sábado, 25 de junho de 2016

BREXIT - 2

Primeiro uma referência à Noruega: o maior produtor de petróleo do chamado “Ocidente”, tem conduzido de forma admirável os excedentes financeiros dessa exploração, para investimentos que assegurem, no futuro, a continuação do nível de vida, impecável, que hoje usufruem os noruegueses. Nada de espaventos arábicos ou idiotas dos venezuelanos. O maior investidor mundial, tem aplicado dinheiro em largas dezenas de países, jamais ultrapassando 5% do capital das empresas onde aplica, diversificando ao máximo e garantindo que se uma ou outra empresa falir a Noruega não vai sentir.
David Cameron apostou tudo num idiota referendo, colocou os ovos todos no mesmo cesto, orgulhoso e “seguro”, não soube conduzir a opinião pública e... dançou!
Não parece ter sido muito difícil derrubar a imbecilidade de slogans do “out” como “Give us our country back”, como se alguma vez o Reino Unido tivesse perdido a sua TOTAL independência. Não entraram no Euro, não alinharam no Schengen, não aceitaram lutar contra paraísos fiscais e se não gostavam muito das diretrizes de Bruxelas, o que estavam lá a fazer 2.000 funcionários?
Boris bramava que a EU custava £ 400 milhões por semana, o que é mentira. Mandavam cerca de 350 e recebiam de volta 200, e tinham 2.000 funcionários, regiamente pagos, não pelo UK mas pela EU. O malandro do Boris, e seus correligionários usaram e abusaram disso, e ninguém os desmentiu. O que era de esperar?
Razão teve o Putin em dizer, há já quase duas semanas, que tinha sido a maior burrada do sr. Cameron. E foi.
Quem ficou a ganhar com esta saída da EU? Todos os outros blocos económicos do mundo, sobretudo China e América do Norte, não esquecendo a Rússia, agora com a obsessão de reconstruir o Império Soviético, e adorando ver a Europa se enfraquecer (vidé Ucrânia) e até o imbecil Donald Trump que vai dizer nos EUA que até os ingleses não querem mais imigrantes!
Quem votou no “out”? A velharia inglesa apavorada com os “imigrantes”! Teria votado na Rainha Vitória ou no Henrique VIII do mesmo modo, recordando os “bons velhos tempos” em que os marajás beijavam a mão do governador da Índia, ou quando morreu o rei Jorge V, o futuro Eduardo VIII estava de visita ao Quénia, recebeu o telegrama a avisar da morte do pai e que regressasse imediatamente a Londres. Eduard não regressou logo. Quis ficar mais uma noite porque sabia que nessa noite ia “comer a mulher do governador”. Comeu e quando chegou a Londres o velho rei já estava em baixo da terra. Esta é a Inglaterra que votou no “out”. Querem continuar com o seu esnobe “five ó clock tea”, e o futuro, como não será deles... que se lixe.
Quem saiu prejudicado? Os jovens que sabem que o futuro está inexoravelmente ligado à Europa, mesmo com o exemplo desastroso e infeliz que tem sido até hoje a condução super burocratizada do Parlamento Europeu.
Se em vez de implodir a Europa este BREXIT for bem mastigado por todos os países membros, pode ser que a Europa saia fortalecida.
Terá que reduzir o custo do Conselho e do Parlamento em 50% ou mais, para ver se alguma eficiência pode vir a ter, terá que bater o pé à sra. Adolph H. Merkel e sua fobia de conquistar a Europa esmagando os pequenos, terá que consertar a livre circulação de mercadorias, conscientes de que a França tem custos altíssimos nos produtos alimentares, mas que país nenhum pode depender de importação para comer – como é o caso de Portugal desde pelo menos... sempre – continuar a luta contra os paraísos fiscais, dos quais a Inglaterra é um carro chefe, e etc., além de inúmeros etcs., e tentar resolver o programa da invasão dos refugiados que já fez mais de 10.000 mortes por afogamento, entre estas mais de 2.000 crianças.
A sensação que fica é que o “glorioso” Reino Unido, depois de dominar o mundo, desde a China às Américas e África, demonstrou agora uma falta de raciocínio e bom senso, dignos de imberbes mentecaptos.
E é pena.

25/06/2016


sexta-feira, 24 de junho de 2016


BREXIT
A Vitória da Covardia


O Reino Unido vai sair da Europa? Parece. E vai implodir a União Europeia? Talvez.
Mas deve começar por se implodir a si própria com a saída da Escócia e, quem sabe, da Irlanda do Norte.
Boris Johnson amedrontou os britânicos, normalmente valentes, como se viu nos seus soldados a ajudar a Europa na I e II Guerras Mundiais, com a alegação de quem têm no seu território 3 milhões de emigrantes, mas esqueceu-se de dizer que, em contrapartida, espalhados pelo mundo tem mais de 2,5 milhões de britânicos.
Argumentou e bramou que os roms roubam os alojamentos que deveriam ser para os filhos da terra, os búlgaros e agora os sírios – que pouquíssimos lá entraram – estão a ocupar postos de trabalho dos nativos british, mas também se esqueceu de dizer que eles roubaram as melhores terras e palácios quando colonizaram a Índia, e os países africanos, que foram, e SÃO, os responsáveis pela desgraça que desde há um século se tem abatido sobre o Curdistão, quando quiseram monopolizar o petróleo do médio Oriente e “ofereceram” o Curdistão aos iraquianos!
Ainda se esqueceu dos primeiros imigrantes: os celtas, os normandos, os bretões, que devem ter ocupado – e ocuparam mesmo – os altos cargos da então incipiente Inglaterra... sem referendos!
Não falou do assalto que fizeram à Irlanda, da transferência de ingleses para o Norte, para continuarem com aquela parte anexada, e que quer continuar na EU.
E os babacas ingleses decidiram sair da EU, e comemoram como se tivessem ganho a Copa do Mundo de futebol, que isso sim, eles inventaram bem!
A moeda já desvalorizou, vai cair mais, e a Inglaterra vai ficar um paisínho, isolado, a pensar que pode competir com o bloco norte americano, o asiático e até o europeu, se este não ruir também, vendendo Rolls-Royces, e produtos farmacêuticos.
Boris, o mesmo cabelinho amarelo, igualzinho ao seu comparsa Donald Trump, que está a levar o terror aos americanos, ajudando a bandalha dos republicanos a venderem mais armas para matarem mais americanos, repetindo os desastres do George Bush quando decidiu atacar o Iraque, dizendo ao povo que era preciso acabar com o ditador, e depois com o Bin Laden. Tudo isto à custa de milhares de mortos entre os seus soldados e muito mais milhares de estropiados, mas... vendendo armas.
Por aqui houve também – e ainda não está “morto” – um demagogo que bramou contra as “zelites que roubavam o povo”, e quando deitou a mão ao poder roubou dos cofres públicos, ele e a camarilha, algo que deve andar por volta de um trilhão de reais ou dólares, ninguém sabe ainda quanto!
Cêrca de 40% das exportações britânicas vão para países da EU. Agora vão pagar direitos, e como consequência, vão cair essas exportações. Do mesmo modo vão encarecer os produtos de importação.
E se é tanta a fobia contra os imigrantes, que têm mantido a taxa de reposição populacional, apesar de abaixo da média mínima de 2,1 filhos por casal, a um nível de 1,7, que, se esses “indesejáveis” não continuarem a afluir, qualquer dia a população da Britânia ficará de tal modo reduzida que...
No fim de contas de quem é a culpa de tudo isto? Raciocinemos um pouco.
- O custo exorbitante do Parlamento Europeu que se reúne em Bruxelas e Estrasburgo. Para que dois lugares? E para que aquela montuêra de euro deputados que ganham uma fábula e se aposentam ainda quase imberbes?
- Os egos desses parlamentares a querem impor, muitas vezes copiando o de triste memória “ultimato” inglês a Portugal em 1890, medidas idiotas, selváticas, insensatas, como quando há uns anos quiseram obrigar Portugal a “batizar” o vinho com açúcar, porque havia excedentes de açúcar de beterraba no Norte da Europa, ou quando ficaram a pagar a agricultores portugueses para não produzirem cereais, e permitirem que os agricultores ingleses sobrevivessem de subsídios e não deixar que isso se passe nos países mais pobres, etc.
- Está muita gente a mamar à custa dessa tal União Europeia. Os resultados não são nada do que seria de esperar, mas os “mamadores” acham que está ótimo! Depois admiram-se que haja tantos euro cépticos, alguns até ferozmente anti EU. Dá a sensação que, em muitos casos esse parlamento legisla em causa própria, esquecendo os 300 milhões de europeus que sonhavam com um aumento do seu nível de vida com essa União que já leva 23 anos de vida, e não se envergonha de no seu conjunto ter uma taxa de desemprego de 9,6% (2015) e uma Dívida pública de 87,4% do PIB (2015), números estes que... serão verdadeiros? E não terão piorado em 2016?
Acabar com a EU não parece ser uma boa solução para todos os países da Europa. Mas reforçar PROFUNDAMENTE os conceitos, o Parlamento, e a arrogância, parece que é uma necessidade urgente, que o BREXIT deixou bem evidente ao dizer não ao lento, e por vezes desastroso arrastar dessa Europa, aparentemente uma União, bastante desunida.
A feroz Merkel e o desastrado Hollande beijam-se e abraçam-se. A Suécia e a Dinamarca com os seus sistemas que funcionam perfeitamente também não estão interessados em continuar a manter uma União desunida.
Enfim. A União Europeia foi um sonho começado por Napoleão, mas não tem Napoleão nenhum no seu comando. Tem uma pseudo democracia onde, parlamentando à italiana, todos puxam a brasa à sua sardinha.
Lembra um versinho que fizeram ao ex Presidente Américo Tomás à saída da sua visita a Angola:
Angola no coração
A Gertudes no beliche
Os presentes... no porão
E o preto... que se lixe!

24/06/2106 – Dia de S. João, quando a sardinha pinga no pão!



quarta-feira, 22 de junho de 2016



Moçambique

Velhas Fortalezas


As fortalezas mais conhecidas e conservadas são as da Ilha de Moçambique – Fortaleza de São Sebastião (1558), Forte de Santo António (1820) e Forte de São Lourenço (1580?) - e a do Maputo que foi quase sempre uma paliçada de madeira até que em 1946 se construiu em pedra, como monumento, sobre os alicerces originais de madeira.
As que se descrevem são as esquecidas, arruinadas, mas fazem parte da história e do património, mesmo que em ruinas.

1.- Praça de S. Caetano de Sofala
A fortaleza de Sofala foi fundada em 1505 com a finalidade de monopolizar o tráfico de ouro vindo do interior do Monomotapa, que estava nas mãos dos árabes, “as minas mais ricas que nenhumas outras daquelas partes”, como as classificou El-Rei D. Manuel, que deu ordens para a sua construção.
Em 1595 chegou Pero de Anhaia para dar início à construção, que mandou dizer ao Vice-Rei, na Índia: “parecia escusada ali a fortaleza e gasto de gente, que não senhoreava nada, porque se com paz e amizade se não fizesse o resgate, ninguém lho poderia fazer por força, por a terra ser má de doença”. Em vez de construir algo em pedra, limitou-se a organizar “uma tranqueira” defendida por um fosso.
Gaspar Correia quando ali passou em 1512 dá uma visão da obra: “O Capitão mór, com o conselho de todos escolheu o lugar para construir, junto ao rio... e repartiu o trabalho por todos os homens, do qual trabalho, por a terra ser doentia, começou a gente a adoecer e morrer; pelo que houveram por bem acertado em não ter começado a fortaleza; e a tranqueira foi acabada em fim de outubro, sendo muita gente doente dos maus ares da terra”.
Anhaia morreu pouco depois e o feitor, eleito Capitão, Manuel Fernandes construiu dentro da tranqueira um “cubelo de pedra e cal”.
Após um ataque movido pelos árabes, “o Capitão, que já nom avia homens doentes abrirão logo os alicerces e começaram a fazer a fortaleza... acabada em 1506”.



Em carta de 1608 el-rei: “... a fortaleza está muito mal provida, sem presídio nem munições e exposta a ser ocupada dos inimigos”.
Em 1644 chegou ao reino a notícia de que a fortaleza estava arruinada, tendo o vice-rei D. Filipe de Mascarenhas proposto que fosse desmantelada, mas o rei, D. João IV escreve ao novo vice-rei, Conde Óbidos: “Conde sobrinho amigo... me pareceo dizervos que que não convém ser desmantelada a dita fortaleza, antes tratar-se da sua conservação...
Em 1758 Sofala tem a sua antiga fortaleza de pedra e cal, e hoje em partes lhe bate o mar, e a Igreja, da mesma antiguidade está demolida”, e em 1789 já “...a parte do mar está carcomida e muito arruinada.
Em 1885 – Desenho original de Augusto de Castilho

1905

1906 – Último ano em que a torre de menagem esteve de pé. Poucos anos mais e tudo se afundou nas areias salgadas.

2.- Forte Princesa Amélia em Massangano
Situado a uma dúzia de quilômetros de Tete, na margem direita do Rio Zambeze, perto da confluência do Rio Luena, no alto da serra Bacampembuzuè (ou Inhampembuzuè), na aringa que foi dos “rebeldes” Bonga, Chatara e Motontora, em 29 de novembro de 1888, o governador geral de Moçambique, Augusto de Castilho e mais um monte de outra gente, tomou posse solene desta aringa, que ficava ocupava por um destacamento militar, já que a situação geográfica parecia importante para o controle da região. Arvorou-se a bandeira, deram vivas ao rei, etc. e lavrou-se o competente auto.
Em outubro do ano seguinte o governador de Tete propôs que se construísse ali uma fortaleza de pedra e cal.
Em 1891 João de Azevedo Coutinho que passou na região, escreveu, dando “a obra em começo, era grandiosa de mais e perfeitamente deslocada para aquelas paragens”.
Já guarnecida 1892 só dois anos mais tarde se fez a inauguração solene. Mais autoridades, mais hastear de bandeira, mais vivas e... mais nada.
Não tardou muito que tivesse sido abandonada, caiu no esquecimento e em ruinas.

No topo da serra, os restos, vendo-se o “tambor”, área circular num dos cantos do forte

Interior do forte sobre o lugar da aringa

3.- Fortim de Pemba
Terá sido Jerónimo Romero o autor da obra de um pequeno fortim em Porto Amélia, hoje Pemba (aliás nunca deixou de ser Pemba!) em 1857, quando se estabeleceu naquela localidade uma colónia de europeus, chamada “8 de Dezembro”.
Em 1858 foi encarregado o capitão Luis Feliciano Guerreiro Barradas de dar início às obras “nas pontas Norte e Sul, ou pelo menos um, que deverão ser fortificados com a brevidade possível”. Começou pela ponta de Miranembo, depois ponta Romero, “na praia do desembarque construiu-se uma palhota para agasalho de gente e depósito de materiais”. Logo a seguir mandou-se ao governador geral “uma planta para um fortim abaluartado” de traça pentagonal, que nunca obteve resposta.
Romero queria um Reduto com capacidade para 20 praças, cozinha, armazém, paiol para munições, etc.
Entretanto as intrigas contra a colónia “8 de dezembro” começaram a vingar e em setembro de 1861 só restavam cinco colonos e a colona Ana Barbosa.
Em 1862 inicia-se “a construção de um pequeno reduto ou parapeito para servir de defesa ao destacamento si estacionado, em forma hexagonal que ficou concluída em 4 de janeiro seguinte, com uma muralha de 9,5 palmos de altura exterior e 2 palmos de espessura.
Em julho o governador reconhecendo o fundamento reclamações dos sucessivos comandantes do destacamento, para que aos muros do reduto fossem dadas maior consistência e altura. “...porque sendo amiudadas vezes visitado pelo Leão e pelo Tigre resultava não se poderem ali conservar os soldados desde o começo da noite”.
Em 1865 o governador interino, Francisco de Paulo de Castro Domingues, escreveu: “Não serve para nada, está construído de tal maneira que tendo três peças montadas só podem fazer fogo para o ar. O quartel do destacamento está fora do forte e está a cair, é preciso construir outro dentro se lá couber”.
Hoje lá está um forte, todo remodelado, conforme foto do blog tronco-em-flor.


Forte Jeronimo Romero – Pemba (foto recente)


18/06/2016

sábado, 18 de junho de 2016

Moçambique


1.- As Ilhas Primeiras e as Segundas

Um dos primeiros navegadores a dar notícia e descrever as Ilhas Primeiras, na costa de Moçambique, terá sido João de Lisboa (c. 1470-1525) quando da primeira vigem de Vasco da Gama, o piloto principal daquela esquadra.
São cinco as Ilhas Primeiras e as mais importantes, localizadas mais ao sul, e no total cerca de uma dúzia de pequenas ilhas coralinas situadas entre os paralelos 15° e 17º, em frente às Províncias de Nampula e Zambézia, Todas entre Pebane e a Ilha de Moçambique, esta uma ilha rochosa. Algumas só emergem nas marés baixas, e a mais alta, a Ilha da Coroa, tem uma ligeira elevação, uma duna, com 9 a 10 metros de altura.


Eu que vivi uns anos em Moçambique, não só nunca as vi, como nunca ouvi falar dessas ilhas. Desabitadas, distam do continente entre 1 e 25 quilômetros e a maioria é revestida de vegetação, uma delas se chama Ilha das Casuarinas.
No tempo da Carreira da Índia, várias foram as embarcações que ali perto naufragaram nos baixios, porque se durante o dia são difíceis de se enxergarem, e à noite impossível. Para auxílio dos navegantes montou-se então um “farol” que todas as noites tinha que ter a fogueira acesa, daí o seu nome Ilha do Fogo (com “altitude máxima de cinco metros), bem revestido de vegetação arbórea e arbustiva e tinha até um “portentoso maciço de casuarinas”. Esse “farol” foi de extrema utilidade desde o começo do caminho da Índias, e em meados do século XX este e o da Ilha Epidrendon (nome derivado de um género de orquídea da América tropical muito semelhante à encontrada nesta ilha), tinham iluminação automática. A cada seis meses um navio ia levar-lhes combustível e verificar se tudo estaria em ordem.


Um dos mais curiosos casos, mais evidente do que em quaisquer outras da costa de Moçambique, as Ilhas Primeiras estão sob a influência das correntes do Canal de Moçambique – duas correntes derivadas da grande corrente equatorial, que o percorrem em toda a sua extensão em sentido inverso uma da outra. Por força dessas correntes, a flora de Madagascar é francamente representada na costa de Moçambique e, reciprocamente também a de Moçambique o é na de Madagascar, e em ambas essas costas e nas Ilhas do Canal há muitas espécies da Austrália, das ilhas do Pacífico e de Ceilão, importadas pouco a pouco desde tempos imemoriais, sob a ação das correntes marítimas.
São reservas naturais, muito bem preservadas, mas, com autorização, talvez se consiga uma visita que certamente será do maior interesse.
Aproveitem e visitem também as Ilhas de Goa e Sena, ambas a menos de 3 milhas (marítimas) da Ilha de Moçambique... aquela jóia!

2.- Uma carta de Livingstone

Curiosa carta escrita num português “macarrónico” a um senhor Torresão que, conforme a carta, tinha sido nomeado capitão mor da vila de Zumbo, hoje fronteira com a Zâmbia.
Vai transcrita com os erros de português, que é o que tem graça na carta, visto os assuntos não merecerem atenção especial.

Os Cataratas do Shire, 31 de Dezembro de 1863.
Meu Amigo Ferrazão
Muito agradece eu as duas cartas de VS.ª, uma datada 1° de Setembro, que me foi entregada pelo Mr. Rae, a outra que chega aqui pelo vossa portadora.
Os selvagens do Norte — uma tribo de landins chamada Mazite — não tive feita prejuízo nenhumo a sua Amigo, e eu sou prompto como sempredar attençãoa suas ordens.
Desejo dar os parabéns meus em sua elevação ser capitão Mor de villa Zumbo – e mais na ocasião que a senhora tem dado nos a boa presente de menino. Desejo que a benção do Altíssimo ser a Mãe e filho muitos annos. Fas favor dar ella meu cumprimentos e de Mr. Rae.
Os instrumentos são os propriedades do Nossa Governo e não pode ser vendido. Si houveras fornecida me uma copia de observações feita VSª esta em meu poder deixar com VSª para observações de futuro – mais em quanto os observações de annos passados não parecerão, quem pode dizer. Fas favor mandar o barómetro e os termometros e pluviometro enfardado em alguma cousa molle ao senhor Ferrão em Senna não tinha eu nenhuma objeção dar cópia de observações ao Governo Portugueza porque não são cousas segredas.
Até agora não recebeo notícia nenhuma a os herdeiros de Sr. Thornton – o rifle Minié ou Enfield está em cuidado Bispo a Morrumbala.
O clavina 2 cannas é cara e não pode ser vendido para os fidalgos deste paíze - £ 42 – mas não sendo muito certo que alguma pessoa pode comprar aqui não fallei uma pessoa sobre ista negócio – é nova e nunca fez tiros. Está carregada uma vez mas nunca encontro os elephantes de que é o propria arma. Tem caixote com muitas cousas dentro – Não posso vender por menos de £ 40, e si VSª quero comprar fas favor escrever da pressa a Sr. Ferrão deter a arma na Senna e fazer negocio na minha ausência.
A balla della arma e mais grande como a balla de Minié, mas tem o mesmo forma as cannas são mais grossa como a Minié porque tenciono não escucear meu hombro.
Tinha tambem o rifle de uma canna muito forte mas não e de primeira qualedade com o outro a balla é grande pouco mais grossa e mais breve. Tem formas para ballas mas caixote não há; foi usada muitos vezes – o preço é £ 13.
Fico muito obrigado sua bondade em copiando mortandade em o destachamento militar de Tette, e tinha muita pena ouvir o falecimento de senhora da Governador e seo filha esposa do sr. Govéa parece por falta de um doutor instruido em officia de parteira.
Os Missionários tencionão regressar nesta paíize em Janeiro ou Fe­vereiro.
Quando eu serei na Inglaterra a carta dirigida – care of
Admiral Washington – Admiralty – London
ade ser entre­gada a sua amigo de sempre.
Mr. Rae remetto pouca baeta e muitas gracias por a boa presente pelo o portador não quiz escrever porque (disse elle) minha carta custa Sr. Terrazão muito ler.
Ouvi a sua portador que sr. Clementino ja está no seo volto. Espera ade arranjar a polvora conforme meu desejo. Eu estou esperamda o cheio do Rio Shire regressar. Tenciona visitar Senna na minha volto para o Barra.
O Sr. Rae manda seos cumprimentos ao VSª e sua familia. Eu também desejo o mesmo.
VS Obrigado Sr,
David Livingstone


Notas interessantes:
1.- O sr. Ferrazão era José Leocádio Botelho Torresão, tenente do Batalhão de Caçadores nr. 2 de Tete, sendo depois nomeado capitão Mor no Zumbo.
2.- Diz Livingstone que escreve das Cataratas do Shire, e quem publicou a carta (traduzida para um português pretencioso) diz que Livingstone crismou esssas cataratas para Murchison Falls, o que não parece muito provável porque as Murchison Falls estão no Norte de Uganda a mais de 2.000 quilometros de Zumbo, e além disso não ficam no rio Chire que é um afluente do Zambeze. Aliás mais adiante Livingstone diz que aguarda a cheia do Shire para ir a Senna, vila situada no Zambeze.
3.- O sr. Ferrão era Anselmo Henriques Ferrão, de origem indiana, natural de Senna, proprietário e negociante, brigadeiro de 2ª linha e  cavaleiro da Ordem de Cristo, tido por muitos como um patife e por Livingstone uma excelente e digna criatura!

Textos coletados na revista “Moçambique –Documentário Trimestral – nr. 73, Janeiro a Março de 1953

16/06/2016


segunda-feira, 13 de junho de 2016



Ilha da Madeira, Moçambique e os Alpes

1.- O primeiro Cardeal na África Austral

Em 13 de Maio de 1889 nasce na Ilha da Madeira um menino a quem os pais, agricultores, puseram o nome de Teodósio. Teodósio Clemente de Gouveia. Bom aluno, inteligente, entrou no Seminário do Funchal e foi terminar os estudos em França e concluí-los em Roma, na Universidade Gregoriana, como aluno do Colégio Português de Roma. Doutorado em Teologia e Direito Canónico em 1921, fez a seguir o Curso da Escola de Ciências Sociais em Bergamo e outro doutoramento em Ciências Económico-Sociais em Louvain. Em 1929 era Vice-Reitor do Colégio Português e em 1934 já acumulava com a função de Reitor, e ainda Reitor da Igreja Nacional de Santo António dos Portugueses. Um curriculum notável.
Dois anos depois o Papa Pio XII nomeia-o Bispo de Leuce e Prelado em Moçambique. A seguir Arcebispo de Lourenço Marques e em 1946, o mesmo Papa, que muito o considerava e estimava, convocou um Consitório durante o qual lhe impôs o barrete cardinalício.
O primeiro Cardeal de toda a África Austral.
Era preciso mandar o Arcebispo a Roma para o Consistório, e pelas vias normais não chegaria a tempo. O Governador de Moçambique – General José Tristão Bettencourt – negocia com o Consul Geral Britânico o transporte do Arcebispo num avião da British Overseas Airways, um hidro “Cleopatra”, com o comando do capitão G.P.Wood.
Sai de Lourenço Marques em 16 de Janeiro.
O avião devia ser algo parecido com “isto”:


O  Short Scion Senior FB – Autonomia: 675 km.

À tarde chega à Beira, faz escala e depois no Lumbo, ao lado da Ilha de Moçambique onde pernoita. Na manhã seguinte faz escalas em Lindi e Dar-es-Salem na Tanzania, e Mombassa, Kisumu e Port-Bell (Kampala) no Quénia, Lago Vitória. Dia seguinte, etapas em Laropi (Uganda) e Malakal para chegar a Khartoum, onde fica retido seis dias por causa da vacina contra a febre amarela. Dia 25 segue num  avião “ de rodas”, um bombardeiro adaptado a transporte, com escalas em Wadi-Halfa – ainda (hoje) Sudão) “aterrando” no Nilo, Luxor e finalmente chega ao Cairo.
A 27 sai do Cairo, do aeroporto de Almazah, num outro bombardeiro adaptado para passageiros, escala em El-Adem (Líbia), Malta e aterra dia 28 em Nápoles!
A 29, novo bombardeiro leva-o até ao aeroporto de Ciampino. Finalmente em Roma!
Treze dias de viagem... de avião! Aos saltos como um canguru!
Dia 18 de Fevereiro, Dom Teodósio e mais outros trinta e um receberam a púrpura. Dom Teodósio deve tê-la recebido suado da canseira que foi aquele voo!

2 – Os Carrinhos do Monte

Uma das muitas e simpáticas atrações da Ilha da Madeira são os famosos “Carrinhos do Monte” também conhecidos por “Carros de Cesto”, uma espécie de trenó terrestre onde os turistas têm a oportunidade de descer 2 km, cheios de emoções, do Monte ao Livramento, Funchal.


Foto de cerca de 1900

O Caminho do Monte foi mandado construir, em 1802. Por ele passaram a transitar os típicos CARROS DO MONTE, também conhecidos por CARRINHOS ou CARROS de CESTO ou de VERGA - dos CARREIROS do MONTE - Associação Regional de transporte de turistas nacionais e estrangeiros, que, em 1849, sucedeu às antigas corças ou trenós terrestres, que faziam o mesmo serviço. Tendo como função inicial o transporte dos senhores poderosos que possuíam residências no Monte no seu percurso para o Funchal, atualmente constitui uma marca do Turismo da Madeira, sendo muito solicitados por todos quantos visitam a Madeira e o Monte, nacionais ou estrangeiros.
A ideia foi ótima, mas... ouçamos agora Frei Luis de Sousa, no livro maravilhosamente bem escrito em 1619, sobre “A Vida de D. Frei Bertolameu dos Mártires”, descrevendo a ida deste Prelado, Arcebispo de Braga, a caminho de Trento para o Concílio, no ano de 1561.
“Saiu de Braga em 24 de Março e chegou a Trento 56 dias depois. Percorreu todo o caminho muita vez a pé ou em cima de uma mula. Atravessou os Alpes, passou em Breanson – hoje Briançon – a mais de 3.000 metros de altitude; não parou de nevar como se fora Janeiro. Passou por Mongeneura (onde será?) uma aldeã que faz coroa aos mais altos picos dos Alpes; e daqui começa a descer para Piemonte, que foi aos romanos parte dos povos taurinos (uma das tribos celtas da vertente Sul dos Alpes). E quadra-lhe bem o nome de Piemonte pola baixeza em que fica, compa­rada com os montes. A descida que há é tão íngreme que parece talhada a pique e, pera espantar mais, ordinariamente coberta de neve; e é tão profunda que corre uma légua (quase 10 quilômetros!) e meia* de ladeira contínua até um lugar que chamam Santa Susana. O meio que achou o engenho humano pera vadear este passo foi inventar a maneira de andores ou carretes sem rodas, que vão descendo ou caindo polas serras abaixo, arras­tados cada um por dous homens, que não sabeis se os chameis pilotos, se cocheiros, se cavalos, porque tudo é neces­sário que sejam nesta perigosa distância, e tudo são; e andam tão destros, facilitando o uso à marinhagem, que se vence todo perigo.
Por aqui se vê que três séculos antes dos madeirenses terem “inventado” os Carrinhos do Monte” já nas faldas dos Alpes os italianos usavam este tipo de transporte.
Qual madeirense terá ido aos Alpes ver isto?
Assunto que os historiadores da Madeira deverão pesquisar.

* O Arcebispo andou 332 léguas, e como a légua desse tempo media 6.197 metros, perfaz mais de 2.000 quilômetros!


13/06/2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016


Muito do que abaixo se mostra, já apareceu inúmeras vezes publicado. Mas o tema é de tal forma triste que não há impeachment que possa apagar esta nódoa que o Brasil vai carregar ainda muito tempo.
Jamais alguém poderia imaginar tamanha imbecilidade a presidir um país. Faz parelha com Chavez e Maduro que também destruiram a Venezuela. É caso clínico de demência, onirismo, de transtornos psicóticos, a maioria das vezes provocados pelo consumo de alucinogêneos. Será o caso ou é de nascença?
E assim culmina a sistemática destruição a que o ptismo/lulismo levaram o país.
Mas vale a pena ler o texto do jornalista. Nós ficamos sem saber se rir se chorar. Lamentavel, é impossível não rir, e muito. Por isso aqui vai.

“SE A DILMA VOLTAR”

Texto de ARNALDO JABOR
“O Globo” – 07/06/2016

O Brasil virou uma piada internacional. Outro dia vi um programa na CNN sobre nós. Tive vontade de chorar. Se­gundo a imprensa es­trangeira, nós somos incompetentes até para sediar a Olimpíada, a economia está quebrada e o impeachment pode impedir os Jogos, pois somos desorganizados, caem pontes e pistas, os mosquitos estariam esperando os atletas, a Baía de Guanabara é um lixo só, bosta boiando, o crime campeia na cidade, onde conquistamos brilhantemente o recorde de estupros.
Até um programa humorístico famoso, o "Saturday Night Life", fez uma sátira: Dilma fu­mando charuto e tomando caipirinha, numa galhofa insultuosa que sobrou para o país todo.
Mas Dilma sabe defender o país. Seus discursos revelam isso. Senão, vejamos, suas ideias:
“Antes de Lula, o Brasil estava afunhunhado. Mas o presidente Lula me deixou um legado, que é cuidar do povo brasileiro. Eu vou ser a mãe do povo brasileiro. O Brasil é um dos paí­ses mais sólidos do mundo, que, em meio à cri­se económica mundial, das mais graves talvez desde 1929, é o país que tem a menor taxa de desemprego do mundo.
Nós não quebramos, este é um país que tem... tem aquilo que vocês sabem o que é. Por isso, não vamos colocar uma meta. Vamos dei­xar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta. Ajuste fiscal? Coisa rudimentar. Gasto publico é vida. Eu posso não ter experiência de governar como eles governa­ram; agora, governar gerando emprego, distri­buição de renda, tirando 24 milhões da pobreza elevando a classe média, eu sei muito bem fazer.
Entre nossos projetos, nós vamos dar prio­ridade a segregar a via de transporte. Segre­gar via de transportes significa o seguinte: não pode ninguém cruzar rua, ninguém pode cruzar a rua, não pode ter sinal de trânsito, é es­sa a ideia do metro. Ele vai por baixo, ou ele vai pela superfície, que é o VLT.       
A mesma coisa nós vamos fazer com o Seguro Defeso, por exemplo. Nós somos a favor de ter Seguro Defeso para o pescador, sim. Agora. Não é possível o pescador morar no semiárido nor­destino e receber Seguro Defeso, por um motivo muito simples: lá não tem água, não tendo água não tem peixe. Também não seremos vencidos pela zika e dengue; quem transmite a doença não é o mosquito; é a mosquita.
Antes, também os índios morriam por falta de assistência técnica. Hoje não; pois temos muitas riquezas. E aqui nós temos uma, como também os índios daqui e os indígenas americanos têm a deles. Nós temos a mandioca. E aqui nós estamos comun­gando a mandioca com o milho. E, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu estou saudando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil.
Vocês, dos jogos indígenas, estão jogando com uma bola feita de folhas, e por isso eu acho que a importância da bola é justamente essa, o símbolo da capacidade que nos distingue como... Nós somos do género humano, da espécie sapiens. Então, para mim, esta bola é um sím­bolo da nossa evolução. Quando nós criamos uma bola dessas, nós nos transformamos em homo sapiens ou mulheres sapiens.
Eu ouço muito os prefeitos — teve um que me disse assim: eu sou o prefeito da região produtora da terra do bode. Então, é para que o bode sobrevi­va que nós vamos ter de fazer também um Plano Safra que atenda os bodes, que são importantíssi­mos e fazem parte de toda tradição produtiva de muitas das regiões dos pequenos municípios aqui do estado.
Aqui tem 37 municípios. Eu vou ler os nomes dos municípios... Eu ia ler os nomes, não vou mais. Por que não vou mais? Eu não estou achando os nomes. Logo, não posso lê-los.
A única área que eu acho que vai exigir muita atenção nossa, e aí eu já aventei a hipótese de até criar um ministério, é na área de... Na área... Eu di­ria assim, como uma espécie de analogia com o que acontece na área agrícola.
A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazó­nia. Aliás, a Zona Franca evita o desmatamento, que é altamente lucrativo — derrubar árvores plan­tadas pela natureza é altamente lucrativo.
Eu quero adentrar agora pela questão da infla­ção, e dizer a vocês que a inflação foi uma conquis­ta destes dez últimos anos do governo do presi­dente Lula e do meu governo. Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ga­nhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder. A autossuficiência do Brasil sempre foi insuficiente.
Os homens não são virtuosos, ou seja, nós não podemos exigir da humanidade a virtude, porque ela não é virtuosa. Se os homens e as mulheres são falhos, as instituições, nós temos que construí-las da melhor maneira possível, transformando... aliás isso é de um outro euro­peu, Montesquieu. E de um outro europeu muito importante, junto com o Monet.
Até agora, a energia hidrelétrica é a mais ba­rata, em termos do que ela dura com a manu­tenção e também pelo fato de a água ser gratui­ta e de a gente poder estocar. O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a con­tribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocar, ter uma forma de você es­tocar, porque o vento ele é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso? O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.
Aliás, hoje é o Dia das Crianças. Ontem eu disse que criança... o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais. Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante.
Por isso, afirmo que não há a menor hipótese do Brasil, este ano, não crescer. Eu estou otimista quanto ao Brasil. Eu sou algo que a humanidade desenvolveu quando se tomou humana.

É isso aí, gente, se Dilma voltar, ela tem em mente um projeto ambicioso de país. Esta­mos salvos.

Arnaldo Jabor

domingo, 5 de junho de 2016


Sócrates e as sobrancelhas


Desde que algum ser começou a pensar, sobretudo quando percebeu que estava mesmo a pensar, a refletir, e não somente a agir por instinto ou cautelosa repetição, que o homem, aquele que parece ser o único que por enquanto sabe refletir (alguns!), mesmo que seja para matar, roubar ou destruir o que quer que seja, procura saber de onde veio e como surgiu neste planeta.
Até há menos de um século a versão mais defendida no chamado Ocidente, era que um Ser Superior, um Deus, teria feito um boneco de barro, e depois de lhe soprar, o sophos, ele passou a pensar. A seguir de uma costelinha teria feito uma mulher. Ainda hoje há milhões de sujeitos que juram a pés junto que foi assim... há uns 4 ou 5 mil anos, quando a ciência veio derrubar toda essa infantil e pobre, paupérrima, crença.
Depois apareceu Lamark e Darwin que mostraram como as espécies evoluíram desde... desde sempre. O “Santo Ofício” de Roma negou-se durante anos a aceitar essa ciência, proibiu que um jesuíta, cultíssimo, o padre Teilhard de Chardin, publicasse os seus trabalhos sobre a evolução da vida, apesar de jamais deixar de centrar o homem na fé, na Cristologia, e só reconhecido pela igreja quase trinta anos após a sua morte.
Um dos seus escritos faz-nos pensar na “dimensão” do mundo, seja ele terreno ou universal quando nos diz para, numa noite clara, olharmos para o céu e vermos as estrelas, milhares, bilhões de estrelas, sendo incapazes de imaginar as suas dimensões. Depois, que olhemos através de um microscópio eletrônico a mais ínfima das bactérias ou qualquer ínfimo ser vivo. Comparando as duas imagens não é difícil estabelecer uma comparação entre elas, encontrar semelhanças e em consequência perguntar, a si próprio, qual é a minha dimensão, e a situação de um ser humano, no meio deste infindável universo?
A Terra começou como uma bola de fogo, um magma, alguns dizem que há cerca de 4,6 bilhões de anos. Outros, mais recentes afirmam que teria “n” vezes mais do que esse tempo. Qualquer que seja a sua idade nasceu, como tudo, para vir um dia a morrer também. É o ciclo, infinito, da vida.
Com a erupção das miríades de vulcões começaram a espalhar-se gazes de hidrogénio, oxigénio e carbono e um belo dia o “elo perdido” deixou de ser simples matéria para ser uma célula, com vida própria, e como diz Teilhard com a sua psique!
Uma notícia veiculada há dois dias pelo jornal “Diário de Notícias” de Portugal, diz-nos que “um grupo internacional de cientistas descobriu pela primeira vez uma molécula pré-biótica (PO) resultado da ligação química do fósforo (P) com oxigénio (O), que desempenha um papel fundamental na formação de ADN nas zonas onde as estrelas se formam.
A descoberta, publicada no The Astrophysical Journal, foi feita em regiões interestelares a 24 mil anos-luz da Terra por cientistas do Centro de Astrobiologia de Espanha, do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre da Alemanha e do Observatório Astrofísico di Arcetri de Itália.
24 mil anos-luz é algo para nós tão inimaginável como o infinito: 24.000x365x24x60x60x300.000km!!!
Alguma coisa como 227.059.200.000.000.000 quilômetros! É logo ali...
Será essa molécula o “elo perdido”? Se for, só aqui chegará, se viajar à velocidade da luz, daqui a 24.000 anos. Não vou esperar para ver!
Ao mesmo tempo a Vida parece ter surgido na Terra há uns três bilhões de anos, quem sabe se com aquela molécula PO ou outra mais “familiar” aos terráqueos!
Vamos concluindo que:
- a visão do céu e suas estrelas, sua distribuição, complexidade e organização, não difere da visão de um qualquer nano ser que terá algo igualmente organizado.
Depois, sabendo que as primeiras ferramentas de quartzo talhado, conhecidas, terão mais de três e meio milhões de anos, o que pode pressupor que haverá outras com mais umas centenas ou milhões, estamos a ver que desde a primeira célula viva, com a sua psique, até ao aparecimento dos primeiros hominídeos, a evolução levou, fazendo contas simples, cerca de 2.996.500.000, isto é, uns três milhões de anos. Desde esses sílex talhados até hoje consumiram-se só 1/10.000 desse tempo!
Se alguém tiver dúvida, e o duvidar faz refletir, não deve ter muita dificuldade em concluir que somos todos feitos da mesma matéria, animais, vegetais e até os minerais de onde terão saído os gases que permitiram surgir a primeira célula.
Bem mais tarde, já pertinho dos nossos dias o homem, o tal sapiens, começou a querer saber tudo, principalmente quem teria sido o Génio que criou tudo o que existe, que deu vida a tudo, e deu largas à sua imaginação, criando deuses. Muitos deuses, cada um de sua região e de acordo com a sua interpretação.
Com a expansão do conhecimento foram-se eliminando muitos deuses sem que os povos tivessem abandonado completamente essas suas crenças.
Hoje o conceito dos filósofos e teólogos, de praticamente todas as principais religiões concordam em que deus, a haver será Único, e assim procuram respeitar, acima de tudo as religiões monoteístas. Terá sido o Criador de tudo quanto existe, na Terra e alhures. (Os mais céticos ainda deixam a dúvida: e quem criou Deus? Um dia saberão.)
Mas, há sempre um mas, porém, contudo ou todavia, que leva a fazer a pergunta: quem é esse Deus Único? Entra agora nova complicação.
- Jeová, dos hebreus? Mas Jeová era o Deus deles, e só deles, dos hebreus, o Deus da guerra, a quem faziam sacrifícios para que os ajudasse nas guerras de extermínio que faziam a outros povos. Então não pode ser um Deus Único, porque os adversários também seriam “filhos” desse Deus.
- Alá? Aquele que segundo dizem, através do Arcanjo Gabriel, disse a Maomé para passar à espada todos os que não acreditassem nele? Impossível. Alá é um Deus privativo dos muçulmanos. Ou Maomé, por estar a dormir não entendeu bem as palavras do Arcanjo, ou o secretário Zaid ibn Thabit errou a escrita.
- Cristo? O Filho de Deus feito homem que foi enviado à Terra pelo Pai, para dizer a coisa mais elementar: Amai-vos uns aos outros. Este Deus Pai parece ser o Único que se apresentou como o Pai de toda a humanidade, de todos os seres vivos, de toda a Terra. Que levassem a Boa Nova aos pagãos!
Sócrates que morreu em 399 a.C. não conheceu essa Boa Nova, mas era um ser religioso. Respeitava os deuses da sua cultura e procurou toda a vida ensinar os jovens a seguirem sempre com verdade, ética e respeito aos antepassados e aos deuses.
Numa conversa com Aristodemo que não oferecia oferendas aos deuses e até troçava dos que o faziam, disse-lhe:
— Crês-te um ser dotado de certa inteligência e negas existir algo inteli­gente fora de ti, quando sabes não teres em teu corpo senão uma parcela da vasta extensão da terra, uma gota da massa das águas, e que tão somente uma parte ínfima da imensa quanti­dade dos elementos entra na organiza­ção do teu corpo? Pensas haver açam­barcado uma inteligência que conseguintemente inexistiria em qual­quer outra parte, e que esses seres infi­nitos em relação a ti em número e grandeza sejam mantidos em ordem por força ininteligente? Quanto maior for o ente que se digna de tomar-te sob sua tutela tanto mais lhe deves homenagens.
— Pois olha, se achasse que os deu­ses se ocupam dos homens, não os negligenciaria.
— Como! Julgá-lo que não, se antes de mais nada, só ao homem, den­tre todos os animais, concederam a faculdade de se manter de pé, postura que lhe permite ver mais longe, con­templar os objetos que lhe ficam acima e melhor guardar-se dos perigos! Na cabeça colocaram-lhe os olhos, os ouvidos, a boca. E enquanto aos ou­tros animais davam pés que só lhes permitem mudar de lugar, ao homem presentearam também com mãos, com o auxílio das quais realizamos a maior parte dos atos que nos tornam mais felizes que os brutos. Todos os animais têm língua: a do homem é a única que, tocando as diversas partes da boca, articula sons e comunica aos outros tudo o que queremos exprimir. Nem se satisfez a divindade em ocupar-se do corpo do homem, mas, o que é o principal, deu-lhe a mais perfeita alma. Efetivamente, qual o outro animal cuja alma seja capaz de reconhecer a existência dos deuses, autores deste conjunto de corpos imen­sos e esplêndidos? Que outra espécie além da humana rende culto à divinda­de? Qual o animal capaz tanto quanto o homem de premunir-se contra a fome, a sede, o frio, o calor, curar as doenças, desenvolver as próprias for­ças pelo exercício, trabalhar por adqui­rir a ciência, recordar-se do que viu, ouviu ou aprendeu? Não te parece evidente que os homens vivem como deu­ses entre os outros animais, superiores pela natureza do corpo como da alma? Com o corpo de um boi e a inteligência de um homem não se estaria em me­nor condição que os seres apercebidos de mãos, mas desprovidos de inteli­gência. Tu, que reúnes essas duas vantagens tão preciosas, não crês que os deuses se carpem de ti? Que será preci­so então que façam para convencer-te?
Saiba, meu caro, que tua alma aposentada em teu corpo, governa-o como lhe apraz. Mister é acreditar, portanto, tudo dispor a seu grado, a inteligência que habita o universo. Quê! A tua vista pode abranger um raio de vários estádios e os olhos da divin­dade não poderiam tudo abarcar ao mesmo tempo! Teu espírito pode ocu­par-se simultaneamente do que se passa aqui, no Egito, na Sicília, e a inteligência da deidade não seria capaz de em tudo pensar a um só tempo! Certo, se obsequiando os homens, aprendes a conhecer os que também são suscetíveis de obsequiar-te; se prestando-lhes serviços, vês os que por seu turno estão dispostos a retribuir-te; se deliberando com eles, distingues os que são dotados de prudência: assim também, rendendo homenagem aos deuses, verás até que ponto estão dis­postos a esclarecer os homens sobre o que nos ocultaram, conhecerás a natu­reza e a grandeza dessa divindade que tudo pode ver e ouvir contemporanea­mente, estar presente em toda parte e de tudo ocupar-se ao mesmo tempo.
Não te parece que aquele que, desde que o mundo é mundo, criou os homens lhes haja dado, para que lhes fossem úteis, cada um dos ór­gãos por intermédio dos quais experi­mentam sensações, olhos para ver o que é visível e ouvidos para ouvir os sons? De que nos serviriam os olores se não tivéssemos narículas? Que ideia teríamos do doce, do amargo, de tudo o que agrada ao paladar, se não exis­tisse a língua para os discernir? Ao demais, não achas dever olhar-se como ato de previdência que sendo a vista um órgão frágil, seja munida de pálpe­bras, que se abrem quando preciso e se fecham durante o sono; que para pro­teger a vista contra o vento, estas pál­pebras sejam providas de um crivo de cílios; que os supercílios formem uma goteira por cima dos olhos, de sorte que o suor que escorra da testa não lhes possa fazer mal; que o ouvido receba todos os sons sem jamais encher-se; que em todos os animais os dentes da frente sejam cortantes e os molares aptos a triturar os alimentos que daqueles recebem; que a boca, desti­nada a receber o que excita o apetite, esteja localizada perto dos olhos e das narículas, de passo que as dejeções, que nos repugnam, têm seus canais afastados o mais possível dos órgãos dos sentidos? Trepidas em atribuir a uma inteligência ou ao acaso todas essas obras de tão alta previdência?

Há 2.400 anos já Sócrates sabia para que serviam as sobrancelhas, que os deuses lhe haviam dado...
A vaidade, futilidade e pedantismo de muita gente, não só não sabe isso, como substitui o que Deus lhes deu por um risco feito com tinta!


31/05/2016