sexta-feira, 27 de março de 2020



Bolsonarismo ou Brasileirismo ?

Se o país já estava em guerra interna, política, a pandemia, chinesa, mesmo que o senhor Xi Ping não goste que assim se diga, veio ainda aumentar o caos em que temos vivido. (O sr. Xi Ping não diz nada porque só mente, além de ter a OMS debaixo do seu TOTAL controle.)
Aqui no Brasil, até ao final de 2018 foi a época da roubalheira, corrupção, compadrio, inépcia total, destruição do que até lá se tinha erguido, do quase comunismo disfarçado com eleições, do «fomento» de obras em países esquerdistas, etc.
Chegaram novas eleições e apareceu alguém que enfrentou a máquina esquerdista mundial, o povo apoiou e ele se elegeu.
Já durante a campanha e depois de assumir, o novo Presidente passou a ser alvo de todos os mais vis ataques, nojentos e de índole raivosa e de centenas ou milhares de fake news, chegando ao ponto de terem alardeado que ele iria matar os gays e lésbicas! No Brasil, e pelo resto do mundo que ainda condecora e homenageia o maior ladrão de todos os tempos. Até babacas de Portugal tomaram as dores da esquerda que foi afastada!
Mas havia que escolher entre alguém que se propunha moralizar o país, incentivar a economia e acabar com a ladroagem, programas que até têm estado a ser cumpridos, ou a continuação da esquerda-caviar com a desmoralização geral, e a continuação da roubalheira.
Se Bolsonaro é o presidente ideal que o Brasil, bem como todos os países de mundo necessitam, não é, de certeza.
Num país, minimamente culto, a resposta da população, e de TODOS, deveria ser vamos arregaçar as mangas, colaborar com o novo governo sem deixar de estarmos atentos ao que possa parecer errado, sugerir ações e correções, enfim colaborar.
Se estivéssemos mesmo em guerra, nenhum soldado se atreveria a insultar o comandante, ou baldar-se para o inimigo, porque na sua cabeça certamente estaria o cumprimento do dever acima de tudo e a defesa da sua pátria.
Aqui nesta esfarrapada democracia– chamar-lhe democracia é mentir – a chamada oposição e não só, tem estado continuamente a destruir ou impossibilitar o andamento do país e a insultar o Presidente.
O governo propõe uma medida, qualquer que ela seja, e logo a assembleia dos deputados, onde 60 a 70% têm processos a correr em justiça, (perdão, parados na justiça por leis que eles elaboram em sua defesa, e advogados caríssimos) a torpedeia, distorce e impede o cumprimento dessas medidas porque vai atingir o bolso dessa canalha. E segue-se a mesma atitude por parte dos chamados senadores (ainda não consegui entender para que servem senadores se já tem uns 500 deputedos para legislar) e ainda o supremo tribunal federal, cuja maioria está umbilicalmente legada ao pt, a anular atos que pareciam ser unicamente da responsabilidade do governo executivo, e pior a tirar da cadeia os bandidos já condenados até em 2ª instância.
Um caos total.
Chega a pandemia, e os políticos que se querem perpetuar no poder começam a tomar medidas de confinamento que parecem absurdas. Fechar o comércio, quase todo, fechar estradas, congelar o país.
É evidente que há que haver o máximo de cuidados e atenção, porque o vírus não perdoa distrações ou facilidades, mas paralisar o país, onde a palavra quarentena pode significar isolamento de cinco a seis meses, é destruir, arrasar a nossa já fraca economia, que depois levará largos anos a se recuperar se... não voltar a gang da corrupção, os chamados bolcheviques.
Se isso acontecer, a culpa será, evidente, do Presidente!
Vai morrer gente com este vírus. Claro, mas continuam a morrer muitíssimo mais, todos os dias com a velha e conhecida influenza, e... cadê notícias disso ? E com as doenças cardiovasculares ? E câncer ?
E alguém se importa com o tráfico de mulheres e crianças para a prostituição ? Algum país já tomou posições efetivas, de força, para combater essa imensa pandemónia, essa vergonha desgraçada da espécie humana ? Foram dados suficientes alertas para que as pessoas se «isolassem» ou se unissem para combater essa situação? Não.
Sabe-se que a região principal do tráfico, é Gana, Nigéria, Marrocos, Brasil, Colômbia, República Dominicana, Filipinas e Tailândia. Os principais países de destino estão localizados na Europa Ocidental: Espanha, Bélgica, Alemanha, Holanda, Itália, Reino Unido, Portugal, Suíça, Suécia, Noruega e Dinamarca. A maioria das mulheres traficadas vem de regiões do Leste Europeu: Rússia, Ucrânia, Albânia, Kosovo, República Tcheca e Polônia, mas também do Sudeste Asiático: Filipinas e Tailândia, África: Gana, Nigéria e Marrocos, e da América Latina, especialmente Brasil, Colômbia, Equador e República Dominicana.
A OIT estimou que o lucro total anual produzido com o tráfico de seres humanos pode chegar a 31,6 bilhões de dólares, e segundo o Parlamento Europeu, estima-se que há hoje no mundo cerca de 21 milhões de pessoas vítimas de tráfico. Sendo que, mais de dois milhões são vítimas a cada ano.
Já o Parlamento Europeu calcula que o tráfico internacional movimente 117 bilhões de euros por ano. 
Um menino custa, segundo a polícia de Lagos/Nigéria, 1.245€ e uma menina um pouco mais da metade. No sul da Nigéria os gangsters/traficantes têm até « fábricas » de bebés.
O comércio de bebés também se dá na maioria dos países africanos citados.
Dá muito mais vontade de chorar e raiva do que o medo da Covid-19.
E onde está o medo, a histeria, a catadupa de informações igual à que nos chega a toda a hora e minuto sobre a Covi-19 do vírus SARS – COV 2?
Será que esta Covid vai fazer dois milhões de vítimas em todo o mundo ? E porque os países, aliás os governos da maioria dos países, não parecem sequer tomarem conhecimento disso ?
Vamos continuar a fechar o comércio todo para assistirmos, logo, logo, a uma avalanche de falências, miséria, e morte por inação e fome, ajudando ainda mais o tráfico da prostituição e venda de crianças ?
Dizem que os governos vão ajudar as pequenas e médias empresas, que se foram abaixo, com financiamentos a começar a reembolsar em seis meses. Muitos vão morder a isca, mas poucos conseguirão cumprir com a sua dívida. Só se pagam dívidas com dinheiro circulando e lucro. Com tudo parado, arrasado...
A esquerda bate palmas porque deixa o governo sob o fogo de tudo quanto de mal se possa passar.
Ninguém aqui é brasileirista, como há uns anos um deputado respondeu ao terrível e temível general presidente João Figueiredo: «O Brasil ? Ó presidente... o Brasil... »
Esta é a mentalidade da maioria dos políticos : «O Brasil... ó... que se dane ! »
Se alguém for mais consciente e decidir que está a apoiar o novo governo, aliás a apoiar a reconstrução dum país que foi saqueado durante duas décadas, mesmo desiludido com a postura do Presidente Bolsonaro, chamam-lhe fascista, neofascista, puxa-saco, etc., quando o que compete a cada um de nós, quer goste ou não do governo, pelo menos, pelo menos, é calar a boca e dar o seu máximo pelo país.
Mas isto é pedir muito à ganância da esquerda caviar, aos comunas e aos ignorantes em geral.
Falar mal dá audição, apoiar... rejeição.
É uma tristeza TUDO quanto estamos a assistir, mundo fora.
Tenho pena de não ter fé na reencarnação. Gostaria de aqui voltar daqui a 500 anos, para ver como a natureza estará brilhante, tendo acabado com os humanos! Como lá no etéreo a eternidade não tem tempo esses 500 anos vão passar rapidinho.
E 500 anos é mais do que suficiente para os humanos acabarem com tudo, inclusive com eles mesmos.

25/03/2020

segunda-feira, 23 de março de 2020



Pandemia e Pandemónio

No velho ditado “depois da tempestade sempre vem a calmaria” parece história da vovozinha, ou como por aqui dizem “conversa para boi dormir”! Desta vez a calmaria não vai chegar tão depressa.
Esta devastadora pandemia teve um sucesso imenso em deixar o mundo aterrado, comprando toneladas de papel higiénico, as cidades isoladas, a população encarcerada em suas casas, os italianos cantando às janelas mas já morreram milhares, os governos ditam medidas de segurança de quinze dias, quando se imagina que o pico da pandemia vai demorar ainda uns largos meses para começar a regredir, talvez só lá para Agosto ou Setembro, e o Irã, de começo a mentir (para variar) que tudo estava bem, mas na realidade estavam, e estão, muito mal.
Os órgãos de informação é só do que sabem falar, sejam eles do Brasil, Portugal, França, EUA, ou de qualquer outro país.
A China diz que já resolveu o problema, e os novos casos que voltaram a aparecer é culpa de alguns americanos que se deslocaram aquele país. Da China tudo quanto nos chega é falso, desde os relógios Rolex, que lá são de plástico e custam dez dólares, até as informações. Ninguém, ninguém pode basear-se no que eles dizem.
Os homens, os humanos, ainda não aprenderam que mexer com a natureza é o pior crime que podem cometer, porque ela acaba por se recompor e nós por nos decompormos, a história do feitiço que se vira contra o feiticeiro.
Lembra a metáfora do Adão e Eva, quando esta lhe terá dito que devia encarar Deus de frente e saber tanto como ele. Mexeu nos planos do Criador...
A que assistimos agora: cidades que parecem abandonadas como a poética Passargada, Persópolis, Cartago, que foram florescentes e o homem destruiu. Até Chernobill está a desaparecer debaixo da recuperação natural.
Fotos de Roma deserta com javalis comendo alguns restos nas ruas que há dias tinham milhões de transeuntes, mais adiante um lago, talvez a Fontana di Trevi ou em um outro, uns patos selvagens para ali vieram se apropriar do que algum dia foi deles, e o povo adoece e morre.
Hoje alimentamo-nos de química, de DNAs alterados, emitimos para o espaço (o espaço somos nós) uma imensidão de ondas curtas e longas, radioativas ou não, a Internet, o G4 e o G5, os médicos enchem-nos de remédios que são, como a palavra diz, para remediar e não para curar, não sabem mais o que sabiam as nossas mães e avós que para dor de ouvidos ainda é melhor pingar umas gotas de azeite morno do que tomar drogas da farmácia.
Estaremos com todo esse bombardeamento de química e raios invisíveis mais sujeitos a estes virus?
Depois, cientistas criminosos inventam virus e bactérias com finalidades mortíferas. Para estarem preparados para uma guerra biológica já que a atómica ninguém quer começar.
Nos tempos muito passados as lutas entre os povos eram com paus, pedras e murros. Assim que chegou o bronze quem o teve primeiro impôs-se. Depois o ferro, idem. Mais tarde a pólvora, canhões, espingardas. Vieram os aviões com bombas até à I Guerra Mundial com a sua inimaginável guerra química, onde foram usados o gás de cloro, o gás mostarda e o gás fosgênio (gás tóxico e corrosivo usado na fabricação agrotóxicos, corantes, produtos farmacêuticos, entre outros). Todos os países envolvidos, desde a Alemanha à Inglaterra, todos, exceto Portugal que não tendo para os usar foi deles vítima, valeram-se do uso desses gases contra os seus adversários. Só nessa vergonhosa guerra foram usadas 124 mil toneladas de gases. Loucura.
A seguir uns ensaios diabólicos com bombas atómicas e nucleares, e há muito que se fala em guerra biológica.
Hoje a ciência sofistica cada vez mais o poder mortífero, com uma finalidade única: poder, dinheiro. Por enquanto não se imagina que a China possa querer invadir a Rússia ou os Estados Unidos, nem vice-versa, então para quê essa sofisticada guerra biológica, que já chegou?
Parece que só o senhor Fleming por acaso descobriu a penicilina, já que os atuais nada descobrem por acaso, uma vez que perseguem outros objetivos misteriosos, financeiros e assassinos.
O mundo parou. E todos os dias uma quantidade de pseudo poetas mandam via Internet lindos poemas cantado a beleza de ficar em casa, avós com netinhos, a passagem de conhecimentos dos idosos para jovens, como se fazia até há duzentos anos, no frio, sentados à volta duma lareira, ou no calor de África também à volta do fogo da noite para afastar mosquitos e humidade.
Hoje os idosos estão isolados, não podem ou não devem ver os filhos nem os netos e, se a velhice já de si mesma, até daqueles que ainda gozam de saúde, é um peso difícil de carregar, isolados podem chorar de saudades, mas nada existe que possa substituir um bom abraço ou um beijo de carinho.
Nós, como milhares, que têm filhos e netos nas proximidades só os podem ver pelas vias virtuais, um rápido “alô” no telefone para saber se estão bem, e o calor humano da família... deixa na alma um frio doloroso.
Outros, idiotas, saúdam o isolamento porque diminuiu a emissão de CO2. Quem é capaz de imaginar que é mais bonito um céu limpo do que a família reunida?
É evidente a necessidade de isolamento. Quanto tempo e quais resultados? Não haverá isolamento total, porque há necessidade de abastecimento e os alimentos e medicamentos de que muitos têm necessidade constante não podem vir pela Internet. Há entregas.
Recomendam os sábios que ao receber mesmo os embrulhos do supermercado, depois de os abrir lave bem as mãos. E se um vírus chegar agarrado ao embrulho?
Outros recomendam que se sair para fazer compras, ao chegar a casa dispa toda a roupa e lave-a bem.
Duvido que alguém faça isso.
O vírus só vai parar de se expandir quando a maioria da população tiver sido atingida, o que não significa que todos morrerão. 0 a 0,2% de crianças e 7 ou 8% de adultos, sobretudo os que por qualquer outra razão estão já debilitados, é que devem pagar o preço mais alto. Os outros, mesmo não havendo medicamento que cure, com cuidados que os Serviços de Saúde recomendarão vão ultrapassar essa ameaça.
O mundo é tragicômico! No Brasil, agora, SÓ permitem visitas (familiares e sexuais) a detentos uma vez por semana! Que bestialidade! As pessoas que dantes poderíamos chamar de normais são obrigadas a ficar em casa, isoladas, e os bandidos podem ter uma visita por semana! Devem ter feito um acordo secreto com o Covid-19 para dar uma folga... por exemplo as quartas-feiras, mas só para bandido!
A estupidez, universal, a maior pandemia desde sempre, essa não tem remédio, nem cura.
Neste momento a minha maior preocupação não é o vírus, de que, como todos, não estou livre. Mas o que virá a seguir a esta paralisação mundial vai ser um pandemónio maior do que a pandemia.
Milhares de empresas falidas, milhões de trabalhadores sem salários, os países que dependem da importação para se alimentarem vão passar fome, muita fome, e... depois?
Aqueles que tiverem reservas financeiras, ou que possam manter os seus trabalhos, mesmo com algum sacrifício, prosseguirão as suas vidas. E os outros? Quanto tempo vai demorar para a economia mundial se reerguer? Quantos vão morrer da causa e não do efeito?
O custo de vida vai subir , estagnar ou aumentar?
Não há dúvida de que o terror paira em cima das nossas cabeças. Mesmo que alguns façam piadas com a situação, como sobre o idiotíssimo caso das pessoas que compraram uma centena de rolos de papel higiénico (cada rolo tem em média 40 metros de comprimento; 100 rolos perfazem 4 quilómetros!), a maioria, ao fim de poucos dias começa a dizer asneiras, alguns até, possivelmente a entrar em paranóia.
Tudo isto por ganância, poder.
O Outro, que pertence ao grupo dos que não têm poder, nada valem. São carne para canhão, neste caso para vírus.
Surgem também pedidos de orações. Rezar todos os dias, criar uma cadeia de meditação pedindo a Deus ou a qualquer dos seus santos que nos ajudem.
Infelizmente milagres não existem para estas coisas, quando não as guerras já teriam acabado há muito tempo. Mas é bom que orem e meditem. A quarentena tem como vantagem adicional proporcionar a cada um o olhar para dentro de si mesmo e pensar nos outros. O pior é que todos sabemos que o inferno está cheio de boas promessas, muitas delas feitas nas passagens dos anos!
Esta pandemia, PROVOCADA, vai fazer muito mais estragos do que qualquer das guerras que têm ocorrido desde o começo do século XX. Estragos físicos, morais e econômico-financeiros.
Fica no ar uma pergunta: o que o mundo, ou os poderosos, vão aprender com isso?
E um pedido aos amigos que estão mais longe: vão-me dando notícias das vossas saúdes. O meu coração está convosco e com todo o mundo.
Do meu lado, enquanto tiver físico e cabeça para ir escrevendo podem ter a certeza de que vou bem. Velhote e cansado mas bem. Se começar a falhar...

23/03/20


terça-feira, 17 de março de 2020



           
O Aniversário da Afilhada

A história começa há sessenta anos, com a mamãe, no andar de cima, a aguardar, ansiosa e certamente apreensiva e cansada, para ver o que ia nascer, rodeada por amigas mais experientes, e os homens, os machos,  o pai da em breve neófita, e mais três amigos, maridos das experientes damas que acompanhavam o transe, esperavam na sala jogando tranquilos o bridge. Todos jogadores de 2ª ou 3ª categoria, o que não fazia a menor  diferença.
Em cima a parturiente, além das amigas, vizinhas, estava assistida por uma parteira, ótima, cheia de prática e com dezenas ou centenas de nenéns tirados dos interiores femininos. A velha, saudosa e ótima Adriana.
Pelo mapa abaixo, duma pequena parte da cidade Luanda, estão indicadas as casas dos vizinhos, que distavam entre si uns 50 a 60 metros, formando um quase perfeito isósceles e muito percorrido triângulo:

Na nr. 3 vivia a parturiente, Maria de Magdala, seu amantíssimo esposo,  o Nuno António que deveria ter sido arcebispo mas enganou-se e estudou agronomia, ambos com uma filha de cerca de ano e meio, já afilhada dos moradores da nr. 1, a Maria.
Na nr. 2 outro agrónomo e colega de curso do anterior, o Belo António e sua Ana também de barriga a crescer, amigos desde a mais tenra idade do que relata este importante acontecimento, já com dois filhotes rapazes, e na casa nr. 1, este vosso cronista, sua Bela esposa igualmente de prometedor voluminoso ventre, que breve aliviaria, e seus já três filhos homens, homens a crescer.
Pouco tempo antes haviam discutido o sexo do neném que cada um aguardava e todos queriam com a certeza que os seus prognósticos desejos fossem cumpridos. Este, que vos escreve, apostou que ia ser um belo lote só de meninas. Foi o único que acertou.
Havia um quarto parceiro no bridge, o Xico d’Água, um medalhista olímpico, colega numa companhia de petróleos do António da nr. 2.
No andar superior (era um sobrado!) já não garanto que estivesse também a sua parceira, Graça Maria, porque certamente deveria ter ficado em casa a cuidar de uns 3 ou 4 filhotes de ambos os sexos.
Antigo Bairro da CAOP, hoje Bairro Comandante Valódia, e a ruas, Bernardim Ribeiro, das casas nr. 1 e 2, hoje abandonado o poeta português e a sua Menina e Moça, passou a chamar-se Custódio Bento de Azevedo (ilustríssimo e grande herói, totalmente desconhecido) e a nr. 3 sem nome até hoje, entre esta e outra, a ex El Rei D. Dinis (talvez fosse Travesssa El Rei D. Dinis ?), a mais apropriada para acolher um preposto arcebispo e a de mais fácil acesso a esse conjunto, mas que agora homenageia possivelmente um outro herói da guerra da independência, que desta vez se chama rua Sebastião Desta Vez, um também ilustre e se possível ainda mais desconhecido, mas com homónimo que tem uma curiosa página no Facebook!!!
Mas em Luanda raras vezes as pessoas indicavam alguma casa dando nome de rua e número de porta. Era mais ou menos assim: "ah, é aquela casa ali perto do supermercado “x”, na Maianga, perto do prédio da Força Aérea". Ou , "fica na segunda rua à direita depois do hospital do Prenda, uma casa verde" e assim por diante. Ou seja , você passava meses e anos em Luanda mal sabendo onde é o endereço de sua casa e seu trabalho, mas ignorando o dos amigos e colegas.
O bairro era muito calmo, as portas das casas sempre abertas e o “correrio” entre as nossas 1, 2, e 3 era constante. Os filhos iam crescendo e corriam para casa uns dos outros.
Voltemos ao parto. Tudo isto se passava à noite, a seguir ao jantar.
Na sala, como disse, com o anfitrião, nervoso também, jogava-se tranquilamente o bridge, até porque nenhum era mestre nessa arte, mas dava bem para passar umas horas entre amigos, beber umas Cucas e muito mais a conversar de que a jogar. Em cima, conversa em voz baixa para não cansar a mamãe nos seus trabalhos.
De repente passa na rua uma garotão em cima duma motorizada, escapamento aberto, a fazer uma berrata ensurdecedora: rrróóóó, rrrróóó... o que sem dúvida incomodou os jogadores e com certeza muito mais a mamãe a ser, lá em cima. O garotão virou ali na (ex) Bernardim Ribeiro, seguiu e... sumiu.
Não tarda um minuto, volta o motoqueiro com o mesmo barulho alto e chato, e repete a graça ainda mais duas vezes.
Nós já estávamos com vontade de esticar um arame mais ou menos pela altura do pescoço do barulhento, mas nem tínhamos o dito arame nem pensamentos assassinos.
À quarta passagem o dito e estúpido corredor, ao fazer a curva para a Bernardim, derrapou, esbarrou num poste de iluminação pública e caiu.
Nós ouvimos o barulho do acidente, largámos as cartas, corremos para socorrer o miserável que tínhamos vontade de estrangular! O dito estava caído e a motoca torcida ainda com uma roda a girar.
Não parecia ferido. O Xico d’Água perguntou-lhe se estava ferido e se precisava de ajuda.
O moleque mexeu-se, sentou-se, mesmo no chão, e disse:
- Não. Estou bem.
Cerrando os dentes para conter a raiva, o Xico aproxima a cara do acidentado e, voz rouca mas muito sonora, diz-lhe:
- Aarrrr! Que pena!
Já ninguém sabe dizer ao certo, a que horas, mas pouco depois do motoqueiro se ter esfolado, quem aparecia neste mundo de tormentos era a segunda menina do “ex-nunca-arcebispo” e sua Magdala.
Certamente umas palmadas na bundinha da criança para que ela logo mostrasse que não fazia tenções de viver de boca fechada, as comadres vizinhas e parteira cumprimentavam-se, e o honorável  e babado papai abria mais umas Cucas.
Não tardou a ser batizada e os padrinhos (por delegação) da Maria, apadrinharam também a novel Ana, nome que, carregado de significado, a colocava sob a proteção da Mãe de Nossa Senhora.
Todos sabem que os padrinhos eram de 2ª, mas sempre considerados como os verdadeiros, com primazia, e como irmãos dos progenitores das mininas.
Quando por qualquer circunstância em casa de algum faltava, por exemplo, batata, ou açúcar o que fosse, havia sempre o recurso de pedir ou ao cozinheiro ou a algum dos filhos que fosse a casa de um dos vizinhos tios e pedisse um empréstimo do bem em falta. Grande comunidade.
Naquele bairro passavam-se coisas curiosas. A parede da frente da casa nr. 3, para que a ventilação da dita se fizesse bem, e fazia, era de tijolo aberto, aqueles em “X”, o que permitia que volta e meia lhes entrasse na sala um gato que não era nada bem vindo. Entrava o gato, corria-se com a gato, mas o raio do bicho era teimoso e voltava todos os dias.
Nessa altura o “patrão”, além das armas de caça, que muitas e variadas possuia, tinha uma pistola dada pelo sogro, uma FN 35mm, que não matava nem pensamento ruim, e uma noite decidiu levar a arma para a mesa, ao jantar, aguardando a hora a que o felino visitante costumava aparecer.
D. Bela, quem o vê primeiro, em silêncio faz sinal com a cabeça, indicando que o invasor já ali estava.
O preposto atirador agarra na insignificante pistola, mas quando apontou tinha uma cadeira mesmo no meio da mira!
Torceu-se, tentou mirar melhor, disparou, um bom estrondo, porque o chão era de azulejo e não havia tapetes (nem razão para isso) que ecoou por toda a casa. O felino deu um elegantíssimo salto, apanhou um tremendo susto e saiu correndo. Nunca mais o vimos. A inspeção que se seguiu encontrou a bala alojada na porta de entrada... sempre aberta!
Os anos foram passando, todos mudaram para casas maiores e melhores, os petroleiros, um foi mandado para os Açores e o outro para Nova Lisboa e depois Portugal, Magdala e António ainda tiveram mais uma cria, o Zé, que só não teve os mesmo padrinhos porque estes estavam em Portugal, e os padrinhos por sua vez ainda viram aparecer-lhes mais cinco filhos, ficando com uma carga notável.
Tudo foi correndo até que o miserando vinteecincobarraquatro lhes acabou com aquela vida de África. Todos saíram de lágrimas nos olhos e o Brasil foi quem logo os acolheu.
Nessa altura a menina Ana estava já com uns 15 anos. Bonitona. Estudou e psicologou.
Não demorou a aparecer-lhe um príncipe Gonçalves com quem trocou juras de amor eterno, papai e mamãe arranjaram-lhes um principesco casamento em Portugal, onde estava o “grosso” de ambas as famílias, mas após as luas meladas, voltaram ao “país do futuro”.
Esperaram um pouco para que ambos se estabilizassem nos competentes trabalhos e ela criasse mais experiência nas psicologuices. Uns poucos anos depois, ainda na capital industrial do Brasil, São Paulo, chega-lhes a primeira minina, seguida de uma outra.
Do lado do escrevente e sua Belíssima esposa que já começavam a capengar, a turma também crescia e se multiplicava, apresentando netos e netas aos, babados com a descendência brasileira, e continuam os neófitos luandenses um a ser padrinho de uma, outra a ser madrinha de um, fortalecendo uma amizade que ultrapassa os foros de amigos para continuarem irmãos.
E a terceira geração nunca mais viu Angola! Nasceram no Brasil, aprenderam o requebro do samba, e só sabem da vida de África pelas histórias contadas, não à fogueira, mas talvez no ar condicionado.
Mais anos passam.
Menina Ana mais seu Gonçalves, duas filhas invejáveis, surge-lhes uma oportunidade e se mandam para a velha metrópole, onde prosseguem com sucesso as suas profissões.
As mininas crescem e dois jovens de qualidade e nacionalidades diversificadas, não tardaram a conquistar as atraentes garotas.
Chegou entretanto uma data a comemorar e decidem que é aqui, no Brasil, onde vivem os dois padrinhos das duas filhas, que vêm festejar a entrada no sexagenarismo matriarcal.
Ainda há dias andava o motoqueiro a perturbar o descanso da mamãe/vovó que se preparava para aliviar o barrigão, e aquela menina que nasceu no bairro da CAOP, veio festejar importante data, com o seu clã e com os compadres-irmãos no Brasil.
Chegou no Carnaval. Desfilou numa Escola de Samba (aguentou, divertiu-se e resistiu) diz que apareceu até nos jornais e na Tv e quase assinou contrato de Porta Bandeira com uma das famosas Escolas de Samba, depois deu um passeio de mar alto no glorioso “Mussulo” com outro compadre o grande mestre doutor e navegador de longo curso Guilherme Manim.
Isso é festejar a vida. Vivê-la com intensidade, porque passa tão depressa...
Longa vida a todos.
Já aqui não estarei, mas quando os últimos afilhados fizerem, eles, 60 anos, que se  juntem em outra grande farra.
Pode ser em Portugal, Canadá ou, porque não, novamente no Brasil e seu Carnaval. O tempo passa rapidinho e faltam só uns 30 anos!
É fácil: manter a amizade, cada vez mais viva.
Beijo a todos. E que ainda por aqui possamos estar quando a minina da CAOP festejar os oitenta! Os cem... não vai ter os padrinhos!

01.03.2020

quinta-feira, 12 de março de 2020




Outro Vírus

Há dias, fazendo uma pequena incursão na metafísica e em Deus, conclui que se NADA havia antes de Deus, como Deus apareceu?
Mas se aceitarmos a visão da igreja que Deus é sempiterno, e não teve princípio nem fim... ficamos na mesma, ou mais baralhados, porque a nossa capacidade mental, mesmo superando, se possível, um Einstein, não consegue enxergar absolutamente nada.
Agora põe-se nos um problema, gravíssimo, com características mais ou menos semelhantes: se até há pouco não havia o miserável Corona Vírus... quem o fez? É difícil aceitar sem discutir a simplista versão darwiniana de que terá sido uma mutação. Mutações existem desde o começo do mundo, mas também se provocam em laboratório, basta pensar como se têm produzido plantas com genética modificada, pintos que nascem e ou só botam ovos ou só crescem em carne, lembro ainda o desastre da mixomatose, causada pelo vírus mixoma, introduzido na Austrália para conter a infestação de coelhos e depois se espalhou pela Europa fazendo estragos imensos.
E porquê agora tanto barulho, por todo o mundo, sobre esta considerada pandemia?
Sempre fui muito céptico em relação ao modo como a economia mundial está a ser levada. Levada ao desastre.
O mundo TODO está numa histeria, ia a dizer incontornável, mas que tem todas as características de ser uma imensíssima e majestosa orquestração, com finalidades comerciais, financeiras.
O desastre está bem à vista dos nossos olhos: os aviões a voarem com meia dúzia, se tanto, de passageiros, duas empresas aéreas já faliram, as agências de viagens vêm os seus clientes cancelarem voos a toda a hora, milhares do voos suspensos, os shopping centers, vazios, cancelam-se a todo o momento congressos e outras reuniões de caráter aparentemente importante, os navios de cruzeiro são obrigados a permanecer no mar sem acesso a portos para que o ar circulante espalhe cada vez com mais eficiência o tal vírus, o terror tomou conta de tudo e a economia degrada-se a uma velocidade só vista na Sexta-Feira Negra de 1929.
Uma devastadora “bola de neve”. Os cinemas e os estádios desportivos de portas fechadas, como alguns museus, igrejas e outros locais onde as pessoas se juntavam. Até o Papa está a rezar em frente duma câmera de vídeo e abençoa os fiéis pelo WhatsApp!
Com este panorama chegará rápida e forte a inadimplência, o desemprego, a fome, crescerá o número de assaltos e roubos, e um dia, como que tirado da cartola dum mágico, uma ou mais indústrias farmacêuticas/financeiras, subsidiadas pela fome, vão aparecer milagrosamente com o conveniente antivírus.
Os países vão comprar aos milhões as vacinas de que só usarão uns 2 ou 3% como aconteceu há poucos anos na França com a gripe asiática (o governo encomendou, e pagou uns 30 ou 40 milhões de vacinas – queriam vacinar toda a população – mas só foram usadas nem 50.000 doses e o resto... ofereceram para África, que pagou!)
Todos dias, a todas as horas, todos os jornais e noticiários falam no Corona Vírus: mais tantos suspeitos, mais uns quantos infetados, alguns mortos, e as populações estão aterradas. Não sabem o que fazer. E esquecem, intencionalmente, de relatar quantos no mesmo período morreram duma “simples” e “normal” gripe, de pneumonia, e outros doenças infecciosas.
Não se fala de câncer, mesmo todos sabendo que com as novas tecnologias de produção animal e vegetal estão-nos a encher de drogas e de hormônios femininos, sempre perigosos, que tudo isto enfraquece o nosso organismo.
De acordo com o que é conhecido no mundo médico só deve morrer com o tal Corona, cerca de 1% dos infetados, porque no momento não há medicamento que cure. E morrem sobretudo os velhotes (eu?).
Mas a mídia mantém o tom apocalíptico duma desgraça universal, parecendo querer dizer-nos que o fim do mundo está perto. Por este caminhar parece mesmo aproximar-se com rapidez!
Será tão difícil saber quem criou essa bomba biológica? Certamente será, porque esses laboratórios estão todos interligados, mancomunados. Primeiro a culpa foi da China, que dificilmente não terá chamado Corona ao Vírus , talvez  só 福病毒! Depois a internet espalhou a notícia de que o vírus tinha sido desenvolvido num laboratório nos EUA, apresentando até documentação do registro (copyright) dessa sua invenção, outros garantiram que saiu de um laboratório em Inglaterra e agora é a Itália, por ter o maior número de casos, a que é apontada como responsável!
Todos sabemos que a internet é hoje a maior fonte de mentiras e de terror, e ninguém se atreve a pôr lhe cobro.
Uma crise de características profundas no mercado mundial há muito que se pressente.
Parece que ela chegou. “Queira Deus” que eu esteja totalmente enganado.
Sobe disparatadamente o Bit Coin, baixa o dólar, os governantes dos maiores países ocidentais parecem as bailarinas do Can-Can do século XIX, mostram as pernas, dançam, dizem um amontoado de besteira, mas nada resolvem, e parecem ferozmente determinados a destruir o que tem levado dezenas de milhares anos a construir.
Na Europa não sei se é pior a pandemia do Covid-19 ou o Alcorão 9.5 que define o infiel, genericamente como um não muçulmano, expressamente na Surata 9.5 que é bem eloquente: quando os meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras, onde quer que os acheis; capturai-os, acossai-os .
No Brasil vai tendo alguns casos, parece que morreu uma senhora com 90 anos, e que já estava para entregar a alma por outras razões médicas ou antigas, mas a população continua bastante despreocupada, vai tomando a sua cachacinha – ótimo remédio – indo ao futebol e aos bares. Talvez esta seja a mais inteligente maneira de enfrentar o tal Covi-19, até porque, ninguém o covidou.
E os órgãos de informação, sempre manipulados pela esquerda e pela alta finança que a sustenta (estranho, né?) continua a malhar no governo Bolsonaro, “esquecendo-se” de divulgar tudo quanto de positivo já foi feito desde que ele assumiu.
E nós, os simples, indefesos e mortais babacas, temos uma idiota tendência em aceitar tudo quanto nos enfiam pela cabeça, como a “maravilha” do BBB, um assalto às meninges de quem as tem.
Nessa gente, sim, deviam despejar lhes nas cabeças uns litros do tal Covid.
E mais ainda sobre a influência de terror que a China tão bem tem espalhado pelo mundo... para criarem crises que levam ao deterioramento dos preços dos alimentos que eles tanto necessitam para dar a comer a largos milhões.
Mao matou mais de meia dúzia de milhões para conseguir manter-se no poder. Os atuais chefes não se importam que por lá morram mais uns quantos milhares, porque não querem ficar mal, evitando inflação e... que se dane o resto do mundo.
A China levanta o boato do terror, espalha a morte, e os babacas ocidentais engolem, se apavoram e jamais aprendem a reagir.

11/03/2020

domingo, 8 de março de 2020


Um pouco de

Um pouco de música e reescrevendo um texto de 1997.
Porquê? Quem não gosta de música... boa?
Jovem, adolescente, comecei cedo a gostar de música clássica, possivelmente influenciado por minha mãe que em jovem tinha sido exímia no piano mas nunca quis seguir a vida de pianista. Ainda hoje fazem parte da minha escolha os grandes músicos de que todos gostam, como Tchaikovsky, Rimsky-Korsakov, Borodin, os Cossacos do Don e outros conjuntos corais, lá das bandas onde depois os bolcheviques tudo ou quase deterioraram... menos a música, a seguir  ninguém passa pela Polónia sem os Noturnos e as Polonaises de Chopin, ou na Hungria com Liszt, na Alemanha uma fartura desde Bach a Mozart e Wagner um tanto pesado, mas com coisas magníficas) o Grande Beethoven e o modernista Carl Orff, e o alemão-inglês Haendel, em França pouco mais do que Bizet e Massenet (o Bolero de Ravel, tão tocado, é uma chatice), a Itália com os magníficos barrocos Vivaldi, Pachebel e outros e depois com os grandes das óperas, Verdi, Rossini, Puccini, Leoncavallo, Turandot, Mascagni e mais uns tantos, da Espanha o mais que estupendo Flamenco e Joaquin Rodrigo, e chegando a Portugal, o Fado. Fado que vivi tanto que até cheguei a ser um medíocre guitarrista!
Tenho ainda três discos 33 rpm, com o “Messias” de Haendel, comprados em saldo, em Benguela em 1956, com a melhor gravação de tudo quanto tenho ouvido. Da PYE, inglesa!
Já mais adolescente, nas festinhas, eram minhas favoritas músicas calmas para dançar aconchegadinho: slow, tango, passo-doble e pouco mais. Nada de rocks ou twists.
É evidente que depois entraram Jacques Brell, Aznavour, Piaff e tantos outros...
“Descendo” para África, por organização geográfica de latitudes, começo por sonhar com as Mornas e Coladeiras de Cabo Verde, uma beleza.
Por fim cheguei a Angola indo, em 1954 para Benguela. E vou repetir um pouco do que escrevi em 1997.
Falar da musicalidade de África, sobretudo do ritmo dos negros, é pleonasmo! O africano tem o ritmo no corpo, na alma, na vida. Levou com ele essa musicalidade que lhe é congénita para todos os lugares do mundo para onde a diáspora os carregou.
Criou nos Estados Unidos os blues, o jazz, o samba, o reggae, o bolero, a rumba e o mambo de Cuba, guardou em sua casa de Luanda a massemba, aquela sensacional dança das sembas, umbigadas, a rebita em Benguela, que ainda não há muitos anos se dançava em baile mandado por um marcador, às vezes em francês, como En promenade, Encore, etc., os batuques espantosos, a marrabenta em Moçambique, e muito mais ainda, que os eruditos de música já devem ter contado para quem se interessou em ouvi-los.
Mas há situações a que possivelmente poucos estudiosos de música tenham tido oportunidade de assistir, como eu, na África do Sul, numa fábrica de equipamento agrícola, seção de caixotaria, de onde praticamente tudo era expedido embalado em caixotes ou grades de madeira.
Num armazém grande, meia dúzia de operários, preparavam esses caixotes. Recebiam as tábuas já cortadas, e de acordo com planos estabelecidos só tinham que as pregar para as transformar em caixas.
Cada homem em sua caixa, martelo e pregos para cada um. Todos em silêncio. A voz ali não fazia falta.
Um deles, à vez, dava a primeira martelada e logo em seguida, em ritmo de batuque, de dança, todos martelavam o mesmo número de pancadas nos pregos. Quando um terminava, terminavam todos. Novo prego, novo sinal de partida, mais um pouco de batuque, e por aí adiante.
Na visita que fiz a essa fábrica, acompanhado de mais oito visitantes, foi tal o meu espanto, admiração e entusiasmo por esse concerto de música que me deixei ali ficar uma porção de tempo, e acabei por me perder do grupo. Mas foi um espetáculo sensacional, e único, que não dá para esquecer.
Se fosse numa caixotaria de europeus, seis homens a martelar, ao fim de algumas horas esse pessoal deveria ficar surdo, com uma barulheira infernal, e mais os que tivessem a infelicidade de os ouvir. Mas em África não era assim. Aquele martelar não era barulho, era música.
Em Benguela, no pequeno cais do caminho de ferro, cinco homens, filhos da África negra, fortes, descalços, descarregando um vagão de milho ensacado, cada saco pesando sessenta quilos. Tiravam os sacos do vagão para os colocar num caminhão.
O mesmo tipo de música dos carpinteiros da África do Sul, só que desta vez os instrumentos musicais eram os pés! Sim, os pés.
Arrastando os pés no chão, o barulho que faziam era uma espécie de sshhii-ffuu.... sshhii-ffuu.... sshhii-ffuu. Difícil explicar por escrito um som diferente. Pior ainda um ritmo para quem nada sabe de música, nem ler uma pauta! Tentem lembrar o som que faz uma locomotiva de caminho de ferro, das antigas, a vapor, que no Brasil chamam de Maria Fumaça. É algo como sshhii...ffuu... sshhii...ffuu... e aí vai o trem! No mesmo ritmo e imitando maravilhosamente essas locomotivas, assim aqueles homens iam descarregando o vagão. Um, dentro do vagão para ajudar a levantar os sacos que os outros colocavam nas costas. Quando todos estavam prontos um deles fazia o primeiro sshhii... com o pé, e lá iam os quatro imitando o Maria Fumaça lá da terra, começando por compasso mais espaçado para irem acelerando até ao caminhão! Tal como faz o comboio quando começa a andar!
Fiquei ali um bom tempo, esquecido do resto do mundo que me rodeava, a apreciar este outro espetáculo, aquele ritmo incrível, inusitado, super original, que os homens faziam com a mesma naturalidade com que respiravam! Lembro que acharam graça ver-me a apreciá-los e ainda capricharam mais, se possível isso fosse! Trabalho pesado que a música aliviava e disfarçava. Quem já viu brancos fazer isto?
E os Marimbeiros do Zavala? Em Moçambique, a uns trezentos quilómetros para norte da capital, fica a região do Zavala, célebre pelos seus marimbeiros. Marimbas, xilofones, feitas de madeira, algumas com dois metros de comprimento. Instrumentos lindos, com uma elegância e beleza de fazer roer de inveja os mais renomados designers! O som, o ritmo, a musicalidade dessas marimbas é alguma coisa que precisa ser ouvido. Não dá para descrever.
Um grupo de cinco, dez, vinte homens tocando todos ao mesmo tempo as suas marimbas é um concerto inesquecível, digno de se apresentar em qualquer Carnegie ou Albert Hall por esse mundo fora. Entusiasmaria um Bach, um Mozart e até Beethoven.
Em África até o vento quando passa nas imponentes mulembas nas banzas dos sobas, agita as suas folhas ao ritmo quente e tranquilo do sol poente. Sem cadência é que não se pode passar. Seria uma ofensa ao compasso do coração d’África.
Quissange é um pequeno instrumento de música africano. A descrição deste instrumento para quem nunca o viu é o mesmo que descrever o gosto de um fruto a quem também nunca o viu nem provou.
A minha primeira ida para África, para Angola, foi de navio. A viagem de Lisboa para Luanda demorava dez dias, passando ao fim de dia e meio na Ilha da Madeira, no Funchal, e seis dias depois em São Tomé.
A Madeira é um jardim acidentado, florido, alguns lugares mais altos com vistas deslumbrantes, comida e vinho de primeira ordem, magníficos hotéis, um clima temperado sempre muito agradável o ano inteiro e por ser uma das jóias da coroa portuguesa foi objeto de diversas tentativas de roubo por parte da Inglaterra que chegou um dia a apoderar-se da ilha. Roubou-a, ocupou-a, hasteou ali a sua bandeira, mas pouco tempo depois foi obrigada a arriar a sua arrogância e devolver aquela maravilha. Os ingleses sempre foram uns grandes sócios, ladrões, de Portugal!
São Tomé é outro jardim, mas um jardim em plena linha do equador. Parece um cone perdido no meio do oceano, com o seu ponto mais alto que se eleva a 2024 m. Devido ao calor equatorial tem sempre nuvens mantendo as terras baixas abafadas, muito úmidas. A temperatura não é muito elevada, mas o ambiente sempre saturado de umidade, permite que se desenvolva uma vegetação exuberante. Exuberante e luxuriante.
Quando se avista do mar aparece por cima dessas nuvens o pico, e lembra, visto de longe um imenso chapéu mexicano. Vive, mal, da agricultura, tendo já sido o maior produtor mundial de cacau. No meio das plantações nascem antúrios, begónias e outras maravilhas que se capinam para limpar o terreno! Ao longo dos caminhos daquelas plantações, sobretudo de cacau e café, cheira a baunilha, apanham-se cocos e bananas, e vê-se a água correr encosta abaixo, sempre límpida, mesmo nas épocas em que pouco chove. É inesquecível um passeio por dentro de São Tomé. É como entrar numa estufa de plantas exóticas, só que ali os únicos exóticos somos nós! Os homens.
Quando embarquei em Lisboa, fui convidado para me sentar durante as refeições à mesa do comissário, o mais antigo de todos os comissários dos navios portugueses, que poucos anos passados se aposentou. Era um homem que conhecia o mundo, por onde navegou dezenas de anos.
Naquele tempo a Europa não estava, como hoje, abastecida de frutos tropicais frescos, com exceção da banana que se cultiva em zonas temperadas como Madeira, Açores e Canárias.
Em todas as escalas o navio se reabastecia de produtos locais para alimentar passageiros e tripulação, e apresentar novas alternativas para variar e melhorar o cardápio.
Depois de sairmos de São Tomé, à noite, durante o jantar, o comissário, sabendo que alguns dos convivas da sua mesa nunca tinham estado em África, disse:
- Creio que aqueles que vêm para África pela primeira vez vão comer um fruto tropical que lhes é desconhecido. Só queria pedir-lhes um favor: que o provem e me digam a que sabe.
Ficámos curiosos, e quando serviram a sobremesa lá apareceu uma espécie de melão vermelho, que de fato alguns dos convivas, como eu, nunca tinham visto. Cor bonita, muito mais que o melão de cor insípida, e quantas vezes de gosto também, e apesar de não ser muito polido cheirar a comida à mesa, havia que fazê-lo face à novidade e ao pedido do comissário. Para dar opinião sobre o paladar tem que se associar o olfato! Cheiro agradável. Provámos, e a todos soube muito bem. Era diferente. Ótima textura, fresco, sabor muito agradável. Está-se mesmo a ver que era mamão, ou papaia, como queiram.
- Digam-me lá a que sabe.
- A mim sabe-me a... flores.
- Tem graça - diz o comissário - ando por aqui há mais de trinta anos e nunca me souberam responder a esta pergunta. Realmente sabe mesmo a flores!
Foi a melhor comparação que consegui encontrar porque todo o aroma agradável normalmente provém de flores. Hoje sei muito bem que sabe mesmo é a mamão, que como todos os dias!
Algo parecido se passa com um quissange. Um instrumento tipicamente africano, só com oito ou nove notas musicais, sem nada que se lhe possa comparar no chamado mundo ocidental, nem me consta que seja tocado em orquestras ou conjuntos mesmo os modernos.
E o som? O som é produzido pela vibração das nove ou dez pequenas hastes de ferro forjado amarradas com arame recozido a uma base de madeira. Numa das bordas dessa base tem, enfiadas num arame mais forte, umas pequenas argolas de folha metálica que recebem a vibração e a transmitem à caixa de som. Toca-se com os polegares nessas hastes, como quem toca uma corda de violão, ficando os restantes dedos com o encargo de segurar a base de madeira que se pressiona encostada a meia cabaça, seca, que funciona como caixa de ressonância.
Deu para entender? É difícil.
O som produzido é dolente, tranquilo e suave como a brisa daquele mar generoso de Angola que todas as tardes sopra para terra.
Pouco tempo depois de ter chegado a Luanda, onde desembarquei, fui para Benguela, primeira cidade onde vivi em África. Cidade antiga, fundada em 1617, com porto pesqueiro e linha férrea, que naquela época teria poucos mil habitantes. Cidade pequena, plana, calma, e que ficava ainda mais bonita quando a maioria das árvores que sombreavam as suas ruas se cobriam de flores.
Cidade que descansava de noite com o silêncio e a brisa fresca vinda do mar.
Enquanto não aluguei casa para morar, hospedei-me num hotel que ficava no mesmo prédio do meu local de trabalho. Edifício novo, de dois pisos, sendo o térreo metade comercial, a outra metade com o restaurante do hotel e em cima os quartos. Hotelzinho simples, limpo, confortável.
Durante a noite à entrada do hotel ficava um guarda. Não havia necessidade de guardar o que quer que fosse, porque a vida era muito tranquila. A vida em Benguela era simples.
A primeira vez que me sentei numa esplanada para beber uma cerveja, ainda só importada porque não havia fabricação local, alemã ou holandesa, St. Pauli Girl ou Heinneken, as mais comuns nessa época, quando perguntei quanto devia, o criado, que não sei se alguma vez me tinha visto, traz-me um pequeno bloco de folhas em branco e um lápis.
- Para que é isto?
- P’ra pô na conta.
- Para pôr na conta de quem? perguntei brincando.
Mostrou os dentes alvíssimos, rindo.
- Na conta do pátrão.
Nesse caso o patrão era eu! Toda a gente punha na conta, e no final do mês peregrinava pelas lojas onde tinha feito despesa, e pagava. Pagavam quase todos, uns com mais pontualidade do que outros, como sempre ocorreu e vai continuar. Raro alguém andar com dinheiro no bolso, e mais raros os que tinham o crédito... desacreditado. Tudo era feito na base da confiança. Imaginem como eram belos esses tempos.
Voltemos ao guarda do hotel. Talvez fosse para guardar a segurança psicológica dos hóspedes. Quem sabe? Ou como diz o grande Neves e Sousa num poema de sobre Benguela que

...os guardas da noite só guardam a noite
morna e negra, comprida noite tropical...

Sékulo, preto véio, chegava silencioso ao princípio da noite e com a mesma humilde mansidão ia embora de manhã.
Sentava-se em cima de um velho luando no degrau da entrada do prédio, encolhido, os joelhos quase encostando nos queixos, e envolto num também já coçado cambriquito ali ficava a noite toda.
Para não adormecer tocava no seu quissange. Música? É difícil chamar música ao que ele tocava. Talvez melodia ou ritmo. Nem isso. Simplesmente sons com uma cadência agradável mas monótona. Sempre muito igual acabava sendo incrivelmente monótono. Um chorinho triste, não o Chorinho musical brasileiro, este sim, alegre, mas, como dizia Vinícius de Morais, um chorinho de velhinho moribundo, né?
A janela do meu quarto ficava bem por cima da entrada. África, calor, no tempo em que ar condicionado estava a dar os primeiros passos só no mundo dos ricos, e Angola era dos pobres, só se podia dormir com a janela toda aberta. Apesar dos meus vinte e poucos anos, boa saúde e somente algum nervosismo, normal para quem chega a um novo continente e vai começar nova vida profissional, sem conhecer vivalma naquela cidade, o sono não era tão profundo que não desse para escutar de vez em quando aqueles sons, uma espécie de gemidos, mesmo que suaves, mas sons, ininterruptos, e de timbre desconhecido. Sons que de começo até davam sono, mas o melhor som para dormir sempre foi o silêncio total, depois que se calaram as canções de ninar das nossas mães.
Acabei por ir à janela espreitar o que se passava, e ali mesmo por baixo, um vulto escondido debaixo de um pano, de formato estranho, emitia esses sons. Não disse nada, não fosse interromper a criatividade de algum génio musical, mesmo ignorado pela crítica, e adormeci.
De manhã cedo quando fui matabichar ainda ali estava o músico.
- Bom dia.
- Bom dia, pátrão.
Elogiei a sua aptidão musical, e pedi que me mostrasse o instrumento.
- Como se chama isto?
- Quissange, pátrão.
- Gostei. Toca mais um pouco para eu ver como é, toca?
Sorridente se prontificou. Deve ter sentido o mesmo orgulho de Chopin quando príncipes lhe pediam, por favor, que tocasse para eles! Eu estava curioso para ver como se fazia sair som de tão estranho objeto.
Depois de mais uma pequena exibição, interessante, perguntei-lhe se me venderia o quissange. Hesitou, mas por fim, uma nota já não sei de quantos angolares não teve dificuldade em convencê-lo.
É ver a ilustração. O meu quissange há 66 anos!


A partir dessa noite o silêncio na rua foi magnifico, apesar da alguma falta que faziam aqueles lamentos!
Esse quissange até hoje faz parte daquilo a que enfaticamente chamo a minha pequena coleção de recordações, curiosidades, para mim preciosidades, africanas. Meia dúzia, mas minhas, e importantes.
Não tardou a arranjar casa que aluguei, e o mesmo guarda, que eu via quase todos os dias por ter o meu trabalho no prédio do hotel, continuou tocando a sua melodia com um novo quissange, feito por ele, e assim voltou a embalar as noites de outros hóspedes com sono mais pesado e menos interessados em colecionar objetos curiosos.

Escrito em 1997
Reescrito em 26/02/20