Do Brasil
Será
isto o Islão do entendimento?
O
ensino nas mesquitas?
Fora da curva no Dia das Mães
Por Dorrit Harazum, jornalista – “O Globo”, 10/05/2015
Farkhunda. Não é preciso saber
pronunciar corretamente o prenome dessa afegã de 27 anos para embarcar na
corrente de indignação. Adesões têm se multiplicado há dois meses,
atravessaram fronteiras e percorrem as redes sociais em todas as línguas imagináveis.
Para a histórica revista feminista "Ms.”, cofundada por Gloria Steinem
nos anos 1970, o caso da jovem merece ser chamado de crime contra a
humanidade.
Filha de pai
engenheiro e mãe com ensino médio completo, Farkhunda cursara a faculdade de
Matemática antes de optar pelos estudos do Direito Islâmico numa madrassa.
Nascera, portanto, numa família de formação excepcional para um país que há quatro
décadas está em guerra ou foi governado por extremistas do Talibã que proibiam
meninas de estudar.
Na manhã de 19 de
março passado, a jovem decidiu enfrentar o bando de ambulantes que vendia
amuletos para mulheres numa mesquita adjacente a um famoso santuário de Cabul.
Farkhunda considerava imprópria a atividade mercantil naquele local de oração,
e também criticava a atuação de videntes que apelavam à superstição de fiéis.
Pretendia convencê-los a sair dali.
O que se seguiu à luz
do dia no pátio de uma mesquita a poucos metros do palácio presidencial, numa
cidade que é a 64a maior do mundo, foi selvagem.
Diálogo não houve e a
discussão, breve, logo atropelada pela acusação fatal, em voz alta, de um
funcionário do santuário: "Essa mulher é uma infiel. Ela queimou páginas
do Corão." De imediato o esparso aglomerado inicial de gente adensou-se e virou
multidão, com centenas de homens fechando um cerco em torno de Farkhunda e
passando a xingá-la.
De um dos muitos
punhos veio o primeiro soco, seguido de pedras e paralelepípedos. Um dos golpes
com tábua de madeira a fez voar. O véu lhe foi arrancado como blasfémia. Nem
quando ela já estava abatida no chão a selvageria diminuiu: houve homenzarrões
que deram pulos de vitória em cima do corpo estendido.
Essas e outras tantas
sequências foram sendo captadas pelos celulares em mãos das crianças e
adolescentes que iam se esgueirando em busca do melhor ângulo. Horror maior do
que o close do rosto desfigurado da jovem talvez seja a imagem da mão infantil que
segura o celular e busca esse close do rosto desfigurado.
Ao final, um dos perpetradores
ainda passou o automóvel por cima do corpo de Farkhunda, que é arrastado por
algumas ruas de Cabul e incendiado numa das margens do rio poluído da capital.
Em momento algum um
só policial presente interveio ou fez menção de intervir.
O sinal de que tudo
isso poderia não ser totalmente em vão ocorreu no momento do enterro, quando o
país que assistia à transmissão viu o caixão ser carregado só por mulheres, ao
arrepio da milenar tradição de ombros masculinos. Um solitário pinheiro
também havia sido plantado por ativistas de um pequeno partido de oposição no
local em que o corpo da jovem fora incendiado. "Se não levantarmos a voz,
mais Farkhundas haverão de ser incineradas no inferno do islamismo”, explicara
o líder do grupo.
Entidades feministas
mundiais decretaram uma espécie de estado de alerta enquanto no Afeganistão a
palavra de ordem, abraçada por homens e mulheres, passou a ser "Somos todos
Farkhunda. Queremos justiça"
Não teve outro jeito.
As autoridades afegãs tiveram de admitir que a jovem vivera como muçulmana
devota e que era falsa a acusação da queima de páginas do Corão feita pelo
funcionário do santuário.
Assim, Farkhunda
passou de pária a mártir e começa a ser vista como heroína por ter desafiado um
homem na defesa do Islã.
Esta semana, um
tribunal de primeira instância de Cabul anunciou as sentenças para 30 dos 49
acusados pela morte da jovem: quatro condenações à morte, oito condenados a 16
anos de prisão e 18 absolvidos, entre eles o que achou necessário passar com o
carro por cima do corpo inerte. Os 19 restantes são todos policiais acusados
de negligência, cujas sentenças devem ser anunciadas ainda hoje.
É possível celebrar o
fato de a família de Farkhunda ter decidido adotar orgulhosamente o nome da
filha como sobrenome, quando é comum afegãos se identificarem a vida inteira
apenas pelo prenome. Ademais, contrariamente à insistência da polícia para que
saíssem da capital, todos continuam morando em Cabul.
Outros aplaudem o
compromisso assumido pelo Ministério de Questões Religiosas de banir tanto
vendedores de amuletos quanto videntes em santuários. Fala-se até mesmo em renomear
uma rua em homenagem à jovem.
Ainda assim, a
reabilitação de Farkhunda através de sua morte não elimina a distorção
principal de que foi alvo em vida. Farkhunda morreu abatida como animal por
ser mulher.
Dorrit Harazim
é jornalista
N.- Se
alguém tiver coragem que veja na Internet (procure Fakhunda) a bestialidade de
fotos e de videos.
São um
horror. Só isto já justificaria tudo quanto os americanos lá andam a fazer.
Infelizmente mal feito, como é hábito deles.
Os homens,
em bando, são uns covardes fdp! Riem olhando para a mártir enquanto a arrastam,
morta, e continuam a apedrejá-la! Como se fosse um joguinho! Infâmia.
Um clérigo ainda levantou a voz para dizer que ela "tinha merecido o que lhe fizeram!"
Um drone que “cumprimentasse” aquela mesquita
seria um bem para a humanidade!
A nossa
capacidade criativa jamais poderia pensar que tal bestialidade pudesse existir.
COVARDES!
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