segunda-feira, 12 de maio de 2014



Histórias da África
por onde os portugueses andaram
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Como muito se fala nisso, e os cientistas aprovam, há um consenso sobre a origem dos Homo Sapiens: África. O avestruz também é originário de África que, diz a lenda, porque parece não ser verdade, o avestruz quando sente perigo enfia a cabeça num buraco. O que ele faz é baixar o pescoço até ao chão para passar mais desapercebido.
Com os chamados homo sapiens cobardus*, aqueles que renegam ou insultam a história, passa-se algo semelhante: com medo de verdades enfiam a cabeça num buraco. Pena que o buraco não se feche de vez mantendo-os ad aeternum enterrados na escuridão e covardia.
Portugal tem feito sumir uma quantidade de feriados e dado enfâse político a outros, sobretudo o 5 de Outubro e o 25 de Abril, ambos impostos pela força. O primeiro levou dezoito anos a destruir o pouco que já vinha mal baratado da monarquia, e outro ao fim de 40 anos continua a fazer grande festa, sobretudo dos vermelhuscos e a enaltecer o empobrecimento constante, o desbarato, o conluio e a corrupção.
O 10 de Junho, chamado da Comunidade Lusíada... vai minguando com o desentendimento gerado pelo des-acordo ortográfico, e não só. O povo português ainda não entendeu qualquer processo político e por isso vota mal, quando vota, e depois fica pacificamente a falar mal dos que eles mesmos lá puseram, enquanto toma uma bica no café da esquina com os compadres.
Houve época em que “se estendiam ramos à mocidade que passava”, orgulhosa de pertencer a uma nação que tinha um passado de glória, de honra e de ética, que começou a sumir a partir do século XVII, até chegar a ser uma espécie de massa amorfa.
E como Portugal tem do que se orgulhar...! Não precisa dos “milagres” de Ourique nem da batalha de Aljubarrota, mas que lhe contem, sem exageros nem pieguices e, muito menos sem escamotear feitos dignos duma raça valente, algumas passagens, entre as quais as que os pseudo maoistas e marxistas quiseram denegrir no pós “cravos”, como foi o caso de insultar a memória, gloriosa, de Afonso de Albuquerque.
O tempo colonial ainda está presente na memória de muitos que, embrutecidos pelo complexo de vira-latas, teimam em insistir nos “erros” dos portugueses. É evidente que fizeram muitos, mas levante a primeira pedra quem passou pela vida sem os cometer.
Os pobres de espírito que em África ainda insistem nos 500 anos de colonização, não têm a menor ideia do que foi o tempo que os, pouquissimos, pouquissimos, portugueses por lá andaram.
Não foram eles que inventaram a escravatura, nem os maiores negreiros dos últimos séculos, mas foram, de certeza, os que melhor se entenderam com as populações nativas, tanto em África, como no Brasil e no Oriente. Quem levou os primeiros africanos para a Europa e os mandou educar nos melhores colégios? Porque existiu Macau, que nunca foi uma colônia? Como foi foi possível que um homem só, António Fernandes, em 1500 e pouco, tivesse entrado sozinho pelo interior da costa leste de África, atingido o Reino do Monomotapa e ao fim de pouco tempo ter mais de 3.000 escravos que se lhe foram oferecer e trabalhar sob seu comando?
Há muitas histórias destas que os meninós que “reinam” nos des-governos de Portugal e/ou nas escolas e faculdades se “esquecem” de mostrar aos jovens. Mas não esquecem de dizer que Salazar foi um isto e mais aquilo, que Afonso Costa (alguém sabe quem foi?) quase foi beatificado pelos bolcheviques, que foi uma pena Humberto Delgado, o louco, não ter sido eleito, e que “Grândola, Terra Morena” é a melhor e mais profunda música do país.
Mas... e os que “por obras valerosas deviam ser da morte libertados”?
Vamos para África.
Alguém sabe o que um grupo de austríacos, chefiados por um vigarista, Guilherme Bolts, andou a fazer em Lourenço Marques no último quartel do século XVIII? E como de lá foram corridos?
Há muita história para contar, mas vamos-nos ater a alguns pontos que hoje são sobretudo polémicas inter-africanas, porque Portugal, já moribundo na época do Ultimato, e cobarde com os cravos VERMELHOS, não soube vestir a honra e dignidade dos seus antepassados e virou costas às populações que lhe tinham solicitado, oficialmente, proteção.
Apesar de nos dedicarmos agora a África é bom não esquecer a vergonha dos capitãesdeabril em relação a Timor.
Bem antes da famigerada Conferência de Berlim, 1884-5, ter dividido Angola entre os mais poderosos da Europa (um pouco do que se passa hoje com a União Europeia... a desmantelar-se), já Inglaterra começara a pressionar Portugal para não ocupar militarmente algumas regiões a norte de Ambriz em Angola, porque o rei Leopoldo da Bélgica já tinha deitado o olho (grande) a todo o território do Congo.
O pouco que deixaram para os pobres e infelizes portugueses, os que há vários séculos tinham penetrado África e com os africanos comerciavam, após muita discussão, foi que só se considerariam sob protetorado as regiões que fossem ocupadas administrativa e militarmente.
É evidente que os queridos ingleses sabiam perfeitamente que Portugal não tinha forças para nada, mas algo se arrancou das suas entranhas e teve que inverter a sua posição face aos reinos angolanos: de visitantes, autorizados mediante pagamento de pedágios ou portagens, a dominadores e receptores de impostos.
As divisões das terras africanas não levaram em conta reinos antigos, nem etnias, mas sim através de paralelos e meridianos para poderem abarcar as riquezas que aí dentro ficavam garantidas.
Há documentos antigos que mostram o grande descontentamento dos povos africanos perante esta infâmia, todos eles sabendo que não tinham forças para combater os novos invasores e, sobretudo não se quererem sujeitar a europeus arrogantes e racistas que ainda durante quase mais um século escreviam “cientificamente” que os africanos eram seres anatomicamente inferiores e que assim só a escravidão lhes serviria.
O contato e o trato com os portugueses, conhecidos de há séculos, era diferente, havendo um exemplo claro disso, com a vida do sertanejo Silva Porto, que durante décadas foi o único branco, português, que viveu, sozinho no interior de Angola.
Para “garantir” a sua sobrevivência como reinos independentes, alguns povos reuniram todos os seus principais chefes e representantes e, voluntariamente colocam as suas terras sob o protetorado do rei de Portugal, pedindo que este lhes desse proteção contra invasores, fossem eles quem fossem, e que ao mesmo tempo lhes enviasse artífices, professores, e soldados para os defenderem.
O mais conhecido destes tratados é assinado em Cabinda em 1 e Fevereiro de 1885, cujos primeiros três parágrafos rezam:
Art. 1º - Os príncipes e mais chefes (de Cabinda) e seus sucessores declaram, voluntariamente, reconhecer a soberania de Portugal, colocando sob o protectorado desta nação todos os territórios por eles governados.
Art. 2º - Portugal reconhece e confirmará todos os chefes que forem reconhecidos pelos povos segundo as suas leis e usos, prometendo-lhes auxílio e protecção.
Art. 3º - Portugal obriga-se a fazer manter a integridade dos territórios colocados sob o seu protectorado.
Assinou  em nome do rei de Portugal o capitão tenente da Armada Guilherme de Brito Capello, comandante da corveta Rainha de Portugal, que se fosse vivo hoje iria pedir perdão aos príncipes de Cabinda por ter colaborado numa mentira, como foi Egas Moniz ao rei de Leão por Afonso Henriques não ter cumprido com a palavra que seu aio deixara como garantia de vassalagem para que o rei de Leão levantasse o cerco a Guimarães.
Seguiram-se vários Tratados de Protetorado, todos no mesmo sentido de aparente responsabilidade, entre Portugal
- e Mona Samba (Capenda) 1885, 23 de Fevereiro
- e Caungula (Xá Muteba) 1885, 31 de Outubro
- e Tchissengue e os seus Nobres Muananganas (Quiocos), 1886, 2 de Setembro
- e o Muatianvua Ambinji Chefe dos Calambas do Moxico, 1886, 1 Dezembro, Lucusse
- e a corte Imperial do rei Muatiânvua, 1887, 18 de Janeiro

Mas vamos deixar a continuação para a próxima.

05/05/2014




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