Moçambique
Velhas Fortalezas
As
fortalezas mais conhecidas e conservadas são as da Ilha de Moçambique –
Fortaleza de São Sebastião (1558), Forte de Santo António (1820) e Forte de São
Lourenço (1580?) - e a do Maputo que foi quase sempre uma paliçada de madeira
até que em 1946 se construiu em pedra, como monumento, sobre os alicerces
originais de madeira.
As
que se descrevem são as esquecidas, arruinadas, mas fazem parte da história e
do património, mesmo que em ruinas.
1.- Praça de S. Caetano de Sofala
A
fortaleza de Sofala foi fundada em 1505 com a finalidade de monopolizar o
tráfico de ouro vindo do interior do Monomotapa, que estava nas mãos dos árabes,
“as minas mais ricas que nenhumas outras
daquelas partes”, como as classificou El-Rei D. Manuel, que deu ordens para
a sua construção.
Em
1595 chegou Pero de Anhaia para dar início à construção, que mandou dizer ao
Vice-Rei, na Índia: “parecia escusada ali
a fortaleza e gasto de gente, que não senhoreava nada, porque se com paz e
amizade se não fizesse o resgate, ninguém lho poderia fazer por força, por a
terra ser má de doença”. Em vez de construir algo em pedra, limitou-se a
organizar “uma tranqueira” defendida por um fosso.
Gaspar
Correia quando ali passou em 1512 dá uma visão da obra: “O Capitão mór, com o conselho de todos escolheu o lugar para
construir, junto ao rio... e repartiu o trabalho por todos os homens, do qual
trabalho, por a terra ser doentia, começou a gente a adoecer e morrer; pelo que
houveram por bem acertado em não ter começado a fortaleza; e a tranqueira foi
acabada em fim de outubro, sendo muita gente doente dos maus ares da terra”.
Anhaia
morreu pouco depois e o feitor, eleito Capitão, Manuel Fernandes construiu
dentro da tranqueira um “cubelo de pedra e cal”.
Após
um ataque movido pelos árabes, “o Capitão,
que já nom avia homens doentes abrirão logo os alicerces e começaram a fazer a
fortaleza... acabada em 1506”.
Em
carta de 1608 el-rei: “... a fortaleza
está muito mal provida, sem presídio nem munições e exposta a ser ocupada dos
inimigos”.
Em
1644 chegou ao reino a notícia de que a fortaleza estava arruinada, tendo o vice-rei
D. Filipe de Mascarenhas proposto que fosse desmantelada, mas o rei, D. João IV
escreve ao novo vice-rei, Conde Óbidos: “Conde
sobrinho amigo... me pareceo dizervos que que não convém ser desmantelada a
dita fortaleza, antes tratar-se da sua conservação...
Em
1758 Sofala tem a sua antiga fortaleza de
pedra e cal, e hoje em partes lhe bate o mar, e a Igreja, da mesma antiguidade está
demolida”, e em 1789 já “...a parte do mar está carcomida e muito
arruinada.
Em 1885 – Desenho original de Augusto de
Castilho
1905
1906
– Último ano em que a torre de menagem esteve de pé. Poucos anos mais e tudo se
afundou nas areias salgadas.
2.- Forte Princesa Amélia em
Massangano
Situado
a uma dúzia de quilômetros de Tete, na margem direita do Rio Zambeze, perto da
confluência do Rio Luena, no alto da serra Bacampembuzuè (ou Inhampembuzuè), na
aringa que foi dos “rebeldes” Bonga, Chatara e Motontora, em 29 de novembro de
1888, o governador geral de Moçambique, Augusto de Castilho e mais um monte de
outra gente, tomou posse solene desta aringa, que ficava ocupava por um
destacamento militar, já que a situação geográfica parecia importante para o
controle da região. Arvorou-se a bandeira, deram vivas ao rei, etc. e lavrou-se
o competente auto.
Em
outubro do ano seguinte o governador de Tete propôs que se construísse ali uma
fortaleza de pedra e cal.
Em
1891 João de Azevedo Coutinho que passou na região, escreveu, dando “a obra em
começo, era grandiosa de mais e perfeitamente deslocada para aquelas paragens”.
Já
guarnecida 1892 só dois anos mais tarde se fez a inauguração solene. Mais
autoridades, mais hastear de bandeira, mais vivas e... mais nada.
Não
tardou muito que tivesse sido abandonada, caiu no esquecimento e em ruinas.
No topo da serra, os restos, vendo-se o
“tambor”, área circular num dos cantos do forte
Interior do forte sobre
o lugar da aringa
3.- Fortim de Pemba
Terá
sido Jerónimo Romero o autor da obra de um pequeno fortim em Porto Amélia, hoje
Pemba (aliás nunca deixou de ser Pemba!) em 1857, quando se estabeleceu naquela
localidade uma colónia de europeus, chamada “8 de Dezembro”.
Em
1858 foi encarregado o capitão Luis Feliciano Guerreiro Barradas de dar início
às obras “nas pontas Norte e Sul, ou pelo
menos um, que deverão ser fortificados com a brevidade possível”. Começou
pela ponta de Miranembo, depois ponta Romero, “na praia do desembarque construiu-se uma palhota para agasalho de
gente e depósito de materiais”. Logo a seguir mandou-se ao governador geral “uma planta para um fortim abaluartado”
de traça pentagonal, que nunca obteve resposta.
Romero
queria um Reduto com capacidade para 20 praças, cozinha, armazém, paiol para
munições, etc.
Entretanto
as intrigas contra a colónia “8 de dezembro” começaram a vingar e em setembro
de 1861 só restavam cinco colonos e a colona Ana Barbosa.
Em
1862 inicia-se “a construção de um
pequeno reduto ou parapeito para servir de defesa ao destacamento si
estacionado, em forma hexagonal que ficou concluída em 4 de janeiro seguinte,
com uma muralha de 9,5 palmos de altura exterior e 2 palmos de espessura.
Em
julho o governador reconhecendo o fundamento reclamações dos sucessivos
comandantes do destacamento, para que aos muros do reduto fossem dadas maior
consistência e altura. “...porque sendo amiudadas
vezes visitado pelo Leão e pelo Tigre resultava não se poderem ali conservar os
soldados desde o começo da noite”.
Em
1865 o governador interino, Francisco de Paulo de Castro Domingues, escreveu: “Não serve para nada, está construído de tal
maneira que tendo três peças montadas só podem fazer fogo para o ar. O quartel
do destacamento está fora do forte e está a cair, é preciso construir outro
dentro se lá couber”.
Hoje
lá está um forte, todo remodelado, conforme foto do blog tronco-em-flor.
Forte Jeronimo Romero – Pemba (foto
recente)
18/06/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário