quinta-feira, 9 de maio de 2019




O Mestre

Muitos de nós já ouvimos falar de Dédalo, aquele grego, escultor, que matou um sobrinho, fugiu para o Egito e depois para Creta onde criou o famoso labirinto, de onde, quem entrasse, nunca mais conseguia encontrar a saída, e onde guardaram o Minotauro que andava a traçar as cretenses todas! Só Teseu, que era esperto, conseguiu lá entrar e sair, guiado por um fio que amarrou na entrada, e que, depois de matar o Minotauro, lhe mostrou o caminho de volta. O rei Minos, não gostava de Teseu, que namorava a sua filha, e como Dédalo os protegia, condenou este e seu filho Ícaro a ficarem abandonados dentro do labirinto, de onde não sabiam como sair.
Mas de Ícaro quase toda a gente já ouviu falar. Era filho de Dédalo. Este, hábil, decidiu que só dali poderiam sair... voando! E, com penas e cera fizeram umas grandes asas, elevaram-se no ar, e conseguiram dar o fora.
Ícaro, jovem, imprudente, maravilhado com a vista das alturas, foi sempre subindo, contra os conselhos do pai, aproximou-se do sol, a cera derreteu, ele caiu no mar e afogou-se. Dédalo foi fazendo um voo rasteiro e chegou à Sicília.
Se a lenda estiver certa, foi por volta de 1400 antes de Cristo, que aconteceu o primeiro voo e o primeiro desastre aéreo! Sem esquecer que os gregos tiveram o famoso Pégaso, cavalo alado que devia voar tão bem que ficou como símbolo da eternidade e ainda com direito a uma constelação com o seu nome.




Lendas de ensaios de voos vêm desde tempos que se perdem, com figuras de “aviadores” como o ferreiro germânico Wieland, outro ferreiro finlandês, Ilmarinen, o canadense Ayar-Katsi, o chileno Maitschanlé, em África o “piloto” ter-se-á chamado Kibango, na Índia as filhas do rei Indra Deva voavam até ao céu carregando os maridos, o persa Kai-Kaus, e possivelmente outros, em tempos que só a lenda manteve.
Na China usavam os famosos papagaios de papel para se elevarem no ar, o mesmo faziam os japoneses. Estes para espiar os inimigos e traçar a logística da batalha, que pouco mais faziam do que se guerrearem. No começo da nossa era foi Simão, o Mágico, companheiro dos apóstolos que fez um voo desastroso, e até dizem que Maomé viu o anjo Gabriel vir do céu numa mula.
Já na idade média cabe à Península Ibérica um voo. Um árabe, cordovês, Abu-al-Qasim, voou, caiu e morreu, outro árabe em Constantinopla, repetiu a dose. No século XV foi um italiano Giovanni Battista que fez um voo planado aterrou em cima duma igreja e quebrou-se todo, mas sobreviveu.
Depois aparece o génio Leonardo da Vinci, que nunca voou, mas desenhou, com a sua imensa queda para a engenharia, asas para serem usadas por homens e até projetou um princípio que mais tarde se aplicou aos helicópteros.
No século XVIII foram vários os sonhadores: Blanchard, que após vários insucessos deixou o voo mas atravessou a Mancha num balão, em 1808 Degen, em Viena, fabricou uma espécie de paraquedas com fitas de seda, o que hoje seria quase uma asa-delta, em Ulm, Alemanha, Berblinger propôs-se atravessar o Danúbio, mas caiu dentro de água, mais tarde de Groof, sapateiro belga, fabricou duas asas de 11 metros com que se esparramou no chão. Pénaud e Tatin fizeram experiências com aviões miniaturas, já com propulsão própria, e aí começam a aparecer os primeiros “sintomas” de aviões. A seguir Phillips e Otto Lilienthal, possivelmente o pai da Asa Delta, porque já soube aproveitar as correntes de ventos,  Percy e Pilcher ensaiaram planadores, para o que tinham que subir a altas colinas e de lá se lançarem pelo ar até... normalmente aterrarem em quedas graves!


       
Imagens de Otto Lilenthal em 1896

Chegou Otave Chanute que parece ter sido o primeiro com um “mais pesado do que o ar a voar 73 metros. Samuel Pierpoint Langley, em 1896 construiu um outro com o qual voou 1600 metros.
Finalmente os irmãos Wright voam, considerados os pioneiros da aviação, e por muito que isso custe aos brasileiros, três anos antes do primeiro voo de Santos Dumont, sem que isso lhe tire o mérito de ter insistido e conseguido depois voar bem mais.
Ora muito bem: de onde eu fui coligir tantos elementos que até há poucos dias me eram quase completamente desconhecidos, ou totalmente, se retirar desta história Dédalo e Ícaro, e os dois últimos?
Ao grande Mestre da CULTURA, que além disto nos deixou biografias de dezenas de personagens, como Francisco de Assis, Zola, Pasteur, Lincoln, Moisés, George Washington, Van Gogh, Piccard, Robert Owen, Benjamin Franklin, Miguel Angelo, Lamennais, Monaldo Leopardi, Leonardo da Vinci, William Pen, Gandhi, Beethoven, Ferdinand de Lesseps, Livingstone, Fridtjof Nansen, Cervantes, Dostoievsky, Anton Tchekov, Claude Bernard, Confúcio, Sócrates, Narendranath Dutt, conhecido como, Vivekananda, John Ruskin, Angel Canivet, Platão, Thomas More, Fénelon, e muitos mais pequenos-GRANDES, trabalhos de divulgação de cultura, como a Vida das Enguias, e as extraordinárias apreciações sobre Literatura Latina e Literatura Portuguesa, sobre Budismo, Islamismo, Cristianismo, Animais Pré-Históricos, Marte, A Vespa, A Raposa, e um nunca acabar de grandes lições de divulgação de cultura.
Tomei conhecimento da vida e obra deste grande MESTRE, há relativamente pouco tempo, mas não paro de me extasiar perante tamanha capacidade de conhecimentos, do seu método de nos ensinar apresentando-nos exemplos de figuras que por sua constante determinação e objetivo de vida nos deixaram exemplos de ver que, na verdade, está dentro de cada um de nós decidir até onde quer e deve ir.
Lições de vida de quem, tendo nascido pobre ou rico, decidiu seguir o que a sua consciência lhe ditava.
Nos pequenos textos sobre Literatura, Latina e Portuguesa, é de tal forma amplo o seu conhecimento que nos faz doer a alma face à nossa imensa ignorância.
A análise dos autores latinos é um desvendar constante de novas fontes, desde Lívio Andronico, a Névio, Pacúvio, Ácio, Plauto, Terêncio e tantos outros de quem eu, ignorante, jamais tinha ouvido falar, a Cícero, Lucrécio e Catulo (não o da Paixão Cearense!) e Virgílio de que li algumas coisas nas suas Geórgicas, porque ligadas à agricultura (que na altura achei um frete dos pesados!) ou a Eneida que li (traduzido, como é de supor) mais de uma vez, e tantos outros autores. Análise que tem que se ler mais do que uma, duas vezes para fingirmos que ficámos a saber alguma coisa.


A Literatura Portuguesa, começa com os Cancioneiros, e as lendas compiladas por Alexandre Herculano, compara, depois dos filhos de D. João I, os cronistas  dos séculos XV e XVI, destacando as qualidades de alguns sobre outros e os porquês, e como sempre me interessei por história muitos destes cronistas têm sido objeto de leituras minhas, jamais tendo tido capacidade de os analisar e comparar. Não pode deixar de falar em Fernão Mendes Pinto, tão maltratado durante séculos e hoje reconhecido como um aventureiro moralista, e segue por todos os grandes nomes da nossa literatura, como D. Francisco Manuel de Melo, padre António Vieira e Tomás António Gonzaga, o famoso Bocage, para chegar aos mestres do romantismo, Herculano e Garrett, ao inesgotável Camilo e ao tão admirado santo Antero, como lhe chamava Eça de Queiroz.
E são muitos os autores a serem comentados, renascendo a vontade de serem lidos, sobretudo os do grande período da expansão da literatura portuguesa que foi o século XIX.
Fala-se muito em Fernando Pessoa, descobrem-se com frequência inéditos desta grande figura das letras portuguesas, sempre aparece alguém a lembrar alguns de seus poemas, mas sem dúvida que o ajudou ter-se manifestado contra o Estado Novo, daí o ter sido exponencial a divulgação da sua obra depois da revolução encravada.
George Agostinho da Silva, professor, ensaísta, novelista, poeta, historiador, orador, investigador, tradutor, figura de primeira grandeza na história de Portugal e de todo o mundo, nunca se meteu em política, sofreu as agruras duma polícia de Estado totalmente imbecil, e parece (Deus permita que me engane) ter ficado um tanto restrito a seus alunos e a uma intelectualidade fora do alcance do povo por quem ele tanto se esforçou para levar cultura, numa altura em que o analfabetismo nos jovens e adultos era a maioria em Portugal.
Não cansa ler a sua obra. Mas tem que ser bem mastigada porque é muito profunda.



Sobre política tem uma passagem genial (como tudo que era dele!):
Começa com a marcha de Sidónio sobre Lisboa, e comenta que o marechal tinha mais corpo do que cabeça, se tão bem se tinha entendido nas lutas das Flandres... não mostrou grande vocação para governar países, no que muito o imitaram Mendes Cabeçadas, Filomeno da Câmara e Vicente de Freitas. Quando garantiram a um governo em risco de naufrágio que o melhor era chamar quem conhecesse aritmética prática (nem a racional era precisa), soubesse o que queria, e tivesse, quanto à metafísica, a certeza de que Deus existe, ele próprio, o chamava a salvar a Nação, dando-lhe por armas o desprendimento de si mesmo e o desprezo dos outros, se transportou de Santa Comba e seu minifúndio para o Terreiro do Paço.
Sensacional!
Uma frase lapidar do Mestre:
“O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade.”

05/05/2019




2 comentários:

  1. BOM TEMA, BOA PROSA, BOM CONHECIMENTO. OBRIGADO. ABRAÇO. E AS MELHORAS!

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  2. Ainda hoje passei com as manas por um lugar com o nome dele e a Tété disse - nos que foi das pessoas que mais gostou de conhecer. Obrigada tio mais um bom momento de leitura bjs

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