domingo, 28 de julho de 2013

Do Brasil                                                                                           por Francisco G. de Amorim

Não há mais o que dizer sobre o Papa Francisco. Desde o primeiro momento ele arrasta multidões e ainda ninguém o viu que não estivesse a sorrir ou mesmo a rir às gargalhadas. Nada nele é falso. Tudo é a verdade e a simplicidade. Lindo.

 

Os jovens que vieram ao Rio receberam-no com a mesma alegria contagiante, linda de se ver, mais ainda nesta época quando todo o mundo atravessa genocídios de guerra, de fome, de ostentação e de total desprezo pelo Outro.
O Papa falou de tudo isso, mas o que mais marcou a todos foi o seu sorriso extraordinário, a sua simplicidade, a sua humildade, e a grande mensagem: “Ide, abraçai o Outro, falai-lhe de Jesus e da sua bondade e simplicidade.”
Mais de três milhões de pessoas se juntaram em Copacabana para o ver e ouvir. Um espetáculo para jamais esquecer. E via-se nas suas caras como estavam a receber a bela mensagem.
Talvez tenha começado agora a nascer o futuro do Brasil, porque não tarda estes jovens, que são a esperança, comecem a aplicar esta doutrina, simples, de verdade.
É evidente que as chamadas “altas autoridades” não ouvem nada disto. Não são surdos. São bandidos.
Mas não percamos esta vigorosa esperança que o Para soube incutir nos espírito de quem o quis ouvir.

Paralelamente vêm as desgraças costumeiras e contumazes! A arrogância e inépcia das tais “altas autoridades”.
Basta ler estes dois pequenos artigos para chorar de tristeza, e, infelizmente nos lembrarmos de De Gaulle!


Algazarra do Bem

Por Zuenir Ventura (O Globo, 27/07/2013)

Além dos milagres já anunciados - fazer os brasileiros se apaixonarem por um argentino e, mais, um argentino humilde, alguém conhece outro? - o Papa Francisco está promovendo um espetáculo ao qual nem as nossas mais famosas festas pagãs, o carnaval e o futebol, nem o réveillon, que é meio profano, meio religioso, se equiparam em fervor e alegria natural (sem o estímulo etílico). Levar 500 mil pessoas às areias encharcadas de Copacabana num dia e, no seguinte, o dobro disso para assistirem a demoradas cerimónias religiosas debaixo de uma chuva cortante e sob um frio desconhecido, que parece ter sido trazido na mochila dos peregrinos noruegueses é um feito inédito. Ele atribuiu à força da fé essas multidões molhadas para vê-lo, ouvi-lo e, quando possível, tocá-lo. De fato, tirar as pessoas de casa ou dos alojamentos para enfrentar um trânsito caótico que não poupou nem o Sumo Pontífice na chegada, suportar pane do metro e falta de ônibus, entrar em filas intermináveis para obter senhas, acordar de madrugada, aguentar enfim estoicamente a indesculpável desorganização
de um evento previsto há meses, só mesmo por milagre. Bote fé nisso!
"Sempre ouvi dizer que os cariocas não gostam do frio e da chuva, mas vocês estão mostrando que a fé é mais forte que o frio e a chuva”; ele discursou ontem na comunidade de Manguinhos.
Por modéstia, não acrescentou que, tanto quanto a fé, há o seu carisma e incrível capacidade de mobilizar as massas, empolgá-las e seduzi-las com palavras e gestos, graça e humor. E a resistência física? Enquanto o acompanhava pela TV a Missa da Acolhida em Copacabana, que demorou até a noite, tive que levantar para ir ao banheiro umas duas vezes, e ele lá, após um dia exaustivo, ouvindo e falando, falando e ouvindo durante horas, sem tomar um copo d'água e, pior, sem poder dizer: "Um instantinho que vou lá dentro e volto já." Representante de Deus na Terra, ele com certeza não está submetido às necessidades terrenas de reles pecadores como eu.
Outro destaque. Nesse espetáculo em que Francisco é o protagonista, há um ator ao mesmo
tempo personagem e plateia: os peregrinos daqui e de fora. Temia-se que essa invasão de forasteiros da Jornada Mundial da Juventude tumultuasse o Rio, o que levou muita gente a
sair da cidade. Eu mesmo pensei em fazer isso.
Pois esses jovens barulhentos e vibrantes, cantando e pulando pelas ruas, em vez de tumulto,
promoveram uma pacífica algazarra do bem.

ENSINANDO A REZAR

A presidente Dilma Rousseff tenta pegar carona com a visita do papa ao mostrar o governo petista como protagonista de uma cruzada global contra a miséria

Daniel Pereira  (Revista VEJA)

O ex-presidente Lula já quis dar lições aos Estados Unidos sobre o funcionamento do capitalismo.
A presidente Dilma Rousseff, em visita à Alemanha, também usou um tom professoral para tutorar a
primeira-ministra Angela Merkel sobre como tirar a Europa da crise económica.
Em bom português, esses acessos de empáfia vazia que beiram a insanidade são chamados de  tentativas de "ensinar o pai-nosso ao vigário". Por pouco, mas só por pouco mesmo, o papa Francisco
se livrou de voltar para o Vaticano com uma lista de lições de casa passadas por sua anfitriã no Brasil. Dilma não ensinou o papa a rezar, mas não escapou do ridículo ao propor a Francisco, como se ele fosse um reles diretor de ONG, uma parceria em que o papel dele seria espalhar pelo mundo as "experiências brasileiras de combate à miséria". O santo padre, pelo menos, conseguiu disfarçar seu constrangimento. Logo ele, um jesuíta, ordem lendária por espalhar pelos quatro cantos do mundo os ensinamentos de Cristo, convocado para pregar o petismo eleitoreiro. Ainda bem para o Brasil que ninguém lembrou que o petista José Graziano, diretor-geral da FAO, órgão das Nações Unidas para assuntos de alimentação, já espalha essas "experiências brasileiras" mundo afora - a última foi aconselhar os miseráveis famintos a comer gafanhoto, formiga e outros insetos. É uma vergonha para
Brasil. E para a FAO, que, nos anos 60, quando privada das geniais ideias petistas, teve de se contentar em, com a ajuda do agrónomo americano Norman Borlaug, fazer a "revolução verde", que
salvou a vida de l bilhão de famintos.
Mas o que é isso em comparação com um bom prato de alta gastronomia insetívora preparado pelo chef Graziano, não é mesmo?


28/07/2013

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