paulo.
Dia 18 é encaminhado para o aeroporto de Guarulhos e segue, via aérea para Paris.
A 19, sai de Paris, aeroporto Charles De Gaulle, para Liege, na Bélgica.
A 20, entra noutro avião e vai para Frankfurt na Alemanha, de onde mais uma vez sai noutro voo para... Pudong, Shangai, na China!!! Não era bem naquele rumo que deveria ter ido. O GPS da transportadora devia estar avariado!
A 22 a alfândega Pudongona, recebe o caixote.
A 4 de Setembro a China não larga o barco da mão! Talvez à espera que mais uma vez este belo “navio” português lhe livrasse os mares de Cantão dos piratas!
A 11, finalmente a China autoriza que o cansado viajante siga para o Brasil. Não para Angola.
A 18, mercê da intervenção de Matsu (妈祖) – a deusa chinesa do Oceano, recebe autorização para embarcar para Angola, onde, depois de passar pelo Cabo da Agulhas, finalmente chega a Luanda em 9 de Novembro!

A vermelho as “navegações” Luanda-Brasil-Portugal-Brasil”
A azul “A Última Viagem do “ARGUS”

Depois duma odisseia de 86 dias, o ARGUS está a casa!
A nau ARGO e os Argonautas devem ter percorrido umas 4000 milhas náuticas.
O ARGUS, depois de um quarto de século navegando, lindo, lindão, pela costa de Angola, percorreu 20.000 milhas náuticas para chegar a casa! Quase uma volta ao mundo.
O “Bom Filho à casa torna”. Ei-lo, gozando a merecida  “aposentadoria” em casa, no seu Club:



12/02/2017

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