O Moribundo
Em 1885 a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, quis homenagear ainda em vida o poeta Francisco Gomes de Amorim, e mandou gravar numa lápide:
“... nasceu nesta casa
uma das glórias desta aldeia,
deste concelho e deste infeliz e velho Portugal...”
Infeliz e velho Portugal. Há mais de século e meio!
Parece que daí para cá pouco mais tem feito do que envelhecer e empobrecer, com exceção de alguns momentos de relativa calma, que hoje se nos afiguram como os estertores dum moribundo.
Em 1917 apareceu em Fátima a Senhora. Grande entusiasmo, grandes procissões, alguns, poucos, com verdadeira Fé, a maioria com a fé que pensam aparentar batendo com a mão no peito fazendo ar compungido, a seguir Salazar endireitou as finanças, depois foi Angola com o seu curto momento de euforia e morte, e, as últimas forças parece terem sido aniquiladas depois que, em 1974, entrou a anarquia, que os desavergonhados políticos teimam em chamar democracia, o moribundo encheu-se de flores raras e caras, caixão com pegas de ouro, tipo Mercedes e BMWs, mas a patologia não engana.
Entrou na UTI! Vai agonizar mais um tempo. O povo chora, mas nem se dá ao trabalho de limpar as lágrimas.
Parece, segundo dizia Pascal, que a única solução é apostar em Deus: se Ele existe ganha-se tudo; se Ele não existe, nada se perde.
Podem até contratar-se carpideiras, mandar rezar missas, de preferência em latim; só não se pode mandar nova embaixada ao Papa, oferecendo-lhe girafas e rinocerontes. O quadro não se altera.
Portugal entrou na “economia” da moeda falsa. Emprestou e gastou o que não tinha. Mas a moeda falsa sempre derruba a verdadeira se ambas estiverem em circulação ao mesmo tempo, conforme a famosa Lei de Gresham.
É o que está acontecendo ao pobre e velho moribundo.
Nunca produziu sequer o que come, desde os primórdios da nacionalidade. Sempre teve que ir buscar fora quase três quartas partes das suas necessidades! E assim mesmo aguentou quase nove séculos. Gente rija que venceu o tempo. Gente inútil e estúpida que o governou tanto tempo.
Portugal sempre gastou mais do que produzia, até mesmo mais do que conseguia ir buscar à Índia ou ao Brasil.
A chegada da grande esmola da União Europeia forneceu ao inculto povo o instrumento da sua própria destruição: o luxo. Em lugar de aplicar os excedentes em produção para manter trabalhadores, fonte real do poder, o povo usou esses excedentes para comprar berloques e bugigangas. Para se enfeitar. Para que parecesse importante pelo lado de fora, quando por dentro estava oco.
Não foi capaz de investir a prazo longo. Em ciência e tecnologia e até mesmo na agricultura. Exemplos de quem passou piores fases, no mundo, e hoje estão fortes e seguros, não faltam. Basta lembrar Londres em 1944, montes de cidades alemãs, Sebastopol em meados do século XIX e na II Guerra Mundial, Espanha depois da Guerra Civil, Israel que começou num quase deserto, e o Japão, o Japão! Que lições!
Portugal adormeceu sob o mito de Ourique, da Reconquista, da glória de Aljubarrota e por fim, de ter dominado o conhecimento dos mares.
Outros bem mais preparados logo se apropriaram deste nosso maravilhoso conhecimento, mas sempre se encontrava Portugal a pedir empréstimos para ir à Índia, ao Oriente, e até ao Brasil.
E o esforço, imenso, brilhante, de tantos, esvaiu-se nas mãos dos Fugger, dos ingleses e dos judeus que o Venturoso não teve vergonha em expulsar do país.
Hoje, jaz de mão estendida à “caridade” de novos agiotas!
E não vai, jamais, sair deste ciclo vicioso, infeliz.
Cantemos o REQUIEM ! Talvez o de Mozart...
Ou... fazer o que? Ir à luta. Trabalhar, trabalhar, trabalhar!
13/04/11
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