Ler história, dramática, e rir
A
primeira reação de quem ler o título acima, vai ser: este sujeito ou é louco ou
masoquista. Rir da desgraça? Pior ainda quando souber que me rio quando vejo a
inteligência e astúcia do “patego de
Santa Comba”, como lhe chamava o meu sogro, meter no bolso os grandes
dirigentes mundiais.
Para
grande espanto, e encantamento meu, recebi há dias um presente magnífico de um
“amigo” que não conhecia, a não ser de nome, que muito simpático e amável, me
ofereceu o livro que acabou de ser publicado pelo Ministério dos Negócios
Estrangeiros de Portugal, uma segunda edição revista e aumentada: Guerra
Civil de Espanha – Intervenção ou
não intervenção Europeia – Uma análise, do embaixador Luis Soares de
Oliveira.
Análise
sem pretensão de tomar partido de um ou outro beligerante, mas relatando, com
base em documentos oficiais, toda a trama que envolveu a horrível guerra civil
em Espanha, o modo como se envolveram, ou camufladamente “não” se envolveram,
os diversos países europeus.
Muitíssimo bem escrito e minuciosamente detalhado e
informado, a sua leitura, para quem conheceu a habilidade de Salazar (é bom ler
Kennedy e Salazar - o Leão e a Raposa,
de José Freire Antunes, onde é evidente a habilidade do tão querido, odiado e
mal tratado dirigente português, em lidar, baseado na sua diminuta dimensão
geopolítica com o “rei” do mundo na ocasião, o presidente dos EUA), tem passagens
que são uma delícia.
Nos
anos trinta, quando a guerra estava para se declarar em Espanha, ou já em
andamento, as potências europeias eram a Grã-Bretanha e a França, crescia a
força da Alemanha e da Rússia, a Itália também queria impor-se, e Portugal
permanecia aquele pequeno retângulo “à
beira mar plantado”, mas sabendo-se ameaçado pela União das Repúblicas
Ibéricas Soviéticas, que incluía nos seus planos a sovietização da Espanha e, a
bem ou à força, de Portugal.
É
evidente que Portugal estava a par de toda a trama, e o que ninguém queria era
a mentira soviética implantar-se no país, mentira essa propalada pelos jovens
aliciados pelo Comintern que
acreditavam que na União Soviética não existiam patrões, que os operários
viviam na abundância, o que arrastava os idealistas que pensam, alguns ainda
hoje, que o comunismo e o anarquismo são os “Elíseos terrenos”!
Os
poderosos ingleses faziam da política externa a alavanca para se manterem no
poder interna e eternamente. A França dividida entre comunistas, anarquistas,
socialistas e liberais, metia os pés pelas mãos e não sabia se devia ajudar
abertamente os nacionalistas espanhóis ou entregar a batata quente nas mãos dos
ingleses. Queria vender-lhes oficialmente armas, sobretudo aviões obsoletos, e
passá-los de contrabando através das fronteiras norte e sul dos Pirenéus.
Este
livro tem que ser lido por quem gosta de história. A abrangência ali tratada,
as intrigas, as falsidades, os congressos e comités, tudo feito para nada
fazer, a nossa tão querida e velha aliada a ver se nos prejudicava, e o Salazar
a meter os “caras” todos no bolso: desde os frios e arrogantes britânicos, aos
franceses, italianos, russos, nem que seja só para ver essas manobras dum homem
de raras qualidades, o livro já merece ser lido.
Mas
toda a sua leitura faz-nos compreender a razão porque essa horrenda guerra
civil durou mais de três anos e fez meio milhão de vítimas, deixando o país
arrasado, roubado e, até hoje, dividido.
Obrigado
embaixador Luis soares de Oliveira, primeiro por ter escrito o livro, e
principalmente... por mo ter oferecido.
Uma
bela obra. Voltarei a falar nela.
22/08/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário