segunda-feira, 30 de maio de 2011



Desencarnação e morte!

O Retrato de D. Brites



Cópia de uma carta que mandou o Dr. Manuel Soares Corrêa, juiz de fora, que foi de Penamacôr, ao seu amigo Francisco Alves, pintor na vila da Covilhã, pedindo-lhe que lhe pinte num quadro o recebimento e baptisado de sua filha, e a morte de sua mulher a Ilma. D. Brites.

“A pena com que pego na pena é tão grande e tão publica, que escuso de lhe contar: pois vocemecê saberá que quiz Deus levar a D. Brites onde ela só sabe; mas é certo que foi para o céu, que é a morada dos anjos, qual ela foi neste mundo; e como a tenho em presença na minha memória, quero também retratá-la em casa; e assim remeto a vocemecê um pano de estopa para que vocemecê pinte n’elle com as tintas mais finas, que tiver, três representações em um só quadro, que se ha de pôr na sala para memória deste infausto caso, com as figuras seguintes:

Recebimento

Vocemecê bem viu a D. Brites de marca ordinária; grossinha de corpo; o rosto não era comprido nem largo; entre clara e morena; os olhos entre azuis e pretos, com a cor de chumbo desmaiado; o nariz à flor do rosto; cova na barba; dentes brancos; beiços grossos, e alguns sinais de bexigas; o cabelo era louro e castanho, toucada como na corte, vestida de cor de goivo (veja que ha de ser de seda e não de lã).
Ao pé della ponha vocemecê duas moças vestidas de creadas; a mais velha de escada acima, e a outra de escada abaixo e a mim me há de pintar tal qual eu sou, com as feições que tenho, e vocemecê sabe; porem vestido honestamente, pela razão do meu cargo, com o meu vestido encarnado, véstia bordada; e calção com liga de prata; não se esqueça de pôr pluma no meu chapéu.
O acompanhamento é escusado dizer-lhe; vocemecê o sabe porque o viu. Ponha vocemecê uma igreja de pedra, que é a freguesia, com três clérigos, um deles vestido de ex sacramentis para nos receber; e veja que o dito padre não era alto mas sim clérigo de marca. Deixe vocemecê um campo em branco na pintura para se lhe pôr um dístico em verso, que ainda não passei.
 
Baptismo da minha filha

Pinta vocemecê d. Brites, doente em um pavilhão pardo, e ao pé d’ella uma mulher velha, vestida de moça; e a Oliveira, criada antiga da casa, e vestida de forma, que você já a tem visto por aqui; e mais algumas pessoas que assistiram ao parto, com os olhos chorosos e caras tristes por causa do aperto em que D. Brites se viu; o mais fica à sua disposição.
Segue-se logo a um canto a parteira de manto com minha filha D. Maria Soares Corrêa, recém nascida nos braços, involvida n’um corte de primavera tostada, e por diante guarnecida de prata. O acompanhamento que vocemecê viu seja o mais luzido que poder debuxar; lembre-se também de pôr todos ao redor a parteira, e os dois padrinhos juntos d’ella, vestidos de encarnado um d’elles com uma vela na mão junto à pia que há de ser de pedra dentro da igreja, o que vocemecê pintará da mesma sorte que fez no recebimento. Aqui deixará também lugar em branco para se lhe pôr uma legenda que há de ser feita em verso por mim.

Falecimento de minha mulher
 
Pintará vocemecê D. Brites deitada ma mesma cama; o cirurgião sangrando-a assistindo-lhe as mesmas criadas; ponha uma d’ellas com cara mudada por falta de somno, de sorte que se perceba que é por não dormir quasi uma semana; pinte uma a pegar na bacia, e outra a deitar água nas mãos; pinte a Oliveira, com uma almotolia de azeite virada com a boca para baixo, dando a entender que vai buscar mais à despensa; pinte D. Brites com a cara macilenta, enchada, e com os olhos papudos, com um círculo negro por cima, e outro por baixo; enfim cor de defuncta doente já morta, e as mulheres compondo-a com o hábito de freira vestia em um caixão rico, a cera acesa, quatro cavalheiros de preto para pegarem no caixão, e clérigos em quantidade.
Peço a vocemecê isto como obra sua, e sobre tudo a brevidade para que este coração sinta algum descanso em magua tão grande, de que vocemecê me há de aliviar como amigo. Não se esquecendo de pintar na freguesia uma torre com sinos a dobrarem, só dois dias e meio de manhã até à noite

Penamacor, 12 de Março de 1748

O dr. Manuel Soares Corrêa


N.- Dá-se um prêmio a quem for capaz de pintar este quadro! Sobretudo com os sinos a dobrarem só dois dias e meio!!!



24 mai. 11



quarta-feira, 25 de maio de 2011



A propósito de uma crônica de

Arnaldo Jabor

“O discreto charme da Corrupção”

Jornal “O Globo” 24 de Maio 2011



Cheguei ao Brasil há 36 anos, já bem passado dos 40. Com razoável experiência de vida, e sempre, não só desapaixonado da política, como contumaz crítico.
Pouco tempo depois conheci uma “excelência”, deputado, que em meio de conversa com vários seus amigos, sobre o Brasil, sua situação, futuro, etc., pediu a minha opinião sobre o assunto, uma vez que eu chegara de fora, olhos novos, sem os ouvidos cheios da politiquice daqui.
Foi muito simples responder, com o conhecido provérbio chinês que diz: “Se os teus planos forem a um ano, planta arroz, se forem a dez planta uma árvore, mas se forem a cem, educa o povo!”
-“Cem anos... ?!!! – Foi a exclamação de espanto e até de tristeza dos presentes. - “Cem anos para o Brasil entrar no futuro”?
- “E atenção! Cem anos a partir do momento em que se começar, a sério, a educar o povo”.
A verdade é que esse momento ainda não chegou, e parece estar para tardar, com as intelectuais iniciativas do MEC, como o ENEM esculhambado, Monteiro Lobato virando negreiro, e a ensinarem para que nóis fala mal, além da vergonhosa, infame, cartilha explicando às crianças e adolescentes que sexo é para usar de qualquer forma!
A destruição da célula base de uma sociedade. A família.
É evidente que não apoio qualquer forma de ditadura, mas não sou cego a ponto de deixar de ver o que se passa. Aqui, como por exemplo, em Portugal.
Não consta que houvesse este atual e permanente assalto à res publica no tempo dos militares, nem da ditadura portuguesa. Sempre houve ladrões e corruptos, aqui e em qualquer outro país do mundo, incluindo os evoluídos nórdicos. Mas ninguém pode levantar um só dedo que seja a qualquer dos generais que foram aqui presidentes.
Depois disso chegaram os pretensos democratas e a canalha revolucionária dos anos sessenta tomou conta do poder e das contas. Quantos membros do atual e anterior governo enriqueceram ou estão com processos nos tribunais?
Serão todos eles descendentes de portugueses, cujos avós eram ladrões, os bisavós negreiros e os tataravós degredados?
Alguns têm nome português, como Fernando Pimentel, o que quis seqüestrar o cônsul dos EUA em Porto Alegre. Mas e a dona presidenta? E o chefe da casa civil? E... tantos outros; serão todos descendentes de portugueses, ladrões, negreiros, etc.?
E qual seria o problema de ser descendente de degredado? Não foi assim que se fez o imenso país que é a Austrália?
Outra pergunta que já uma vez fiz ao senhor Jabor e que, como costume, não teve resposta: “Porque o seu pai, sabendo desta desgraça toda, optou por emigrar para o Brasil? Não veio encontrar um país onde pôde educar o filho, dar-lhe conhecimento e cultura? Será que teria sido melhor que o Brasil tivesse sido colonizado por libaneses? Ou até por italianos – veja-se o exemplo da Etiópia e Eritreia – tipo berlusconiano?”
Ou alemães, ingleses, franceses, holandeses, espanhóis? Todos estes, nas regiões tropicais, deixaram o que? Nada. Os portugueses deixaram o Brasil!
Não consigo entender porque o senhor Jabor, sempre que pode, insulta o passado dos portugueses!
Posso dizer-lhe que os meus dois avós, brasileiros, não foram ladrões. Um foi diretor duma companhia telefônica e acabou quase na miséria. O outro foi industrial e comerciante. Não conheci ninguém mais honesto.
Os bisavós: um deles além de não ser negreiro, foi o fundador da primeira Sociedade de Emancipação de Escravos no Brasil, em Pelotas. No escritório dele reuniu-se esta Sociedade pela primeira vez, quando se alforriaram quatro escravas. O outro foi poeta e escritor, e no fim da vida era ajudado financeiramente pelo filho.
Tudo isto no Brasil.
E como é possível que o Brasil, estando no seu 189º ano de independência, ainda queira atribuir os seus descalabros de hoje a essa “herança maldita”?
O senhor, Arnaldo Jabor, sabe tão bem, ou muito possivelmente melhor do que eu, que tudo depende unicamente da educação. Em 189 anos o que tem proliferado são as faculdades privadas, fonte de lavagem de dinheiro e ensino abaixo de crítica, porque pertencem, quase todas à politicada.
Mas o alicerce, a instrução primária, é deixado ao descalabro, bem como a secundária, e até muitas escolas estão hoje nas mãos do MST, como sabe.
E o ensino técnico? Louvamos, só mínimamente, alguns cursos do SENAI e SESC. Mas quando se sabe que, por exemplo, em França, um indivíduo que queira ser açougueiro, tem que fazer um curso de dois anos! Um soldador, quatro. E aqui?
Só falta citar nessa “herança maldita” o ter-se obrigado, ainda no século XVIII a que só se ensinasse nas escolas em português. Se isso não tivesse acontecido, teria havido uma pulverização de pequeninos brasis. No entanto, hoje, o MEC, quer que se ensine o tal “nóis tamo mais burro”! E o ministro da educação será descendente de português?
Um país que renega o seu passado não tem futuro. Ciência antiguinha, mas uma grande verdade.
Depois que acabou o império britânico, foi a vez do império americano, dos yankees. Este já começou a agonizar. Está chegando o chinês. Depois a Índia. E o Brasil? Um país com tanta possibilidade! O Brasil não tem cultura nem tradição. Nem parece querer ter. Não tem suporte onde se agarrar. É por isso também que os pseudo revolucionários dos anos 60 não vingaram. Só tinham idéias importadas, e não ideais vinculados à terra de seus antepassados. O Brasil continua a ser a “terra dos outros”. Não dos índios, mas dos outros. Sempre dos outros. E isso é evidente ao ver como vota nas eleições. Por isso, apesar de ser uma potência emergente, faltam-lhe uns séculos de bom senso e educação de qualidade para se poder impor no cenário mundial, deixando de ser um exportador de matérias primas, mas de idéias!
É verdade que o Brasil começa com as capitanias. Se o senhor fosse o rei de Portugal, como teria organizado esse começo de colonização? Mas, aqui para nós, foi muito mais fácil ter chegado aqui no século XX do que no XVI, não foi? E criaram-se igrejas, é verdade, o que teve a virtude de, durante muitos anos, unir o povo.
O que se faz hoje para transformar o Brasil num país sério, para não ouvir mais piadas de nenhum De Gaulle?
Critica-se Monteiro Lobato, paga-se vergonhosamente a professores primários e secundários, muitos dos quais não têm mais do que um miserável ensino primário, grande parte dos edifícios escolares mais parecem pocilgas, ignoradas pelas “autoridades”, mas ensina-se que todo o mal vem da colonização portuguesa.
Francamente, senhor Jabor, eu que sempre leio as suas crônicas, e o admiro, não posso acreditar que esteja falando sério ao querer desmontar assim o passado e os fundadores deste país.

25 de maio de 2011

sábado, 21 de maio de 2011



Não é para ter inveja !

Mas a verdade é que, onde vivemos (i.é, eu vivo) no Rio de Janeiro, estamos felizmente afastados do centro, de ruas movimentadas, casa isolada no meio do terreno, muita árvore, sossego, silêncio, tranqüilidade.
O nosso palácio! Apesar desta “maravilha”, se quisesse, hoje, ir morar num apartamento mixuruco, lá no meio dos emergentes da Barra, teria que vender esta casa duas ou três vezes! Estamos no meio do “mato”... o que será pouco chique, mas é uma delícia!
E deliciamo-nos com as visitas daquilo que a natureza nos oferece como uma pequenina amostra da sua generosidade.
Quase diariamente temos que gastar uma ou duas bananas para dar aos pequeninos macacos, os Sagüis, que nos visitam, sem medo, sempre em grupo, uma família com seis a dez membros. Uma beleza. Os filhotinhos quando nascem têm, no máximo uns oito centímetros de comprimento!




Na casa ao lado, num coqueiro junto ao nosso muro, vive, desde que viemos para esta casa há, outra família, mas de “Bem-ti-vis”. Barulhentos, sem vergonha, todo o dia vêm “roubar” um pouco da ração do nosso fiel guarda! Quando pegam um pedaço maior, que não lhe entra logo na goela, voam até uns quatro metros de altura, soltam o granulado que se quebra ao bater no chão. Depois... é muito mais fácil comer!

  
E um “Sabiá”, que não canta, mas marca a presença constante batendo com o bico numa das janelas do andar de baixo! “Tuca, tuca, tuca”, olho muito vivo, olha para os lados e continua: “tuca,tuca...” mas é demasiado arisco. Só o conseguimos ver com um espelho! Se sente o mínimo barulho ou a aproximação de alguém, voa e esconde-se no meio da folhagem!



A seguir as “Rolas”, que durante anos fizeram sempre o ninho no mesmo arbusto e um dia... sumiram. Estão de volta, com moradia em lugar mais escondido!




“Beija-flores”, sempre por aqui estão, beijando uma ou outra flor! Pairando no ar, as suas asas fazem um ruído de ventilador! Não se assustam muito com a nossa presença. Creio até que alguns já nos conhecem bem!

Desde há alguns anos que, dependendo da época ano, temos a visita mais espetacular! Os “Tucanos de bico preto”. São uma maravilha. Sempre aos pares, às vezes três, possivelmente um filhote, têm um grito próprio. Sempre que aparecem, aqui no topo das árvores, corremos para fora de casa, binóculo na mão, para gozar este espetáculo maravilhoso!


Agora começou a aparecer a “Gralha cancã”. Originária do Nordeste, com o desmatamento daquela região, já se está instalando no Rio. É um pássaro lindo, branco e preto, mesmo nas costas, uns 40 a 50 cm. de tamanho, só que o gralhar dela, lembra, infelizmente, o de alguns políticos conhecidos: muito barulho sem se fazerem entender.




Mais raro, infelizmente, é o “Papagaio Fura Mato”. Só o temos visto isolado. Deve ser ainda solteiro ou viúvo!





Agora que uma das nossas árvores está completamente carregada de frutos, “Abiu” (Pouteria caimito), frutos com a consistência de nêsperas, maiores um pouco, agridoce, que faz a delícia da passarada, e, dentro dela – uma árvore com uns 6 a 7 metros de altura, e copa, bem fechada, com diâmetro igual – andam dezenas de pássaros que, os meus conhecimentos ornitológicos não permitem identificar. Tudo lindo, na comilança.



 Mas além destas delícias, volta e meia aparece um “Gambá”, mas morto, talvez mordido pelo cão, que há tempos se atreveu também a dar uma mordida num “Ouriço” – que só saem de noite para comer – e à meia noite teve que ir ao veterinário para lhe tirar da boca, beiças e nariz, mais de cem pequenos espetos! Esperamos que tenha aprendido a lição!

Filhote de Gambá



Bravo para o nosso “Mike” – uma belíssima cruza entre São Bernardo e Pastora Belga – que um dia matou, à porta da cozinha, uma “Surucucu”! Tinha uns 80 cm. de comprimento, e veneno suficiente para matar qualquer um!
Surucucu ou Jararaca ?


Volta e meia também vemos, muito bem dissimulada entre os verdes a “Cobra verde”. Parece ser inofensiva – o que não desejamos confirmar pessoalmente – mas tem uma cor linda.





E para finalizar um “Hurra” ao nosso guardião. Uma maravilha de cão. Enorme, fortíssimo, ronco e pata de leão, mas um doce, com os donos e seus amigos.

O “Mike”(com um ano e pouco!) e o Lourenço


E aqui têm uma visão de “história natural” caseira. Se não acreditam, podem vir confirmar. Além das portas estarem abertas, temos sempre um prazer especial em receber os amigos. E... até os outros. Porque não?

Até já.

21/05/2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011



Um dos Maiores

Homens de Sempre



Como é difícil aparecer um Homem, com “H” maiúsculo, que mereça o respeito e admiração universal. Uma das razões será o atraso do desenvolvimento deste primata classificado como homo sapiens! Sapiens, muito bem, matar, roubar, enganar o próximo, mas lutar pela dignificação da espécie, ainda vai ter que esperar uns milhares de séculos!
Simples como foi, um dos maiores homens do nosso (?) tempo, continua a ser motivo de profunda admiração e respeito incondicionais: Angelo Giuseppe Roncalli, o grande Papa João XXIII.
A sua trajetória na Igreja, desde simples padre, até ao papado, é a mais profunda demonstração de amor e respeito pelo irmão, fosse ele cristão, ortodoxo ou católico, judeu, muçulmano, ou simplesmente ateu (se é que estes existem!).
De uma simplicidade, humildade e aparente ingenuidade, foi uma permanente fonte de lição de amor a todo o mundo. Era um GRANDE simples.
Nas vésperas do conclave que havia de o eleger , perguntaram a um bispo francês, quem na sua opinião seria eleito Papa, ao que este respondeu com desdém: “Um Rocalli qualquer!” Outro bispo, de Angers, chorou de tristeza ao ter conhecimento da escolha do Sacro (?) Colégio!
Mas junto ao povo, a opinião era muito diferente. Houve um operário comunista que disse: “Aqui está um homem com quem iria de boa vontade beber um copo numa taberna”!
Este Roncalli, era um homem alegre e divertido, gostava do seu petisco, detestava as roupagens de circunstância que, dizia ele, “ficava parecendo um sátrapa persa”, gabava-se somente de ser filho de um humilde, mas são e honesto, trabalhador.
Quando lhe solicitavam uma mercê e ele não podia concedê-la, dizia, como a desculpar-se: “Sou apenas o Papa!”
Assim que chegou a Paris, como cardeal, Núncio Apostólico, a 30 de Dezembro de 1944, corre a casa do embaixador da União Soviética, que na ausência do representante da Santa Sé, devia pronunciar, no Eliseu, em nome do corpo diplomático, o discurso do Ano Nova. Propôs-lhe simplesmente ler em seu lugar o discurso que o russo havia preparado, ao que este anuiu. Após o ter lido, o Núncio disse-lhe:
“Excelência, não vejo que haja a modificar alguma coisa neste texto, a não ser uma pequena alusão à Providência. Estou certo de que não vê inconveniente em que seja eu a lê-lo. Será um excelente início da nossa colaboração diplomática.” E assim foi.
Depois de uma sessão solene na Academia Francesa: “É um belo e impressionante local: ouvem-se lá coisas admiráveis. Infelizmente, porém, os lugares não dão senão para sentar meio-núncio!”
No decurso de uma audiência, João XXIII reconhece o padre Pignatello, capelão geral do exército italiano, sob as ordens de quem servira durante a guerra, quando ainda não era mais do que o padre Roncalli. O capelão ajoelha para lhe beijar o anel. O Papa então, põe-se em sentido, faz continência, e diz-lhe com um sorriso: “Sargento Rocalli! Às suas ordens, meu general!”
Havia em Roma alguém que se fazia passar por conde Roncalli. Perguntaram ao Papa se se tratava de algum primo seu; “É possível que seja meu primo, mas dos meus irmãos com certeza não é”!
Ao ouvir, por acaso, numa rua de Roma, uma mulher dizer a outra: "Meu Deus, olha como ele é gordo!” João XXIII, volta-se e diz-lhe: “Saiba, senhora, que o conclave não é um concurso de beleza!”
Sobre as suas freqüentes saídas do Vaticano: “Dizem que saio demasiadas vezes durante o dia. Pois bem, passarei a sair só noite!”
Quando Núncio apostólico em França, esteve uma vez num banquete ao lado de uma dama elegante, com um decote por demais generoso. À sobremesa pediu-lhe que se servisse duma maçã, que lhe apresentou. Como esta se admirasse de tal iniciativa, acrescentou: “Por favor, minha senhora, sirva-se, pois foi só depois de comer a maçã que Eva percebeu que estava nua!”
Dos comunistas dizia o Papa: “São inimigos da Igreja, mas a Igreja não tem inimigos!”
Joao XXIII, ao receber Adjubel, genro de Kruschev, e sua mulher, volta-se para esta e pergunta-lhe o nome dos filhos. “Nikita, Alexis e Ivan” responde ela timidamente.
“Três lindos nomes, exclama o Papa que faz notar que Ivan corresponde e João. E acrescenta: “Quando regressarem a casa, façam, por mim, uma festa aos vossos filhos, especialmente ao Ivan; os outros não hão-de ficar ofendidos.”
João XXIII recebeu em audiência, cerca de duzentos delegados judeus da United Jewish Appeal dos EUA que se haviam deslocado a Roma. Acolheu-os de braços abertos : “Sou José, vosso irmão!”
Numa carta ao Superior Geral dos Franciscanos, o Papa escreveu, pensando nos judeus: “É preciso lançar mãos de todos os meios para superar mentalidades ultrapassadas, idéias preconcebidas e expressões pouco corteses.”

Como foi Grande este Homem simples.

(Citações do livro “Fioretti do Bom Papa João” de Henri Fesquet, Ed. Liv. Morais Editora, 1964.)

18/05/11

segunda-feira, 16 de maio de 2011



Calamidade... é pouco!

ou...  cavalidade?



Já por diversas vezes manifestei o meu respeito por um brasileiro, senador, que foi, entre outras coisas ministro da educação, e que, após ter-se manifestado com desagrado pela redução da verba destinada à educação, o ex-big líder, o ignorante, mandou-o logo embora.
Gente ao lado de burros com poder, de coice, não conseguem vingar.
E assim vai esta terra, em muitos setores, mas sobretudo na educação e na moral.
Há dias, o atual ministro, cheio de mestrados, doutorados e outros incomiados, informou que vai distribuir pelas escolas uma cartilha ensinando as crianças que tanto faz ter relações sexuais com os meninos como com as meninas. Eles com eles, ou com elas, e vice versa! Não é pecado e escusam de contar aos papás.
É um tremendo avanço na educação sexual. Vamos sugerir ao ministro que mande professores de ambos os sexos fazerem, ao vivo, e durante as aulas, a demonstração deste desinibido comportamento social, em todas as suas alternativas. Desde cêdo se fomentará, assim, o “à vontade” em optar por ser gay, lésbica ou... anormal, isto é, hetero.
A isto se chama democracia... podre.
Não sei se pior, se igualmente calamitoso, uma outra altissima intelectualidade do mesmo ministrério, do Programa Nacional do Livro Didático, mandou distruibuir pelas crianças, 485 mil livros, com o profundo e filosófico título de “Por uma vida melhor”, em que defende erros grosseiros tais com “nois pega peixe”, ou “os menino pega peixe”!
A professora (?????) Heloisa Ramos, autora deste descalabro, defende a supremacia da língua oral sobre a língua escrita!
Ainda não li o livro, mas vou procurar saber se ele ensina também aquela linguagem popular/erudita, falada e escrita, de frases muito usadas no oral, como sua filha da p&#a, grade best@, estúpida que nem uma vaca, etc., esse tipo de amabilidade tanto usado, por exemplo, nos campos de futebol, sobretudo quando alguém se refere ao pobre do árbitro, ou em casos como... Deixa p’ra lá!
Vai de vento em popa a educação e cultura no Brasil!
Qualquer dia vai ensinar-se que a alma mais generosa e bondosa que passou na terra não foi nem Francisco de Assis, nem a Madre Tereza, mas o Stalin, o Fidel e o Lula. Ah! É verdade e mais os outros componentes da mesma equipa: Chavez, Kadaffi, Mugade, etc.
No entanto estes últimos, de tão preocupados em roubar e matar o seu povo, nem se lembraram de ensinar estas cavalidades. Bem-aventirados!
Só milagre ou tsunami nos salva!


16 de Maio de 2011




sexta-feira, 13 de maio de 2011



Lá... no eternamente!


Quer se acredite ou não, TODOS querem ir para o céu depois de morrer, já que nem um o encontrou na terra! E cada um imagina o céu a seu gosto, com especial ênfase para os muçulmanos, que se matam à espera de encontrarem “LÁ” as prometidas doze mil virgens! Outros rezam e, na moita, vão fazendo as suas..., mas todos, mesmo, nem que seja à hora da morte, sobretudo nessa altura, pretendem arrepender-se da vida suja, desonesta ou violenta que levaram, à procura de alcançar o “descanso eterno”!
Durante toda a vida devemos aprender a morrer, já dizia o velho Séneca.
Mas para quem já teve uma realística visão desse paraíso, esse Éden prometido aos justos, não é bem como se imagina.
Eu vi-o, bem verdade que em sonhos, mas sonhos tão detalhados que se afiguram como a realidade.
Para que cada um tenha tempo para se adaptar à nova, e eterna, vida, que vai levar, saibam que o céu, para os recém chegados, é dividido em “departamentos”: muçulmanos dum lado, judeus de outro, cristãos idem, budistas, ateus, etc., até perceberem que afinal Deus é Único, chamando-lhe o nome que quiserem, e cuja única intenção ao criar o homem, a partir de alguns gases siderais, foi que ele vivesse feliz enquanto experimentava um pequenino hiato de tempo (pequenino e hiato são redundância!) com ossos e carne à volta!
Só depois de morto é que ele começa a perceber como desperdiçou esse hiato que poderia ter sido tão bonito!
O primeiro ataque cardíaco, são os enganados muçulmanos que sofrem, se isso fosse possível post-mortem, ao encontrarem, logo à chegada “lá em cima”, um monte de garotas, lindonas, todas nuas, sem qualquer véu ou burka, incluindo a sua própria mulher, que ele matou à pedrada, pensando, devoto (?), cumprir a lei da covardia, e ela sorrindo, dançando, todas com ar de felicidade! E quando ele, após a perplexidade amainada, se aproximar da primeira, verdadeira estampa do ideal feminino-árabe da felicidade, e tenta abraçá-la, constata que abraça uma imagem virtual, e que nunca lhe toca. Corre para outra, e o mesmo. Até que finalmente sossega e, tal como o vovozinho comum, o Adão, só depois desta primeira frustração é que percebe que ele próprio está, também, nu.
Vencido este primeiro estágio, pode passar a visitar todos os outros “departamentos” e até escolher onde passar a tal eternidade, que no céu passa mais rápido do que o tempo que teve na terra.
E vai de admiração em admiração: num canto, parecendo conversar animadamente, mas sem que ele se aperceba de um único som, encontra o seu tão idolatrado Maomé, junto com alguns dos chamados doutores da Igreja!
Mais adiante um pouco, sempre com aquela cara horrível, Hitler parece conversar com um rabino, além Mussolini ri com Omar Al-Muktar, Luther King toma café com James Earl Ray. Continuando, encontra lado a lado Mao Tsé Tung e Chiang Kai-shek e até o Stalin ajoelhado em frente de Pio XII, apesar deste lhe estender a mão para que se levante. Rindo, juntos, como faziam em crianças, Isaac e Ismael!
Desorientado, continua a caminhar através daquelas pequeninas nuvens cor de rosa, à procura de algo que pareça sensato, como por exemplo ver uns milhares de devotos deitados no chão rezando virados para uma imaginária Meca, ou o Papa a discursar da janela do Vaticano. Mas nada. Nem chão existe, muito menos edifícios, nem alguém ali reza.
Encontra Pedro, o guardião, sempre afável e eternamente humilde e sorridente, que lhe dá um único aviso: só não pode visitar as salas de “espera” daqueles que ainda peregrinam pela terra, porque muitos deles, possivelmente, vão ter que pagar um preço mais alto para entrarem no descanso! Para lhe ar uma idéia deixa-o antever Bin Laden passeando de braço dado com George W. Bush.
Não são só aqueles que andam de olhos fechados, fanáticos, doentes, que cometem até crimes em nome do seu Deus, apesar de saberem que Deus é só Amor, que ficam lá no céu. Talvez num “departamento” menos confortável, como milhares de outros que à sombra duma consciente falsidade enganam os incautos ou fabricam armas mortais, traficam em drogas, mortais, ou fabricam medicamentos, também mortais porque os pobres não têm como pagar qualquer tratamento.
E aquela, aquelas almas novas que vagueiam no éter, levam meia eternidade (como se eternidade pudesse ser divisível) para entender quais eram, afinal, os desígnios do Criador!
Só depois disso é que podem pedir para voltar à terra, prometendo, jurando (não o santo nome de Deus em vão), que se vão comportar sem mácula. Humildes, servidores do próximo, sem roubar, nem ofender. Conforme a sua primeira estadia, se alguma vez houve outra estadia, assim lhes é concedido esse desejo, mas... poderão retornar talvez como baratas, que tantas mataram, ou pássaros, a quem ajudaram a destruir grande parte do seu habitat. Poderão voltar quantas vezes solicitarem, até finalmente se integrarem na autêntica eternidade, onde não há gozo nem tristeza, mas o sossego total.
Como disse o nosso Camões:

Ditoso de quem se partir
Para ti, terra excelente,
Tão justo e tão penitente,
Que depois de ti subir,
Lá descanse eternamente.

12 de maio de 2011


segunda-feira, 9 de maio de 2011



Uma Vela sem Abraço...


Outra perspectiva de navegação à vela, e já o “tio” se agita! Voltar a atravessar o grande “rio” Atlântico, e desembarcar em Lisboa, bem ali ao lado de onde Cabral saiu para vir encontrar estas terras de Vera Cruz!
Amigos à espera, aquele Abraço...
Mais de três semanas de mar, sempre, ou quase, num desconfortável contravento, proa a bater nas ondas, mas onde a possibilidade de fazer escala, mesmo por pouco tempo, nalguma daquelas Afortunadas Ilhas, os Açores, com que nunca deixou de sonhar, se afigurava real.
Os anos pesam (muito) e, à medida que se vão acumulando, o físico parece sofrer um desgaste em velocidade logarítmica!
Mas o apelo do mar, aquelas horas só entre céu e água, longe da confusão, de notícias, quase sempre tristes e cada vez piores, e sobretudo na companhia do querido sobrinho e experiente comandante José Guilherme, num outro Mussulo, o “II”, o tal Bavaria com os seus 49’, que há dois anos veio de Mindelo, e suas instalações principescas... Aaah!
Condições impostas: primeiro faz um check up e pede ao cardiologista que o “autorize” a ficar um mês longe de apoio hospitalar! Mau agouro! Como é evidente o “tio” não foi a médico algum, porque sempre mandam fazer um monte de exames que são uma chatice, e quem se atreveria a dizer que ele não “morreria” nos próximos trinta dias? A solução foi “experimentar” um fim de semana no mar! Solução sensata.
Sexta à noite, após um simpático jantar, já em Ilhabela, entrámos a bordo do magnífico “transatlântico”, para aí passar a noite, ainda ancorados.
Ao pôr os pés no barco o “tio” sentiu logo um desequilíbrio desagradável. Com “cataratas” novas, parece ter perdido um pouco na noção de profundidade, já que um dos olhos vê (quase) bem ao longe e outro (quase) bem ao perto! Esta noção ainda não se tinha manifestado tão real quanto já no barco, a subir e descer para a cabine, pior ainda quando havia que descer do barco, ou para terra, ou para o pequeno bote.
Os anos e as cataratas estavam a lutar contra!
Assim mesmo o dia de sábado passou-se num “pequeno” veleiro de 32’ preparado para regatas, com a sua habitual tripulação, onde o “tio” se limitou a assistir a manobras, ora sem vento, ora com vento fresco, onde se testaram velas novas, seu posicionamento, etc.
À noite, saída no Mussulo II, comandante e o vovô, navegando a motor, com vento zero, durante umas três horas, para fundear numa pequena baía, que na manhã seguinte se mostrou em todo o seu esplendor, cercada de montanhas verdes. Lugares deste (ex) paraíso terrestre, quase intocados!
Noite bem dormida, sossego lindo, vista em 360° que faz esquecer os problemas de Kadaffi, Bin Laden, e até da vergonhosa política deste tão belo país!
Depois de um frugal e suficiente “mata-bicho”, levanta ferro, novamente a motor, que o vento ainda dormia, devagar, para ir digerindo a beleza do entorno, até que a meio da manhã o vento começou a surgir, as velas timidamente se foram enchendo, o motor desligado, e a navegação uma maravilha, sempre à vista daquele exuberante verde das montanhas, a que o belo sol emprestava ainda um realce e uma variante de tonalidades, de impressionar qualquer Manet ou Van Gogh!
Preparação do almoço: um agradável strogonoff “eletrônico”, que leva três minutos a preparar, aliás, a aquecer, umas batatas fritas de pacote à ilharga, belos pratos e talheres e um soberbo Cabernet Sauvignon chileno da vinícola do Baron Philippe de Rothschild, servido em copos de pé alto! Bem, melhor do que isto, só mesmo igual a isto.
O “tio” telefona para a filha, em São Paulo, para avisar a que horas pensava ali chegar e a informar que a navegar assim iria até à China. “Pai, aqui em São Paulo caiu o maior pé de vento e uma chuvarada incrível. Até árvores quebraram.” “Guarda essa chuva por aí que nós aqui estamos no paraíso!”
Telefone desligado, o cabernet a tornar a conversa mais agradável, ao longe viam-se já algumas nuvens escuras, mas... ainda longe.
Não tardou cinco minutos, e o tal vento de São Paulo, uma daquelas famosas frentes frias que chega sem avisar, nos apanha descontraídos! O barco sacode, um dos copos do Baron se entorna, recolhe pratos, talheres e panela, o resto da garrafa na geladeira, corre a rizar velas (o comandante, é claro, que o “tio” já está desqualificado para tais tarefas), acode ao leme que o vento mudou, e o tal paraíso virou uma pequena luta!
Não durou muito. Talvez uns quarenta ou sessenta minutos! O mar já formava carneirinhos, tentava invadir o cockpit, mas sem êxito, que ele rapidamente foi fechado, o vento zunia no mastro e nos brandais e, vindo diretamente do clube obrigava fazer bordos extra!
O ventou depressa se cansou, mas a chuva não. Já perto do clube onde o “Mussulo II” descansa, novamente é o motor que os leva. Acabam de se arrumar as “ferramentas” do tranqüilo almoço e constata-se que o que sobrara do Baron agonizava entornado no fundo da geladeira! Que desperdício!...
Foi um ótimo fim de semana. Calmaria, vento fresco, algumas rajadas mais fortes para mostrar quem manda no mar, e o “tio” já a saber que a nova aventura de cruzar o oceano, estava fora dos seus limites físicos!
Talvez tenha sido uma despedida, mas ficava o desconforto de não poder levar outro “Abraço à Vela” desta vez para os tantos amigos em Portugal!
Pensava ainda se não teria sido também o seu “egozinho” a desejar ganhar alguma “fama”, alguns aplausos pelo feito!?! Talvez.
Mas Camões trouxe-lhe um recado:


Queria ir p’ró mar o nosso amigo
P’ra ir encontrar outros, lá tão longe.
Sair a lembrar o gosto antigo
Mas mantendo o seu pensar de monge
Em busca do incerto e incógnito perigo,
Não procura nem a fama nem lisonja.

Que fama arranjarei? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias?
Ó glória de ganhar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos fama!

Mantém a Vela... foi-se o Abraço!

3 de maio de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Do Brasil por Francisco G. de Amorim


 
Nec Plus Ultra



Em torno da acirrada discussão dos direitos dos homossexuais, um dos “excelentes” ministros do SUPREMO Tribunal de Justiça, pronuncia, em favor dos ditos, uma frase que faria corar de vergonha, talvez por insuficiência de verbo, Cícero, Virgílio e até o Jurisconsulto Gaio:

“O órgão sexual é um plus, um bônus, um regalo da natureza. Não é um ônus, um peso, um estorvo, menos ainda uma reprimenda dos deuses”!

Que maravilha de jurisprudência! Jamais poderia ter pensado, em já tantos anos de vida, que o meu órgão sexual fosse um plus! Um bônus! Uma regalia da natureza! Quem diria!
Isso me teria levado a pensar que eu seria um escolhido dos deuses, o que me obrigaria a ter um harém para que a espécie humana não desaparecesse!
Felizmente os deuses não me deram qualquer plus, nem bônus, nem um regalo, mas sim um corpo normal, igual ao de outros bilhões, trilhões de mamíferos, e uma infinidade e insetos que, constato agora, com imensurável espanto, foram feitos macho e fêmea para reprodução da espécie. Percorrida a Bíblia, sobretudo o Gênesis, não se encontra referência alguma a esse plus que sua excelência, jurisprudentemente, agora, nos vem informar!
Coisa estranha.
Se Deus nos fez todos iguais porque haveria eu agora de ter um plus?
Esta questão leva-me a pensar em Hitler! Ele é que mandou que se elegessem aqueles, e aquelas, com melhor plus para se reproduzirem, dando origem a uma “raça” superior!
Diz ainda o ministro “que cada um tem o direito de explorar os potenciais da própria sexualidade, pouco importando que o parceiro seja do mesmo sexo ou não”!
O que parece é haver um grave problema de semântica: se TODOS os seres vêm ao mundo com sexos diferenciados, esses “extras” que sexa diz terem, para uns tantos, um “plus”, fica-se com a impressão que estes, não se reproduzindo, não deveriam ter plus algum, e assim a natureza seria mais justa.
O que a natureza nos mostra é que o boi “explora a sua sexualidade” com a vaca, e esta com aquele, o macaco com a macaca, o passarinho com a passarinha, os gatos com as gatas, etc., e assim fica difícil compreender porque nos humanos os sexos não sejam unicamente para as finalidades óbvias!
E ainda se estranha que sendo TODOS iguais, porque estabelecer em lei que cada um pode usar o seu plus para outros fins que não sejam os naturais? Sabe-se que isto existe desde o começo dos tempos, mas praticamente só com os humanos é que é necessário criar uma lei para contrariar a natureza.
Vê-se bem que Deus, quando criou o homem, no último dia da Criação, estava já cansado! Esqueceu-se de selecionar a quem devia dar os plus!
Hic ipsum est!

N.- Escrito em azul "suave" para condizer com...

5 de maio de 2011

terça-feira, 3 de maio de 2011



Historia da residência dos Padres da
Companhia de Jesu em Angola,
e cousas tocantes ao Reino, e conquista



CAPITULO 2.° DO PRIMEIRO REY,

E PRIMEIRA VINDA DE

PAULO DYAS DE NAVAIS



O numero dos Sobas que se sabe alem de muitos outros de que não ha noticia, he de sete centos e trinta e seis. São como régulos, sõres avsolutos de suas terras. Tinhão repartido o Reyno, e andavão continuamente em guerra entre si. Até que avera obra de oitenta anos se levantou entre elles hum de maiores espíritos, o qual começou de sogeitar alguns vezinhos e pouco a pouco se apoderou das províncias principaes, e tomou nome de Rey. Chamouse Angola Inene que quer dizer o grande Angola.
Este primeiro Rey teve noticia do poder del Rey de Portugal por alguns naturaes de Congo que ia então erão christãos. Quis ter comercio com elle, mandou seus embaixadores ao Reyno, pedio Padres para o instruirem nas cousas de nossa santa fee. Chegarão ao Reyno em tempo que governavão a Rainha Dona Caterina, e o Cardeal Dom Anrique. Os quaes mandarão por embaixador a Paulo Dyas de Navaes a el Rey de Angola. Partio de Lisboa a vinta dous de Setembro de 1559 (1). Chegou a barra do rio Coanza aos três de Maio de 1560. E ali esteve até 2 de Novembro da mesma era. Aonde faleceu o padre Augustinho de Lacerda com alguns purtugueses.
Com o embaixador Paulo Dyas vierão quatro religiosos da Compa¬nhia de Jesu mandados pello Padre Provincial Miguel de Torres, e pedidos pela Raynha, e Cardeal, a saber o Padre Francisco de Gouvea por superior, o Padre Agostinho de Lacerda, e dous irmãos (2). Quando chegarão hera ia morto o Angola Inene e reinava seu filho por nome Dambe Angola (3). Feslhe a saber Paulo Dyas de sua vinda, e prezente que lhe trazia del Rey de Portugal. O Angola mandouo ir a sua cidade de Cabaça. Aonde residem os Reys na província de Dongo, e depois de o ter la, e ao Padre e mais por¬tugueses com o prezente e fazenda de todos, reteveos como cativos seis annos, principalmente ao embaixador, e ao Padre (4). Depois do qual tempo, vendose em necessidade de fato, deu licença que hum delles tornasse a Portugal a buscar mais fazenda. Veose o embaixador, e o Padre Francisco de Gouvea ficou em reféns. Sua ocupação hera dizer missa aos portugueses, confessalos, bautizar pessoas que estavão em artigo de morte, defendelos de perigos, asi da vida como da fazenda, e ter mão no Rey não fizesse algumas injustiças. Porque como o padre o criara tínhalhe o Rey algum respeito ,e tratavao muito bem. Nesta cidade achou o padre manifestos sinaes de terem vindo a este Reyno pessoas eclesiásticas, como forão missaes, sinco pedras dará, e alguns ornamentos de feitio muito antigo. Dizem os omens velhos que ouve ia aqui frades de S. Bento ou de S. Bernardo.

(1) Partiram de Lisboa em Dezembro, como aliás se nota à margem do manuscrito com outra letra. Vejam-se no Boletim da Sociedade de Geografia, IV, páginas 300-302, alguns capítulos da instrução dada pelo rei de Portugal a Paulo Dias, A instrução tem a data de 20 de Dezembro de 1559.
(2) Os dois irmãos chamavam-se António Mendes e Manuel Pinto. O Padre Francisco de Gouveia era natural de Castelo de Penalva e entrou na Companhia de Jesus a 15 de Novembro de 1554. O Padre Agostinho de Lacerda era castelhano.
(3) Dambe Angola ou Ngola Kiluangi.
(4) Não é exacto que todos ficassem seis anos como cativos. ]á em 1562 contava o irmão António Mendes que o rei deixara sair a todos de Angola, menos o embaixador, o Padre Gouveia e ele próprio António Mendes. Só esses três permaneceram «em terra reteudos como captivos». Mas António Mendes, pouco depois teve modo de se livrar do cativeiro, e em 1565 deu o rei permissão a Paulo Dias, que se tornasse a Portugal. O Padre Lacerda falecera na barra do Cuanza em 1560, antes de se porem a caminho para o N'Dongo, côrte do rei negro, e António Pinto foi morrer de doença na ilha de S. Tomé. Cf. Boletim citado, páginas 302-303; Franco, Imagem... Évora, página 460 e seguintes;

F. Rodrigues, Historia da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal, Tomo I, vol. I, pag 557.


CAPITULO 3.°. DA 2ª- VINDA DE

PAULO DYAS A ESTE REINO,

DO FRUTO ESPIRITUAL

QUE SE FEZ NAS ALMAS E MORTE DO

 PADRE FRANCISCO DE GOUVEA

Veo a segunda vês Paulo Dyas de Navaes com o titulo de governador de Angola, com doações, e provisões mui importantes dei Rey Dom Sebastião que ia governava o seu Reyno de Portugal (1). Partio de Lisboa a 23 de oitubro de 1574. A frota hera de dous Galeões, duas caravelas, dous pataxos, e huma galeota. Troixe sete centos homens de guerra, toda gente muito honrrada, e luzida. Pôs na viagem três meses e meio, não ouve mortos nem doentes. Troixe mais 4 religiosos da Companhia mandados pello Padre Jorge Sarrâo a petição dei Rey a saber o Padre Garcia Simões por Superior, o Padre Baltesar Afonço, os Irmãos Cosme Gomez, e Constantino Rodrigues (2).
Com os ministérios da Companhia se fez nesta viagem muito serviço a Deus Nosso Senhor em as pregações. Missa (ainda que seca) todos os domingos, e santos, e cada dia a doutrina, faziãose amizades, atalhou-se a discórdias, e iuramentos, pêra o que pôr ordem do Governador erão penitenciados na regra os que erão nesta parte mais soberbos, muita gente se confessou por ocasião de huma tormenta que durou oito dias.
Aos onze dias de Fevereiro de 75 chegou a Armada a este porto da ilha Loanda (3) do qual dizem os mareantes ser hum dos melhores que até agora se tem achado. Porque esta da ilha para dentro não muito longe da terra emparado de todos os ventos, limpo de pedras, e de altura capaz de grandes galeões, e outros navios menores. Tem agoa que se tira de poças que se fazem no areal a que chamão Quicimas. Todos os dias se pode entrar nele pollas menhaas com o terral e a tarde sair com as virações que sempre cursão.
Nesta ilha moravão quarenta homens portugueses muito ricos que se tinhão recolhido do Reyno de Congo por causa dos Jacas ferocissimos bárbaros que se mantém de carne humana, e tinhão destruído, e comido todo aquele Reyno. Aiuntarãose no porto 14 navios a saber: 7 darmada e 7 de S. Thomé que vinhão ao resgate. Sahio o Governador em terra com toda a gente das naos muito lusida, com suas trombetas diante, e postos em prosição acompanharão com muita devoção humas relíquias das onze mil virgens que o Padre Garcia Simões levava debaixo de hum palio até a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Ao som das trombetas acudio muita gente preta que na ilha vive, e tem por oficio tirar zimbo do mar que he o dinheiro na Etiópia mais estimado (4).
Por ser entrada a Quaresma começarão os Padres de fazer seo oficio pregando aos domingos, e confessando a gente do mar, da terra e de S. Thome no que se fez muito serviço a Nosso Senhor, e particularmente em arrancar hum abuzo muito periudicial as conciencias que noutras partes reina, e por ventura não sem muita culpa daqueles, que tendo obrigação de atalhar, e estrovalo, com desimularem o deixão hir cresendo com muito perigo das almas da observância christaa, e preceitos da Santa Igreia. Custumavão comer carne as sestas e sábados do anno, e pela Quaresma, e ainda querião meter medo aos Padres que se ieiuacem não havião de chegar a Páscoa, e com iso elles andavão lastimosos, cheos de lepra, e de doenças incuráveis. Contudo os Padres apertavão com elles nas pregações, e não nos querião confessar. Emendarãose, ninguém mais comeo carne na Quaresma, e no cabo della se acharão melhor, e forão sarando de suas doenças. Muitos delles tomarão por devação confessaremse cada oito dias no que perseverarão muitos anos. Começarão os Padres aos domingos as tardes a iuntar com campainha os pretos, e ensinarlhes a doutrina com que também se fez muito fruito nas almas. E este santo exercício se continuou sempre ate agora asi nesta vila de S. Paulo como na de Maçangano, e no arrayal quando nelle andão alguns da Companhia.
Neste tempo avia ia 14 anos que o Padre Francisco de Gouvea estava como cativo do Rey de Angola, por o não deixar chegar ao porto do mar dizendo que não podia viver sem elle. Escreverão o Governador e o Padre Garcia Simões ao dito Padre lhes mandasse dizer que modo averia pêra o livrarem daquele cativeiro, respondeo que se não falasse em fazer guerra porque corria risco a sua vida e a dos portugueses, e asi não se tratou por então de a fazer. Porem nem isto foy bastante para estarem muito tempo quietos, porque o demónio que nunca dorme uzando das armas de sua malícia pêra inquietar aos bons levantou a tempestade donde senão esperava. Mandou hum Rey vezinho embaixadores ao Angola os quaes diante do Padre e portugueses lhe derão o rrecado, e hera que como amigo o man¬dava avizar senão fiase do Governador nem dos Portugueses que tinham em sua corte porque tratavão de lhe tomar o Reyno, e minas de prata. O Rey ficou espantado, e os nossos frios de tão cruel traição de hum Rey a que não tínhamos agravado. Derão suas razões, respondeo o Angola ficase o negocio para se tratar outro dia. Forão se logo os portugueses com o Padre a Igreia a rezar humas ladainhas, e pedir a Deus defendese sua ino¬cência. Aiuntou se o Padre com alguns homens de autoridade e bem entendidos na lingoa e derão taes razões em contrario, que o Rey em mostra de estar satisfeito tomou aos embaixadores, e presos os entregou aos portugueses. Vierão a esta Loanda, e daqui forão a S. Thomé aonde o Governa¬dor Diogo Salema que ali estava com alçada os mandou iustiçar (5).
Deste grande aperto, e excesivo trabalho que o Padre tomou em pacificar o Rey lhe sobrevoo huma grande doença da qual foi Deus servido levalo pêra si aos 29 dias do mês de julho de 1575, depois de viver 14 annos como cativo do Angola. Sepultarãono os portugueses na Igreia que o Padre tinha feita na Cidade de Cabaça. Foy sua morte sentida asi dos nossos como do mesmo Rey; dos nossos porque tinhão nelle amparo em seus trabalhos, e perigos da vida, e fazendas; do Rey pello muito amor, e respeito que lhe tinha por o Padre o ter criado e doutrinado de pequeno. E deste sentimento deu o Rei alguma mostra ao uso de Etiópia. Primeiramente quando o Padre estava doente lhe mandou seus cantores e tangedores que de dia, e de noute lhe andavão ao redor da casa cantando e tangendo para espantarem a morte que não chegasse ao Padre. No dia do seu enterramento mandou dar muitos bois aos portuguezes para que o chorassem. E por entender que aquela embaixada fora ocasião da morte do Padre, mandou tomar os caminhos para que nenhum homem branco nem preto viesse mais daquelle Reyno a sua corte, pois lhe matarão seu pae que o criara.

(1) O Reverendo Padre Ruela Pombo no opúsculo Paulo Dias de Novais e a Fundação de Luanda, Luanda 1926, páginas 37-51 e o senhor Coronel Alfredo de Albuquerque Felner, no livro Angola, Coimbra, 1933, páginas 407-412, publicam integralmente a carta de 6 de Setembro de 1571, em que D. Sebastião faz «doação irrevogável» do reino de Angola a Paulo Dias e seus herdeiros. A carta encontra-se na Torre do Tombo, Chancelaria de D. Sebastião (Doações), Livro 26, folhas 295 a 299.
(2) Baltazar Afonso, natural de Portel, do arcebispado de Évora, entrara na Companhia de Jesus a 30 de Novembro de 1559. Depois de 28 anos de missão em Angola morreu na vila de Luanda a 29 de Março de 1603. Franco, Ano Santo, 167. O Padre Garcia Simões apenas logrou trabalhar na missão durante pouco mais de três anos, por falecer em 12 de Maio de 1578. Alistara-se na Companhia em Coimbra a 5 de Março de 1556. Era natural de Alenquer. Franco, Ob. cit; pág 254.
(3) Garcia Simões diz em carta de 20 de Outubro de 1575 que aos 20 de Fevereiro tiveram vista do porto de Luanda. Boletim e volume citado, página 340.
(4) Sobre o zimbo, concha univalve, assim escreve o Padre Garcia Simões: «Esta Ilha de Luanda he mina do Congo, porque aqui se pesca o busio, que he dinheiro que corre em toda esta terra... O mais grosso e o mais miúdo vale pouco preço e assi o joeirão, os meãos é o que mais vale...». Boletim e volume citado, página 340. Carta citada de 20 de Outubro de 1575.
(5) Conta este facto Garcia Simões na carta de 20 de Outubro de 1575, assim como o que segue da morte do Padre Francisco de Gouveia e sentimento do Rei. Ob. cit., páginas 345-346.

Mais um apontamento sobre a tão sonhada e alardeada prata de Cambambe:
Mas no século XVIII escrevia, para desengano, o padre António Franco: «Assistiu [P. Baltazar Afonso] por vezes no exército dos portugueses, que andava na conquista das minas de Cambambe, em que a cubica tinha fingido montes de prata, mas por fim de largos anos e guerras, conquistada a terra, nada se encontrou do que se sonhava». Ano Santo, página 167. Cf. Felner, Angola, página 189-190.