sexta-feira, 30 de outubro de 2020

 

BANHA ou SEBO

Humanos, zebus, camelos e ursos

 

Nós, os chamados do “topo da cadeia alimentar e sapientia, primatas sapiens-sapiens, aparecemos neste planeta (estou cansado de falar nisto!) há menos de 0,003% do tempo em que a “terra” nasceu. Vamos dizer que serão uns 200.000 anos... se forem assim tantos.
As alforrecas (do árabe al-hurraiga -urtiga) ou águas-vivas, talvez os mais antigos animais da Terra, terão aparecido cerca de 650 milhões de anos antes dos humanos, os zebus, descendentes do “Bos Taurus” separaram-se dos outros Bos há alguns milhões de anos e, iguais aos de hoje, começaram a ser domesticados há cerca de 9 mil, os camelos teriam a sua origem na região do Polo Norte há uns 45 milhões de anos, e os ursos talvez uns 20 milhões.
O que têm em comum todos eles? Primeiro, exceto as alforrecas, são todos mamíferos, o que significa que todo o cuidado que eles têm com as fêmeas é pouco; jamais algum deles se lembrou de propor uma lei de aborto, nem consta que qualquer fêmea tenha feito, até hoje, operações plásticas para aumentar as mamas. Mas isso não interessa ao que vamos, a seguir, mencionar.
Comecemos pelos zebus. Originários da Índia, onde o clima, mesmo regular, depende das terríveis monções, quando, no verão chove imenso, alagando tudo, e no inverno a terra seca, quase ou mesmo desértica. O que fizeram os zebus para sobreviver a tão dramática situação? Há milhares, milhões de anos, no período das chuvas, quando há fartura eles comem o máximo que conseguem, sempre em excesso, excesso esse que armazenam na corcova – giba ou cupim – como gordura, e tanta quanto possível para atravessarem o inverno sobrevivendo com essa reserva quando o capim lhes falta.
Os camelos, que por incrível que pareça são oriundos do Polo Norte ou da América do Norte, com a glaciação passaram para a Ásia indo até Médio Oriente, tiveram que atravessar desertos imensos e com isso criarem situações semelhantes aos zebus, armazenando em uma ou duas imensas corcovas (dromedários, uma e camelos duas) grande quantidade de gordura e têm ainda uma rara qualidade que lhes permite quase não consumir água, nem alimentos durante cerca de duas semanas, chegando a andar 150 quilômetros por dia, dias seguidos,
E os ursos? Há imensos programas de animais de Tv mostrando os ursos a se banquetearem com os salmões na desova, riquíssimos em nutrientes, a matarem alguns pequenos animais para encherem o bandulho, engordando umas centenas de quilos para depois irem hibernar durante três ou quatro meses, diminuindo o seu ritmo cardíaco e deixando o corpo ir vivendo com as reservas armazenadas no outono. Não têm corcova e o excesso de gordura se espalha por todo o corpo. Quando volta a primavera os ursos despertam, deliciam-se com frutos silvestres e só começam a comer demais e encher a barriga no outono, quando sabem que vão precisar de reservas.
Tal qual os zebus, os camelos e outros animais.
E o homem? Ah! Os humanos! Antes de começarem a ser “civilizados”, não havia gente gorda, mesmo quando uma pequena tribo caçava um mamute, ninguém comia além do que lhe era necessário. Tinham que gerir todo o alimento que colhiam ou caçavam porque o dia de amanhã era sempre uma incógnita, e ninguém se arriscava a uma indigestão para uns dias depois morrer de fome. Eram bastante sapiens os nossos remotos antepassados. As mulheres sempre foram um pouco mais cheinhas porque os homens é que tinham, sempre, que correr atrás de alimento. Até pelo menos ao século XIX, o padrão de beleza feminina era de esqueletos bem cobertos de carnes, sem excessos. Veja-se por exemplo as pinturas de Renoir.
Mais para trás as mulheres usavam até armações metálicas para alargarem – imenso! – os quadris, os polissons, ou só para aumentarem as nádegas, os pannier!
Quando os europeus chegaram a África e contataram as tribos do deserto do Kalahari, os Bosquímanos ou Khoisan, talvez o grupo humanos mais antiga da terra, ficaram admirados ao verem os homens muito magros, mas de imensa resistência e as mulheres com esteatopígia  (do grego στεατοπυγία, de στεαρ, stear, "sebo", "gordura", e πυγος, pygos, "nádegas") aquele imenso acúmulo de sebo, gordura, nas nádegas. Porquê? Eles correm pelo deserto, às vezes dias a fio, para caçar algum animal enquanto elas ficavam quietas cuidando dos filhos, e aquela gordura servia-lhes para poderem garantir a amamentação dos filhos.
E chegamos ao século XX, pior ainda ao XXI.
Em todo o mundo, 2019, há mais de 700 milhões de obesos e 2,4 bilhões com peso excessivo! Só nos EUA estão 87 milhões de obesos!
Isto transformou algumas atividades importantes: uma a dos fabricantes de químicos, que vendem toneladas de miséria para combater a obesidade e aquela indesejável barriguinha, depois, sem ordem cronológica as chamadas academias que obrigam as pessoas a esforços quase sobre-humanos para ficarem elegantes (os homens com as barriguinhas tanquinhos, tão sexi que alguns implantam silicone para se mostrarem machos), uma imensidão de clínicas, spas, médicos, nutricionistas, fast-food, comida industrializada, cheia de químicos (conservantes, corantes, aromatizantes, antioxidantes, antiumectantes, acidulantes, espessantes, edulcorantes, estabilizantes, emulsificantes, glaceante, flavorizante, melhorador de farinha, estabilizante de cor, espumante... e até outros que conseguem ser camuflados. Até no pão, alimento sagrado, se usam químicos. CRIME!
Toada esta área industrial, comercial, médica, etc. ficaria sem rendimentos se as pessoas aprendessem a comer... por exemplo como os zebus ou os camelos!
Como os zebus e camelos, e até como os ursos, baleias e muitos outros, que só comem em excesso quando sabem que em grande parte do ano o alimento lhes vai faltar.
O excesso, o organismo guarda-o, em forma de gordura, para ser utilizada quando necessária.
Porque há no mundo tanto obeso ou gordo?
PRIMEIRO PORQUE COMEM MAL
Neste nosso tempo, desde muito pequenos, quando uma boa maioria dos bebés não se aleita do peito das mães, e mesmo que o faça, ela já está cheia daquela parafernália química, depois porque a GULA, desejo por comidabebida ou drogas, além do necessário, é tão nefasta que para algumas o cristianismo, procurando o bem estar dos homens, e mulheres, considerou-a um dos sete pecados capitais. Segundo tal visão, esse pecado está relacionado ao egoísmo humano: querer ter sempre mais e mais, não se contentando com o que já tem, uma forma de cobiça
Todos temos na família uma ou mais pessoas que estão acima do peso ideal. Parte dessas pessoas chegou a esse estado porque não fechou a boca no momento que devia e assim foi acumulando gordura.
Só que ninguém foi depois para o deserto, levando só uma garrafa de água, para ali ficar sem comer durante um mês.
Outras têm o grave problema chamado diabetes. Grave mesmo, porque o pâncreas não produz as células hormonais que ajudam o corpo a quebrar e usar o alimento. Esta doença já fora diagnosticada no Egito há cerca de 4.000 anos, mas só recentemente se descobriu como funcionava e como pode ser contornada.
Voltando aos nossos bichinhos, que sapiens muito bem o quando e quanto devem comer para sobreviver, também sabemos que a grande maioria da população mundial tem alimentos à sua disposição o ano todo. Não precisa armazenar gordura nas nádegas, barriga, etc.
Sabemos ainda que há ainda uns milhões de seres humanos que passam fome: guerra, falta de investimentos em infraestruturas de distribuição de água, falta de apoio técnico e financiamento, que é hoje a maior vergonha dos tais sapiens sapiens que preferem ganhar dinheiro com guerras e miséria do que transformar o nosso planeta em habitável sem vergonha.
Para aqueles que têm alimentos à sua disposição, o ano todo, mesmo carregados de química, a solução para uma vida saudável, não são os medicamentos, aliás os remédios que só servem para remediar, nem academias, nem dietas.
É a boca e a cabeça.
Comer só o necessário. Nem um grama a mais. E além disso o trivial: não abusar ou evitar refrigerantes cheios de veneno e açúcares, doces só um pouco para deixar a boca agradecida, e jamais fazer refeições para comer à bruta. Para contrariar essa possibilidade faça um regime inteligente, como faziam os ingleses:
- café da manhã, a melhor refeição do dia, cerca de 12 horas desde a última refeição na véspera: eles comiam ovos, feijão cozido, salsicha, pão, manteiga e café com leite. Saíam prontos para enfrentar um dia de trabalho.
- almoço: pouca coisa, para poder continuar a trabalhar na parte da tarde sem ter a pança cheia.
- à tarde: um lanche mais completo, algumas cervejas (a cerveja não engorda, e isso eu sei bem por que estudei e trabalhei dez anos em fábricas de cerveja. Ela não é mais do 99% de água)
- noite: um pouco antes de ir deitar-se: um chazinho, um biscoito e... cama.
As clínicas, médicos, nutricionistas, indústrias farmacêuticas e quejandos que me perdoem, mas a esmagadora maioria dos que engordam e se tornam obesos é porque querem. E com o vosso aplauso.
Os que não querem... ficarão sempre elegantes.
 
30/out/20

 

Um comentário:

  1. Tens razão, com tantas ofertas e facilidades de obtenção de alimento, hoje come-se mais do que se precisa e queima-se menos energia que deveríamos. Há também os "boca nervosa", que comem sem ver, por pura ansiedade. Pela boca compensa-se as frustrações e necessidades emocionais, engolindo sem medida todo o tipo de porcaria alimentar, até ficar-se doente de verdade!

    ResponderExcluir