Maravilhas Tropicais
Isto de viver nos trópicos tem a sua beleza.
Um verde exuberante, onde e quando chove, praias infindas, mar de temperatura
ideal, poucos tubarões, ciclones zero, terremotos zero, vulcões zero. Pássaros
magníficos que vêm ao raiar da manhã, e com segunda sessão antes do pôr do sol,
cantar perto das nossas janelas, sejam tucanos, bem-te-vis, papagaios, beija-flores,
pica-paus e outros, de mansinho várias famílias de saguis passam pelas árvores
e até pela fiação elétrica, à tarde cantam em altíssimo uníssono as cigarras
que entretanto roem as raízes das árvores, e ainda, para quem vive nas bordas
de matas ou com muita vegetação, não faltam os horrendos maruins e borrachudos,
que nos picam a toda a hora.
Tudo isto é uma espécie de quadro
romântico-pintoresco, bom para agências de viagens, para férias, para sonhar
como aquele pinguinzinho do filme de Walt Disney que morria de frio lá na
Antártica.
E o resto? Ahhh! Faz lembrar Hamlet: The rest is
silence!
E ainda não falámos dos dois maiores males que
acometeram esta Gaia: os homens e o petróleo. Vamos lá.
Entre os homens que costumam desmandar e
destruir o que a natureza levou milhares, milhões de anos a ordenar, há uns
crâneos que deveriam ser arrancados das cabeças de alguns, não para os matar,
mas para serem cientificamente analisados.
Vou contar alguns casos para que não me
julguem sanguinário, nem que uso o mesmo tipo de arma, uma falcata, que usavam
os nossos antepassados iberos que com um só golpe separavam a cabeça do corpo
dos inimigos ou lhes cortavam o braço desde o ombro. Isto, faz tempo – sec. VI
a.C. – mas faz hoje muita falta.
Comecemos por um cartão que a Prefeitura inventou para colocar dentro
dos taxis, a fim de identificar o motorista, porque há os que têm carro
próprio, e os empregados de firmas que contratam motoristas. Aos primeiros
chamam-lhes AUTORIZATÁRIOS! Beleza pura.
Os outros, os menos validos de finanças, têm também um cartão mas
chamam-lhes FUNIONATÁRIOS.
Palavras que não encontrei num único dos muitos dicionários que alegram
o meu escritório, incluindo os de Tetum-Português, nem num mini Alemão dos anos
20, nem no Latim, menos ainda no célebre Dicionário do Folclore Brasileiro de
Câmara Cascudo. Consultei até o Prontuário da Língua Portuguesa e pesquisei na
Internet à procura do suposto sufixo “tário”.
Nada. Desilusão!
Não sei se goste mais do Autorizatário ou do Funcionatário, mas a
verdade é que nós, o povo, somos todos uns OTÁRIOS deixando a Administração
pública desperdiçar tempo e dinheiro – do pouco que sobra depois do muitíssimo
que desviam – com tamanha inguinorança.
Como isto não é Português deve ser uma língua nova: Prefeiturez? Ou
estupidez?
O Padre António Vieira se aparecesse agora nesta terra, teria, no
mínimo, um AVC.
Vamos também ver um pouco do que se passa com o fornecimento de energia
elétrica, sem a qual a minha ocupação, escrever e pesquisar no computas fica de
fora. Pois bem, estamos praticamente a meio do ano 2019 e não tenho condição de
vos dizer quantas vezes esse fornecimento tem sido interrompido, mas posso
assegurar que este não-serviço é de uma regularidade impressionante. Só neste
mês vamos em quatro. O último foi há dois dias, felizmente durante a noite e
esteve fora SÓ cinco horas. Há uns três meses faltou dez vezes numa só semana,
e como o computas não trabalha com pilhas (é antigo!) e a internet não é
entregue em casa em pacotes fechados, lá fico eu a tentar não me irritar e a
minha mulher, pelo telefone, a xingar os serviços da Light Nem o nome honram..
Acaba por ser uma variante. Mas é chato, e com os frigoríficos com
bastante comida, e faltas que chegam a demorar dez e quinze horas, vamo-nos
queixar a quem? Ao Macron que está na Cidade da Luz, ou ao Papa na Cidade
Eterna, porque as anomalias, aqui, se eternizam?
E o chocolate? Com o chocolate passa-se um caso de semelhante
inteligência sublime, com a agravante que aqui já entra a roubação, e a
enganação. Há uns anos, poucos, uma tablete de chocolate tinha o peso líquido
de 200 gramas. A inflação foi comendo, o chocolate, claro, e de repente só
tinham 180 gramas. A voraz inflação continuou a mamar, passou a 135, depois
110, e agora a enfraquecida, magrinha, tablete só traz, segundo eles dizem e
está escrito na embalagem, 92 gramas, que ainda nem pesei para ver se este peso
inclui o papel.
A dona da casa fazia a mousse com duas tabletes. Hoje tem que comprar cinco
e cada uma custa mais do que custava quanto pesava os gloriosos” 200 gramas.
A Nestlé e as parceiras são ou não inteligentes? São todos uns gatunos a
enganar o babaca do consumidor que deveria, simplesmente não comprar NADA.
Apetece-me xingar as mães deles. Xingo. Mas nada ganho com isso.
Se nem no chocolate se entendem, como poderiam entender-se para votar
direito? Jamais.
Pois é. Só num país em que os eleitores preferem rir do que exigir é que
se admite que um palhaço, sim palhaço mesmo de profissão, analfabeto, tenho
sido eleito para deputado federal. Aqueles que é suposto que façam leis para
melhorar o país, o povo. E o mais triste é ver que o tal palhaço já vai,
eleito, na terceira legislatura... w continua analfabeto.
Com os medicamentos o caso é muito mais fino. Quem manda e
controla os preços é um organismo inepto, burro, ignorante e arrogante, que se
chama ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. De título está melhor
que o Venturoso Manuel I ("Pela Graça de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves,
d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e
Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.") porque não regula
coisa alguma.
Alguns exemplos. Uma embalagem de Rosuvastatina, um medicamento
que é suposto baixar o miserável colesterol. O mau.
Preço “oficial” para uma embalagem de 30 comprimidos de 10 mg,
medicamento Genérico: R$ 92,13. Nas farmácias:
- Farmácia 1 – R$ 70,07
- Farmácia 2 – R$ 50,69
- Farmácia 3 – R$ 33,75
- Farmácia 4 – R$ 17,30
- Farmácia 5 – R$ 14,88
Ora digam lá se a tal de ANVISA não faz um trabalhinho
bem bacana! O preço oficial é para “boi dormir”, tipo Diazepam, Lorenin e
outros, mas o lucro das farmácias é astronómico. Varia de até quase cinco vezes
o preço de umas para outras! Lucro semelhante ao dos bancos brasileiros, os de
maior rentabilidade mundial, com juros que chegam aos 400%.
E um outro medicamento: Preço ANVISA R$ 88,34, e as
farmácias anunciam por R$ 35,00 outras 17,00 ou 10,09, ou 5,49 mas bem pesquisado
encontra-se por R$ 2,40, isso mesmo dois reais e quarenta centavinhos!
Bacana, né?
O similar se passa com os alimentos, mesmo que as
diferenças não alcancem estes absurdos. É só entrar em dois supermercados, e
comparar os preços de mercadorias idênticas do mesmo fabricante. Chega-se
também a encontrar diferenças que vão a 50%.
Como se não alterna a Lei que obriga a todo o produto
industrializado, e não só, a ter no rótulo, em lugar destaque, que nunca se
destaca, a indicação “Não contém glúten”. Até o vinho tinto precisa avisar os
incautos sobre o glúten, que é assunto que os ignorantes da ANVISA ignoram o
que seja.
E eu, infelizmente, posso até “gabar-me” de ter
conhecido, em missões de inspeção, funcionatários superiores dessa tal
ANVISA, que nem sabiam o que andavam a fazer além de procurar modos de autuar o
fabricante.
Confiram:
Agora quando abro o computas ou até o telélé, mesmo sem eu querer
– e não quero, mas não sei o que fazer – aparecem as mais importantes notícias
do dia:
- um policial militar começou o namoro com um colega;
- uma jogadora de futebol pediu a parceira da equipa em casamento;
- uma gaja da TV tirou uma foto do bum-bum da filha de treze anos e
colocou no Facebook;
- uma cantora de gospel, ilustre doputeda federal, parece que mandou os
filhos matarem o marido, e pai, padastro, etc., que era “pastor”!;
- uma garota de 22 anos foi para casa do namorado e ele cortou-a aos
pedaços;
- o senador Izalci Lucas emprega 85 assessores... pagos pelo Senado;
- chega.
Para tentar encerrar esta desgraça, com chave de ouro, aliás de “gás”
vejamos estes números:
- Nos EUA o preço do gás é US$ 3 por metro cúbico, na Europa média de
US$ 7 e neste lindo país tropical US$ 17. Se não fosse assim como eles
conseguiriam roubar tantos trilhões e, pior, nós sobrevivermos?
Contar mais, para quê?
Admiram-se que haja tanta gente a ir embora? Para Portugal, EUA,
Espanha, qualquer lugar.
Maravilhas Tropicais acabaram quando os europeus chegaram aos trópicos.
Quaisquer trópicos, porque antes disso ninguém sabia o que lá – cá – se
passava.
Saudades da Antártica, onde pouco mais há que pinguins e focas!
25/06/2019
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