domingo, 14 de abril de 2019




Um pouco do Pará

Esta coisa de vir a Londres, um tempinho – sempre pouco – para estar com filhos, netos e a bisneta, sem nada mais para fazer além duma ou outra rápida saída com um tempo friaco, miserável, tem proporcionado bastante folga para ler. E como só gosto de boa leitura, sobretudo história, tenho enchido o papo!
Parei até um pouco com “Os Amigos” (alguns só aguardam uma brecha para voltarem ao blog!) e, desde a história dos Plantagenetas, às lusas vergonhas do abandono de África, e até de volta ao grande professor Agostinho da Silva (de que não se faz qualquer comentário de ânimo leve; é muito sério) acabei agora de ler a primeira parte de um livro de imenso interesse sobre a Fundação de Belém do Pará.
Só a primeira parte, porque a continuação é a genealogia do Fundador, e daí, ou se entendem bem aquelas complexas ligações e/ou famílias, ou se fica perdido, sem já saber quem é a mãe ou o pai de quem quer que seja, apesar de lá (onde?) aparecer um simpático parente da minha família!
Mas o que interessa são as primeiras 120 páginas com a história do tempo em que os portugueses ainda andavam a fundar povoações, procurando ocupar o que lhes pertencia de acordo com o Tratado de Tordesilhas, a que só Portugal e Espanha dizia respeito, e sobretudo procurar demonstrar que ocupavam o território, contra franceses e holandeses que nos queriam roubar parte do Brasil, uns com a França Antártica e os outros, que pouco tempo depois se instalaram, quase definitivamente, em Pernambuco.
O Livro está muito bem documentado, vê-se que exigiu uma profunda pesquisa, e para além da descendência ali descrita, impõe-se como uma bela História de um curto, mas agitado, período da vida no Nordeste Brasileiro e um pouco no Amazonas, nos finais do século XVI e começo do XVII.


Por ele tomei conhecimento (ignorante que sou) que espalhados pelo interior da Amazónia e Maranhão já lá estavam, antes dos portugueses, umas centenas de franceses e holandeses, estes até com, pelo menos, duas plantações de cana de açúcar que mandavam para a Europa, sem que os portugueses soubessem onde e desde quando.
Todos, com a cara e a coragem de meia dúzia de portugueses, a que não podia faltar o capitão Pedro Teixeira, figura incontornável daquele tempo e região, desmontaram aquela prévia ocupação, submetendo uns e outros à coroa portuguesa.
Tempos difíceis, cheio de intrigas, invejas, mesquinhices , selvajarias, sobretudo da parte de alguns portugueses que conseguiram destruir o bom entendimento que se procurava com os nativos, num clima pesado, doentio, lutando ainda com falta de alimentos, faz-nos ser obrigados a admirar a força de vontade e determinação daqueles pioneiros.
Interessante ainda um pouco da descrição, e praticamente descoberta, da costa do Maranhão, sempre perigosa, da entrada no Amazonas com seus baixios, citando até a entrada forçada na barra do Apereá onde o patacho tocou num banco de areia de que escapou milagrosamente porque, levando todas as velas enfunadas o cortou, ou saltou como quem salta uma fogueira de S. João.... (Frei Vicente do Salvador – História do Brasil).
Quem se interessar pela História do Brasil, especificamente de Belém do Pará, ou também quiser saber se o Fundador de Belém, Francisco Caldeira de Castelo Branco é seu antepassado, vai encontrar neste livro, muita informação.
No Brasil, de uma forma geral é raro o interesse pela genealogia. Agora o que se vê é um tremendo afã na descoberta de avós ou bisavós portugueses para obterem a cidadania lusa, ou de qualquer outro país europeu, como Itália. E a verdade é que a grande maioria da população, se tem um pé na cozinha, tem outro nalgum português e numa aldeia tapuia, tupinambá ou outra. Sem esquecer os angolas, benguelas, iorubás, etc. Mas as pessoas não estão interessadas em saber, concretamente de onde veem.
O que é pena. Porque desprezando o passado...
O que sabe bem, no fim desta mistura toda é conhecer o povo brasileiro. Cordato, às vezes de mais, que descendo do fundador do Pará ou por exemplo do simples soldado Sebastião Amorim que ajudou na fundação de Belém. E certamente seria da Póvoa de Varzim!

N.- O soldado não deverá ser meu antepassado! Mas a origem será a mesma!

05/04/19



Nenhum comentário:

Postar um comentário