O (quase famoso) Palace dos Amoríndios, teve a honra
de ter recebido sob o seu teto uma ilustre amiga de há muitos anos que, além do
muito prazer que nos deu, veio quebrar um tanto a rotina dos hospedeiros.
Foi muito bom. Aproveitámos para falar de muita coisa,
esquecemos o calor, já a arrefecer, da polarização das eleições, recordámos
alguns episódios dos nossos encontros através da vida, e ainda fui contemplado com
um belo livro, o Teatro das Sombras.
E agora, como dar uma opinião sobre este livro, mesmo
um pequeno comentário, que sempre gosto de fazer?
Uma vintena de contos, buscados e transformados,
parecendo todos vindos da memória do escritor, onde em muitos deles não
consegue esconder experiências muito interessantes durante a sua vida de
diplomata profundamente integrado em todos lugares por onde passou.
Os retratos de personagens que tão bem descreve,
sempre com um humor carinhoso, vão do caricato ao dramático, algumas delas chegam
a parecer que a intenção foi camuflar situações de menos prestígio que alguns deles terão vivido.
Não é difícil, enquanto se vai lendo, imaginar que
estamos a assistir a pequenos filmes, um pouco maiores do que aqueles que
fazíamos há muitos anos em 8 mm. É um imenso recordar de vivências a que, com
muito detalhe e cuidado, se dramatizam as situações dando-lhes um final que quase
sempre nos faz soltar o riso.
Vê-se que o autor se deve ter divertido recordando
passagens relativamente caricatas e cómicas que lhe foram passando pela vista
através dos anos, sem querer pôr alguém em situação complicada, que o seu
feitio de grande senhor, e grande observador, lho impediriam.
Mas tem muito conto que um dramaturgo habilidoso
poderia aproveitar e criar scripts
para levar à cena, no teatro ou no cinema, histórias que merecem ser vividas,
apreciadas e aplaudidas por um grande público.
Algumas passagens do livro são peças antológicas, como
não podia deixar de ser para quem tinha um grande dom para a escrita, e que me
permito aqui reproduzir, muito resumidamente, por palavras minhas. A descrição
do autor é muito mais rica.
- Dois irmãos, que herdaram uma substancial fortuna
resolvem correr mundo. Em Taipé ouvem falar que um dos mais notáveis pratos gastronómicos
é cobra, mas que tem que ser comida em restaurantes especiais. A dificuldade
está no falar chinês para pedirem que alguém lhes indique um dos tais
restaurantes especializados.
- No hotel fazem num papel o desenho de uma cobra e o
gesto de comer e a recepcionista escreve, em ideogramas, o local onde devem ir.
Lá chegados, uma espécie de boteco, onde estavam várias garotas com sorrisos
amalandrados, cheio de cobras, vivas, de várias espécies, escolhem uma, o dono
prepara, comem e desapontados acham o prato sem qualquer sabor. Ao velho chinês
que lhes tinha dado essa indicação contam a sua opinião.
- Vocês foram comer a cobra a uma farmácia. Ali a
ideia é a comer um afrodisíaco.
- Mas nós não sentimos nada!
- Tem razão. Só sente quem quer.
À mistura com estas anedotas, rebuscadas em histórias
que foi ouvindo, há outras com cenas de esoterismo igualmente caricatas.
Tudo escrito com muita qualidade e com o delicado, mas
oportuno humor que o nosso querido amigo e que foi grande embaixador, ANTÓNIO
PINTO DA FRANÇA, sempre soube passar aos seus livros.
Obrigado, Sofia.
Livro para ler no Natal, no Ano Novo, no Inverno ou no
Verão. Os que comprarem o livro... verão!
12-dez-18
Um Santo Natal e a minha gratidão pelo vosso exemplo de HOMEM DE CAUSAS,com letra maiúscula. Obrigado, mil vezes obrigado.
ResponderExcluirAguçou-me a curiosidade... Também pintava?
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