domingo, 7 de abril de 2019



Os Dias do Fim

Não referi no último texto que tinha sido presenteado por mais de um livro pelo meu amigo jornalista Ricardo de Saavedra, por uma razão muito simples: ainda só tinha recebido um!
Poucos dias passados recebi mais um, com uma dedicatória extremante simpática, e como o tema era do mesmo assunto de “O Puto” (a exemplar descolonização) interrompi a leitura de um outro autor (de imenso interessante também) e ataquei este, que relata, por meio de escritos de autores coevos, e que viveram duramente a página mais vergonhosa da História de Portugal, que foi a venda aos sovietes e à China das colónias portuguesas.
A vergonha não ficou só na matança de brancos e pretos – dezenas de milhares – até às respectivas independências, mas de milhões nos anos de guerras civis que se seguiram à liberdade colonial, como na destruição de todas as fontes de produção e renda, das infraestruturas, etc.
Começo por reproduzir uma passagem do livro, que de Os Centuriões, de Jean Larteguy, cita o padre Mornelier: Um grande número de centuriões do proconsulado de África abandonou as legiões para se instalar em Roma. Eles tornaram-se os guardas pretorianos dos Césares, até ao dia em que adquiriram o hábito de os nomear, depois de os escolherem no meio deles. E então foi o fim de Roma...
Tal como quando os catipãesinhos abandonaram a África portuguesa e passaram a desmandar e destruir um Portugal que, por teimosia e inépcia, já agonizava.


Falar no vintecincobarraquatro, hoje em dia é chover no molhado.
Mas este livro leva-nos aos meandros da covardia, das negociações escusas, ao conhecimento das ordens entretanto recebidas dos comunistas, às cenas do exército português (português ?) a metralhar portugueses, o mesmo com os terroristas (sim, terroristas) a dizimarem moçambicanos, ausência de poder de decisão de muitos oficiais portugueses que não sabiam mais se deviam apoiar e defender o povo em geral ou submeterem-se às ordens chegadas de Lisboa, enfim às intrigas, espionagem e falta de caráter, que levaram à hecatombe que a seguir de abateu sobre Moçambique.
Descreve, com detalhes, as atividades de Jorge Jardim que se quis arvorar em defensor da democracia, mas que foi sempre servindo de ingénuo anjinho no meio de hábeis e experimentados informantes sovietes. Houve até os que queriam elogiá-lo com o epíteto de O Lawrence de África, quando se constata que andou todo o tempo a dar uma no cravo e outra na ferradura, sem ter resolvido coisa alguma.
Chegou ao desplante de ter escrito até a Samora Machel “informando-o” que a China queria ser reembolsada imediatamente após a independência, dos empréstimos feitos durante a guerrilha... coisa que parece jamais ter acontecido, e por isso hoje mais manda por lá a China do que o governo moçambicano!
Aqueles que viveram em Moçambique, e ainda lá estiveram na época da s confusões pré independência, devem lembrar-se da vergonha que foi ver o exército português a meter na cadeia todos os funcionários da PIDE e saber o que estes deixaram dito quando foram soltos no famigerado, malogrado e inconsciente 7 de Setembro.
Grave ainda o que o texto deixa transparecer sobre ligações de Samora com a PIDE e da forma como assassinaram Eduardo Mondlane!
A venda de atestados escolares de passagens de ano em todos os níveis, permitindo que entrassem para as universidades verdadeiros atrasados... mentais!
Revê-se o arrogante e incapaz senhor do monóculo e o falso chefe geral das forças armadas de Portugal, protegendo amigos e condenando outros.
Este livro deixa ao mesmo tempo um amargo de boca e no coração, mas está muito bem escrito, e mesmo sendo por vezes brutal, as fontes são autênticas e escritas por quem estava no centro de grande troca de informações.
Quem viveu em Moçambique, e quer reviver um passado, mesmo triste e doloroso, como eu também vivi, deve ler este livro.
É um “relatório” de dentro, muito de dentro para fora, e daí também o seu grande interesse.
Daqui a poucos dias haverá um monte de ignorantes que irão para as ruas dar vivas aos cravos vermelhos. Era bom que antes de se meterem nessa farra se lembrem que o 25/4, covardemente, assassinou milhares de portugueses e de africanos. O 25/4, neste caso as tropas portuguesas.
Dá para celebrar?
Só uma missa solene por alma daqueles que foram mortos pelos vendilhões de Portugal.

4-abr-19

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