A Argonáutica do
ARGUS
Os Argonautas (em grego
antigo: "Ἀργοναῦται -
Argonautai"), na mitologia grega, eram os tripulantes da nau Argo que, segundo a lenda, foi até a Cólquida (atual Geórgia) em busca do Velo de
Ouro (ou Velocino de Ouro). Essa
nau terá sido construída por Argus, filho de Frixo.
Usando informações astronômicas, a
mitologia e o estudo dos equinócios, Isaac Newton calculou a data do início da expedição
como sendo o ano 939 a.C., 2645
anos antes do início do ano 1690, dunque
há 2956 anos.
A nau ARGO, segundo Lorenzo Costa (1460-1535)
A saga dos
argonautas descreve a perigosa expedição rumo a Cólquida. Conta o mito que Éson, rei da
Tessália, havia sido destronado
por Pélias, seu meio irmão. Seu filho Jasão, exilado no interior do país,
retornou ao atingir a maioridade para reclamar o trono que por direito lhe
pertencia. Pélias então, que
tencionava livrar-se do intruso, resolveu enviá-lo em busca do Velocino de
Ouro, tarefa de extremo perigo. Um arauto foi enviado por toda a Grécia a fim de juntar heróis que estivessem dispostos a
participar da difícil empreitada. Cerca de cinquenta jovens se apresentaram,
todos eles heróis de nomeada.
Em sua primeira
escala, aportaram na ilha de Lemnos, habitada somente por mulheres. É que
Afrodite, insultada por estas que lhe negavam culto, castigou-as com um cheiro
insuportável de forma que seus maridos partiam em busca das escravas da Trácia.
Movidas pelo ódio e pelo despeito, assassinaram seus esposos instalando na ilha
uma espécie de república feminina, situação que perdurou até à chegada dos
argonautas, que então lhes deram filhos.
Chegaram enfim à Cólquida, onde cabia a Jasão a tarefa mais árdua: capturar o Velo de Ouro. Medeia, filha do rei e
conhecida por suas habilidades na arte da feitiçaria, apaixonou-se perdidamente
por ele e por isso, não mediu esforços para auxiliá-lo nas árduas tarefas que o
rei impôs como condição para entregar-lhe o talismã.
Jasão tirou proveito dos feitiços
e encantamentos da feiticeira e sem esforço partiu da Cólquida levando consigo
o Velo de Ouro. Os argonautas ainda passaram por alguns percalços, mas enfim
chegaram a seu destino final onde entregaram a Pélias
o Velocino. Com uma das suas magias, Medéia deu morte a Pélias!
A viagem dos Argonautas. Quanto tempo
demorou? Ninguém sabe.
Há cerca de 3000 anos, portanto, a
famosíssima nau ARGO, saiu de Tessália, passou na ilha de Lemnos cheia de
garotas e mulheres desesperadas por homem (Imaginem
a chegada dum monte de heróis, bonitões a uma ilha só com mulheres... nem
Camões teve esse brinde!) chegou a Cólquida, recuperou o Velo de Ouro, e
voltou para casa fazendo uma volta imensa. Ao argonautas passaram por onde é
hoje a Romênia, Hungria, Eslovênia, desceram e subiram o mar Adriático, norte
da Itália, entraram na Suíça e França, desceram o mar Tirreno, passaram no
estreito de Messina e apanharam um tremendo temporal que os atirou para a
Líbia, tendo a nau ido parar dentro do deserto. Ali encontraram umas dançarinas
que lhes disseram que tinham que carregar a não à mão até ao mar, e finalmente
conseguiram chegar a casa!
Foi uma “aventuraça” e tanto, mas
como ninguém fez o diário de bordo, não se sabe quanto tempo demorou o trajeto.
A única coisa que se pode calcular, com um elevado índice de erro, é a
distância, terra e mar, que percorreram, qualquer coisa como umas 4000 milhas
marítimas, ou, para os terráqueos, uns 7500 quilômetros.
* * *
3000
anos mais tarde o “grande” ARGUS, construído em Angola, Luanda, em 1952, ali
morreu de morte miserável, abandonado ao tempo e às cracas menos de um quarto
de século depois!
E
tanto prazer deu aos seus primeiros e segundo proprietários. Era um barco
lindo!
Mas
salvou-se a sua memória, através duma maquete, meticulosa e magnificamente
construída pelo marceneiro do navio “Vera Cruz”, e entregue ao seu orgulhoso
proprietário de então, em Luanda, 1969.
Começa
aí o “périplo” não do ARGUS autêntico, mas da sua maquete, sempre guardada e
exposta em casa com um misto de saudade e tristeza por não poder navegar.
Sai
de Luanda para Lourenço Marques em 1971, quando deixou o “autêntico”, vendido,
em Luanda. Regressa a Luanda em 1974, no meio da revolução/confusão, e é
embarcada para o Brasil em 1975, dentro de um contentor, cheia de imbambas, e,
aparentemente, fixa-se em São Paulo.
Em
1992 vai até Portugal, regressando ao Rio de Janeiro em 1995.
O
tempo, as viagens, tinham-lhe feito alguns estragos, até que chegou o tempo em
que foi decidido que o ARGUS tinha todo o direito de descansar na terra de
origem e, sobretudo no Club onde primeiro esteve inscrito com o número 29, o
Club Naval de Luanda.
Não
podia regressar como um filho pródigo, um mendigo.
Sujeitou-se,
complacente e alegre, a um restauro, mais ou menos (!) minucioso, para poder
enfrentar a última viagem da sua vida.
Restaurou-se:
velas novas, casco calafetado, alguns moitões “novos”, pintura “anti-craca”
(?), pintura e verniz geral, e ei-lo pronto para o seu último destino.
Bem
embalado, encaixotado com muito cuidado e carinho... ali vai ele!
Saiu
de casa, com lenços brancos a acenarem já de saudades, pelas 14H00 do dia 15 de
agosto de 2016, data que foi (ainda é?) das festas da cidade de São Paulo da Assunção
de Luanda, dia da Padroeira daquela linda cidade, quando ele participava das
regatas comemorativas.
Seguiu
no dia 16 para São Paulo.
Dia
18 é encaminhado para o aeroporto de Guarulhos e segue, via aérea para Paris.
A
19, sai de Paris, aeroporto Charles De Gaulle, para Liege, na Bélgica.
A
20, entra noutro avião e vai para Frankfurt na Alemanha, de onde mais uma vez sai
noutro voo para... Pudong, Shangai, na China!!! Não era bem naquele rumo que
deveria ter ido. O GPS da transportadora devia estar avariado!
A
22 a alfândega Pudongona, recebe o caixote.
A
4 de Setembro a China não larga o barco da mão! Talvez à espera que mais uma
vez este belo “navio” português lhe livrasse os mares de Cantão dos piratas!
A
11, finalmente a China autoriza que o cansado viajante siga para o Brasil. Não
para Angola.
A
18, mercê da intervenção de Matsu (妈祖) – a deusa chinesa do Oceano, recebe autorização para embarcar para
Angola, onde, depois de passar pelo Cabo da Agulhas, finalmente chega a Luanda em
9 de Novembro!
A
vermelho as “navegações” Luanda-Brasil-Portugal-Brasil”
A
azul “A Última Viagem do “ARGUS”
Depois
duma odisseia de 86 dias, o ARGUS está a casa!
A
nau ARGO e os Argonautas devem ter percorrido umas 4000 milhas náuticas.
O
ARGUS, depois de um quarto de século navegando, lindo, lindão, pela costa de
Angola, percorreu 20.000 milhas náuticas para chegar a casa! Quase uma volta ao
mundo.
O “Bom Filho à
casa torna”. Ei-lo, gozando a merecida “aposentadoria” em casa, no seu Club:
12/02/2017