São muitos os contos
tradicionais africanos, donde sempre se pode tirar uma lição. Muitas das vezes
a principal lição é a da esperteza! O sujeito mais vivo é quem leva a melhor.
O primeiro conto é do livro Quilandoquilo do grande escritor
Angolano Óscar Ribas, uma das maiores figuras de Angola de todos os tempos.
O segundo foi encontrado em
Janeiro de 2000 na Internet e não indica o nome do autor.
- 1 -
A senhora
Maria era exigente na aceitação do homem que a desposaria. Diversos pretendentes
se lhe declararam, mas nenhum logrou sua simpatia. Para a senhora Maria, todos
eram desprezíveis, sem envergadura física. Em sua ambição, só um a
interessava: - o senhor Elefante. Esse, sim, esse é que lhe convinha. Grande,
imponente, ninguém ousaria desrespeitá-lo.
Vivia a
senhora Maria nessa ansiedade, quando o senhor Elefante se lhe apresenta por
sua vez. Cheia de satisfação, respondeu-lhe :
- Sim,
aceito-te para marido, só tu me agradas pela tua corpulência!
Dias
volvidos, o senhor Sapo aparece em casa da senhora Maria, para mulher também a
queria.
- Tu, Sapo, é
que me vens pretender? Não sabes que aceitei o senhor Elefante, o teu superior?
Então tu, assim tão insignificante, nem sequer lhe tens respeito? - Amesquinhou-se
a senhora Maria.
Desdenhosamente,
o senhor Sapo retorquiu-lhe:
- Respeito?!
Ele é o meu cavalo!... Monto-o quando me apetece!...- E gargalhou zombeteiramente.
Como as
mulheres não guardam segredo, a senhora Maria contou ao senhor Elefante a
prosápia do senhor Sapo. Furioso, o senhor Elefante saiu à cata do senhor Sapo.
Encontrou-o numa lagoa, gostosamente cantando sua cantiga.
- Xe, salta
cá para fora, preciso de falar contigo! Depressa! - Intimou-o o senhor
Elefante.
O senhor Sapo
não se amedrontou.
- Fale com
calma, tio! Então que coisa, é essa de berrar comigo em minha casa?- Volveu-lhe
o senhor Sapo, vagarosamente saindo da água.
- Vem comigo,
vais repetir à senhora Maria o que lhe disseste a meu respeito!
Puseram-se a
caminho. O senhor Sapo, dificilmente acompanhando as passadas do senhor
Elefante, propõe-lhe:
- Como vês,
tio, ando devagar. Para chegarmos depressa, deixa-me agarrar-me ao teu rabo.
O senhor
Elefante assentiu. E o senhor Sapo lá se segurou à cauda do companheiro.
A certa
distância, queixou-se:
- Tio, estou
a escorregar, sou capaz de cair. Deixa-me subir um pouco mais acima!...
O senhor
Elefante anuiu de novo. E o senhor Sapo avançou até ao lombo.
- Pára um
pouco, tio, está um galho a bater-me na vista, - pediu mais adiante, num sitio
coberto de árvores.
O senhor
Elefante fez-lhe a vontade. E o senhor Sapo cortou uma haste.
Quando a
senhora Maria os viu - o senhor Sapo, de vergasta na mão, montado sobre o
senhor Elefante – desgostosamente excalamou:
Agora acredito
no que o senhor Sapo me disse! Tu, afinal, senhor Elefante, és mesmo o cavalo
dele! Já não te quero !
E o senhor
Sapo ficou sendo o marido da senhora Maria.
Velho
Mene-Malakaze
Era uma
vez, um velho chamado Mene-Malakaze
e sua esposa Khengue tinha uma filha chamada Manzalele. Ela eramuito bonita e a
partir dos seus desasseis anos anos, começou a criar confusão entre os mocos da
sua aldeia e das aldeias vizinhas. Tinha muitos pretendentes, mas como o velho Malakaze,
seu pai, lhe havia ordenado para não aceitar qualquer proposta de casamento,
sem que tivesse completado vinte anos de idade, não passava bola a ninguém.
No
vigesimo aniversário natalício da Manzalele, Mene-Malakaze chamou Khengue, sua esposa, e
perguntou-lhe:
- Tu tens ouvido as lutas que tem
havido entre os moços desta causa da nossa filha? . .
- Sim,
meu marido - respondeu a esposa.
- Isto quer dizer que a
nossa filha é a mais linda, de todas as garotas desta área...
A Senhora Khengue ficou
alguns instantes sem dizer um nem dois e, de repente, perguntou:
- Velho Malakaze! Que tipo de negocio tencionas
fazer com a nossa filha?
- Negocio, não! - respondeu
o velho. Sabes como o rio onde buscamos água fica muito longe daqui, vamos exigir água permanente
ao nosso futuro genro. Pôr água aquié a condição indispensável para quem quiser
ser marido da nossa filha. .
Depois
de alguns minutos de silencio, o velho precisou:
- Ao moço que quiser ser marido da minha filha vou pedir para trazer-me aqui uma porção do rio para nunca mais andarmos os vinte
quilómetros à procura de água.
- A velhice está a
estrambelhar-te o miolo. Achas que
ha alguém que possa, fazer isso?
- interrogou-lhe a esposa, um
tanto nervosa.
- Bom,
para ti tudo é impossível, mas para os espertos, não. Se a nossa filha tiver
sorte e, com a sua beleza, certamente vai encontrar um moço esperto que vai
fazer tudo por pôr-nos água aqui -respondeu o velho.
Assim, a
todos os moços que foram pretender Manzelele, o velho exigia, insistentemente, a porção do rio. Mas por essa
uma ser uma exigência impossível, quase todos acabavam por desistir da
pretensão sua de casar com a moça.
Finalmente
apareceu um moço que disse chamar-se Kudimuka (esperteza) a quem o velho fez a
mesma exigência. Por sua vez, Kudimika pediu ao velho para que colocasse à sua
disposição uma enxada, pá e picareta e também um moço para lhe mostrar o rio.
O velho, todo satisfeito,
preparou o material e o moço que serviria de guia do futuro genro.
Por
volta das dezoito horas, Kudimuka enviou o moço ao futuro sogro, com o seguinte
recado: "Vais ao velho e diz-lhe que já cortei o pedaço do rio e que ele prepare uma rodilha
feita defumo para eu poder pôr a porção do rio no cabeça".
Quando o velho recebeu o recado, ficou surpreendido e disse consigo
mesmo: "Esse Kudimuka e mesmo esperto. A minha, exigência foi muito absurda".
Depois virou para o portador
do recado e ordenou-lhe: "Vai imediatamente, ao rio e diga ao Kudimuka para
vir".
Logo que
Kudimuka chegou, o velho pôs-se de pé e abraçou-o efusivamente. Em seguida, disse-lhe: "A partir de hoje, Manzelele, minha filha, é tua esposa. Não
precisas dar-me mais nada, porque eu apenas
estava à procura de um rapaz esperto que fosse marido da minha
filha".
10/07/2013
ResponderExcluirPubliquei:
http://historiamaximus.blogspot.pt/2013/09/contos-tradicionais-angolanos.html
Espero que não se importe de eu divulgar alguns dos seus artigos no meu blog.
Cumpts,
JJHN