sexta-feira, 1 de abril de 2011


Grandes Homens - 4

Portugal declarou guerra
 
a Tripoli !



Desde que, em 1551, o corsário turco Dragut, transformou a pequena enseada de Tripoli num ninho de piratas, o mediterrâneo passou a ter menos sossego. Entretanto os franceses e os venezianos, por diversas vezes bombardearam fortemente aquele reduto.
Durante a guerra entre a Inglaterra e a França de Napoleão, Portugal foi solicitado pela sua “grande” aliada, para juntar forças e atacar o Imperador.
Assim, uma pequena esquadra portuguesa foi incorporada à do Lord Nelson, que começou por combater os inimigos no mediterrâneo, uma vez que o Canal da Mancha tinha defesa assegurada.
Em 1799 a esquadra conjunta estava fundeada em Palermo. Portugal continuava em guerra com os piratas do Magrebe, e os franceses tinham ocupado Tripoli para melhor controlarem o Mediterrâneo.
Nelson, também em paz com o bachá de Tripoli, recebeu no seu navio o chefe da esquadra portuguesa, o Marquês de Nisa, Dom Domingos Xavier de Lima, quando ali estava também Simão Lucas, cônsul britânico em Tripoli. O Marquês entendeu que através da intermediação de Nelson e do consul, poderia obter uma paz vantajosa com o Bachá. Nelson gostou da idéia, mas disse que, além da paz, o Bachá deveria entregar o cônsul e outros cidadãos franceses. O Marquês achou a exigência bárbara, mas, pôs o projeto em marcha, dispondo a nau Afonso de Albuquerque em ordem para esse serviço, que poucos dias depois, hasteando a bandeira inglesa, fundeou a um tiro de espingarda das baterias de Tripoli, num fundo de somente quatro braças! Com a mesma bandeira mandou um escaler a terra com o cônsul medianeiro, que voltou uma hora depois dizendo que o Bachá estava disposto a negociar a paz com os portugueses. Logo se hasteou a bandeira portuguesa na nau, que foi saudada de terra, e da nau.
O comandante tinha dado pouco tempo ao cônsul para obter o acordo, porque estava em condições difíceis de manobrar se o vento mudasse. O Bachá então requereu a presença do comandante, e o Marquês entregou o comando ao capitão de fragata José Maria Almeida, com ordens, por escrito, de empregar todas as medidas enérgicas contra a cidade, se ele não voltasse a bordo naquela noite.
Volta o Marquês com a palavra do Bachá que dentro de dias despachava os franceses para Constantinopla, e a nau levantou ferro porque o tempo estava a piorar e, depois dum temporal, em mar aberto, regressa a Tripoli. Nessa madrugada entrou no ancoradouro uma polacra (veleiro de três mastros) que fundeou bem por baixo das baterias da cidade e abriu fogo com as suas dezoito peças de bateria e diversos mosquetes, contra a nau, que respondeu só para as da fortaleza, uma vez que não queria danificar o outro navio, mas tomá-lo de abordagem. Saíram da nau três escaleres com trinta voluntários, sob o comando de José de Almeida, levando uma única peça, e do lado de terra acorreu a guarnição do vice-almirante do Bachá, carregando escopetas e arcabuzes, em auxílio dos cento e cinqüenta tripulantes.
Dos escaleres não se deu um tiro, enquanto não chegaram à queima roupa e saltassem à abordagem com espadas e pistolas. Invadem a embarcação, de parte a parte fazem-se prodígios, mas os portugueses são invencíveis. Dos trinta, todos ficam feridos e um morto com os miolos de fora. Dos mouros, cinqüenta mortos, e os outros atiraram-se ao mar. Os vencedores rebocam o navio conquistado para junto da nau, e daí respondem ao fogo da fortaleza.
No dia seguinte continua o ataque à cidade, quando se avistam duas embarcações ao largo. O chefe da esquadra manda içar a bandeira tripolina, e dá ordens à polacra que, quando em posição conveniente desse uma “banda” à maior que parecia uma fragata, e se apossasse dela e do brigue! Assim se fez. Fogo bem dirigido e manobra rápida, os tripolinos não esperavam o ataque, mas travam com os portugueses um terrível combate.
A polacra servia de escudo à nau Afonso; as duas embarcações inimigas tinham mais de quatrocentos homens de guarnição, mas assim mesmo foram abordados e conquistados!
O Marquês manda a seguir que levem a polacra para perto de terra com ordem de a incendiarem.
À vista de tamanho destroço, e receio de maior mal, o Bachá mandou içar a bandeira branca, e foi obrigado a aceder a todas as demandas, não só do tratado de paz como à entrega dos franceses!
A única coisa que o Bachá pedia era que lhe restituíssem os dois navios e a tripulação que se aprisionara.
Avaliou-se a fragata em trinta mil pesos, um terço dos quais o Bachá pagaria aos valentes marinheiros, e o brigue, em nome de Sua Alteza o Príncipe de Portugal, se lhe fazia de presente, como era costume sempre que se contratava com os otomanos.
Aceites as condições salvaram as baterias de terra e as duas embarcações prisioneiras, com a bandeira portuguesa no tope dos mastros, em sinal de respeito, respondendo a nau, que se foi afastando sempre com a bandeira nacional hasteada até perder terra de vista!
Conhecido pelo Príncipe Regente tão valoroso feito, promoveu todos os intervenientes, por distinção em combate, aos postos acima.

in “Quadros Navais”, do Almirante Celestino Soares.

N.- O que se passa com os portugueses de hoje, que deixam, inertes, que lhe destruam o país?

31/03/2011

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