quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Um pretenso ensaio poético e um texto de 2003.


Ser livre

Como teria gostado
De ter nascido lá...
No mato.
Longe do mundo moderno.
Ter vivido sempre livre,
Tal como um simples selvagem
No seio da floresta
Ou no alto das montanhas.
Sem nunca ter visto tv
Nem prédios de vinte andares
Nem carros, nem militares
Muito menos portas lindas
Com letreiros a prometer
Milhões aos pobres vilões.
Não teria visto aviões,
Nem a mentira a grassar
Nem políticos ladrões.
Seria um “pobre” selvagem
Cuidando da natureza
No sossego e paz da verdade.
E hoje ouviria os pássaros,
A onça e o vento frio
Assobiando nas folhas,
Mas não ouviria as vergonhas
Que nos ferem todo o dia.
Teria sido, sem dúvida,
Simples como um passarinho,
Sem saber o que é ser livre,
Porque hoje sei que não sou.

Março 2013

O passado português

Quem se preocupa no Brasil com a história de Portugal? Ninguém.
Há uns anos, parece que se perdia mais tempo a “discutir” nas escolas quem tinha descoberto ou achado (cuidado com as palavras!) o Brasil, se Cabral ou Pinzon ou até algum antes deles, do que a saber-se da história dos povos indígenas.
Agora é obrigatório, por lei, o que já era. Por lei também. O ensino da influência africana na nossa cultura.. Muito bem.
Bem vistas as coisas o Brasil é um misto cuja base de mistura foi o português, por muito que isto doa a quem tem essa aversão à verdade!
Dos índios, pouco se sabe, e pouco mais se ensina que os portugueses os mataram aos milhares. Milhões. Esquecem-se de dizer que não foram os portugueses, mas sim a varíola, febre amarela, gripe, tuberculose, sarampo, etc.
Depois esquecem também de dizer que no princípio do século XX havia muito mais do que um milhão de índios, porque só juntando algumas tribos lá na Amazônia se encontravam mais do que isto. Encontravam, não, é a palavra errada. Ainda muitos deles não tinham sido encontrados, ou achados ou descobertos. Mas... já lá estavam há uns 10.000 anos.
À medida que o “branco” se foi aproximando deles, a varíola, a gripe e as balas de espingarda (dos brasileiros) reduziram então essas populações para números que hoje ninguém sabe bem em que ficam, mas que se diz que serão uns 300.000. Duvido, mas...
Para se compreender o português, há que fazer como Gilberto Freyre. Estudá-lo. Hoje isso não é mais necessário porque o grande sociólogo o deixou escrito. Ele foi à procura das raízes desse português e estudou as suas origens, que são extremamente complexas.
Eu mesmo há perto de meio século, quando quis conhecer melhor esses portugueses donde eu vinha, li Gilberto Freyre, e compreendi muita coisa que nunca professor algum mo havia mostrado.
Ora se o próprio português não se conhece a si próprio, vai querer que o brasileiro o conheça? Jamais.
Só uns exemplositos bem simples. Hoje, na nossa terminologia, que é dos próprios portugueses, temos uma série de palavras que significam mais o mesmo: labrego, galego, alarve igual a lorpa, pateta, grosseiro, rude, bestalhão, etc.
Labrego é o agricultor da Galiza, galego é o natural da Galiza, alarve significa al arave, o árabe, e todos eles estão na base da formação do português!
Ora se o português respeita assim o seu passado e os seus ancestrais, vai querer que o brasileiro saiba quem foi o Afonso Henriques e respeite o Manel e Jaquim que vieram de trouxa às costas? Nunca!
Ele conhece, sim, o Eça de Queiroz porque ridiculariza o português de torna viagem, o portuga que já nem no Brasil era querido e voltou para construir o sobrado forrado de azulejos, e uma sociedade cosmopolita de emergentes que em toda a parte do mundo é igualmente caricata e metida a gostosa!


21-jan-03

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