Como se fabricam deuses - 1
Quantos deuses a humanidade já adorou? Só na Grécia antiga houve dezenas,
centenas deles que depois os romanos adotaram, só lhes dando diferentes nomes
como Zeus/Júpiter, Hera/Juno, Hades/Plutão, Posêidon/Netuno, Atena/Minerva, Hermes/Mercúrio,
Apolo/Apolo, Artemis/Diana, Hefesto/Vulcano, Afrodite/Vênus, Ares/Marte, e
muitos, muitos mais.
Ninguém sabe quais terão sido os primeiros deuses a serem cultuados,
porque entram nas lendas e na cosmogonia.
Talvez Panku, lá para o oriente hoje chinês, há 10 ou 18.000 anos, pela
Mesopotâmia encontram-se (?) mais uma mão cheia deles como Anu, o Deus acádio
do céu, cerca de 2.300 anos a.C., Deus das fontes e da água, Uras avó de
Gilgamesh, Qui a esposa de Anu, Apsu, pai de Anu e um nunca mais acabar deles.
Por enquanto tudo gente boa e pacífica, mais ou menos ao mesmo tempo todos
aqueles lindões do Egito, que à chegada de Aton, só com uma pazada, 2.000 deuses
foram jogados no lixo, mas como bons deuses não tardaram a voltar. E por aí se
vai. Olhem só esta “coleção; parecem todos da mesma família. E eram.
Nos primeiros tempos, os homo, qualquer que tenha sido a sua
espécie, não deviam preocupar-se com outra coisa que não fosse a sua
alimentação e reprodução. Assim que aquelas cabeças duras evoluíram, e que
qualquer tipo de sociedade se foi estabelecendo, os tais homo começaram
a ver e a temer forças que ultrapassavam a sua capacidade de compreensão, o que
os levou a deduzir que algo, fora deste mundo animal os podia comandar. Algo,
ou alguém que provocava inundações, erupções vulcânicas, doenças, florestas que
ardiam sozinhas, raios e trovões, e entenderam que deviam prestar obediência e
respeito a esse Poder que tanto os perturbava.
Quem era esse ser? Desconhecido, logo foi tratado de Senhor, Mestre,
Chefe, Dominador. Talvez o sol, pelo calor abrasador que chegava a fazer, ou a
lua que espreitava de noite, como a querer surpreendê-los, outros, no Egito,
renderam culto a um inseto, porque lhe trazia fartura, mais para o interior de
África foi a serpente, etc..
Tinham que apaziguar esse ente Superior, render-lhe homenagem,
submissão, tributos.
Esta noção foi-se desenvolvendo, e começou a ter nomes em diferentes
povos, como Adonai nos fenícios, Baal, Adad, Sudai, Melkom nos povos da Síria,
todos estes nomes significando o mesmo, o Senhor, o Todo Poderoso.
Cada povo passou assim a ter o seu Senhor, sob o qual se sentiam
protegidos, a quem não deixavam de fazer oferendas, todos sabendo que os seus
vizinhos ou inimigos teriam o deles também. Tratava-se depois de saber, se
guerreassem, o que esteve sempre a acontecer, qual dos Senhores era mais poderoso
e daria a vitória a quem.
Homero fez combater os deuses de Troia contra os deuses dos gregos, sem
que isso fosse qualquer novidade. Jefté rei dos judeus, diz aos amonitas: “Não
têm vocês o direito sobre o que vosso senhor, Maloch, vos deu? Sofrei pois que
nos possuiremos a terra que o nosso senhor Adonai nos prometeu.” Em outra
passagem da bíblia Jeremias diz: “Que razão teve o senhor Melkom para tomar a terra
de Gad?”
Isto pressupõe que desde os primeiros tempos os judeus reconheciam
outros deuses, como Maloch e Melkom.
No primeiro capítulo do Livro dos Juízes encontra-se que “o Deus de Judá
tornou-se o Senhor das montanhas, mas não podia vencer nos vales.”
Daí que no terceiro Livro dos Juízes os sírios dizem que o Deus dos
judeus era o Deus das montanhas.
Mais tarde os gregos adotaram do Egito, o boi Apis e o cão Anubis, além
de Amon e mais doze grandes deuses. Os romanos adotaram os deuses dos gregos.
Jeremias, Amos e Santo Estevão garantem que durante os quarenta anos da
travessia do deserto os judeus só reconheciam Moloc, Remfam (de onde provém o
símbolo Estrela de David, que era a estrela do Deus Remfan, que foi ‘ungido’, e
este representa Moloc, o diabo) e Baal. Durante esses quarenta anos do Exôdo não
fizeram nenhum sacrifício ao senhor Adonai, mas carregaram o tabernáculo de
Moloc!
De qualquer modo, através dos tempos, sempre sob guerras sanguinárias
que dizimavam povos, todos aproveitavam para emitir leis, muitas vezes
retiradas dos deuses dos vencidos.
Os judeus, apesar da sua aversão a todos os outros, imitaram a
circuncisão dos árabes, estes dos egípcios, (o que parece demonstrar que a
circuncisão terá “nascido” no interior de África (veja no blog https://fgamorim.blogspot.com/search?q=circuncis%C3%A3o)
adotaram os costumes destes últimos, a distinção das carnes, as abluções, as
procissões, as danças sagradas e outras cerimónias. Vê-se que Jacob, neto de
Abraão, não teve qualquer problema para casar com duas irmãs, Abraão já casara
com uma irmã, no Egito Amenófis IV, Tutankaton, foi pai e avô de Amenófis V,
Moisés casou com a filha de um idólatra, Eliezer, neto da Moisés foi sacerdote
da tribo de Dan, idolatra. Etc.
Parece que os egípcios começaram por adorar Isis e acabaram por adorar
os gatos. As primeiras homenagens dos romanos ainda primitivos eram para Marte;
mais tarde, mestres de grande parte da Europa preferiam a deusa do casamento,
Juno, herdada do deusa Hera dos gregos.
As apoteoses, as grandes manifestações a homens, só começaram muito
tempo depois dos primeiros cultos. Não era natural fazer dum homem que vimos
nascer, sofrer com doenças, desgostos, as misérias da humanidade, suportar as
mesmas necessidades humilhantes, morrer e servir de pasto aos vermes. Mas por
muito absurdo que isso seja acabou chegando a quase todas as nações ou povos,
depois de muitas revoluções e muitos séculos.
Um homem mesmo que tivesse feito grandes coisas, rendido serviços
importantes à humanidade, não podia ser visto como um Deus, mas alguns
entusiastas se persuadiram que sele tendo qualidades eminentes, se tinha por um
Deus, ou era filho de um Deus. Assim os deuses fizeram filhos em todo o mundo! Sem contar as fantasias dos povos que
precederam os gregos, Baco, Perseu, Hercules, Castor, Polux, foram filhos de
deuses, Alexandre foi considerado Deus no Egito; Odin nas nações do Norte,
Manco-Capac filho do Sol no Peru. O historiador dos mongóis, Albugazi, conta
que um antepassado de Gengis Kan, chamada Alanku, sendo mulher foi engravidada
por um raio celeste. O próprio Gengis passou por ser um filho de Deus
(intitulava-se descendente do grande Lobo Solitário, fez-se proclamar o Grande
Kahn, Kahkhan, e criou uma monarquia de direito divino, já que era o escolhido
de Tengri, “o Céu Eterno”) e quando o Papa Inocêncio IV mandou o frade João
Carpini a Batou-kan, neto de Gengis Kan, o monge não pôde ser recebido por
ninguém de mais elevada hierarquia do que visir; quando disse que ia da parte
do vigário de Deus, o ministro respondeu-lhe: “Esse vigário ignora que deve
homenagens e tributos ao filho de Deus, o grande Batou-kan, seu mestre?”
De um filho de Deus a um Deus a distância não é grande para os homens
que se maravilham com facilidade. Não são necessárias mais do que duas ou três
gerações para que o filho partilhe o domínio de seu pai; assim os templos foram
elevados a todos os que, com o tempo, foram supostamente nascidos do comércio
sobrenatural da divindade com as nossas mulheres e filhas.
Muito se poderia escrever sobre este assunto, mas tudo se resume a duas
palavras: a maioria dos seres humanos são, desde todos os tempos, insensatos ou
imbecis. E os mais insensatos são os que quiseram dar um sentido a fábulas
absurdas, e dar razão a toda esta loucura.
Mais tarde os reizinhos da maioria dos países eram também ungidos com
óleo “sagrado”, como até hoje se faz, por exemplo no Desunido Reino da
Britânia, quando o Deão de
Westminster derrama sobre a cabeça do novo monarca um óleo de unção
sagrada levado numa ampola e tirado com uma colher (tudo de ouro maciço, ora
pois não), para se lembrarem que Samuel tinha mandado despejar azeite na cabeça
de Saul (+ - 1.000 a.C) para que ele se tornasse rei.
Muito mais tarde foi ungido o rei visigótico Wamba da Hispânia, em 672
d.C, (nascido onde hoje é Vila Velha de Ródão, junto ao rio Tejo, em Portugal),
o rei Pepino o Breve de França em 751, e continuaram muitos por essa Europa
fora.
Já no começo de Portugal como país independente, por mais estranho que possa
parecer, o rito primitivo da unção da cabeça não é mencionado; são ungidas as
mãos e, a seguir, o peito, as espáduas e as articulações dos braços. Parece que
o último rei português a ser ungido terá sido D. João I.
Os reis de Portugal ficaram-se só,
reis “pela Graça de Deus...”
Agora, com a negação dos princípios religiosos que inundam o mundo
ocidental, os governantes “auto-se-ungem”, sobretudo com as mãos e bolsos, com
o que conseguem roubar do povo, que depois transformam em ouro, depositado em
paraísos fiscais. (Eles sabem da pedra filosofal: rouba do Estado.)
Saudades do Rei Wamba, que estava a arar a sua terra, humilde, atrás de
um boi, quando o foram chamar para ser o rei da Hispânia.
(a continuar)
01/10/21
Eu AMEI esse texto. Leio sempre sobre mitologia porque me interesso pelos arquétipos e como os Deuses antigos eram tão voltados para atributos importantes, valores que muitas pessoas no mundo contemporâneo já perderam, ou nem sabem o que são... um abraço bem apertado!
ResponderExcluirCom muito interesse Aguardo a continuação da história....bjs querido tio
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