quarta-feira, 3 de junho de 2015



O Acordo Ortográfico
e as pérolas

Muito se tem discutido sobre o “tal” Acordo Ortográfico! Creio que desde que comecei a escrever as primeiras letras e depois frases, e bota tempo nisso, não sei quantos “Acordos” se terão implantado, desde os célebres “Ph” para transformarem em “f”, como a velha Pharmacia ou as ciências Phísicas, ou até o nome duma tia minha que de repente deixou de ser Christina para ser somente Cristina, que não lhe fez diferença alguma, bem assim o quasi, transformado em quase, como Pai e Mãi, e outras muito mais palavras, e não recordo de terem aparecido “cabras-machos” a dizerem mal do acordo, e a culparem os brasileiros ou os angolanos ou os alentejanos!
E... continuou a escrever-se e as pessoas a entenderem perfeitamente o que a outra escrevia, como agora quando alguém disser, por exemplo que “no Nepal o terremoto (ou terramoto?) foi um fato extraordinário”, ninguém vai pensar que se trata de um fato de alfaiate, mas sim dum facto... sem o tal “c”.
O que nos vale na triste ausência de Camões, Camilo ou Fernando Pessoa ou até do mestre gramático e ortográfico Duarte Nunes de Leão é que sempre aparecem as autênticas pérolas do português, gemas puras, puríssimas como os diamantes... brutos!
Leia-se, por exemplo, com o cuidado que requer tudo quanto diga respeito – e haja respeito nisso – às leis que determinam o modus vivendi de todos os infelizes que se acham sob a alçada das ditas leis, o brilhante texto a seguir reproduzido:

Do preâmbulo do novo Código do Procedimento Administrativo (Decreto-Lei nº 4/2015) que acabou de entrar em vigor:
... "No n.º 2 do artigo 57.º, além de se deixar absolutamente claro o caráter jurídico dos vínculos resultantes da contratação de acordos endoprocedimentais, configura-se uma possível projeção participativa procedimental da contradição antro e pré procedimental e exo ou pós procedimental de pretensões de particulares ou simulativas pessoais nas relações jurídico-administrativas multipolares, polipolares ou poligonais multidimensionais."

Haja acordo ortográfico, ortofónico, ortoépico, ortológico ou qualquer outro orto! Até um horto florestal onde cultivar sementes endoprocidementais do endocéfalo que compôs esta brilhância.
Não acredito que haja juiz, ou até professor de direito que faça a leitura desta pérola e tire, de imediato, a objetividade que o legista quis (será que quis?) alcançar.
Eu, desculpem referir-me em primeiro lugar, confesso a minha completa inguinoranssa em matéria de caráter jurídico-pré-procedimental, pior ainda nas relações polipolares ou poligonais pluridimensionais, fato, ou facto, inexistente em todas as minhas relações, quer de amizade ou professionais. Deo gratias.
Já tive algumas relações um pouco conflituosas, breves, estúpidas, com simulativas pessoais que não deixaram no endocéfalo quaisquer resíduos polipolares.
Lá o pluridimensionais ainda vá, aceita-se bem, porque dá para, por exemplo, medir e calcular o volume dum sólido, visto que haverá no mínimo que determinar o comprimento, a largura e altura do dito, o que se enquadra perfeitamente na pluridimensionalidade do cálculo a efetuar.
Mas configurando uma possível projeção participativa procedimental da contradição antro e pré procedimental, a minha douta opinião sobre o procedimento está em concluir, de acordo com o grande Solnado, dizendo: “Pois! Como dizia a minha prima Josefina que gostava muito de dizer coisas”!
Só penso no espírito dos grandes da escrita portuguesa, com ou sem qualquer acordo, desce o Infante Dom Pedro a Fernão Lopes ou Gil Vicente que teria adorado apanhar uma delícia destas para depois a recitar ao Rei!


Ele que tão bem escrevia como se pode confirmar no autógrafo a seguir:

Estão agora a entender porque um Acordo Ortográfico é tão útil?

3-06-2015





Um comentário:

  1. O que percebi foi que mais vale um homem todavia nunca do que em comparação jamais. Quanto ao acordo não estou nada de acordo que a Larousse edite DICTIONNAIRE BRÉSILIEN. E por que não LE DICTIONNAIRE QUÉBECOIS?

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