sexta-feira, 11 de janeiro de 2013



O sonho que me persegue!



Aquele sonho não me saíu da cabeça. Durante o dia voltava sempre a mesma imagem do bom velhinho, que nem soube quem seria, nem bem se lhe distinguiam as feições.
Quanto velho ele era? Podia estar ali, além, há minutos, milênios, desde sempre!
E, segundo me disse, não era o São Pedro, porque no Espírito Eterno não há santos! Seria então o Pedro! Ou qualquer um outro Pedro, ou Joaquim, ou Abraão, ou Mohamed, ou Nkwame, ou Lao Tsé ou Sidarta, ou...?
Certamente que naquela eternidade não há religiões, nem se discutem dogmas, nem ritos, muito menos hierarquias.
Como gostaria de voltar a encontrar aquele “Pedro” e tentar penetrar um pouco mais nessoutro mundo a que na Terra lhe chamam trevas, mas que será cheio de luz.
Fui-me deitar, a cabeça latejava com uma inesgotável série de dúvidas que o sonho anterior me deixara.
Às tantas, meio difuso, começa a aparecer a figura que pensava ser novamente do Pedro. Também não se viam bem as suas feições, e no meio das nuvens que o envolviam nem se chegava a perceber se tinha barba ou não!
Com medo que esta nova visão desaparecesse depressa, não perdi tempo, e atirei logo a primeira pergunta:
- Senhor se aí é a eternidade, a pureza, a harmonia, aqueles que durante a vida terrena foram criminosos, de qualquer espécie, como podem ficar aí recompensados?
- Não ficam. Retornam para espiar a sua vida errada.
- E quem os manda de volta?
- Ninguém. Eles mesmos, que não se sentem bem nesta paz, porque afinal a sua consciência não é material, é espiritual. É o espírito deles, sujo, pelo que conscientemente fizeram de mal, que não lhes permite gozar a paz. E assim são eles quem escolhem para onde e como voltar. Vêem logo que aqui não é o lugar deles.
Aqui ninguém os julga. Não há hierarcas, nem juízes. As suas consciências pesadas é que os condenam, e eles têm, uma vez mais, ou tantas vezes mais quantas quiserem, a liberdade para escolher como se redimirem. Talvez um só retorno não seja suficiente, mas tempo não falta, nunca.
Esta é a liberdade dada aos humanos.
- O que eu continuo sem compreender, e talvez jamais compreenda, é porque o espírito, talvez da maioria dos homens, tem muito mais força para o mal do que para o bem. Afinal como é possível conceber que o Espírito de Deus, do Criador, o Espírito Eterno, que existe desde a eternidade, continue a residir, a perturbar, tantos bilhões de pessoas? Porquê não recebem todos aquele “sophos” já puro, sem maldade? Qual a vantagem de martirizar a humanidade com tanto mal? Só para se assistir a um vai-e-vem das almas, dos espíritos que terão que se redimir? Certamente que não é esta a razão. Mas então?
- Os desígnios do Criador não são revelados aos que ainda vivem com a carne, enquanto seres materiais. Nem mesmo depois, quando se juntam à multidão dos que estão em paz. Assim como nós estamos agora a falar, outros o fazem, e se nós tivéssemos resposta para essa questão, a questão fundamental do homem, o que você, ainda mortal, pensa que se passaria?
Imagine que por qualquer descuido, algum, ou alguns homens tomariam conhecimento dos desígnios de Deus. Seria o caos, o fim da humanidade.
- Essa agora! Porque?
- Porque sabendo o que não consegue controlar, destruirá tudo! Veja o retrato, bem concebido pelos antigos que deixaram algo escrito sobre tal situação. O Génesis. Esses homens que escreveram a expulsão do paraíso, tiveram uma visão do que seria o mundo no caso do Adão aceder aos conhecimentos de Deus. É um retrato, uma forma poética de mostrar como tal situação seria impraticável.
- Mas porque?
- Lá vem a mesma pergunta, para a qual não encontrará nunca resposta nem mesmo depois que se consiga juntar ao Espírito Eterno, onde não há dúvidas, nem perguntas. O que interessa ao homem vivo ou espiritual, por paradoxo que pareça, é o mesmo: paz. Na terra não a encontra porque não quer. Aqui, só depois de muito ter lutado para encontrá-la em vida.
Penso que estava acordado nesta conversa, porque a minha cabeça zoava!
Gostaria de ficar eternidades neste papo. Mas para quê? Para ser castigado como Adão, apesar de ficar sempre na mesma ignorância?
Decidi despedir-me.
- Meu amigo. Creio que não falta muito, em termos terrenos, para nos voltarmos a encontrar. A verdade é que a paz geral e a minha, interior, por muito que eu faça, ou procure fazer, não consigo encontrar. Há uma insatisfação permanente, uma luta, fazendo com que as idéias girem dentro da cabeça e me deixem cada vez mais cansado.
Muito queria eu que os homens se amassem como os cães nos amam! Como dizia...
- Eu sei quem disse isso!
- Obrigado. Em breve nos veremos.
Tentei adormecer depressa, mas... já nem sei se o consegui.

11-jan-13

4 comentários:

  1. Sonhar ou angustiar, Francisco? E de modo nenhum a sua vida é inútil. Mas onde a sabedoria? - já perguntava Jó. Continuemos a caminhar...

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  2. Sonhos ou angústias? Vivelhecemos sem resposta alguma. É o pó da nossa já longa estrada. Caminhemos, Francisco!

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  3. Querido tio Chico que maravilha de texto! Obrigada e um grande beijo. Pensei que esse velhinho poderia ser o meu Pai!...

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  4. querido tio Chico, que maravilha de texto! Obrigada pela partilha. Pensei que esse seu velhinho poderia ser o meu Pai que tão amigo era seu...

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