Reencarnação
Filosofando
É
difícil acreditar que o Espírito que baixa nos humanos (nem em todos...) o faça
só para desaparecer com os restos, a carcaça, quando estes morrem.
Do
mesmo modo parece pouco verosímil que o Espírito baixe nos humanos para com
cada um deles ficar apenas um átimo de tempo em relação ao tempo eterno.
Há
muito que corre na Tv, como ajuda à conscientização sobre o aquecimento global,
o desprezo pelo ambiente, o constante despejar de lixo e químicos nos rios e
mares, no dizimar das florestas, e outras barbáries, uma frase:
“A
Natureza não precisa dos homens. Os homens é que precisam da Natureza.”
Se
considerarmos que a Natureza é obra de Deus ou, porque não, Ele próprio,
podemos usar a mesma expressão trocando a palavra Natureza pela palavra Deus.
O
triste de tudo isto é vermos que o homem se julga superior à Natureza porque
com o maior à vontade a vai destruindo, consciente, ganancioso, alguns se
enchendo de dinheiro sujo, conspurcado, para no fim terminar comido pelas
lagartas.
Uma seda chinesa, roubada do palácio do imperador da
China durante a segunda Guerra do Ópio (1856-1860), representa um tubarão que
devora um crocodilo que devora a serpente que devora a águia que devora a
andorinha que devora a lagarta.
Toda a natureza se devora, raro no entanto entre
indivíduos da mesma espécie, exceto entre aqueles a quem foi concedido o
Espírito!
Todas
as religiões acreditam numa outra vida, somente porque lhes custa a compreender
que os homens tenham recebido um Espírito para se demorar tão pouco tempo nos
seus corpos.
Os
cristãos acreditam na ressureição dos mortos, e que vão encontrar os seres
queridos que partiram primeiro. Naturalmente não vão ressuscitar com os mesmos
corpos que tiveram um dia, nem encontrar alguém! Os muçulmanos acham que no céu
deles, tipo reserva especial cinco estrelas, vão-se deleitar com um monte de
virgens, e que por lá ficarão eternamente... até se enjoarem uns dos outros!
Então
o que significará a “Ressurreição” para os cristãos? Qual a compensação depois
de morrer, deixando de lado a velha fórmula de “inferno, purgatório, limbo para
os recém-nascidos e paraíso”?
O
mesmo que para os muçulmanos, em que os “mártires” vão para SPAs cinco estrelas
e os outros ficarão a rastejar-se andrajosos e esfaimados comendo os restos que
caem das mesas dos Elíseos?
Sem
ser espírita, nem nunca ter presenciado uma sessão de espiritismo, e ao fim de
muitos anos a pensar no que será a vida post mortem, a resposta mais lógica que
encontro é na reencarnação.
Cristão,
a ressurreição, nada mais é do que a continuidade da presença do espírito
nalgum corpo até que tendo atingido a perfeição, esse Espírito acabe se
incorporando à “Legião dos Espíritos Eternos” na Paz total, que esta mesma não
se consegue compreender o que seja.
O
Buda, que anos passados da sua morte houve quem tenha querido deificar para que
criando mestres-sacerdotes budistas estabelecer assim uma hierarquia, afirmava
que a sua eterna busca, enquanto na terra, era compreender, encontrar, o que
era a Verdade, e lamentava-se que ia morrer sem a ter encontrado e
compreendido.
Estes
mistérios que não foram, nem são, revelados aos homens, têm pelo menos a
vantagem de poder proporcionar àqueles que gostam de pensar, e olhar para
dentro de si próprios, a meditação que os leve a distinguir o Eu-Espírito do
Eu-Ego, carne que não tarda a apodrecer.
O
Além e o Aquém, formam uma unidade indivisível, enquanto o indivíduo permanece
como ser vivente na Terra. Por muito que ele queira separar, para destruir tudo
que se encontre ao seu redor, quer seja roubando, matando, insultando,
desmoralizando a pedra base da sociedade, a família, o Espírito que lhe foi
emprestado, sai maculado. E só se limpa se se tornar a incorporar noutro
indivíduo.
Os
hinduístas consideram que, sendo todos os seres viventes obra da Criação, e
são, devem ter os mesmos privilégios dos humanos, e desta forma os respeitam, e
assim mantém um equilíbrio entre o Eu e o Ego. Aí está uma forma de respeitar a
Natureza... enquanto o dinheiro não lhes acenar com riqueza ou prestígio ou
mais comodidades. Nesse momento, na generalidade, o equilíbrio desaparece.
A
dificuldade em compreender, se possível, um pouco mais sobre o Além, está na permanente
onda de “verdades” jogadas para cima dos homens por “mestres” de todas as
religiões. E, como Buda, ninguém sabe o que é a Verdade.
Santo
Agostinho, e não se atreveu a conhecer a Verdade, mas deixou dito: “A Verdade está
em nós mesmos, e o pecado também!”
Menos
teologal, Shakespeare, põe na boca de Júlio César: “A culpa, caro Brutus, não
está nas estrelas, se somos seres inferiores, está dentro de nós mesmos.”
E
o homem de bem, que procura alcançar a paz, ainda neste mundo, sofre
terrivelmente uma permanente luta entre o Bem e Mal. Não adianta isolar-se, refugiar-se
num mosteiro ou no alto duma montanha numa miserável ermida, e fazer penitência
todo o tempo. Esse isolamento acaba sendo uma demonstração de egoísmo, à
procura de se salvar somente a si. E os outros, todos, que precisam de ajuda,
que têm que viver o combate, todo o dia, a toda a hora, podendo, por exemplo, dizer
como Sócrates ao passar nas ruas dos comerciantes, “quanta coisa aqui de que
não preciso”, sabendo que o mal sempre vem de fora.
“É
no dar que se recebe.” Não se trata do dar e receber mercadorias ou dinheiro,
limpo ou sujo. Fundamentalmente dar Amor. Dar-se. Curioso como os políticos que,
em teoria, devia ser isso que era sua obrigação, dar-se, trabalhar pelo bem dos
povos, a partir do momento que viram Suas Insolências, esquecem-se completamente
do Outro, e só se lembram de aumentar o seu pecúlio!
Esses,
segundo os hindus, devem reencarnar em algo execrável, além de, com certeza, na
hora da morte ficarem apavorados por saberem que no Além não vão para o salão
nobre!
Em
chegando a hora, temem por saberem que enquanto neste mundo pouco ou nada
deram, ou muito roubaram, e como é dando que se recebe, o máximo que vão
receber é a “conta a pagar”.
A
vida na Terra nada representa em termos de Tempo, mas o suficiente para cada
mostrar o quanto se interessou pelo Outro, quanto Amou.
Vai
ser o “Poverello” que lhe irá perguntar:
-
Onde viste ódio, levaste amor?
-
Quando te ofenderam, perdoaste?
-
Onde viste discórdia, procuraste a união?
-
Quando encontraste a dúvida, animaste com a fé?
-
Onde estavam os erros, mostraste a verdade?
-
Aos desesperados, deste-lhes alguma esperança?
-
Aos abandonados, velhos, tristes deste alguma alegria?
-
E àqueles que viviam nas trevas, mostraste o caminho da luz?
-
Procuraste ser mais consolado do que consolar os outros?
-
Esforçaste-te para melhor compreender os outros do que te fazeres compreendido?
Por
fim ouvirás: “Pois é, se não te deste, nada tens para receber, se não
perdoaste, como queres que te perdoem agora? Não morreste para o teu Ego, como
queres ganhar a vida eterna?”
E
antes da tua alma abandonar o corpo, que vira pó, verás ou o sorriso do Santo
ou duas lágrimas que descerão pela cara.
02/11/2015
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