Um pouco do Pará
Esta
coisa de vir a Londres, um tempinho – sempre pouco – para estar com filhos,
netos e a bisneta, sem nada mais para fazer além duma ou outra rápida saída com
um tempo friaco, miserável, tem proporcionado bastante folga para ler. E
como só gosto de boa leitura, sobretudo história, tenho enchido o papo!
Parei
até um pouco com “Os Amigos” (alguns só aguardam uma brecha para voltarem ao
blog!) e, desde a história dos Plantagenetas, às lusas vergonhas do abandono de
África, e até de volta ao grande professor Agostinho da Silva (de que não se
faz qualquer comentário de ânimo leve; é muito sério) acabei agora de ler a
primeira parte de um livro de imenso interesse sobre a Fundação de Belém do
Pará.
Só
a primeira parte, porque a continuação é a genealogia do Fundador, e daí, ou se
entendem bem aquelas complexas ligações e/ou famílias, ou se fica perdido, sem
já saber quem é a mãe ou o pai de quem quer que seja, apesar de lá (onde?)
aparecer um simpático parente da minha família!
Mas
o que interessa são as primeiras 120 páginas com a história do tempo em que os
portugueses ainda andavam a fundar povoações, procurando ocupar o que lhes
pertencia de acordo com o Tratado de Tordesilhas, a que só Portugal e
Espanha dizia respeito, e sobretudo procurar demonstrar que ocupavam o
território, contra franceses e holandeses que nos queriam roubar parte do
Brasil, uns com a França Antártica e os outros, que pouco tempo depois se
instalaram, quase definitivamente, em Pernambuco.
O
Livro está muito bem documentado, vê-se que exigiu uma profunda pesquisa, e
para além da descendência ali descrita, impõe-se como uma bela História de um
curto, mas agitado, período da vida no Nordeste Brasileiro e um pouco no
Amazonas, nos finais do século XVI e começo do XVII.
Por
ele tomei conhecimento (ignorante que sou) que espalhados pelo interior da
Amazónia e Maranhão já lá estavam, antes dos portugueses, umas centenas de
franceses e holandeses, estes até com, pelo menos, duas plantações de cana de
açúcar que mandavam para a Europa, sem que os portugueses soubessem onde e
desde quando.
Todos,
com a cara e a coragem de meia dúzia de portugueses, a que não podia faltar o capitão
Pedro Teixeira, figura incontornável daquele tempo e região, desmontaram
aquela prévia ocupação, submetendo uns e outros à coroa portuguesa.
Tempos
difíceis, cheio de intrigas, invejas, mesquinhices , selvajarias, sobretudo da
parte de alguns portugueses que conseguiram destruir o bom entendimento que se
procurava com os nativos, num clima pesado, doentio, lutando ainda com falta de
alimentos, faz-nos ser obrigados a admirar a força de vontade e determinação
daqueles pioneiros.
Interessante
ainda um pouco da descrição, e praticamente descoberta, da costa do Maranhão,
sempre perigosa, da entrada no Amazonas com seus baixios, citando até a entrada
forçada na barra do Apereá onde o patacho tocou num banco de areia de
que escapou milagrosamente porque, levando todas as velas enfunadas o cortou,
ou saltou como quem salta uma fogueira de S. João.... (Frei Vicente do
Salvador – História do Brasil).
Quem
se interessar pela História do Brasil, especificamente de Belém do Pará, ou também
quiser saber se o Fundador de Belém, Francisco Caldeira de Castelo Branco é
seu antepassado, vai encontrar neste livro, muita informação.
No
Brasil, de uma forma geral é raro o interesse pela genealogia. Agora o que se
vê é um tremendo afã na descoberta de avós ou bisavós portugueses para obterem
a cidadania lusa, ou de qualquer outro país europeu, como Itália. E a verdade é
que a grande maioria da população, se tem um pé na cozinha, tem outro
nalgum português e numa aldeia tapuia, tupinambá ou outra. Sem esquecer os
angolas, benguelas, iorubás, etc. Mas as pessoas não estão interessadas em
saber, concretamente de onde veem.
O
que é pena. Porque desprezando o passado...
O
que sabe bem, no fim desta mistura toda é conhecer o povo brasileiro. Cordato,
às vezes de mais, que descendo do fundador do Pará ou por exemplo do simples soldado
Sebastião Amorim que ajudou na fundação de Belém. E certamente seria da Póvoa
de Varzim!
N.-
O soldado não deverá ser meu antepassado! Mas a origem será a mesma!
05/04/19
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