Tenho notado que
a maioria dos leitores deste blog não gostam de história. É pena, porque eu
gosto muito! E, de certeza, ainda vou escrever mais alguma coisa sobre o passado,
para me assegurar que, para os que se interessam, há sempre na nossa cultura
que deve ser lembrada, quando não meditada.
Algumas leituras – 4/a
Os Celtiberos
Por volta de 2.000 a.C. começaram a chegar os celtas –
Κελτοί em grego – que aparecem na literatura só no século V
a.C. Chamaram-se celtas, gálatas– Γαλατάς –, e gaulos ou gauleses – Γάλλοί. O primeiro autor que se refere aos celtas terá sido Hecateu de Mileto (550 a. C.-
476 a. C.), que quando fala de Massalia, diz que fica perto da cidade de Nurax, céltica (Nearchi?). Isso mostra que em
certa altura os celtas ocupavam quase toda a Europa central e daí se espalharam
pela Itália, Suíça, Boémia, Ilhas Britânicas e pela Península Ibérica,
arrastando com eles parte dos povos da Aquitânia, os bascos (?).
Por este mapa de Hecateu, herdado de Anaximandro (!)
desenhado meio milénio a.C. vê-se que os celtas estavam já espalhados por toda
a parte... que a geografia dele conseguia abranger! E até os Cítios (Scythios e
os Trácios) teriam a mesma origem dos celtas, mas não pertenciam ao mesmo grupo.
Vê-se até que estariam na Macedónia, que se chamou Galaica, antigo nome de
Briântica, na Trácia, e daí seguiram para a Ásia Menor, ocuparam a parte
central da hoje Turquia, onde fundaram Ankara.
Por volta de 1750 a.C. toda a atual França estava ocupada
por gauleses, celtas, no sul misturados com os lígures, povo ibérico.
Num pequenino livro de poche que há muitos anos comprei, “Os Iberos”, livro já perdido (!)
com muita singeleza mostrava como tinha sido o desenvolvimento da Península a
partir dos povos iberos e celtas. Os iberos, regra geral, incineravam os seus
mortos, guardavam as cinzas numa pequena urna, enquanto os celtas lhes davam
sepultura ao corpo.
Um mapa mostrava toda a região da costa mediterrânea e
do Algarve com a indicação dessas sepulturas, somente urnas, e à medida que se caminhava
para norte apareciam indicações de mistura de ritos iberos e celtas, e no Norte
desapareciam as pequenas urnas.
Aos celtas um povo, ou um aglomerado de povos, que
ocupou bem mais de metade da Europa, as Ilhas Britânicas e chegaram até Roma, não
lhe foi muito difícil ocuparem a Meseta Central da Península e o Norte.
Os romanos, começaram a dar batalha aos celtas, derrotados
quando eram parte do exército cartaginês de Amilcar Barca, e foram depois atrás
destes. A história da romanização da Península começa pela guerra entre Roma e
Cartago. Estes depois de perderem o poderio naval decidiram invadir a Ibéria,
iberos e celtas, e formar com eles exércitos para irem atacar Roma. E assim
Roma foi avançando, derrotando os cartagineses que já ocupavam boa parte da
Península, mas não foram bem recebidos. O primeiro combate importante entre cartagineses
e romanos na Península foi a Batalha de Cissa (218 a.C.),
provavelmente próximo a Tarraco (atual Tarragona). Os Cartagineses, sob
comando de Hanão, foram derrotados. Indíbil caudilho dos Ilergetes, povo
ibero que combatia ao
lado dos Cartagineses, terá sido capturado. Quando a vitória romana parecia
próxima, acudiu Asdrúbal Barca, com reforços, que dispersaram os romanos sem os
derrotar. Assim, as forças opostas regressaram às suas bases - os Cartagineses
a Cartago Nova (Cartagena) e os Romanos a Tarraco (Tarragona) - e só
no ano seguinte a frota de Cipião venceu Asdrúbal Barca. Depois chegaram
reforços de Roma, permitindo o avanço dos Romanos em direção a Sagunto. Durou
mais de dez anos esta luta Roma-Cartago na Península, até que os romanos saíram
vencedores e começou então a administração romana da Península, inicialmente
com o caráter de ocupação militar, com o fim de manutenção da ordem e de exploração
dos recursos naturais das regiões ocupadas, agora integradas no território
controlado por Roma.
Levou quase 200 anos para ocuparem toda a península,
tendo sofrido muitas derrotas, porque pensavam que ao entrarem na Ibéria iam
simplesmente e como “meninos bonitos”, pacificar povos belicosos. Tiveram que
lutar muito. Em 182-178 a.C. começam por se chocar com os povos que habitavam o
vale do Ebro, entre eles os belos, titos e lusones, estes, apesar de longe,
aparentados com os lusitanos.
Em 133 a.C. atacaram Numância, com uma bestialidade
inesquecível. Povo arévaco, celta, decidiu lutar e resistir. Um cerco de onze
meses, quando conseguiram entrar não tinha um único ser vivo. Os “bonzinhos
administradores” romanos destruíram totalmente a cidade e todos os que, fora
dela conseguiram apanhar foram degolados. Entretanto os romanos, habituados a
comer cereais, tinham que se alimentar de carne! Cozida ou assada dizimou filas
de romanos com a disenteria!!
Deram-se mal com os lusitanos, talvez o povo maior de
toda a Península. Maior e tão aguerrido ou mais que outros. Viriato não era
aquela figura bonitinha de pastor da Serra da Estrela, mas um grande general
comandante de imensas forças.
A sua história começa quando o pretor romano Sulpício
Galba em 150 a.C. reuniu 30.000 homens dizendo-lhes que receberiam terras e
viveriam sossegados. Os romanos colocaram-nos em três acampamentos e os obrigaram
a entregar todas as armas, e depois que estavam desarmados mandou as legiões
que matassem a todos. Foram assassinados uns 20.000 lusitanos escapando entre
eles Viriato que, a partir daí, começou a lutar ferozmente contra os romanos
traidores que faziam sempre esta perfídia.
Ataca e sumia com extrema rapidez o que levou Plínio a
criar a lenda de que as éguas lusitanas, prenhes
só do vento Zéfiro, parem os “Filhos do Vento”, os cavalos mais velozes da
Antiguidade.
Vede além no alto cerro a cena que aparece
Todas as éguas ao Zéfiro voltadas
Estáticas sorvendo as auras delicadas
Basta aquilo, e acontece amiúde este portento,
Sem cônjuge nenhum, grávidas só do vento...
Geórgicas
de Virgílio (70-19 a.C.)
Derrotou os romanos por diversas vezes e na última, em
vez de os aprisionar e degolar todos (!) decidiu fazer a paz e foi nomeado pelo
senado romano amicus populi romani. Roma
não tinha qualquer intenção de respeitar o tratado, e assim ordenou a Cipião
que “comprasse” três amigos e generais de Viriato e o traíssem. Estes o
assassinaram enquanto dormia!
Conhecido entre os romanos como dux Lusitanorum, como adsertor (protetor) da Hispânia e até como
imperador! Segundo o historiador grego Diodoro da
Sicília (ca 90 – 30 a.C.), “Enquanto ele comandava
ele foi mais amado do que alguma vez alguém foi antes
dele.”
Com traições e bestialidades os romanos
“administraram” a Península Ibérica, derrotando todos os povos que se lhe
opuseram.
É conhecido o sangue “quente” dos hispânicos.
À medida que as legiões romanas se aproximavam de um povo o senado reunia e
reconhecendo a sua incapacidade militar propunha render-se, para ainda
guardarem uma parcela de poder. Os jovens não aceitavam isso, e chegaram a
fechar uma casa do senado e largar fogo com todos os senadores lá dentro. Eles
queriam ir à luta! Ainda hoje é assim: os jovens...
Já nesse tempo havia um entendimento e
colaboração entre lusitanos e galaicos. Só depois de assassinarem Viriato é que
os romanos conseguem entrar e derrotar a Galícia. A seguir os astures, os cantábricos
e todos os outros até aos limites do Pirineus.
Só terminaram as guerras de conquista em
19 a.C. que começaram 200 anos antes!
Sobre os lusitanos fica por esclarecer
uma pergunta: não eram iberos, nem celtas. Povo indo-europeu, de onde vieram e
quando?
Todos os povos da Península eram bons
artífices; trabalhavam o ouro, prata, cobre, estanho, ferro, etc. Nos túmulos
dos grandes chefes têm-se encontrado espadas com trabalho lindíssimo
Vamos voltar agora à pergunta do texto
anterior: DONCÔVI?
A maioria dos que lerem isto devem ter,
pelo menos uma costela portuguesa; os lusitanos, povo indo-europeu, ninguém
sabe de onde vieram; os primeiros iberos terão sido os descendentes dos
primeiros povos da Mesopotâmia, Pérsia e Afganistão, que caminharam desde o
médio oriente contornando o Mediterrâneo, cerca de 15 a 20.000 anos a.C.; os
gregos, da Lídia, terão sido depois os colonizadores de Tartesso; os
cartagineses, os tais semitas, do sudeste da Península; os gregos do nordeste.
Depois os celtas invadiram e ocuparam a Meseta Central e misturaram-se com os
povos do norte; os bascos serão uma mistura de aquitanos, celtas e iberos;
alguns povos celtas, sempre na Península, falavam o gaulês da Bélgica, outros
com metade das palavras vindas da Ilíria (região da antiga Jugoslávia);
entretanto chegaram mais cartagineses, com berberes e povos africanos nas suas
fileiras e logo a seguir os romenos, outra mistura de soldadesca; quando estes
se retiraram entraram os visigodos, povo originário da Escandinávia (os
ostrogodos foram para o leste da Europa); mais ou menos ao mesmo tempo os
suevos saíram da hoje Polónia e ocuparam a Galícia (foram eles que começaram a
usar a palavra Portucale); junto com toda essa turma dos druidas chegaram ainda
os vândalos, mas demoraram-se pouco; não tardou que Roderico fosse um falhado e
Tarik levou os árabes, mouros, para
Foi assim
que Tarik acabou com Roderico. Um infiel contra um infiel !
a Península em 771, e só de lá começaram
a ser empurrados três séculos depois, com a ajuda de normandos, franceses,
germânicos e ingleses, e saíram de vez em 1492. Os hispânicos respiraram um
pouco porque se entretinham a batalhar-se uns com os outros: lioneses,
aragoneses, catalães, navarros, castelhanos e portugueses.
Neste meio tempo começaram as navegações
e o encontro como novos e desconhecidos povos: africanos, índios das Américas,
hindus, malaios, etc.
Surge Napoleão e lá vêm os franceses; e
os ingleses para “ajudarem” a arrumar Portugal.
Depois... só do meu lado encontro, não
muito para trás, um pouco dos jurunas ou carajás ou mundurucus, um vovô da
Suíça, margens do Reno, outro da Normandia, um de Códova, outros bascos de
Oyarzum e Alquiza, mais para trás uma vovozinha linda de morrer, uma moura
encantada de olhos verdes, que fez vibrar o coração de Lovesendo Ramires, e foi
também vovozinha de Egas Moniz (meu primo... um pouco afastado já) e bem mais
perto nasceram em Belém do Pará, em A-Ver-O-Mar, Barquinha, Sintra e Lisboa, e
eu, no Porto.
Deu para entender? DONCÔVI ?
Dificilmente haverá gente mais misturada do que os que tenham, mesmo umas gotas
só, de sangue lusitano!
É por isso que eu digo: mestiçagem é o
melhor. De qualquer côr ou credo.
Quem souber mais qu’o diga!
Para terminar um pequeno trecho do
“Romance d’A Pedra do Reino” do grande Ariano Suassuna:
“... sou o único escritor e
escrivão-brasileiro a ter integralmente em suas veias sangue árabe, godo,
negro, judeu, malgaxe, suevo, berbere, fenício, latino, ibérico, cartaginês,
troiano e cário-tapuia do Reino do Brasil!”
Somos
primos!
10/05/2018
Sempre quero as continuações...daqueles "sumidos" outrora e agora, cadê o conto sobre a sabedoria mística dia celtas e dos druidas??
ResponderExcluirJá tô com uma listinha aqui, a explorar seus dons de escritor....
Sou pouco versado em druidas, mas com a mata aqui de casa... podemos fazer uns ensaios!
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