Estamos,
ainda na Páscoa.
Tempo de continuar a meditar sobre o que andamos a
fazer neste mundo!
Não há, certamente, alguém que não abomine guerra,
exceção, talvez os doentes mentais.
O texto abaixo, sobre uma das grandes figuras do
nosso tempo, pode, e deve, também ser enaltecida nos dias de hoje, nesta época
da Páscoa, quando os judeus festejam a saída do cativeiro do Egito, os cristãos
celebram a vitória de Cristo sobre a morte e devem aprofundar os seus
ensinamentos para reconhecer, e amar, todos os OUTROS como irmãos.
Ambas as atitudes pressupõem PAZ, a não-violência, o grande tema e objetivo
de vida de Sua Santidade o Dalai Lama, que começa por dizer que a humanidade,
em primeiro lugar deve procurar a felicidade.
Pois sejamos judeus, cristãos, budistas ou de
qualquer outra religião a nossa passagem por este mundo deve orientar-se
fundamentalmente pelo Amor ao Próximo, pela felicidade.
Boa Páscoa a
todos. Muita PAZ. Muita FELICIDADE.
- * -
Senhor do Lótus Branco
Há milhões ou bilhões de pessoas que buscam algum
refrigério das suas vidas na religião, seja ela qual for. A sensação que nos
fica é que a imensa maioria transfere
para o seu etéreo Deus o problema que aflige, quando deveria começar por tentar
olhar para o mais dentro de si próprio até descobrir o que realmente o
perturba.
Há quem diga que o budismo não é uma religião,
porque não terá um Deus criador e celestial,
sendo assim só uma, muito profunda, filosofia de vida. O Dalai Lama dá-nos
uma explicação bem mais simples: ... se
definirmos o budismo como uma prática espiritual de orações e meditações que
visa um resultado para além desta vida, nesse caso podemos dizer que o budismo
é uma religião. Será uma religião, filosofia e ciência.
Mais um livro que, pelo seu imenso interesse, foi
lido num instante, mas sempre com o máximo de atenção e penetração, porque dele
não se pode passar sem ir ao âmago da vivência e dos terríveis problemas que
assolaram, e continuam a assolar o Tibete, onde o maoísmo e seus seguidores, os
de hoje, fizeram inconcebíveis atrocidades, matando mais de um milhão de
tibetanos, destruindo mais de seiscentos mosteiros, torturaram, decapitaram,
queimaram monges e agricultores vivos, uma barbárie inconcebível, e ainda hoje
dominam aquele país na brutalidade.
Aliás a China continua a ser mais maoísta do que o
próprio Mao, porque agora, para acabar com as religiões, obrigaram o Papa a
autorizar o governo chinês a nomear os bispos - leia-se funcionários do Partido
– assim como estão a fechar mesquitas, obrigando os muçulmanos a comer carne de
porco, juntando-os em campos de concentração para lhes fazerem lavagem cerebral,
um descalabro total, mas... quem se vai meter com a China: Tem que, um dia,
cair de podre.
Ricardo de Saavedra, uma vez mais nos conta muita
coisa sobre o Senhor do Lotus
Branco, o Ser Supremo, O Dalai Lama, Kundun, Tensin Gyatso, numa escrita que nos prende, não só pelo assunto como
pela cativante qualidade.
Por todo o mundo se fala no Dalai Lama, na
desgraça do Tibete, ONU e outras organizações internacionais se manifestam, mas
dum modo artificial porque parece que hoje todos dependem daquele gigante que
não respeita nada nem ninguém.
E nós continuamos a comprar tudo que de lá vem,
máquinas, brinquedos, automóveis, matérias primas, e os chins, com o seu
tradicional sorriso amarelo, tal como
a Rússia e os EUA, mandam, desmandam, matam à bala ou com o domínio económico e
com a poluição, sem que possamos fazer alguma coisa para os impedir.
O Budismo ensina-nos o caminho da vacuidade em direção à iluminação para bem de todos os seres
vivos.
(No budismo
tibetano “O Caminho do Meio” diz respeito a percepção do ‘vazio’ – shunyata –
que transcende os extremos da existência e da não-existência)
O Dalai Lama obrigado a fugir do Tibete, porque os
chineses queriam reduzi-lo a uma espécie de prisioneiro de luxo – sem qualquer
luxo – quando viram que o Senhor do Lotus
Branco não aceitava a anexação do seu país à China, começaram a bombardear
o mosteiro de Lhasa, por acaso não tendo acertado onde ele se encontrava.
Refugiou-se na Índia onde vive até hoje, e onde
sempre admirara a filosofia de Gandhi, a ahimsa,
a não violência, que adotou inteiramente.
Mais tarde confessou que a fuga me foi realmente útil. Aproximou-me mais da realidade e
aprofundou a minha compreensão religiosa, sobretudo em relação à sagacidade da
vida. Apesar do mundo estar em constante mutação, ninguém o nota. E, de
repente, tudo desaparece. O teu lar, os teus amigos, a tua pátria. Isso mostra
a perda de tempo que é mantermo-nos presos a esses valores.
“O caminho
da verdade é tão estreito quanto retilíneo e o mesmo acontece com a ahimsa. É
como tentar equilibrar-se sobre a lâmina de uma espada. À mínima distração
cai-se para o chão”.
E sempre a sua postura se baseou em difundir e
“combater” pela não violência, como o único caminho que conduz à salvação da
Humanidade, e foi seguindo este princípio que passou a ser admirado em todo o
mundo... e odiado pelos comunistas chineses, que tanto o queriam eliminar mas
são obrigados a assistir à imensa consideração de que continua a gozar.
Como líder supremo e chefe do governo do Tibete
teve que montar um governo no exílio. Só que, como desde menino sentiu, o
Tibete tinha que caminhar para uma democracia, apesar de ver que a sociedade
continuava amarrada a conceitos medievais e feudalistas. Valeu-lhe estar num
país que caminhava para a abertura, bem como todas as dificuldades enfrentadas
pelo exílio.
Renunciou a pompa e circunstâncias, introduziu a
democracia como prática comum, e acabou criando um Estado aberto, mais simples
e mais aberto nas suas decisões, sem jamais descurar a cultura tibetana, o
ensino da língua, e pessoalmente a continuação permanente dos seus estudos,
para continuar a ser um monge, com os mais altos graus académicos possíveis de
atingir.
A certa altura da sua vida passou a ser um
entusiasta da dieta vegetariana, enriquecida de frutos secos e muito leite. Ao
fim de pouco tempo sentiu que estava a perder forças e acabou verificando que
tinha contraído a hepatite B.
Curou-se com medicação tibetana, de que tomou
grande quantidade. Já no exílio tinha instalado uma Faculdade de Medicina, onde
a formação de um médico demora sete anos, com os conhecimentos milenares, de
2500 anos, trazidos do Tibete.
No entanto, apesar da eficácia dessa medicação o
que mais lhe recomendaram foi cortar radicalmente com nozes e outros frutos
secos, reduzir o exagerado consumo de leite e, apesar da relutância que sentia,
comer carne. E assim se curou, deixou de ser vegetariano, sem ficar com
sequelas!
Mas sempre, sem interrupção os chineses
continuavam a perseguir, torturar e matar quem, ainda no Tibete, se destacasse,
sobretudo como monge.
Quando, em 2001, concedeu a entrevista ao
jornalista Ricardo de Saavedra que deu origem ao livro que acabamos de ler,
referiu-se a sua ida a Portugal, Fátima, como peregrino, por respeito, admiração e apreço para com o catolicismo, e ainda
dizendo que as principais religiões
possuem basicamente a mesma mensagem:
amor, compaixão, perdão, tolerância, felicidade e autodisciplina.
Só mais uns pontos chaves para quem continua a
manter a sua ética inalterada e não pactua com a pouca vergonha que se espalha
cada vez mais pelo mundo como doença contagiosa, imparável, como eu procuro e,
mesmo toscamente, manifesto nos meus escritos.
Sobre televisão: Na televisão privilegia-se quotidianamente o sexo e a violência. Duvido
que os produtores dessas emissões desejam realmente prejudicar a sociedade.
Desejam apenas um lucro financeiro. Parecem já não possuir o sentimento da
responsabilidade social.
Para terminar esta difícil crónica sobre Alguém
que vive uma moral e uma disciplina que a nós, mais fracos, e menos criados no
rigor e por vezes no intolerável exemplo das nossas religiões, seja ela cristã
ou outra, uma pequena meditação que o Dalai Lama, o Senhor do Lotus Branco,
recita sempre que se levanta:
Pois enquanto houver espaço
E enquanto os seres vivos existirem
Até lá também eu posso ter esperança
De afastar a angústia do Mundo
Livro altamente recomendável.
Mais uma vez obrigado ao Ricardo de Saavedra que
me proporcionou esta lição.
15/04/2019
Adorei. Reflexões sobre religiões, filosofias e afins sempre me atraem. excelente o texto. bjs!
ResponderExcluir