Os Celtas
Que
me perdoem os cientistas e investigadores, mas é muito interessante “viajar”
pela História! Melhor ainda pela Protohistória.
Muito
se ouve falar dos celtas, mas com absoluta certeza não se sabe muito sobre
eles.
Dizem que terão
“nascido” na Europa Central, mais ou menos onde é hoje o sul da Alemanha, leste
da França e Áustria, Boémia e Eslováquia, ao lado da região que já se chamou...
Galicia, sobre o que já escrevi em Outubro de 2012 (ver http://fgamorim.blogspot.com.br/search?q=iberia
).
Mais curioso é saber que onde viveram, conforme as
regiões, línguas e os tempos, se chamaram gália ou gaulia dos gauleses, galácia
dos gálatas, galícia, gaélicos do Norte da Escócia e da Irlanda, os galegos da
Galiza, e muitos, muitos outros nomes que se perderam, e ainda tribos comos os
Boiens, uma das maiores tribos celtas, cujo nome parece significar “os terríveis”,
também conhecidos por boers (em holandês significando paisano ou agricultor). O nome atual de Bohemia vem de Boio, terra dos Boiens.
Até
os gálatas, mais conhecidos talvez pelas epístolas de São Paulo, eram
“gauleses” que se aventuraram para leste, e após batalhas com uns e outros
fundaram a Galátia que seria a parte central da hoje Turquia. Foram eles que
fizeram de Ancyra, agora Ankara, o centro, a capital, de todas as tribos celtas
que ocuparam a região.
Os
celtas foram um povo – ou diversos povos? – extremamente guerreiro.
Expandiram-se para o leste, assolando o sul da Rússia, a Grécia, o norte da
Itália, praticamente toda a região da França, e mais da metade da Península
Ibérica.
Hoje
boa parte dos cientistas que se dedicam ao estudo das origens célticas,
afirmam, com base em dados antropológicos e até de DNA, que eles foram da
Península Ibérica para a Britânia, quando outros creem que terão ido
diretamente da região da Germânia ou da Gália.
Entram
nas Ilhas Britânicas, por volta do século V a.C.
Na
Península Ibérica já se encontravam, segundo alguns autores (Políbio, Estrabão,
Homero e muitos outros comparsas) talvez desde antes de 1.000 anos a.C. numa
região encostada àquela que os romanos vieram a chamar Tartéssia, dos tartessos
ou turdetanos. Esta seria onde hoje a parte ocidental da Andaluzia, e aqueles
na Extremadura, estendendo-se pelo Sul do Alentejo e Algarve, como se vê no
mapa abaixo.
40.000
anos a.C. os Neandertal já estavam no sul da Península Ibérica. No norte as
pinturas de Altamira terão entre sido feitas entre 12.000 e 32.000 a.C.
9.000
a.C. há vestígios de migrações da região da Fenícia para o sul da Península e
da expansão dos chamados “indo-europeus” pelo centro da Europa.
Em
1.800 a.C. tribos celtas já ocupavam a maior parte da Península, mesmo que os
nomes das tribos fossem muito aleatórios porque quem escreveu sobre eles pouco
ou nada sabia!
Como
é de supor não havia fronteiras fixas entre os diversos povos primitivos naquele
tempo, mas não é difícil calcular que entre os que viviam nos limítrofes se
entrecruzassem, e assim os romanos, que melhor os descreveram, acabaram por
englobar na Tartéssia o Algarve, o Sul do Alentejo e a parte sul da
Extremadura, o que significa que os celtas teriam sido “incluídos” numa única
região, a Baética.
O
primeiro autor antigo a escrever sobre os celtas na Península terá sido Hecateo
de Mileto (-548 a -475), que além de os colocar em Marssilia se refere também
aos keltoi, keltoi
– celtas - o povo
da Península.
Os
Turdetanos eram considerados, pelos romanos, como os mais sábios dos ibéricos;
faziam uso de um alfabeto e possuíam registros de sua história antiga, poemas,
e leis escritas em verso com seis mil anos de idade, mas desconhece-se quando o
tartessiano deixou de ser falado; Estrabão (c. 7 a.C.) registra que os
Turdetanos e particularmente aqueles que vivem sobre o Baetis (Guadalquivir)
mudaram completamente ao longo da ocupação romana, nem mesmo lembrando mais de
sua própria língua.
Há
documentos, sobretudo estelas que remontam a um passado muito remoto, com
escrita até hoje indecifrável, com características fenícias e até misturadas
com tipos de hieróglifos egípcios.
Ainda
pelos antigos historiadores “sabemos” que terão sido os tartessos que, hábeis
navegadores, práticos no tráfego sobretudo com a Fenícia, também foram os
primeiros a navegar pelo Atlântico até as “Ilhas Cassiterites” (do grego kassiteros, estanho), onde se abasteciam
deste metal.
Estas
ilhas que mais tarde cartógrafos chegaram a colocá-las no lugar dos Açores, não
é difícil concluir, digo mesmo concluir, que serão as Ilhas Britânicas, porque
estas ficaram conhecidas por serem o principal fornecedor de estanho de
“antanho” na Idade do Bronze.
Pensando
neste conhecimento podemos começar a tirar algumas conclusões:
-
Primeiro, é bem possível que os celtas tenham começado a ser conhecidos como
tal, quando se juntaram (?!) no centro da Europa, Grécia e norte da Itália, apesar
de serem inúmeras as tribos, mesmo sem unidade antropológica, a que hoje se lhes
dá o nome genérico de celtas;
-
Também é sabido que os povos celtas chegaram à Península Ibérica muito antes de
às Ilhas Britânicas;
-
Começaram por ocupar a Meseta Central da Península Ibérica, estenderam-se
depois por quase todo Portugal, com os lusitanos e formando os Celtíberos, e
sobretudo no Norte, Minho e Galiza, onde encontraram ricas jazidas de estanho,
e dando à região o nome de Galecia ou Galiza;
-
Daqui à Britânia... onde encontraram o mesmo estanho, não lhes deve ter sido
impossível, até porque exportavam depois esse estanho dali também via Gadis;
-
Assim também não custa supor que foi este um dos motivos que os levaram a
ocupar a Britânia, tendo saído da Península Ibérica.
Além
de todas estas hipóteses, há ainda a considerar a semelhança cultural, definida
por espadas de bronze, pontas de lança, caldeirões, “garfos e espetos” estirados
dos Tartessos à Galícia, Bretanha, Grã-Bretanha e Irlanda. No oitavo século a.C.
uma nova elite levantou-se rapidamente entre os nativos parceiros comerciais
dos fenícios.
Neste
mapa vê-se bem o desenvolvimento da exploração de alguns metais: no sul da
Península já se explorava o cobre 3.000 anos a.C.; o estanho, no Norte (entre
Minho e margens do Douro) com mais de 2.500 a.C. e nas Ilhas Britânicas e
Irlanda, um pouco mais tarde.
No
entanto parece terem sido os ingleses que mais nos têm dado menções e elementos
da história deste povo, ou grupo de povos que acabaram por falar a mesma
língua, ainda hoje viva em muito lugar.
Sempre
ferozes guerreiros, lutavam até entre si selvaticamente, mas vaidosos da sua
aparência; usavam sabão especial e perfumes, túnicas de tecidos estampados e
bordados, e adoravam carregar consigo cornetas e outras joias em ouro, em que
eram exímios artistas.
Nas
lutas aterrorizavam os inimigos, berrando que nem loucos e fazendo soar longas
cornetas. Muitas vezes lutavam completamente nus com as suas longas cabeleiras,
as tranças clareadas com limão!
Eram
muito fechados nas suas hierarquias. O povo dividia-se em três principais classes:
-
o rei ou a rainha;
-
a classe superior, os guerreiros, com os seus grandes bigodes;
-
e a classe baixa, escravos e trabalhadores, a maioria agricultores.
E
os druidas sempre escolhidos entre gente da classe superior; muitos lutavam
entre si para se fazerem notar e ganhar um lugar entre estes “sacerdotes”, que
por vezes tinham mais poder do que os reis (tal como se passou e ainda passa em
muitas outras religiões). O treino para se chegar a poder praticar o culto
durava vinte anos!
Não
iam à guerra, mas previamente aconselhavam o rei e os guerreiros sobre a melhor
data para as batalhas, e sempre participavam do espólio colhido pelos
vencedores.
Eram
eles que estabeleciam a “ligação” entre o supernatural e os homens, e adoravam
sobretudo dois deuses: Sucellos, o deus do céu e Nodens, o deus das nuvens e da
chuva.
Vem
de um banquete, em 355 a.C. entre
Alexandre, o Grande, e alguns celtas no golfo da Jónia, (a caminho da sua
invasão na Ásia Menor) a célebre frase que sempre se encontra nos maravilhosos
livros do Asterix: Alexandre perguntou-lhes o que mais temiam neste mundo: “Que o céu nos caia sobre a cabeça! ”
16/05/2015