Recordações Britânicas ou
British Memories
Não se passam quarenta
dias em Londres, mesmo sem fazer quase nada, sem que isso deixe de afetar a
nossa “caixa de memórias”.
Desta vez a mais grata foi
conhecer a bisneta, que fez um ano enquanto lá estávamos, aquela idade em que
pais, avós, bisavós e outros membros da família passam horas a apreciar o seu
evoluir, a graça das suas risadas, as tentativas para começar a andar e a
falar, lembraram do meu avô, que face ao seu primeiro bisneto, com a família
toda à volta, dizia his magesty, the
baby” !
Eu já não visito museus
nem beijo mãos de rainhas ou similares, não gosto de almoçar fora, muito menos
em Londres onde a gastronomia... (também não gosto de falar mal!), de modo que
ocupei o tempo a curtir a bisneta, a ler, a fazer de cozinheiro (Chef privé!),
e logo que a temperatura máxima alcançou os miseráveis 11°C (antes não passava
de 8) comecei a desenferrujar as pernas e dar umas passeatas naqueles maravilhosos
parques de que Londres está cheia. Uma beleza, a grama, ou relva, sempre verde,
um sossego imenso, uns quantos londoners
passeando os seus cães (e apanhando os seus poops
que guardavam britanicamente em
saquinhos de plástico).
Um despontar da primavera
que se notava já nas árvores frutíferas que embelezavam alguns parques e
jardins residenciais, com florações branca, rosa e até azul, coisa que eu nunca
tinha visto!
Um festival de cores e
flores, com “amores-perfeitos”, tulipas e outra grande variedade de plantas, à
mistura com uma imensidão de corvos e pegas, duas espécies de pombos, uns de
colarinho branco (seriam da City?) e outros mais “classe média”, todos gordos e
grandes, diversos outros passarinhos menores, ajudavam a alma a bendizer o
clima que, mesmo por vezes gelado, geladíssimo, sempre nos retira o calor
imenso com que este verão fomos bombardeados no Rio.
Depois, sempre saí de casa
umas quantas vezes, andar de carro, ou bus, naquelas ruas é um show! O
respeito, um trânsito imenso mas que flui com paciência, com a cabeça fresca,
sem conseguir encontrar buracos nas ruas para poder dizer que afinal eles também têm buracos, ver os
famosos bus que passam em ruas
estreitas e nem reclamam nem batem nos carros que ali estão estacionados, os
jornais, gratuitos, que todos os dias a minha filha trazia do Underground, e
que eu lia de fio a pavio, tudo isto e muitas outras coisas me levavam a pensar
na Cidade Maravilhosa, que só tem de
maravilhas aquilo que o bom Deus aqui deixou e os homens , e mulheres, têm
estragado.
Para o Brasil a Libra está
cara, pois assim mesmo muita coisa por lá acabava por ser bem mais em conta do
que nos supermercados populares do Rio!
Bebi bom vinho, com muito
bom preço, da África do Sul, Austrália, Roménia e Grécia, além de outras origens,
como Portugal, Espanha, França e etc. (continuo a dar um bom gasto nesse
medicamento milagroso que sai das uvas), deliciei-me com um festival daquelas frutinhas
azuis e vermelhas (tudo berries) cujo
gosto, delicioso, os sommeliers de hoje gostam muito de dizer que aparece nos
vinhos, mais os famosos lamb chops, grilled
em casa, of course, e muitos
outros petiscos que, comprados nos supermercados acabam sendo, por vezes, muito
mais baratos do que neste “país tropical...”.
Peixe! Belo peixe com
imensas espécies daquelas águas frias, grelhados com umas batatinhas sauté, ameijoas do Vietnam (aqui nem se
sabe o que isso é!) para recordar o amigo
Bulhão Pato, camarão grande por
metade do preço do Rio... estas são memórias que deveriam fazer água na boca,
mas devido à carestia carioca, nem isso acontece.
E o Brexit? Ah! O Brexit é
uma festa. Como todos os dias vem o relato desta novela, em todos os
noticiários do planeta, pouco se pode dizer sobre isso que não seja mais do que
sabido.
Uma mulher arrogante e
burra, e dois adversários políticos. Um comunista e preguiçoso, e outro
farrista e perdido. Os ingleses que sempre foram mestres em relações
internacionais, e os mestres em sense of
humor, sobretudo quando dominavam metade do planeta com o seu Império
fajuto, hoje estão perdidos. Discutem muito, todos os dias, berram, mas nada
concluem. Parece até o Parlamento italiano como disse o ex-primeiro ministro da
Itália: Tutti parlano, urla e nessuno
capisce.
Os jornais já quase só
trazem notícias em termos de gozação, como há dias diziam que este ano May ends before end of April. E
assim vão gozando, irritando o povo, que começa a revoltar-se, mas as apostas
no final de tudo não deixam de ser feitas.
Uma espécie de Ascot no Parlamento!
A fronteira entre a
Irlanda do Norte e a República da Irlanda está a matar qualquer acordo.
Assim, os MPs, Members of Parliament, são os primeiros
a fazerem chacota com o caso, e sempre a adiarem qualquer solução “viável”, que
tudo indica deverá passar por novo referendum, no que o comunist labour não está
muito interessado porque diz I can’t do
this! It’s too stressful!!
Entretanto, dentro da
própria EU, igualmente ninguém se entende sobre este assunto. Uma beleza de
governantes, por toda a parte.
Para nossa despedida o
casal Gripper levou uns 3 kilos de bacalhau que a bisavó transformou num
petisco de fazer chorar as lágrimas da calçada, e dias antes o hóspede Kamisch
apareceu com uma bonita variedade de peixes e mariscos – lulas, camarões,
ameijoas e... – que proporcionou ao bisavô exibir, uma vez mais, as suas
credenciais de Chef Privé, com uma caldeirada portuguesa que se acompanhou com muito Chablis e Alvarinho.
Quem disse que em
Inglaterra se come mal?
Final: naquele aeroporto
de Heathrow, dá para se tirar o chapéu à organização britânica. Tudo perfeito,
simples, eficiente. Passadas onze horas e pouco, os passageiros arrasados,
estafados, incomodados, chegam, ao Rio de Janeiro.
Saem do avião e têm que
caminhar mais de dois quilômetros dentro do Terminal 2, para ir buscar a
bagagem. Um terminal imenso, quase vazio – sem referir o Terminal 1 que
funcionou durante muitos anos, e razoavelmente, que agora está fechado,
abandonado – para finalmente poder sair para a tristeza duma cidade que só por
piada chama de maravilhosa.
Trânsito fácil porque era
dia feriado (dia de São Jorge !!!), atravessa favelas, avistam-se, por todo o
lado muitas favelas, muito xicoesperto a
querer ultrapassar por qualquer lado e a furar a fila nas cabines de pedágio, e
um aperTo na garganta e no peito nos entristece por ver o abismo entre as duas
civilizações.
O Brasil, com uma
superfície maior do que duas vezes a Europa toda, com ótima engenharia,
magníficos arquitetos, industriais e profissionais em todos os campos, que
absorvem os cabeças pensantes, parece que se limita a imitar o Haiti ou o
Congo.
Quem sobra? Os penduras,
os gananciosos, incapazes, ineptos, inaptos, ladrões, que acabam por se
encaixar na administração pública, em todos os ramos e níveis, e o Brasil...
Ah! O Brasil? Para que pensar nisso.
Há exceções. Mas não é
verdade que são as exceções que confirmam a regra ?????
28/04/2018
N.- Só para chatear o
esquerdismo populista: faz hoje 130 anos que nasceu António de Oliveira
Salazar!
Gostei muito ! Um tipo de humor Inglês e muito bem observado . Só agora é que recebi e li. Passei uns bons momentos com esta leitura, senti-me em Londres ...
ResponderExcluirAdorei o texto !
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