Os (países) poderosos
e os Outros
Num
dos últimos textos lembrei que após a partilha de África os alemães foram “contemplados”
com vários territórios que colonizaram com aquele respeito pelo Outro que foi
depois o toque de excelência do período nazi.
No Sudoeste
Africano, hoje Namíbia encontraram vários povos, alguns deles com os respetivos
chefes alfabetizados, e elevado nível de instrução: os hereros, povo banto,
pastoril, ali chegaram atrás do gado talvez no século XVI, e os nama ou namaquas,
que os colonos começaram por chamar de hotentotes, vindos do sudeste da África
atrás também do seu gado.
Além
destes os San ou bosquímanos, caçadores recoletores, que viviam em pequenos
grupos isolados.
Logo
de entrada os alemães decidiram que aquela terra teria que ser deles, e
começaram com a vigarice duns “contratos” onde os nativos “cediam” a terra por
um valor abaixo de simbólico e que passavam a fazer parte da “grande Alemanha”.
Não
tendo conseguido os seus intentos através de “contratos”, e após terem começado
a exterminar pequenos povoados, não perdoando mulheres e crianças, os nativos
revoltaram-se e deram o troco a muitos colonos alemães.
Matar
um colono alemão foi a estopim. O Kaiser não gostou e mandou um assassino, o
general Lothar von Trotha, com terrífico passado por onde andou, um exército de
15.000 homens equipados com o mais moderno que se fabricava para matar,
metralhadoras, canhões que disparavam granadas de fragmentação, e outros, com
um objetivo bem definido: Vernichtungsbefehl,
“exterminação total! ”
Os
namas e os hereros não cederam às exigências impostas – a cedência dos seus
territórios – e, em 1904, o general avançou com todo o seu poderio e foi
matando. Os que caiam, ainda vivos, eram acabados no sabre ou baioneta para
economizar munição, as crianças que choravam perdidas levavam o mesmo fim e os
que conseguiram fugir para o deserto, sob um sol e calor extenuante encontraram
os poços de água envenenada.
Dos
cerca de 80.000 hereros que compunham aquele povo não devem ter sobrevivido
mais de 15.000 e metade dos namas,
que seriam 40.000.
Entretanto
os psicóticos alemães, com a neurose da raça pura, o arianismo e o eugenismo,
não se poupavam a esforços de fazer medições anatómicas aos que eram obrigados
a consentir em tamanha vergonha e ofensa à dignidade de cada um, e a pagar aos
soldados para, durante a noite violarem as campas dos nativos mortos, a tiro ou
à fome em campos de concentração e mandarem sobretudo crâneos para serem
analisados pelos “cientistas”.
Chegaram
ao ponto de, aos mortos em combate e os terem degolado, mandar os nativos
apanharem as cabeças, cozê-las em água fervendo, limpar-lhe toda a carne e pele
e devolvê-las limpas para serem enviadas para “estudo” aos tarados na Alemanha!
Um
dos aspetos que mais interessavam a esses “cientistas” era poderem estudar as
características dos basters, os mestiços de boers e mulheres africanas que
tinham igualmente vindo da África do Sul e constituíam um grupo separado.
Os
alemães tinham imenso horror dos mestiços!
Em
1919 e 1920 um exército francês ocupou a Renânia, conforme o Tratado de
Versailles de 1919. Comandava esse exército o general francês, Charles Mangin,
que se estabeleceu em Mayence - Mainz - e incorporava um regimento de
atiradores senegaleses.
Os
alemães sentiam-se ofendidos, como mais tarde dizia Hitler que essas tropas só serviam para a “poluição e negrificação do sangue
francês”!
Mangin,
reconhecendo o isolamento dos seus homens, que estavam a habituados, mesmo na
guerra, a serem seguidos por suas mulheres, deu ordens para que os alemães
abrissem bordeis com mulheres... arianas. Imagina-se a indignação que isso
provocou, mas aconteceu.
Quando
os franceses se retiraram foi dada ordem para se esterilizarem todos os
mestiços nascidos dessas ligações afim de não “conspurcarem a raça”.
Só
em 1985, as Nações Unidas reconheceram
a tentativa da Alemanha de exterminar os povos hereros e namaquas do Sudoeste
da África como uma das primeiras tentativas de genocídio no século XX. O
governo alemão pediu desculpas pelos eventos, um século depois, em 2004.
Em
1917 o governo inglês decide fazer um inquérito sobre o massacre. Um jovem
irlandês, major, juiz, tomou sobre os seus ombros o trabalho. Deslocou-se à
Namíbia, por lá andou dois anos e escreveu um relatório a todos os títulos
horrível, que ficou conhecido pelo Blue Book.
O livro que ficou conhecido como o "Blue Book"
O
relatório foi uma bomba! Em 1926 a Alemanha “pediu” à Inglaterra que destruísse
todos os exemplares do livro. Se não o fizessem eles publicariam um outro
“White Book” com o relato, detalhado, de toda a pouca vergonha e atrocidades
cometidas pelos ingleses em África. “Gentlemen”, covardes, os ingleses baixaram
as orelhas, obedeceram e mandaram destruir TODOS os livros que estavam
espalhados pelo mundo. Todos? Esqueceram de um, que há pouco foi encontrado
numa biblioteca em Pretória, e onde se voltou a dar a conhecer o “carinho” com
que os colonizadores saxões trataram os povos colonizados.
* * *
É
bem sabido também o cuidado que os ingleses tiveram com as populações
colonizadas, e até com colonos europeus que antes deles se haviam estabelecido
em África, o mais gritante dos casos, o que fizeram com os boers. A Guerra dos
Boers é mais uma página suja na história do Reino Unido, como o são muitas das
guerras por todo o lado, sobretudo na Índia.
Internamente
também são conhecidas vergonhas sobre o modo como lidavam com o seu próprio
povo. Por um momento esqueçamos os irlandeses e os escoceses, aliás impossível
de esquecer. Vejamos como eram, e são, caritativos, os ingleses.
Durante
um largo período os serviços sociais e as igrejas inglesas, “caritativamente”
decidiram o que fazer com as crianças que nasciam de lares pobres ou de mães
solteiras. Simplesmente as retiravam à força de suas famílias e prometendo-lhes
“Oranges and Sunshine”, e ainda no século XX as deportavam para a Austrália. Lá
teriam um lar, boa, comida, bom tratamento, etc.
Esta
prática que visava reduzir os custos sociais dessas crianças no seu próprio
país, começou no século XVII com o envio de crianças para a Virgínia, e manteve-se
durante 350 anos, enviando-as para a América do Norte, África e Austrália até
1970!
Em
1987, Margaret Humphreys, depois de muito investigar, tornou público o programa
Home Children, mostrando a sua bestialidade, desumanidade. Primeiro diziam às
crianças que não tinham família, que iriam viver uma vida de maravilha, e todas
elas, todas, ao chegarem aos destinos, eram entregues a famílias, que quase sem
exceções as faziam trabalhar como escravos, mesmo com idade de 5 ou 8 anos. Quando
atingiam a idade adulta ainda lhes diziam que estas lhes deviam um monte de
dinheiro pelo “acolhimento” que lhes foi prestado.
Calcula-se
que mais de 150.000 crianças foram deportadas brutalmente.
Quem
não viu, que veja o filme “Oranges and Sunshine”.
Um
relatório de 1989 atribui as brutalidades e abusos sexuais sobres as crianças à
Igreja Católica da Austrália. Estranho! Quem manda no Reino Unido é a Igreja
Anglicana, por isso foi fácil atirar as culpas para os católicos.
E em
2009 e 2010 os PR da Austrália e da Grã-Bretanha... pediram desculpas.
Os
alemães também pediram.
Covardes,
todos.
Maledetti.
Massacres
(quase) atuais:
De indígenas nos Estados Unidos (1778-1911) - mortos: 13 milhões
De africanos nos Estados Unidos, até... agora –
mortos: quantos?
De filipinos na Guerra Filipino-Americana (1899-1913)
- mortos: 1,5 milhão
De hereros e hotentotes na Namíbia pela Alemanha
(1904): mais de 100 mil mortos
De armênios no Império Otomano (1915)
- mortos: 1,5 milhão
De assírios no
Império Otomano (1915) - mortos: 500
a 750 mil
De ucranianos na União Soviética (1932-1933)
- mortos: 2,6 a 10 milhões
De russos sob Stalin – mortos: quantos?
De judeus,
ciganos e outros na Alemanha nazista (1939-1945)
- mortos: 6 milhões
De chineses na guerra com Japão e Revolução de Mao
(1966-1969) - mortos: 16 milhões
De minorias no Camboja (1975-1979) - mortos: 2 milhões; (25% da
população à época)
De minorias em Kosovo (1997-1999) - mortos: 300 mil
De minorias no Sudão (2003-atual) - mortos: 400 mil
De igbos no Biafra na Nigéria (1967-1970) – mortos:
1 milhão de
De curdos no Iraque (1986-1989) - mortos: 100 a 150
mil
De “pessoas” no Brasil (2004-2014) - assassinados:
600 mil
Só aqui somam cerca de 50.000.000 assassinados, por
política, ganância, racismo, etc. E faltam muitos outros casos, como a Coreia
do Norte, a Guerra Civil de Angola, idem de Moçambique, Zimbabué, Etiópia,
Somália, Cirenaica, Congo, e os mortos nas duas Grandes Guerras 1914-18 (9
milhões de mortos e 30 milhões de feridos) e 1939-45 (25 milhões de soldados,
42 milhões de civis, os quase 6 milhões de judeus, um total de cerca de 60
milhões).
Tudo somado, e praticamente no século XX, foram
estupida e bestialmente mortas mais de 130 milhões de pessoas!
Homo sapiens ou homo bestia?
06/07/2015
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