quarta-feira, 3 de julho de 2019


Maravilhas Tropicais

Isto de viver nos trópicos tem a sua beleza. Um verde exuberante, onde e quando chove, praias infindas, mar de temperatura ideal, poucos tubarões, ciclones zero, terremotos zero, vulcões zero. Pássaros magníficos que vêm ao raiar da manhã, e com segunda sessão antes do pôr do sol, cantar perto das nossas janelas, sejam tucanos, bem-te-vis, papagaios, beija-flores, pica-paus e outros, de mansinho várias famílias de saguis passam pelas árvores e até pela fiação elétrica, à tarde cantam em altíssimo uníssono as cigarras que entretanto roem as raízes das árvores, e ainda, para quem vive nas bordas de matas ou com muita vegetação, não faltam os horrendos maruins e borrachudos, que nos picam a toda a hora.
Tudo isto é uma espécie de quadro romântico-pintoresco, bom para agências de viagens, para férias, para sonhar como aquele pinguinzinho do filme de Walt Disney que morria de frio lá na Antártica.
E o resto? Ahhh! Faz lembrar Hamlet: The rest is silence!
E ainda não falámos dos dois maiores males que acometeram esta Gaia: os homens e o petróleo. Vamos lá.
Entre os homens que costumam desmandar e destruir o que a natureza levou milhares, milhões de anos a ordenar, há uns crâneos que deveriam ser arrancados das cabeças de alguns, não para os matar, mas para serem cientificamente analisados.
Vou contar alguns casos para que não me julguem sanguinário, nem que uso o mesmo tipo de arma, uma falcata, que usavam os nossos antepassados iberos que com um só golpe separavam a cabeça do corpo dos inimigos ou lhes cortavam o braço desde o ombro. Isto, faz tempo – sec. VI a.C. – mas faz hoje muita falta.

Comecemos por um cartão que a Prefeitura inventou para colocar dentro dos taxis, a fim de identificar o motorista, porque há os que têm carro próprio, e os empregados de firmas que contratam motoristas. Aos primeiros chamam-lhes AUTORIZATÁRIOS! Beleza pura.
Os outros, os menos validos de finanças, têm também um cartão mas chamam-lhes FUNIONATÁRIOS.
Palavras que não encontrei num único dos muitos dicionários que alegram o meu escritório, incluindo os de Tetum-Português, nem num mini Alemão dos anos 20, nem no Latim, menos ainda no célebre Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo. Consultei até o Prontuário da Língua Portuguesa e pesquisei na Internet à procura do suposto sufixo “tário”.
Nada. Desilusão!
Não sei se goste mais do Autorizatário ou do Funcionatário, mas a verdade é que nós, o povo, somos todos uns OTÁRIOS deixando a Administração pública desperdiçar tempo e dinheiro – do pouco que sobra depois do muitíssimo que desviam – com tamanha inguinorança.
Como isto não é Português deve ser uma língua nova: Prefeiturez? Ou estupidez?
O Padre António Vieira se aparecesse agora nesta terra, teria, no mínimo, um AVC.

Vamos também ver um pouco do que se passa com o fornecimento de energia elétrica, sem a qual a minha ocupação, escrever e pesquisar no computas fica de fora. Pois bem, estamos praticamente a meio do ano 2019 e não tenho condição de vos dizer quantas vezes esse fornecimento tem sido interrompido, mas posso assegurar que este não-serviço é de uma regularidade impressionante. Só neste mês vamos em quatro. O último foi há dois dias, felizmente durante a noite e esteve fora SÓ cinco horas. Há uns três meses faltou dez vezes numa só semana, e como o computas não trabalha com pilhas (é antigo!) e a internet não é entregue em casa em pacotes fechados, lá fico eu a tentar não me irritar e a minha mulher, pelo telefone, a xingar os serviços da Light Nem o nome honram..
Acaba por ser uma variante. Mas é chato, e com os frigoríficos com bastante comida, e faltas que chegam a demorar dez e quinze horas, vamo-nos queixar a quem? Ao Macron que está na Cidade da Luz, ou ao Papa na Cidade Eterna, porque as anomalias, aqui, se eternizam?

E o chocolate? Com o chocolate passa-se um caso de semelhante inteligência sublime, com a agravante que aqui já entra a roubação, e a enganação. Há uns anos, poucos, uma tablete de chocolate tinha o peso líquido de 200 gramas. A inflação foi comendo, o chocolate, claro, e de repente só tinham 180 gramas. A voraz inflação continuou a mamar, passou a 135, depois 110, e agora a enfraquecida, magrinha, tablete só traz, segundo eles dizem e está escrito na embalagem, 92 gramas, que ainda nem pesei para ver se este peso inclui o papel.
A dona da casa fazia a mousse com duas tabletes. Hoje tem que comprar cinco e cada uma custa mais do que custava quanto pesava os gloriosos” 200 gramas.
A Nestlé e as parceiras são ou não inteligentes? São todos uns gatunos a enganar o babaca do consumidor que deveria, simplesmente não comprar NADA.
Apetece-me xingar as mães deles. Xingo. Mas nada ganho com isso.
Se nem no chocolate se entendem, como poderiam entender-se para votar direito? Jamais.

Pois é. Só num país em que os eleitores preferem rir do que exigir é que se admite que um palhaço, sim palhaço mesmo de profissão, analfabeto, tenho sido eleito para deputado federal. Aqueles que é suposto que façam leis para melhorar o país, o povo. E o mais triste é ver que o tal palhaço já vai, eleito, na terceira legislatura... w continua analfabeto.

Com os medicamentos o caso é muito mais fino. Quem manda e controla os preços é um organismo inepto, burro, ignorante e arrogante, que se chama ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. De título está melhor que o Venturoso Manuel I ("Pela Graça de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.") porque não regula coisa alguma.
Alguns exemplos. Uma embalagem de Rosuvastatina, um medicamento que é suposto baixar o miserável colesterol. O mau.
Preço “oficial” para uma embalagem de 30 comprimidos de 10 mg, medicamento Genérico: R$ 92,13. Nas farmácias:
- Farmácia 1 – R$ 70,07
- Farmácia 2 – R$ 50,69
- Farmácia 3 – R$ 33,75
- Farmácia 4 – R$ 17,30
- Farmácia 5 – R$ 14,88
Ora digam lá se a tal de ANVISA não faz um trabalhinho bem bacana! O preço oficial é para “boi dormir”, tipo Diazepam, Lorenin e outros, mas o lucro das farmácias é astronómico. Varia de até quase cinco vezes o preço de umas para outras! Lucro semelhante ao dos bancos brasileiros, os de maior rentabilidade mundial, com juros que chegam aos 400%.
E um outro medicamento: Preço ANVISA R$ 88,34, e as farmácias anunciam por R$ 35,00 outras 17,00 ou 10,09, ou 5,49 mas bem pesquisado encontra-se por R$ 2,40, isso mesmo dois reais e quarenta centavinhos! Bacana, né?
O similar se passa com os alimentos, mesmo que as diferenças não alcancem estes absurdos. É só entrar em dois supermercados, e comparar os preços de mercadorias idênticas do mesmo fabricante. Chega-se também a encontrar diferenças que vão a 50%.
Como se não alterna a Lei que obriga a todo o produto industrializado, e não só, a ter no rótulo, em lugar destaque, que nunca se destaca, a indicação “Não contém glúten”. Até o vinho tinto precisa avisar os incautos sobre o glúten, que é assunto que os ignorantes da ANVISA ignoram o que seja.
E eu, infelizmente, posso até “gabar-me” de ter conhecido, em missões de inspeção, funcionatários superiores dessa tal ANVISA, que nem sabiam o que andavam a fazer além de procurar modos de autuar o fabricante.
Confiram:

Agora quando abro o computas ou até o telélé, mesmo sem eu querer – e não quero, mas não sei o que fazer – aparecem as mais importantes notícias do dia:
- um policial militar começou o namoro com um colega;
- uma jogadora de futebol pediu a parceira da equipa em casamento;
- uma gaja da TV tirou uma foto do bum-bum da filha de treze anos e colocou no Facebook;
- uma cantora de gospel, ilustre doputeda federal, parece que mandou os filhos matarem o marido, e pai, padastro, etc., que era “pastor”!;
- uma garota de 22 anos foi para casa do namorado e ele cortou-a aos pedaços;
- o senador Izalci Lucas emprega 85 assessores... pagos pelo Senado;
- chega.

Para tentar encerrar esta desgraça, com chave de ouro, aliás de “gás” vejamos estes números:
- Nos EUA o preço do gás é US$ 3 por metro cúbico, na Europa média de US$ 7 e neste lindo país tropical US$ 17. Se não fosse assim como eles conseguiriam roubar tantos trilhões e, pior, nós sobrevivermos?
Contar mais, para quê?
Admiram-se que haja tanta gente a ir embora? Para Portugal, EUA, Espanha, qualquer lugar.
Maravilhas Tropicais acabaram quando os europeus chegaram aos trópicos. Quaisquer trópicos, porque antes disso ninguém sabia o que lá – cá – se passava.
Saudades da Antártica, onde pouco mais há que pinguins e focas!

25/06/2019

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