Virtude,
Democracia e Verdade
Mais uma
incursão na filosofia, que se traduz simplesmente por pensar. Não vou já a
tempo de me tornar um filósofo, mas fico-me com Descartes: “Penso... logo
existo!”
Em 1757 Rousseau
(o tal Jean-Jacques) recebeu da sua amiga Condessa d’Houdetot (Elisabeth Françoise Sophie Lalive de Bellegarde,
que tinha um salão literário) uma carta perguntando-lhe o que era a virtude.
A resposta
de Rousseau é, como tudo que lhe diz respeito, notável. Infelizmente longa
demais para a reproduzir aqui, mas de que vou tirar só uma pequena passagem.
“Você
procura mais embaraçar-me do que se instruir, perguntando o que é a virtude. Eu
podia responder-lhe em duas palavras que é algo que ninguém consegue aprender a
não ser por si mesmo, e que você não saberia nunca se o seu coração não lhe
respondesse; aliás por que voltar a uma questão já tão discutida e tão bem
resolvida? Abra Platão, Cícero, Plutarco, Epicteto: consulte o virtuoso Schaftesbury
(Inquiry concerning Virtue como o seu Essai sur le Mérite et
la Vertu)
e o seu digno intérprete (que terá sido Diderot).”
E continua:
“Faça ainda melhor, estude a vida e os discursos do justo e medite o
Evangelho; ou, talvez, deixe todos os seus livros, entre dentro de si mesma,
escute essa voz secreta que fala a todos os corações e seja virtuosa para saber
o que é o ser-se virtuosa.”
Pode
alguém se livrar de estudar a virtude? Não, os seus efeitos divinos são
incompreensíveis, ela nos aquece mesmo antes de nos iluminar, nós a amamos tão
logo a procuramos, e sentimos antes de a conhecer; e se a razão me leva a
perder-me na sua procura, eu me consolaria facilmente que um qualquer erro me
tornasse um homem de bem.
Dá para
reler e pensar.
Os dicionários
são bem mais lacónicos: “Disposição firme e constante para a prática do bem!
Força moral.
Para dar agora um giro pela Democracia e Verdade, “pensei” que, sem a tal força moral e sem que olhemos bem para dentro de nós, jamais se poderá falar, ou pensar em democracia e verdade.
Os
filósofos, consideram a democracia uma utopia, e desde muito tempo se veem
batendo de frente, não com a filosofia da democracia, mas com a sua aplicação
na vida prática.
Não se pode
dizer que a filosofia e a democracia tenham nascido praticamente juntas, se bem
que de começo tivessem até um razoável entendimento.
Mas a
democracia não tardou a usar a força. Parece ter esquecido que cada ser indivíduo
tem o mesmo direito à vida que qualquer outro com opiniões diferentes. Alguns casos
são bem demonstrativos:
1.- A
democracia matou Sócrates e os seus seguidores (os primeiros filósofos) e não
lhes pouparam críticas. Porque Sócrates tinham uma visão humanística diferente,
e não a da maioria, da turba, irresponsável e covarde. Quem tinha a Verdade no
julgamento de Sócrates?
2.- Mais
tarde a democracia mandou matar Jesus, mesmo que o responsável tenha
reconhecido a sua inocência. A voz da maioria, falou mais alto. A Verdade de
Jesus era a afirmação que o Seu reino não era deste mundo. Assim sendo o status
quo da época não teria que ser perturbado! Mas, sempre a maioria, medrosa e
covarde, preferiu livrar-se de Alguém que incomodava.
Se
realmente a democracia é a voz da maioria, ela se identifica muito mais com uma
ditadura do que com os valores humanos.
É verdade
que houve até filósofos que consideraram a democracia a melhor forma de
governo... desde que ela fosse exercida pelas elites! Ditadura de consenso?
Plutocracia?
Terá sido
por causa destas e similares questões que acabou nascendo a filosofia contra
a democracia. As polis, cidades estado gregas, reconheceram assim,
na filosofia o seu inimigo mortal. E logo a filosofia floresceu e prosperou não
raras vezes com a teologia e despotismo! No homem, a autonomia está em revolta
contra si mesma. Este é o propósito da filosofia; a sua razão visa sempre a
verdade.
Não posso
deixar de citar Buda, que na hora da morte terá dito que toda a sua vida tinha
procurado a Verdade, mas morria sem a ter encontrado.
A democracia
é por essência irracional: o poder em nome do número e da força! É um pré-poder
anti-humano, mesmo, sendo o homem um animal racional e não apenas social.
Mas a
natureza esmagadora de todos é levada a destruir-se. A vocação, pelo menos. O
poder, na verdade, se é de todos, deve ser de cada um, e deve, portanto,
garantir o indivíduo. E se o homem renuncia à democracia em nome da razão,
também renuncia ao desencanto.
Para se
fundar um governo, sobretudo no sentido da democracia moderna (melhor dizendo,
atual), não é pela lógica dos
argumentos apresentados,
que nunca produziram valores, mas pela persuasão de um caráter idóneo, ético, do
orador, se este é realmente digno de fé.
Na eterna luta entre o bem e mal, o bem
tem uma irredutível desvantagem: não tem futuro, enquanto o mal tem. Uma vez
que nós, humanos somos orientados para o futuro, sentimos um insaciável
incentivo para deixar o mal conduzir-se em todas as suas formas: a culpa, o
remorso, a pobreza, o crime, o pecado, a folia e a tolice. Nenhum destes males
é suscetível, pelo menos em princípio, de ajustamento ou correção de um
qualquer modo. Em vez disso, que coisa pode alguém fazer face ao bem, a não ser
admirá-lo?
Como disse Voltaire, se não houvesse o
Diabo, seria preciso inventá-lo.
Não é preciso grande esforço para se
concluir que a democracia é mesmo uma utopia. E quando segura pela mãos dos
“eleitos”, que parece jamais se ter visto algum deles abdicar do seu poder para
reconhecer uma verdade que tenha ido contra a maioria, e há muitos casos, que
nome poderíamos dar a este tipo de democracia levada ao extremo?
Muitos são os que ainda lembram o pomposo
nome dado às repúblicas soviéticas: República Democrática da Alemanha, de
Angola, e muitas, muitas outras “democracias” da AK-47! Onde, na maioria
delas não entrou ainda sequer a ponta de um primeiro dedo do pé para olharem
para o inferior.
As massas
aplaudem os animais humanos que se esmurram por dinheiro, as mulheres que
dançam nuas nas boates, pretendem defender os palestinos mas aplaudem quando os
israelitas lhes dão uma imensa tareia com o seu poderio militar,
Perderam-se
as noções dos verdadeiros valores, dos valores da vida: tradição, respeito,
ética, felicidade. Hoje só há dois “valores” que se respeitam e almejam: a
tecnologia e o dinheiro. Aquela para melhor chegar a este. Os restantes valores,
culturalmente estão mortos ou a agonizar.
É o fim de
uma civilização. Todas acabam. A nossa, que herdámos dos gregos, até os
africanos estão já a lamentá-la, e a recear, talvez mais do que os próprios
europeus, o que virá após isso.
A cultura
africana vai também ser arrasada pelo poderio financeiro, como já está sendo.
A América
Latina auto estrangula-se, e aplaude, com o socialismo da corrupção.
E depois?
Ah! Depois
os filósofos têm que ficar de boca fechada. A democracia a vir, não aceita
filosofias que se choquem com a sua ditadura do proletariado.
Pode não ser
o Fim do Mundo. Mas vai ser para muitos. Sobretudo para aqueles que um dia
pensaram e se bateram por um mundo melhor. Pelo valor individual de cada um.
Quer dizer
que não há solução?
Talvez haja,
mas a muito, muito, longo prazo. E há já um exemplo: o Japão.
O Japão e o
seu sistema educativo. As escolas primárias não têm empregadas para a limpeza
nem para o arruma das salas. Os alunos têm a seu cargo a limpeza geral de toda
a escola, participam do arrumo da cozinha e lavagem da louça, recebem uma
educação cívica, impecável, cultuam a sua história e tradições, em casa são
ensinados a terem o maior respeito pelos idosos e, em todo o país ninguém
consegue encontrar caído no chão um mínimo pedaço de lixo.
Ora esse
respeito, que vem do berço, envolve tudo à sua volta, a começar pelo Outro. Assim,
adultos, conseguem discutir na Dieta os assuntos do país, sem terem que
considerar os “adversários” de outros partidos como inimigos, mas como
parceiros, com ideias diferentes sempre visando o bem geral.
A isto,
mesmo onde subsiste um imperador, se pode chamar de democracia.
Talvez
pudéssemos chamar a este sistema de governo, governo do respeito ou do
entendimento.
E não
esquecer as leis dos Inuites, que julgam sem o objetivo de castigar, mas de
reintegrar.
Há pouco
tempo consideravam-se os países nórdicos, Dinamarca, Noruega, etc., um exemplo
de democracia e desenvolvimento. A democracia deles está a matá-los. Não
tarda a verem-se todos nas horas santas ajoelhados no chão virados para
Meca.
A democracia
não tem que ser boazinha. Não é uma espécie de brincadeira
infantil. Não pode deixar que outros destruam os seus valores.
Apartheid ou
firmeza na manutenção da sua cultura, no respeito à sua história, aos
antepassados?
Parece mesmo
utopia, apesar de haver alguns povos, raros, que conseguem, com educação e
simplicidade, viver em democracia, em perfeito entendimento.
E nós, os
chamados ocidentais?
Perdidos.
09/07/21
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