Pasmem, ó gentes! Nada mais surpreende nesta terra que foi da Vera
Cruz! O assalto é generalizado, banalizado, oficializado, acintoso, aceite, e
o povo sai às ruas para pedir uma diminuição de $20 – vinte centavos – no custo
das passagens de ônibus!
Quando acabarem de ler o texto abaixo, saido hoje no jornal “O Globo”,
vão ver que a pilantrada não está só no governo, nas câmaras/congresso,
estados, autarquias, polícia, serviços públicos, mas também, e ferozmente
instalado, nos tribunais.
Os
chineses ainda não explicaram que só se chegará ao tal futuro com o povo culto,
mas essa educação/cultura não se faz dum dia para o outro. São cem – 100 –
anos! Há muito os ingleses também diziam que para fazer um gentleman eram
necessárias quaro gerações.
E por
aqui?
A agro pecuária vai dando para tudo. Mas... até quando?
A agro pecuária vai dando para tudo. Mas... até quando?
Eles estão de
brincadeira
Por MARCO ANTÓNIO VILLA
No já
histórico junho de 2013, as ruas foram ocupadas pelos cidadãos. Foi um grito
contra tudo que está aí. Contra os corruptos, contra os gastos abusivos da
Copa do Mundo, contra a impunidade, contra a péssima gestão dos serviços
públicos, contra a violência, contra os partidos políticos.
Dois poderes acabaram concentrando a indignação popular: o Executivo e
o Legislativo. Contudo, o Judiciário deve ser acrescido às vinhas da ira.
Neste mesmo espaço, em 13 de dezembro de 2011, escrevi um artigo ("Triste
Judiciário") tratando do Superior Tribunal de Justiça, o autointitulado tribunal
da cidadania.
Um ano e meio depois resolvi consultar o site do tribunal
(www.stj.jus.br) para ver se tinha ocorrido alguma modificação nas mazelas que
apontei. Para minha surpresa, tudo continua absolutamente igual ou, em alguns
casos, pior.
Busquei inicialmente o número de cargos. Vi uma boa notícia. Eram 2.741
em 2012 e em 2013 tinha diminuído para.... 2.740. Um funcionário a menos pode
não ser nada, mas já é um avanço para os padrões brasileiros. Porém, ao
consultar as funções de confiança, observei que nos mesmos anos tinham saltado
de 1.448 para 1.517.
Fui pesquisar a folha dos funcionários terceirizados. São 98 páginas.
Mais de 1.550 funcionários! E tem de tudo um pouco. São 33 garçons e 56
copeiras. Afinal, suas excelências têm um trabalho desgastante e precisam
repor as energias. No STJ ninguém gosta de escadas. É a mais pura verdade. São
34 ascensoristas: haja elevadores! Só de vigilantes - terceirizados,
registre-se - são 264. Por ironia, a empresa contratada chama-se Esparta. E se
somarmos os terceirizados mais os efetivos, teremos muito mais dos que os 300
espartanos que acompanharam Leônidas até as Termópilas, longe, evidentemente,
de comparar suas excelências com o heroísmo dos lacedemônios.
Resolvi consultar a folha de pagamentos de junho. Fiquei só na letra A.
Não por preguiça. É que preciso trabalhar para pagar os impostos que sustentam
os salários das suas excelências.
Será que o tribunal foi isento da aplicação do teto constitucional? Dos
cinco ministros que abrem a lista, todos recebem salários acima do que é
permitido legalmente.
Vamos aos números: António Carlos Ferreira recebeu R$ 59.006,92; António
Herman de Vasconcelos e Benjamin, R$ 36.251,77; Ari Pargendler, R$ 39.251,77;
Arnaldo Esteves Lima, R$ 39.183,96; e Assusete Dumont Reis Magalhães, R$
39.183,96. Da lista completa dos ministros, a bem da verdade, o recordista em
junho é José de Castro Meira com o módico salário de R$ 63.520,10. Os ministros
aposentados também recebem acima do teto. Paulo Medina, que foi aposentado em
meio a acusações gravíssimas, recebeu R$ 29.472,49.
O STJ revogou o artigo 5° da Constituição? Ou alterou a redação para: "Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, exceto os ministros
do STT?”
O tribunal é pródigo, com o nosso dinheiro, claro. Através do que chama
de aviso de desfazimento, faz doações. Só em 2013 foram doados dezenas de veículos
supostamente em estado "anti-econômico." Assim como refrigeradores,
mobiliário, televisores e material de informática. É o STJ da felicidade. Também,
numerário não falta. Para 2013 o orçamento é de l bilhão de reais. E estamos
falando apenas de um tribunal. Só para pagamento de pessoal e de encargos
sociais estão alceados 700 milhões. Sempre pródiga, a direção do STJ reservou
para a contribuição patronal da seguridade social dos seus servidores a módica
quantia de 100 milhões (mais que necessário, pois há servidores inati-vos
recebendo R$ 28.000,00, e pensionistas com R$ 35.000,00).
O tribunal tem 166 veículos (dos quais 20 são ônibus). Por que tantos veículos?
São necessários para o trabalho dos ministros? Os gastos nababescos são uma
triste característica do STJ. Só de auxílio-alimentação serão destinados R$
24.360.000,00; para assistência médica aos ministros e servidores foram
previstos R$ 75.797.360,00; e à assistência pré-escolar foram alceados R$
4.604.688,00. À simples implantação de um sistema de informação jurisdicional foi
destinada a fabulosa quantia de R$ 22.054.920,00. E, suprema ironia, para comunicação
e divulgação institucional, o STJ vai destinar este ano R$ 14.540.000,00.
A máquina do tribunal tem de funcionar. E comprar. Em um edital (e só
consultei os meses de junho e julho) foram adquiridos 1.224 copos. Noutro, por
R$ 11.489,00, foi contratada uma empresa de eventos musicais. Estranhamente foram
adquiridos 180 blocos para receituário médico, 50 blocos para ficha odontológica
e 60 pacotes - cada um com 100 unidades - de papel grau cirúrgico (é um
tribunal ou um hospital?).
É difícil entender a aquisição de 115 luminárias de uma só vez, a menos
que o prédio do tribunal estivesse às escuras. Pensando na limpeza dos
veículos foram adquiridas em julho 70 latas de cera para polimento. Tapetes
personalizados (o que é um tapete personalizado?) custaram R$ 10.715,00 e de
uma vez compraram 31 estiletes.
Não entendi, sinceramente, a razão de adquirir 3.360 frascos de 1.000 ml
cada de álcool. E o cronometro digital a R$ 1.690,00? Mas, como ninguém é de
ferro, foi contratada para prestar serviço ao STJ a International Stress Manegement
Association.
Mas, leitor, fique tranquilo. O STJ tem "gestão estratégica"
De acordo com o site, o tribunal "concentra esforços na otimização dos
processos de trabalho e na gestão da qualidade, como práticas voltadas à
melhoria da performance institucional e consequentemente satisfação da
sociedade! Satisfação da sociedade? Estão de brincadeira.
Marco António Villa é historiador e professor da
Universidade Federal de São Carlos (SP)
23/07/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário