Os Dias do Fim
Não
referi no último texto que tinha sido presenteado por mais de um livro pelo meu
amigo jornalista Ricardo de Saavedra, por uma razão muito simples: ainda só
tinha recebido um!
Poucos
dias passados recebi mais um, com uma dedicatória extremante simpática, e como
o tema era do mesmo assunto de “O Puto” (a exemplar descolonização)
interrompi a leitura de um outro autor (de imenso interessante também) e ataquei
este, que relata, por meio de escritos de autores coevos, e que viveram
duramente a página mais vergonhosa da História de Portugal, que foi a venda aos
sovietes e à China das colónias portuguesas.
A
vergonha não ficou só na matança de brancos e pretos – dezenas de milhares –
até às respectivas independências, mas de milhões nos anos de guerras civis que
se seguiram à liberdade colonial, como na destruição de todas as fontes
de produção e renda, das infraestruturas, etc.
Começo
por reproduzir uma passagem do livro, que de Os Centuriões, de Jean
Larteguy, cita o padre Mornelier: Um grande número de centuriões do
proconsulado de África abandonou as legiões para se instalar em Roma. Eles
tornaram-se os guardas pretorianos dos Césares, até ao dia em que adquiriram o
hábito de os nomear, depois de os escolherem no meio deles. E então foi o fim
de Roma...
Tal
como quando os catipãesinhos abandonaram a África portuguesa e passaram a
desmandar e destruir um Portugal que, por teimosia e inépcia, já agonizava.
Falar
no vintecincobarraquatro, hoje em dia é chover no molhado.
Mas
este livro leva-nos aos meandros da covardia, das negociações escusas, ao
conhecimento das ordens entretanto recebidas dos comunistas, às cenas do
exército português (português ?) a metralhar portugueses, o mesmo com os
terroristas (sim, terroristas) a dizimarem moçambicanos, ausência de poder de
decisão de muitos oficiais portugueses que não sabiam mais se deviam apoiar e
defender o povo em geral ou submeterem-se às ordens chegadas de Lisboa, enfim às
intrigas, espionagem e falta de caráter, que levaram à hecatombe que a seguir
de abateu sobre Moçambique.
Descreve,
com detalhes, as atividades de Jorge Jardim que se quis arvorar em defensor da
democracia, mas que foi sempre servindo de ingénuo anjinho no meio de
hábeis e experimentados informantes sovietes. Houve até os que queriam
elogiá-lo com o epíteto de O Lawrence de África, quando se
constata que andou todo o tempo a dar uma no cravo e outra na ferradura,
sem ter resolvido coisa alguma.
Chegou
ao desplante de ter escrito até a Samora Machel “informando-o” que a China
queria ser reembolsada imediatamente após a independência, dos empréstimos
feitos durante a guerrilha... coisa que parece jamais ter acontecido, e por
isso hoje mais manda por lá a China do que o governo moçambicano!
Aqueles
que viveram em Moçambique, e ainda lá estiveram na época da s confusões pré
independência, devem lembrar-se da vergonha que foi ver o exército português a
meter na cadeia todos os funcionários da PIDE e saber o que estes deixaram dito
quando foram soltos no famigerado, malogrado e inconsciente 7 de Setembro.
Grave
ainda o que o texto deixa transparecer sobre ligações de Samora com a PIDE e da
forma como assassinaram Eduardo Mondlane!
A
venda de atestados escolares de passagens de ano em todos os níveis, permitindo
que entrassem para as universidades verdadeiros atrasados... mentais!
Revê-se
o arrogante e incapaz senhor do monóculo e o falso chefe geral das forças
armadas de Portugal, protegendo amigos e condenando outros.
Este
livro deixa ao mesmo tempo um amargo de boca e no coração, mas está muito bem
escrito, e mesmo sendo por vezes brutal, as fontes são autênticas e escritas
por quem estava no centro de grande troca de informações.
Quem
viveu em Moçambique, e quer reviver um passado, mesmo triste e doloroso, como
eu também vivi, deve ler este livro.
É
um “relatório” de dentro, muito de dentro para fora, e daí também o seu grande
interesse.
Daqui
a poucos dias haverá um monte de ignorantes que irão para as ruas dar vivas aos
cravos vermelhos. Era bom que antes de se meterem nessa farra se lembrem que o 25/4, covardemente, assassinou milhares de
portugueses e de africanos. O 25/4, neste caso as tropas portuguesas.
Dá
para celebrar?
Só
uma missa solene por alma daqueles que foram mortos pelos vendilhões de
Portugal.
4-abr-19
Fiquei com muita vontade de lê-lo. Deve ser mesmo interessante saber esses podres todos.
ResponderExcluirQuando voltar empresto-te
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