sexta-feira, 17 de julho de 2015




Pétain e Coulibaly


Em França, dois nomes são hoje condenados ao ostracismo e, pior ainda ao ódio e repulsa da maioria dos franceses.
O primeiro, do grande Marechal, que eu por mais de uma vez defendi em conversas com amigos que foram membros ativos da Resistance, e o fuzilariam outra vez se pudessem, foi um grande herói da França, e o ÚNICO, apesar dos seus 84 anos a opor-se à guerra com a Alemanha que ele sabia ser a condenação a uma derrota total. Em 1939 a França, e o seu glamour, estava totalmente despreparada para enfrentar uma guerra, e alguém tinha que procurar atenuar, dentro do possível, a fúria nazista. Todos deram o fora e o velho Marechal assumiu a pseudo presidência do país, sabendo, com toda a certeza, que iria sair vexado, infamado, aos olhos do povo. Até odiado.
O “grande herói” De Gaule, inteligente também, ao primeiro contato com os invasores logo viu que qualquer resistência em termos de enfrentamento direto seria um desastre. O que fez? Rapidamente deu o fora, fugiu, e foi para Londres berrar aos microfones para que o povo, os civis, lutassem contra o invasor. Ele estaria lá longe, bem instaladão.
Pétain fez o que faria qualquer pai de família que visse a sua casa invadida por bandidos a quererem roubar e matar toda gente. Ofereceu-se como “medianeiro”. Refém. Sabia que ia ser maltratado, enxovalhado, desprezado, sacrificado, mas com a ideia de proteger a família. Ele, o maior herói de França com 84 anos, não fugiu. Assumiu um cargo que nem o diabo aceitaria.
Moderou a ocupação alemã? Certamente ou talvez não ou quase nada, mas... em vez de o condenar, considero que a sua atitude foi de herói. A maioria trata-o com traidor.
É evidente que à sombra do seu nome se cometeram inúmeras atrocidades. Mas ele não mandava nada; era pouco mais do que um joguete na mão dos nazis, que tanta vez procurou enganar.
No fim da guerra, foi julgado e condenado à morte, comutada a pena em prisão perpétua que cumpriu na Ilha de Yeu, onde morreu com 95 anos.
Se ele não tivesse aceite o cargo, teria sido melhor ou pior para a França? Que responda quem souber. Quem souber; e não quem queira simplesmente palpitar.

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Coulibaly, outro nome amaldiçoado, desta vez por razões bem diferentes.
Um louco, Amedy, nascido em Paris de pais malineses, envenenado pelo islão radical, cometeu aquela série de assassinatos em Paris, começando por uma policial e depois mais quatro judeus no assalto do supermercado kocher. Morto no tiroteio com a polícia, deveria estar a pensar que iria encontrar-se com as prometidas virgens no “céu” islâmico!
Deixou um nome amaldiçoado.
Mas há muito mais Coulibalys que ficaram assim com o nome envenenado, sem nada terem a ver com isto. Um deles, Souleymane, da Costa do Marfim é jogador de futebol do Tottenham Hotspur Football Club, de Londres.
Outro futebolista, Adamo, também de pais marfinenses, joga no Racing Club de Lens, de Pas-de-Calais no Norte de França.
Um outro, Ousmane, de origem malinesa, futebolista também, joga na Superliga Grega no Palatanias F.C.
Coulibaly parece ser um nome relativamente corrente em diversas regiões de África.
Entre 1906 a 1922, um principe senegalês, de alta estatura, sereno e valente, foi ordenança do General francês Charles Mangin, a quem assistiu dia e noite com devoção e ostentação e que o general tanto apreciava.
Esteve sempre ao seu lado nas inúmeras guerras em que o General andou – na guerra dos Boxers na China, no Sudão, campanha de Marrocos, 1ª Grande Guerra em Verdun e Marne, e por fim na ocupação de Mayence (Mainz) na Alemanha, protegendo o seu comandante e cuidando do seu bem-estar.
Charles Mangin deixou escrito elogiando este desconhecido herói que tanto deu à França. Chamava-se Ali Baba Cloulibaly. Depois foi esquecido!
Mas pronunciar, hoje o seu nome...
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Quantos heróis a história regista que foram assassinados por “traição”? Todos os que secundavam Stalin, os principais obreiros da União Soviética, desde Lenin a Trotsky, passando por Nikolai Bukharin, Lev Kamenev, Alexei Rykov, Joseph Stalin, Mikhail Tomsky, Grigory Zinoviev, Sergei Kirov, Mikhail Tukhachevsky, Nikolai Yezhov foram expurgados... a tiro, além de mais quinze generais de exército e milhões de outros mandados para a Sibéria ou simplesmente desaparecidos. Eram “traidores”.
Hitler, com ameaças à família obrigou o grande Marechal Rommel a matar-se.
Até o pobre José Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes, sem ter traído coisa alguma foi enforcado, degolado, esquartejado. Bode expiatório.
Como Ganga Zumba, que o pressuposto Zumbi envenenou à traição e matou, sendo este quem, realmente, traiu os quilombolas.
A História é coisa complicada. Um indivíduo é condenado por traição e mais tarde reabilitado vira herói, como o contrário continua a ser possível.
A lei dos homens, não é lei, é conveniência a favor dos mais poderosos.


01/07/2015

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