Pesquisei muito e encontrei, como escrevi no texto
anterior, muita informação interessante sobre essas simpáticas figuras, os
Magos... os Reis!
Na memória popular pouco mais ficou do que aqueles homens,
com vestes reais, carregando o ouro, o incenso e a mirra e ajoelhados aos pés
do Menino, o novo Rei dos Judeus. Festejam-se, admiram-nos, foram e continuam a
ser preciosa fonte inspiradora para poetas, como Edmont Rostand (1868-1918):
Eles perderam a estrela uma
noite. Por que perdemos a estrela?
Por ter, por vezes, olhado
demais para ela.
Os dois reis brancos, sendo
estudiosos da Caldea,
Traçavam com varas círculos no
solo.
Eles fizeram cálculos, coçaram
as barbas,
Mas a estrela tinha fugido,
como se fosse uma idéia vazando.
E estes homens cujas almas tinham
sede de serem guiados,
Choravam, erguendo as tendas
de algodão.
Mas o pobre Rei Negro,
desprezado pelos outros dois, diz a si mesmo:
"Pensemos nas sedes que
não são nossas; ainda devemos dar de beber aos animais."
E, enquanto ele segurava seu balde de água,
Na humilde rodada do céu onde
camelos bebiam,
Ele viu a estrela dourada, que
dançava em silêncio.
Inspirou inúmeros filósofos, escritores, pintores e
escultores, dos mais célebres aos mais humildes como os que, no agreste do
Brasil fazem estas imagens, que há muitos anos compõem o nosso presépio:
Terminado o texto anterior não abandonei os Magos
que “avisados por Deus
e temendo o feroz rei Herodes” fizeram o regresso às suas terras por novos
e escondidos caminhos.
Seguindo os traços destes homens, que ninguém sabe
quem foram nem quantos, é voz corrente, sobretudo na Pérsia, Irã, que no
caminho eles foram espalhando a boa nova: “Vimos o menino. Ele vai ser o
rei abençoado.”
E naquele longínquo oriente uma nova esperança, uma
nova fé começa a nascer e a entusiasmar muita gente.
Hoje o Irã tolera três religiões: o islão, única
religião oficial, a cristã e a judaica. 99% são muçulmanos, dos quais uns 7%
sunitas), 0,7% cristãos, o que dá uma população de uns 400.000 e uns 200.000
judeus.
Dizem que eles morreram logo
em Jerusalém. Outros na Índia e ainda outros na Pérsia, onde deixaram o
“terreno” preparado para que o cristianismo crescesse e frutificasse.
Mais tarde Santa Helena, mãe do imperador Constantino, viajou à Índia
(?) e recuperou seus corpos. Depositou-os em um túmulo belíssimo e o colocou na
grande igreja de Santa Sofia, em Constantinopla, coisa impossível de ter
acontecido, porque Santa Helena faleceu em 330 e a Igreja de Santa Sofia só foi
construída entre 532 e 537. Como ela mandou construir duas igrejas, uma da
Natividade em Belém, que dura até hoje e a Basílica da Ascenção de Jesus no
Monte das Oliveiras, a ser verdade que recuperou os corpos dos Magos, deve
tê-los sepultado, mais logicamente em Belém. Mas...
John
of Hildesheim no livro do século XIV, “Historia Trium Regum” (“História dos
três reis”), afirma que Baltasar, Melchior e Gaspar eram da Índia, Pérsia e
Caldeia (atualmente Irã e Iraque). Eles iniciaram a sua viagem de forma
separada, reuniram-se em Jerusalém e continuaram juntos até Belém. Depois de adorar
Jesus, voltaram juntos à Índia, onde construíram uma igreja e, após uma visão
que lhes revelou que sua vida terrena estava a ponto de terminar, faleceram ao
mesmo tempo e foram enterrados em sua igreja na Índia.
Mas parece mais consentâneo que Santa Helena tenha recuperado os corpos
em Sabba, cidade da Pérsia, possivelmente na Mesopotâmia.
Mais provável, ainda que tudo lenda, as relíquias recuperadas pela imperatriz
Santa Helena, sim, mãe do imperador Constantino, reunidas no ano 300 na cidade
de Sabba os restos dos três misteriosos personagens e a partir dali terem sido
enviadas para Constantinopla. Repousaram durante poucos anos neste lugar, até Santo Eustórgio, bispo de Milão, ir
a Constantinopla pedir ao imperador Constantino que o confirmasse nessa função.
Constantino não só o confirmou como lhe terá dado, como relíquias, os corpos do
Reis Magos.
Ainda no século IV Santo Eustórgio mandou construir uma Basílica, que
ficou conhecida com o seu nome, onde depositou as relíquias levadas de
Cosntantinopla. Durante muito tempo esta Basílica foi um destino de
peregrinos, já que era considerada o local da tumba dos Reis Magos.
Também há quem afirme que no final do século VI, o imperador Maurício
transportou as relíquias para Milão, o
que é outra invenção sem qualquer cabimento. Isto parece mostrar
que quem escreveu sobre o imperador Maurício (Flávio
Maurício Tibério Augusto, imperador bizantino no período de 582 a 602, nascido
na Arménia), no século VI... se
terá esquecido de Santo Eustórgio, e nada sabia de Milão.!!!
Em
1164, o imperador alemão Frederico Barba Ruiva saqueou Milão, e descobriu que uma igreja milanesa
custodiava as relíquias. A abadessa deste convento era irmã do prefeito da
cidade e prometeu dar as relíquias em troca de proteger a vida de seu
irmão da fúria do imperador depois do ataque à cidade. O Arcebispo de Colónia foi
chamado a intervir e no fim só pediu uma recompensa ao imperador: que
permitisse que a abadessa abandonasse a cidade de Milão com tudo aquilo que
pudesse carregar sobre seus ombros. A abadessa cumpriu com a sua parte do trato
e como agradecimento ofereceu as relíquias ao Arcebispo de Colónia.
Desta forma as relíquias, os supostos restos
mortais dos Magos: Baltazar, Melchior e Gaspar, foram transferidos como dádiva para o Arcebispo de Colónia
com a finalidade de o Império Sacro Germânico ficar sob a proteção dos Reis...
já santos.
As
relíquias tinham grande significado religioso e poderiam atrair muitos
peregrinos de toda a cristandade e com isso se ordenou a construção daquela
magnífica catedral que tinha começado em 1248 e levou mais de 600 anos para ser terminada.
Foi construída no local de um templo romano do século IV, um edifício quadrado
conhecido como a "mais Velha Catedral" e administrada por São Materno,
o primeiro bispo cristão de Colónia. Uma segunda igreja foi ainda construída no
mesmo local, a chamada "Velha Catedral", cuja construção foi completada
em 818 mas acabou queimada em 1248.
Atualmente
tais relíquias são mantidas no Santuário dos Reis Magos na Catedral de Colónia num
sepulcro de ouro. Mas... serão mesmo eles que lá estão???
Em 1864, o relicário foi aberto e descobriram
os esqueletos de três homens. É possível que estes sejam os restos dos três
reis magos que adoraram Jesus, ou seriam apenas três esqueletos anônimos que se
fizeram passar pelos magos no início da Idade Média?
Um esqueleto pertence a um homem jovem, outro
a um homem de meia-idade e outra a um idoso. Um mosaico do século VI em Ravena,
que representa os três magos, mostra precisamente homens com estas
características. Este detalhe coincide com o resto da história o que parece
conferir alguma veracidade.
Em
1906 o então Bispo de Milão, Cardeal Ferrari obteve uma restituição parcial das
relíquias que se conservam no altar da Basílica de Santo Eustórgio e obteve outras
pistas intrigantes.
Mas tem mais história sobre os corpos dos
magníficos Magos.
Tudo é bem enigmático.
Marco Polo, no capítulo 22 do seu livro “Il Millione” diz que os Magos saíram
da cidade Sabba na Pérsia, hoje Saveh, e que, cerca de 1275, viu os corpos dos
três Magos nos seus sepulcros, ainda “inteirinhos e com os cabelos e barba
como quando vivos”. Diz ele que interrogou muita gente que apenas soube
dizer que estavam ali sepultados havia longuíssimos anos!
Isto mais de um século
depois de o Barba Ruiva os ter levado para Colónia! Seria uma espécie de
vingançazinha de um italiano para perturbar os germânicos? Mas as considerações
de Marco Polo sobre a visita dos Magos ao Menino são demasiado fantasistas, até
porque ter visto os três corpos, “fresquinhos...” depois de doze séculos...
Infelizmente.
A verdade... ninguém
sabe. Como Buda dizia que “passou a vida à procura da verdade e morria sem a
ter encontrado”!
Deixemos os ossos
dos simpáticos Magos descansarem (devem ainda estar estafados de tanta andança)
e vamos seguir pela sua herança.
Hoje em Saveh não
existe nem uma só igreja, mas a Grande Mesquita dali foi edificada no século
XII por cima de um antigo templo zoroastriano. Nada quase sobra do original mas
dizem que era construído em tijolo, tendo “uma sala principal para o fogo
sagrado, e dois compartimentos onde os representantes do antigo culto se
recolhiam para orar”!
Sabe-se que antes
de ser destruída por Gengis Khan, Saveg era um importante centro astronómico...
Os Magos seriam astrónomos, sacerdotes zoroastristas ou ambas as coisas?
Hoje, os cristãos
do Oriente, dizem que foram os três Reis Magos que iniciaram uma nova religião,
porque terão entendido que o Menino, mesmo recém nascido, lhes terá transmitido
uma mensagem de Amor e Paz.
Céline Hoyeau que
se deslocou há pouco ao Irã à procura dos rastos dos Magos, foi a Urmia, à
beira do Lago do mesmo nome, sede de uma das mais antigas comunidades cristãs
de todo o mundo, onde os Magos teriam sido sepultados, de acordo com a antiga
tradição da Igreja do Oriente, segundo o Padre Pierre Humblot, já em França com
85 anos em 2012, que passou quarenta anos no Irã. A Igreja Persa, que ele tanto
trazia no coração e que fora fundada, dizia ele, com ar misterioso e divertido,
pelos Magos!
O padre que
recebia muitos iranianos atraídos pelo cristianismo deu muito crédito a essa
tradição, descoberta na Crónica de Zuqnin, uma crónica universal, em
língua siríaca, que conta a história do mundo desde a Criação até ao ano de 775,
e terá sido escrita por um monge em meados do século VIII, que conta a epopeia
de doze (e já não três) reis que, todos os anos aguardavam em oração num certo
monte Victorial a luz de uma estrela que devia guiá-los para Deus “que lhes
apareceria sob a forma de um homem pobre e humilde”. No regresso do monte
eles anunciaram na Pérsia o que tinham visto em Belém. (Não há como saber onde
seria este monte Victorial)
Esses
doze reis ou magos, foram pouco depois batizados pelo Apóstolo Tomé,
tornaram-se missionários, e “a fé na Vida se expandiu pelo Oriente. Um deles
estaria sepultado na Igreja de Santa Maria, em Urmia.”
Outro
padre francês, o padre Jean-Louis Lejeune, desde 1968 no Irã, passou a vida ao
lado dos iranianos ao ponto de pensar em persa”! Ao serviço da igreja
caldeica-católica, próxima dos responsáveis de outras igrejas de Urmia, levou
Céline Hoyeau ao seu bispo, Monsenhor Thomas Meram um iraquiano, também instalado
no Irã há mais de quarenta anos e que conhece bem as 80 igrejas de Urmia e das
povoações nos arredores. “Os cristãos estão aqui desde o primeiro século”, afirmou,
explicando que a sua igreja foi fundada por Addai e Mari, dois
discípulos de Apóstolo Tomé, e que este mesmo havia passado pela região. Por
isso se diz que aquela “igreja é apostólica”.
A igreja sofreu
consecutivas vagas de perseguição, mas também uma imensa expansão. Mil anos
antes dos jesuítas ela enviou missionários por toda a Rota da Seda, até
à China. “Chegámos até a ter um bispo mongol, no século XIII!”
O sacristão Sargon Ushana, afirma que uma
outra igreja foi fundada sobre um templo zoroastriano. “Um mago era o
encarregado do fogo sagrado. De volta de Belém esse velho sacerdote
zoroastriano transformou o seu templo em Igreja”. “Temos trabalhado muito para
encontrar o túmulo, mas até agora, nada”.
Padre Eilosh Azizyan, assírio, está “100%”
seguro que a sua Igreja, de Santa Maria, está sobre o túmulo de um Mago. “Ela
parece nova, mas as pedras mais antigas estão no interior das paredes atuais; ela
foi quase destruída pelos otomanos e reconstruída em 1944. Pesquisadores
italianos estão interessados em explorar, e se isso se provar, dará grande
crédito ao cristianismo e ao Evangelho no Irã”.
O presidente do Instituto de Proteção do
Património Histórico e Cultural Italiano, Silvano Vicenti, informou que em
Abril de 2017, um responsável da província de Azerbaijão Ocidental da Pérsia,
onde Urmia, Urumieyh, é a capital, o contatou para tentar detectar potenciais
restos mortais de magos que estarão sob a famosa igreja de Santa Maria, o que
mostra que as autoridades iranianas se começam a interessar pelo assunto...
Vicenti considera-se ateu, mas... “se
novas evidências emergirem, estou pronto a mudar de opinião!”
De acordo com a tradição mais aceite terá
sido o Apóstolo Tomé quem evangelizou a Mesopotâmia, ou um dos seus
companheiros, Mari, um dos 72 discípulos de Jesus, quando Tomé seguiu para a
Índia.
Um manuscrito antigo permite datar a primeira
igreja fundada em Kohké, nos arredores de Seleucie-Ctésiphon, capital dos
partos (cerca de 35 kms a sul de Bagdad), entre 79 e 120.
A partir de 226 os persas querendo unificar o
Império à volta duma religião nacional, o mazdeismo, começaram violentas
perseguições aos cristãos.
Depois da conquista muçulmana tudo parece ir
abaixo, com sucessivas vagas de perseguições. Sob o Califado Abássida
(750-1517), que transferiu a sede da Damasco para Bagdad os cristãos são mais
bem tratados. Logo a partir desta altura o Patriarca Timóteo I, ainda no século
VII, nomeia monges missionários na Ásia Central na Rota da Seda. Extraordinária
epopeia de monges missionários que se aventuram por mar até à Birmânia e
Tailândia e por terra até à China, mil anos antes dos jesuítas ali terem
entrado.
Uma estela de Sig Nan Fou, erguida em 779 em
chinês, assinada por monges persas, testemunha a implantação de vários
mosteiros cristãos ao lado da atual Pequim.
No tempo do seu esplendor os cristãos do
Oriente alcançavam 80 milhões de almas, mais do que toda a Europa junta.
Mas século IX e depois no XIII, sob a
dinastia Ming, a China se fechou a toda a religião estrangeira e a presença
cristã se apaga.
Na mesma época os Mongóis massacram os
muçulmanos, os cristãos da Pérsia são dispersados e muitos mongóis convertem-se
ao cristianismo, chegando um deles, em 1281 a ser Patriarca.
Mas depois de tentativas de aliança entre os
Cruzados e Mongóis estes se voltam cada vez mais para os muçulmanos e centenas
de milhares de cristãos são massacrados.
Despois da “noite escura” veio a época
da “grande separação”: a latinização da Igreja da Pérsia, começada com
os Cruzados, cristaliza-se em 1553, alguns bispos se voltam para Roma em reação
a um Patriarcado tornado hereditário. Um patriarca católico instala-se à cabeça
de uma Igreja, mesmo continuando a chamar-se “caldaica”.
Um pequeno resto de cristãos do Oriente
refugia-se nas montanhas do Kurdistão, nos montes Hakkari, arrebanhados do
Kurdistão pela Turquia. Viveram isolados até ao enfraquecimento do Império
Otomano, antes de voltarem para as planícies do Irã e Iraque. E voltam a ser
vítimas de perseguições no século XX, sobretudo após a I Guerra Mundial.
Seduzidos pelos russos sobre a promessa da criação
de um estado independente, revoltam-se contra os turcos, mas são deixados pelos
“aliados” e massacrados.
Surge agora, com o Papa Francisco, alguma
esperança dessa Igreja com a nomeação de cardeais siríacos: Sua Santidade
Bechara Rai, patriarca de Antioquia dos maronitas, Baselios Cleemis Thottunkal,
arcebispo dos sírio-malankara da Índia, George Alenchery, arcebispo dos
sírios-malabares (estes dois últimos, da região por onde andou São Tomé), e da
instalação dum bispo maronita para a Europa, Monsenhor Nasser Gemayel, responsável
durante quarenta anos dos catecúmenos no Irã. Ele vê assim “um desafio para
a nova evangelização no seio da comunidade, uma vez que ela tem sido tão
perseguida que se fecha nas suas etnias, em vez de abrir aos numerosos
convertidos que batem à sua porta”
Todos os antigos cristãos do
Paquistão, China, Etiópia, Pérsia e Ásia Central garantem ser descendentes
desses Magos. Serão, quase de certeza herdeiros da sua Fé que os levou ao
cristianismo.
Que Deus os ilumine e proteja.
Entretanto São Tomé foi a caminho da Índia e
falaremos sobre ele... proximamente.
10/jan/2020
Isto é um quebra cabeças de dimensões gigantescas e nunca será solucionado mas desde que cada um acredite na sua verdade e não queira impô-la à força e tenha a generosidade de respeitar a verdade dos outros, então teríamos atingido a plenitude. Mas o ego e as vaidades do ser humano nunca irão permitir que isso aconteça.
ResponderExcluirCARAMBA! Super interessante.
ResponderExcluirPARABÉNS e obrigado.
Abraço,
Henrique
Espantoso trabalho, que li de um fôlego. Agora vou reflectir. Parabéns, Francisco. E obrigada!
ResponderExcluirSaúde e vitalidade!
Grande abraço.
H
GRANDE PESQUISA! ABRAÇO!
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