UBERABA – M G – 2
Um pouco da história do
Zebu no Brasil
Fico muito recompensado quando alguém comenta ou
esclarece o que escrevo. Sempre uma oportunidade de aprender mais e divulgar
assuntos que se não interessam à maioria dos leitores, sendo história do que
quer que seja, é sempre válida.
De um amigo, agrónomo, recebi o seguinte comentário:
“Meu
caro
Como eu tenho
quase trinta anos de Uberaba (agora vive,
aposentado, em Portugal) e sou cidadão honorário, adorei ler as tuas
observações que me trouxeram boas recordações... mas gostaria de te fazer uma
observação cá da minha profissão e experiência. Vou procurar ser sucinto - e desculpa
não saber descrever com a beleza da tua caneta. (gentileza do amigo!)
A estória do Zebu
tal como te foi apresentada pelo La Roque (Nota: Não foi o meu parente La
Rocque que me falou dos zebus, mas...) é pura fantasia dos uberabenses
originada pelos descendentes dos tugas (leia-se
“portugas”!) na maioria para não falarem a verdade, não pode ter fundamento
real tal como é contada e descrita .
As Naus quando
vinham da Índia traziam Zebus indianos e africanos. As naus que vinham de África
traziam zebus africanos... e muitas expedições no regresso dos orientes
deixaram animais pelo litoral de aí... como deixaram na região do Cabo e em
Cabo Verde.
Os antigos colonos
tugas e outros europeus nunca acharam que o Zebu fosse boi... sempre preferiam
criar o bovino europeu. O zebu era mais para o lado das cabras; mas os Jesuítas
e Engenheiros Militares que passaram pela Índia e Cabo Verde e fizeram depois
comissão no Brasil, sabiam das vantagens do zebu e azebuados.
Quando o comboio
chegou ao Rio Grande e os comerciantes de Uberaba que levavam carretas de mercadorias
com bois azebuados (sobretudo de África) ao Tocantins e Campo Grande e
acima, se aperceberam que levavam menos tempo e morriam menos naquelas grandes
distancias que os bovinos exclusivamente europeus.
Foi nessa observação
que um grupo de corajosos comerciantes se decidiu ir à Índia comprar
reprodutores corpulentos para puxar e obter descendentes para ir e voltar com
menos tempo e menos perdas. Alguém do grupo estaria bem informado das questões
climáticas que já eram discutidas na Inglaterra e Bélgica na 2ª metade do século
XIX, mas claro, posteriormente não quiseram dar o braço a torcer sobre a origem
deixada pelos navegadores tugas pelo menos mais de dois séculos antes, e
inventaram estórias sem pés nem cabeça, como o naufrágio de um Circo, importação
de Jardim Zoológico e outras patranhas sem pés nem cabeça, claro que a
"malta " nem se apercebe das fantasias originadas por contadores de estórias
(comerciantes mentirosos natos).
Tudo começou com a
chegada do trem ao Rio Grande e quando transportar mercadorias de Uberaba para
Goiás e Mato Grosso foi um excelente negócio, depois claro vem a ousadia e
sabedoria fazer bem como fizeram, de selecionar e etc. e, claro que com os
azebuados ganhavam muito mais "massa" (leia-se “grana”).
No site abaixo encontramos outra fonte de muito interesse:
O primeiro registro de entrada de zebuínos no Brasil foi em
1813, quando um casal de bovinos, oriundo da costa do Malabar na Índia foi
desembarcado no porto de Salvador. Embora estudiosos especulem que os primeiros
bovinos que chegaram a São Vicente em 1534, foram mestiços com algum sangue de
Zebu.
Mais tarde, da África vieram em 1826, dezenas de
animais da região do Nilo e entre 1810 e 1890 do Senegal, do Congo e da
Nigéria. Do Madagascar também vieram animais em 1891. Infelizmente não foram deixados
registros sobre a identificação das raças dessas importações.
Em 1868, um navio inglês descarregou um casal de zebuínos em
Salvador e o puseram à venda. Não se sabe quem adquiriu e o que aconteceu com
ele.
Em 1870, o 1º barão de Duas Barras, importou um touro Guzerá
para a sua fazenda de Cantagalo, na província do Rio de Janeiro.
No início, os zebuínos eram animais exóticos e adquiridos dos
zoológicos europeus.
Em 1874, o barão do Paraná, importou um touro e uma vaca da
raça Ongole (Nelore) do jardim zoológico de Londres. Fez outra aquisição da
mesma raça do mesmo local em 1877.
No ano de 1878, outro fazendeiro comprou um lote de zebuínos
Nelore da ‘Casa Hagenbeck’ de Stellingen, Alemanha, que levou para a sua
fazenda de Sapucaia (RJ), onde sobre controle cientifico iniciou o
aperfeiçoamento da raça. Na década de 1940, um outro criador adquiriu alguns
animais de e continuou o seu trabalho de aperfeiçoamento.
Outras empresas foram envolvidas na importação de gado da
Índia, como a ‘Friburgo & Filhos’, sediada no Rio de Janeiro, importantes
fazendeiros de café. A ‘Crashley & Co’. de capital inglês, também se
envolvia no agenciamento de importações de zebuínos.
Porém, uma das empresas mais atuante foi a ‘Hopkins, Causer
& Hopkins’ de Birmingham, Inglaterra, que tinha filiais no Rio de Janeiro,
São Paulo e Juiz de Fora (MG), que efetuou muitas importações entre 1908 e
1910, a maior quantidade para o governo de Minas Gerais. Importante
também foi a ‘Casa Arens’, sediada no Rio de Janeiro e com filial em São Paulo.
Nas décadas de 1910 e 1920, começaram as importações
diretamente da Índia. Estas importações foram realizadas através das casas
especializadas em animais do Rio de Janeiro e por famílias de origem alemã do
interior do Rio de Janeiro, principalmente do município de Cantagalo. Os
primeiros animais eram da raça Ongole, que ficou entre nós conhecida como
Nelore. A razão do nome é que os brasileiros compravam os melhores animais da
raça Ongole e usavam a província de nelore como local de embarque dos animais
para o Brasil.
A partir destes primeiros animais foram povoados os estados
do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia.
Nas primeiras décadas do século XX, embora tenha
aumentando o número de criadores, os planteis ainda eram pequenos e seus
proprietários, não tão prósperos, faltava fundos até para substituir os
reprodutores que envelhecessem. Queriam melhorar, porém, não tinham incentivos
do governo e nem oportunidades comerciais.
Pelas estimativas, da Índia podem ter vindo 6.000 cabeças de
bovinos das raças Kankrej (Guzerá), Ongole (Nelore), Gir, Sindhi, Kangayan,
Mysore, Malvi, Hissar, Tharparkar, Krishna Valley, Mehwaty, Deangi e Deoni.
Apenas as quatro primeiras raças prosperaram e produziram descendentes, Das
outras, os rebanhos existentes eram pequenos ou desapareceram.
Em 1920 o governo federal decidiu suspender temporariamente a
importação de gado Zebu de origem indiana, até que ficasse completamente
comprovada a inexistência de epizootias no gado importado, o que era comum no
país de origem. Só em 1962 foi oficialmente sustada essa proibição, porém todos
os animais importados deviam permanecer em quarentena de 8 meses na ilha de
Fernando de Noronha, chamados na época de ‘lazaretos’ para ficar sendo
monitorado, nos mesmos moldes do sistema adotado pelos Estados Unidos.
Naquela época, havia no Brasil uma notada resistência em
aceitar o gado zebuíno. Um relatório do Ministério da Agricultura reconhecia
que o gado zebuíno em geral, fornecia mais carne do que o de outras raças,
porém a carne não era tão ‘boa’. O governo brasileiro solicitou então,
informações oficiais ao governo dos Estados Unidos sobre a qualidade do gado
Zebu, que também estava sendo importado pelo país. Em resposta, numa carta
datada de 14 de fevereiro de 1920, o chefe do setor de Zootecnia dos Estados
Unidos, informava que o gado zebuíno teve um grande desenvolvimento nos últimos
três anos, principalmente na região do Texas. Observou que o gado era muito
mais resistente à seca do que o gado europeu.
O médico e filósofo positivista Luís Pereira Barreto em
diversos artigos publicados no jornal ‘O Estado de S. Paulo’ entre os anos de
1917 e 1921, desancava a raça. Dizia que o Zebu era ‘selvagem, impossível de
domesticar’, que ‘a carne tem catinga’ e ainda que ‘os
europeus só a comeram durante a guerra porque tinham fome’. Os fazendeiros
mineiros eram chamados de ‘boiadeiros e não criadores’, ‘levianos’
e ‘velhacos’, ‘verdadeiros passadores de notas fiscais’. Muitos
cientistas e políticos aderiram à causa, defendendo a raça Caracu como a ideal
para o Brasil.
Os criadores de Zebu mineiros não ficaram preocupados com a
veemência dos artigos do médico. Um velho fazendeiro do Triângulo Mineiro,
disse:
‘Nesta região
deveria ser erguido um monumento a Pereira Barreto porque sua campanha impediu
que os campos paulistas se enchessem do gado Zebu, trazendo riqueza ao
Triângulo, que passou a abastecer os frigoríficos paulistas. ’
Novamente em 2007, dessa vez foram os irlandeses que
incomodados com a posição brasileira no mercado mundial de carne, decidiram
levantar uma polêmica. Membros da ‘Associação dos Fazendeiros Irlandeses’
alegaram que a ‘carne bovina’ produzida no Brasil e exportada para a Europa não
seria a ‘autêntica carne bovina, mas um produto híbrido, resultado de
um cruzamento de boi com búfalo’. Os produtores e governo brasileiros
demonstraram a falácia dos irlandeses.
A carne do Zebu é a mais adequada para a produção de um
tradicional produto italiano, a ‘bresaola’ que é preparada de carne bovina seca
bem magra, curada no sal por 10 dias e curtida no sol e vento por quatro
semanas. É um produto típico da região da Valtellina, no norte da Itália. A
carne do Zebu brasileiro é a mais adequada para fazer ‘bresaola’. As carnes do
gado europeu são gordas demais e ‘marmorizadas’ e não agradam aos exigentes
consumidores.
Em 1939, foi importada uma dezena de animais da raça
Africânder dos Estados Unidos, sendo que os animais eram provenientes da África
do Sul.
Na década de 1990, foi iniciada a importação de animais da
raça Brahman dos Estados Unidos, o que é uma raça bem parecida com o Tabapuã.
Até 1994 a raça Brahman esteve legalmente impedida de entrar no Brasil. A
liberação veio num esforço conjunto de três criadores e duas maiores entidades
encarregadas de promover as raças zebuínas no mundo, a ABCZ e a ABBA. Os
primeiros animais chegaram por via aérea no dia 17 de março de 1994. Vieram 18
animais. Etc.
Enfim, uma história interessante, de que se podem tirar
várias:
1.- É assim que o Brasil cresce, muitas vezes – Graças a Deus
– à revelia de governos ineptos e inaptos, como o atual, fruto da força,
entusiasmo e dedicação de trabalhadores, empresários e do povo em geral, num
país ainda jovem e cheio de promessas e reservas para o futuro;
2.- Não há dúvida é que a carne dos zebuínos é tão boa que o
Brasil assumiu
a liderança mundial nas exportações, com um quinto da carne comercializada
internacionalmente e vendas em mais de 180 países.
3.- No Brasil o agronegócio é um dos pilares que mantém a
máquina do Estado! O valor bruto da produção de leite e carne ultrapassa R$ 70
bilhões!
Quem quiser saber tudo direitinho
sobre a história dos zebus no Brasil, procure; tem muito livros bons sobre o
assunto;
Por fim, esqueci de
assinalar no texto anterior sobre Uberaba, um importante detalhe: regressei
daquela terra, carregando além do desejo de ali voltar, umas garrafas de ótima
“pinga minêra” que... é uma delícia!
Melhor ainda tomada
enquanto se discute a história dos zebus no Brasil. Aliás... em qualquer
ocasião!
Tchim, tchim! Bota
abaixo.
26/06/2015
Falar de Minas é falar de gado, leite, “pinga”, café, pão de queijo,... E as histórias mineiras sobre o assunto são muitas! A mais recente é que o nosso apreciado queijo da Canastra, perto daqui, logo ali, ...ganhou medalha de prata, num concurso internacional de queijos em Tours, ocorrido em 08 de junho de 2015. Nossos queijeiros estão rindo à toa. Agora podemos comer queijo da Canastra ( que encareceu...), tomar um bom vinho tinto do sul, e em breve temperar alimentos com azeite feito de azeitonas cultivadas no Brasil ( RGS, São Paulo e Minas). Os países mediterrâneos que se cuidem !
ResponderExcluirEduarda